Parte final – 26/10/1980

No início dos anos 1980, o humor tornou-se mais livre, em consequência do fim da censura prévia, o que não impediu que alguns jornais alternativos fossem apreendidos em banca, a posteriori, sem maiores explicações ou quaisquer indenizações. O governo Figueiredo foi intensamente caricaturado e chargeado por inúmeros humoristas. No entanto, é provável que a figura mais atingida pelas charges e cartuns tenha sido a do governador de São Paulo na época, o sr. Paulo Maluf. Na coluna “Palavra e Traço”, aqui do JH, temos mostrado esse político de várias maneiras diferentes, além de ministros e do próprio presidente, o general Figueiredo.

Caminhos do Humor

Ao lado do humor político, a “abertura” tem proporcionado maior liberdade para o humor erótico, dando oportunidade ao surgimento de novos cartunistas que têm publicado seus trabalhos nas revistas especializadas no ramo, como Playboy, Status, Ele Ela, Homem, Exclusive e outras. Alguns dos nomes dessa nova safra de humoristas são: R. Cardozo, Fausto, Geandré, J. Caesar, Érico Santos, Arnaldo, ao lado de Ziraldo e outros nomes consagrados.

O Humor Brasileiro Vai Bem, Obrigado

O povo brasileiro é, certamente, o mais irreverente do mundo. O humor brasileiro caminha, a passos largos, para um grande futuro, que somente será truncado no caso de um novo “fechamento” político, no qual não acreditamos por confiar no espírito liberal e democrático da nossa gente. O nível do humor nacional não fica nada a dever ao melhor humor estrangeiro, posto que não conhecemos nenhum país do mundo que conte com elementos do nível de Ziraldo, Millôr, Henfil, Jaguar, Chico Caruso, Zélio, Aldir Blanc, Ivan Lessa e outros, todos ao mesmo tempo. Apesar de já se notar certo recrudescimento da censura, com juízes de menores apreendendo revistas e/ou exigindo que elas sejam vendidas em sacos plásticos opacos, cremos que os nossos artistas, unidos e conscientes, conseguirão impor o seu trabalho, em virtude de seu alto padrão de qualidade. Nota 10 para o humor brasileiro.

E os Quadrinhos?

Embora sempre sofrendo a concorrência desleal dos quadrinhos estrangeiros, os brasileiros muito têm lutado, conseguindo proezas incríveis. O Projeto Tiras, da Editora Abril, é um exemplo desse trabalho, pois deu oportunidade para muitos artistas brasileiros se expressarem e publicarem suas obras em jornais de todo o País. Entre outros, trabalharam nesse projeto os seguintes artistas: Primaggio Mantovi, Waldir Igayara, Jorge Kato, Paulo Paiva, Paulo José, Carlos Avalone, Napoleão Figueiredo, Henrique Farias, José Claudino Gomes e outros. O mesmo grupo foi o responsável pela excelente revista Pancada, que, durante quase três anos, divulgou nossos quadrinhos.

Só Mesmo Sendo “Pancada”…

figura23

Essa revista deu uma amostra do que pode o humor brasileiro, com excelentes paródias de filmes e novelas, criadas por Cláudio Marra, Cláudio Cunha, Geandré, Ivan Saidenberg, Renato Canini, Rivaldo, Rogério de Almeida e outros, e desenhadas por Carlos Chagas, Edson Cabral, Geandré, Henrique Farias, Renato Canini, Rivaldo, etc.

Os Novos Heróis

Diversas tentativas têm sido feitas para o lançamento de novos heróis de histórias em quadrinhos. Entre eles, “Falcon”, escrito por Thereza Saidenberg e Antonino Homobono, e desenhado posteriormente por Michio Yamashita. Outro é o “Capitão Valente”, criação do autor destas linhas, com desenhos de Claudson Ribeiro e José Claudino Gomes. Um grupo de São Paulo, chefiado por Paulo Paiva, tem também criado heróis para tiras de jornais, entre eles o cangaceiro “Carcará”. Fausto e Laerte criam quadrinhos sindicais, expondo reivindicações dos trabalhadores brasileiros.

Os Quadrinhos Eróticos

Como não poderia deixar de ser, também os quadrinhos entraram na onda do erotismo, especialmente os criados no Paraná, pelo grupo da Grafipar – Gráfica Editora Ltda., composto por Eros, Maichrowiz, Mozart Couto, Rodval Matias, Watson Portela, Itamar Gonçalves, Gustavo Machado, Fernando Bonini, Roberto Kussumoto, Fernando Ikoma, Nelson Padrella, Jorge Fischer, Ataíde Braz, etc., ao lado de artistas consagrados como Shimamoto, Flávio Colin, Sakita, Luiz Saidenberg, Wilde, Vilachá, Watson Portela, Itamar Gonçalves, Noriyuki, Seabra, Zenival, Jan Boguslawski e outros.

O Futuro dos Quadrinhos Brasileiros

Enfrentando dificuldades maiores do que os humoristas, os quadrinistas nacionais têm enfrentado o massacre das multinacionais das historietas, mas têm conseguido vencer. Desde 1950, quando da primeira exposição brasileira (e mundial) de quadrinhos, a luta prossegue. O Brasil precisa de uma lei de proteção para os quadrinhos ou de taxação do material importado como sendo “supérfluo”. Como sabemos, essa lei já foi criada em 1963, pelo ex-presidente João Goulart, mas nunca foi regulamentada.

Urge reunir as forças mais vivas da Nação para defender essa expressão maravilhosa que são os nossos quadrinhos. Políticos combativos têm se colocado ao lado dos artistas, lutando por uma lei de proteção. Entre eles, o deputado federal João Paulo e o senador Orestes Quércia. Acreditamos que, unidos, humoristas e quadrinistas vencerão mais essa batalha, levando bem alto o humor e os quadrinhos brasileiros.

FIM