Parte III – 31/8/1980
Em fins do século XIX já era grande o número de publicações que traziam charges e textos de humor, em sua maioria do tipo que hoje seria chamado de jornais alternativos. Talvez os mais expressivos fossem “O Mosquito”, “O Mequetrefe”, a “Revista da Semana” e o “Dom Quixote”. Vigorava, principalmente, a caricatura política e social, tal como nos tempos atuais.
Durante o período da Regência, desde 1823 até a maioridade de D. Pedro II, a imprensa se viu sujeita a intensa censura, o que iria determinar uma ampla reação em fins do século XIX, quando os artistas e jornalistas acabaram por conseguir ampla liberdade de imprensa. Com a proclamação da República, essa liberdade chegou a ser quase completa, dando surgimento a novos artistas de valor inquestionável. Mudava o século e mudavam as mentalidades retrógradas, a imprensa se aperfeiçoava e renovam-se as esperanças.
O Século das Luzes… E das Trevas
Se o século passado foi considerado como sendo o SÉCULO DAS LUZES, o nosso pode ser chamado de O SÉCULO DAS LUZES… E DAS TREVAS. Depois de um glorioso início, onde a Liberdade parecia imperar, vieram períodos sucessivos de violenta censura e nova liberalização. O grande marco do início do século XX foi O Malho, lançado independente da “Revista Ilustrada”, a 20 de setembro de 1902, com o subtítulo de “Semanário Humorístico, Artístico e Litterário”.
Os métodos fotoquímicos surgem e assoberbam as artes gráficas. Já em 1900, uma nova “Revista da Semana” fundada por Álvaro de Teffé, usaria esse novo e revolucionário método de imprensa.
Já se destacam os cartunistas Julião Machado, Raul Pederneiras, Calixto Cordeiro (K. Lixto) e J. Carlos. As charges explodem em O Malho, O Jornal do Brasil, O País, o Correio da Manhã, e a Gazeta de Notícias, alguns já diários. Surgem ainda “O Kosmos” (1904), o “Fon-Fon” (1907), a “Careta” (1908), o “Degas” (1908), “O Avança” (1908), “O Albor” (1911), “O Gato” (1911), “Caricatura” (1913), etc.
O clichê a cores iria surgir em 7 de julho de 1907, na Gazeta de Notícias, em papel acetinado, em máquinas rotativas, constituindo-se numa total inovação em matéria de imprensa diária sul-americana. Todavia, a inspiração dos cartunistas era francesa, de modo geral, já que a França se destacava como líder no gênero, impondo até mesmo o nome de charge (carga, ataque), ao cartum da época.
Mas foi o semanário O Malho que lançou os maiores nomes do início de nosso século, até a década de 30; três gerações de artistas do lápis nele trabalharam: além de K. Lixto, Raul e J. Carlos, tivemos J. Ramos Lobão, Crispim do Amaral, Leônidas Freire, Gil (Carlos Lenoir), Alfredo Storni, Alfredo Cândido, Vasco Lima, Seth, Augusto Rocha, Yantok, Loureiro, Luís Peixoto, Nássara, Theo, Enrique Figueroa, Del Pino, Di Cavalcanti e Andrés Guevara.
Evolução na História em Quadrinhos
Com O Malho surgiria também a primeira história em quadrinhos brasileira, como já vimos: “As Aventuras de Zé Caipora”, de Ângelo Agostini, criada em 1897 e republicada em 1902. Outros artistas desse semanário e da revista O Tico-Tico dariam prosseguimento ao trabalho pioneiro de Ângelo Agostini (italiano, aqui radicado), com histórias cômicas e, até certo ponto, um tanto ingênuas, num período que se estenderia até 1934.
A “Época de Ouro” dos Quadrinhos no Brasil
É em 1934 que se ergue o “Suplemento Juvenil” dirigido por Adolfo Aizen que, após retornar dos USA, começou a editar um suplemento para o jornal A Nação, do Rio, cujo primeiro nome foi “Suplemento Infantil”. O sucesso foi tão grande que, um mês após o lançamento, tornou-se mais popular que o próprio jornal.
Após seu 14º número separou-se de A Nação e, como “Suplemento Juvenil” daria início à “Época de Ouro” dos quadrinhos nacionais.
Nesse suplemento trabalharam muitos artistas de renome: Alpho e Berto (“Sherlock”, 1934 – Mirim), Augusto Barreiros (“O Castigo a Cavalo”, 1936), Berto (agora só com “Bituca”, 1935, e “Biboca”, 1936), Carlos A. Thiré (A. Ericson, por pseudônimo, com “O Galvão Riff”, 1936, “Raffles”, 1936, e “Ricardo Relâmpago”, 1940), Fernando Dias da Silva (“O Enigma das Pedras Vermelhas”, 1938), José Constâncio Filho (“Uma Viagem Encrencada”, 1934), Monteiro Filho (“Roberto Sorocaba”, 1934), Queiroz (“Macarrão e Talharim”, 1934), Renato Silva (“Nick Carter Versus Fantasma”, 1937), Rodolpho Ische (“Aventuras de Jack e Ralph”, 1937, “No País das Amazonas”, 1939, e “Os Conquistadores do Novo Mundo”, 1940), Sólon Botelho (“Mil Milhas por Hora”, 1937) e muitos outros.
Em outras publicações do gênero, tivemos: Abílio Correa (“As aventuras de Guy”, 1935 – Suplemento Infantil do Diário da Noite), Ayres Borges (“A Vingança dos Micos”, 1935 – Correio Universal), Carlos A. Thiré (o mesmo A. Ericson), com “Bob Lloyd, Repórter”, 1937 – Mirim, e “Legionários da Sorte”, 1941 – O Tico-Tico), Décio Delphino (“Bibinha, Manecão e Zé Bolacha”, 1938 – O Diário de Belo Horizonte, e “A Invenção do Capitão Luren”, 1940 – Era Uma Vez), Elísio Martins (“O Ás da Legião”, 1939 – Mirim), Francisco Acquarone (“História de Aladim”, 1936, “João Tymbira”, 1937, e “O Guarany” – Correio Universal), Hélio Queiroz (“Aventuras de Roberto Galvão”, 1937, Mirim), Hélio Soveral (“O Mistério da Casa de Campo”, 1935 – Correio Universal), Hugo Winkelma (“Buri”, 1939 – Mirim), José Geraldo (“Fred Williens”, 1935 – O Tico-Tico, e “Zanzio”, 1939 – Diários Associados), Luis Sá (“Reco-Reco”, “Bolão e Azeitona”, 1931 – O Tico-Tico) e Renato Silva (“Garra Cinzenta”, 1937 – A Gazetinha).