Parte IV – 7/9/1980
Depois que O Malho – Semanário Humorístico, Artístico e Litterário foi lançado no Rio, em 1902, uma nova geração de cartunistas se formou. Os valores iam surgindo quase que espontaneamente, pois jovens idealistas começavam a desenhar seus cartuns e logo eram publicados pelas várias revistas e pelos jornais que passaram a se utilizar da charge com frequência para a crítica política e de costumes.
Os Novos “Vehicullos” de Comunicação
A Careta, fundada a 6 de junho de 1908, iria dar novo impulso ao humor brasileiro. J. Carlos fez a capa do número I, caricaturando Afonso Penna. Logo, grandes nomes da literatura, como Olavo Bilac, se uniam a grandes nomes da ilustração e cartum. Em a Careta trabalharam: Martins Fontes, Olegário Mariano, Aníbal Teófilo, Alberto de Oliveira, J. M. Goulart de Andrade, Emílio Meneses, Bastos Tigre, Luis Edmundo e muitos poetas parnasianos. J. Carlos foi o grande ilustrador dos trabalhos desses imortais da literatura.
Em 1907 já surge a revista FON-FON!, logo seguida pelas revistas Illustração Brasileira e Para Todos Nessas publicações trabalharam: K. Lixto, Raul e J. Carlos, além de Nair de Teffé, a primeira cartunista mulher do Brasil e talvez do mundo, mais conhecida pelo pseudônimo Rian, a “portrait-chargista”. Já era o feminismo em marcha, no início do século XX.
A Caricatura Política
No período de 1910 a 1930, a charge brasileira passa a ser mais de crítica política do que de costumes. Surge Nássara, um capítulo à parte na história do nosso humor, pois, além de cartunista, era compositor e marchinhas de carnaval de grande sucesso, como Alá-lá-ô. Nássara, testemunha ocular da história, ainda está vivo, no momento em que redigimos estas mal traçadas linhas. Nássara ainda ilustrava suas composições, sendo que a última delas, de grande sucesso, foi “Mulher Só Depois dos 30”.
K. Lixto nos brindou, já em 1909, com uma grande charge política, criticando as eleições da época, na revista FON-FON!. Numa charge que continua muito atual, ele mostrava o povo e uma caveira lado a lado com o seguinte subtítulo: “ELEICÕES – Os dois mais legítimos representantes da moderna Soberania Nacional, os únicos, talvez, a quem será permitido hoje o exercício do sagrado Direito de Voto”.
Em 1912, o cartunista Seth apresentava outra charge política de grande força, na revista O Garoto, mostrando um túmulo com a seguinte inscrição: “Aqui jaz a Verdade Eleitoral – assassinada a golpes de Penna Mallat. Orae por Ella”. Ao lado do túmulo, um carneiro representando “o povo soberano” (5) p. 189.
Eram já os sintomas da insatisfação contra o sistema eleitoral sem o voto secreto, que resultaria na Revolução de 1930.
Os Quadrinhos Brilhavam
E foi de 1930 a 1940 que os quadrinhos brasileiros atingiram sua primeira “Época de Ouro”. Novos nomes surgiram, tais como Luis Teixeira da Silva (“Gregório vai à lua”, 1939 – Mirim), Luna e Martins (“Os Ciclones de Inferno”, 1938 – Mirim, “O Volante Milionário”, 1939 – Mirim, e “Rodolfo Matias em Indianápolis”, 1940 – Suplemento Juvenil), Mario Pacheco (“Grandes Figuras do Brasil”, 1937 – Suplemento Juvenil, e “Descobrimento do Brasil”, 1937 – Suplemento Juvenil), Mario Jaci (“O Tesouro de Ricardo”, 1938 – O Tico-Tico), Max Yantok (“Barão de Rapapé”, 1935 – O Tico-Tico, “Pandareco, Parachoque e Viralata”, 1939 – O Tico-Tico), Messias de Mello (“Pão-Duro”, 1935 – Gazetinha, “Sherlock Holmes”, 1936 – Gazetinha, “Audaz, o Demolidor”, 1938 – A Gazetinha, e Os Três Mosqueteiros, 1938 – Gazetinha), Nino Borges (“Jonjoca e Rabicó”, 1934 – O Tico-Tico, e “Bolinha e Bolonha”, 1939 – O Tico-Tico), Olavo Pereira (“Edy, o Repórter”, 1938 – A Gazetinha) Oscar Brener (“O Tesouro Perdido”, 1939 – Mirim), Paulo Affonso (“Azarias”, 1940 – O Tico-Tico, e “Chiquinho”, 1940 – O Tico-Tico), Renato Silva (“O Garra Cinzenta”, 1937 – A Gazetinha, e “Nick Carter X Fantasma”, 1937 – Suplemento Juvenil), Sigismundo Walpeteris (“Tom Corrigan”, 1939 – A Gazetinha, “O Cado Mamming”, 1939 – A Gazetinha, e “Dick Peter”, 1940 – Álbum Café Jardim), Theo (“Chico Farofa”, 1934 – O Tico-Tico, e “Tinoco, Caçador de Feras”, 1938 – O Tico-Tico). Destaca-se ainda, nesse período, a forte influência dos quadrinhos norte-americanos que, além de já tomarem parte do mercado de trabalho de nossos artistas, levavam-nos a imitá-los, consciente ou inconscientemente.
Os Quadrinhos e a 2ª Guerra Mundial
Foi durante o segundo grande conflito mundial que os artistas brasileiros puderam dar expressão a toda sua criatividade: ocupados com a guerra, os norte-americanos produziram menos e deram mais espaços para os desenhistas e argumentistas “tupiniquins”. No período de 1940 a 1950 surgem: Alceu Penna (“O Mágico de Oz”, 1941 – O Globo Juvenil), Antonio Rocha (“Almirante”, 1943 – Diário de Belo Horizonte, e “Sapo Sapeca”, 1947 – Era Uma Vez), A. Latini Filho (“Caramuru”, 1941 – Mirim), André Le Blanc (“Morena Flor”, 1949 – Apla, “O Guarani”, 1950 – Edição Maravilhosa, e “Capitão Atlas”, 1951), Arcindo Madeira (“Os Lusíadas”, 1942 – “Guri e História da Independência”, 1941 – Suplemento Juvenil), Archibaldo Ribeiro (“Os 3 Fujões”, 1942, e “Zé Cuíca”, 1942 – Mirim), Belfort (“No Reino do Silêncio”, 1940, e “A Serra do Roncador”, 1943 – Suplemento Juvenil), Celso Barroso (“Episódios da História do Brasil”, 1941 – Mirim), Fernando Dias da Silva (“O Vingador”, 1943 – Palmolive, “Capitão Atlas e as Minas de Salomão”, 1951 – Diário Ilustrado), Fabio Horta (“José Vitaminas”, 1940 – Era Uma Vez, “O Diamante Azul”, 1948 – Era Uma Vez), Guilherme Walpetris (“Totó Detetive”, 1940, e “O Tesouro Enfeitiçado”, 1943 – Suplemento Juvenil), Heitor Cardoso (“Zabelinha”, 1940, e “Caxumba”, 1941 – O Tico-Tico), Humberto Barreiros (“O Tesouro da Ilha dos Cocos”, 1947 – Sesinho), Ivan Washt Rodrigues (“Aventuras de Tacomi”, 1948, e “As Ideias de Nadinho”, 1948 – Sesinho), J. Nelson (“Compadre Coelho”, 1945 – Era Uma Vez) e Jaime Cortez, capítulo à parte nas HQ brasileiras.