Parte VI – 21/9/1980
Com o final da Segunda Grande Guerra, terminou também a ditadura de Getúlio Vargas, assumindo o poder o general Eurico Gaspar Dutra, governante canhestro que causou deflação e desemprego no Brasil. Praticamente ignorado pelos chargistas, de Dutra podemos destacar apenas uma charge, denominada “Enfim, Pai!”, publicada no Diário da Noite, em 1950. A charge critica o tardio lançamento da candidatura de Cristiano Machado, pelo PSD, tendo Dutra como “pai da criança”. Esse cartum é de autoria de Augusto Rodrigues.
Bota o Retrato do Velhinho no Mesmo Lugar
Não podia dar outra: Getúlio voltou ao poder, nos braços do povo, pelo voto livre e direto. Esperança dos trabalhadores e das camadas mais sofridas da população, ele voltou ao Palácio do Catete, num governo nacionalista e tumultuado que terminaria tragicamente em 1954. Quem melhor retratou o novo governo de Vargas foi o famoso J. Carlos, em a Careta (1950), numa charge intitulada “Quando as Circunstâncias Permitem”. Getúlio é o condutor do bonde do Catete e uma velha pergunta: “Moço, este bonde passa na Rua da Constituição?” – Ao que Getúlio responde: “Às vezes!”.
Getúlio criou a Petrobras, tornando-se amado pelos estudantes, intelectuais e todas as camadas da população, praticamente. Todavia, um tiro misterioso, disparado na madrugada de 24 de agosto de 1954, poria fim à sua vida.
Entre Golpes e Contragolpes, Surgem “JK”… e “JQ”
Após o suposto suicídio de Vargas, o País entrou numa crise terrível, com os militares direitistas tentando derrubar do poder o vice-presidente João Café Filho que assumira o posto no lugar de Getúlio. Depois de um confuso golpe, em novembro de 1955, o marechal Teixeira Lott garante as eleições de 1956, quando é vencedor o dr. Juscelino Kubistchek de Oliveira, mais conhecido como “JK”. É uma nova era, com a construção de Brasília, com um programa de “50 anos de progresso em 5”, com as multinacionais entrando firmes no Brasil através da indústria automobilística. O tempo parece passar muito depressa, a inflação começa a estourar e o povo, descontente, vota em massa numa nova figura controvertida e carismática, em 1960: Jânio da Silva Quadros, o “JQ”. A carreira eleitoral de Jânio é um sucesso absoluto, como se pode notar através de uma caricatura de Theo, em a Careta (1955), onde se vê o general Juarez Távora transformado em aprendiz de feiticeiro e sr. Jânio em vassoura (símbolo de sua campanha). Juarez, atônito, pensa: “E agora, como vou parar esta vassoura?!…” – E não conseguiu parar mesmo. Com mais de seis milhões de votos, Jânio é eleito presidente da república, sendo uma nova esperança para o povo brasileiro. O povo julga ter encontrado um novo líder, o nacionalismo campeia, fala-se num Brasil novo, onde os corruptos e os venais serão para sempre varridos do cenário político nacional.
A Segunda “Época de Ouro” dos Quadrinhos
A euforia toma conta dos desenhistas de histórias em quadrinhos, pois acredita-se que, afinal, haverá uma nacionalização dessa arte. Um grupo é formado para ir a Brasília e conseguir de Jânio Quadros uma lei que ampare as HQs brasileiras, composto por Maurício de Souza, Ely Barbosa, Júlio Shimamoto, Luiz Saidenberg, Ivan Saidenberg (o autor destas linhas), Waldir Igayara, Izomar Guilherme, Lyrio Aragão, Almir Bertolassi, Aylton Thomaz, Gedeone Malagola, João Batista Queiroz, Nico Rosso, Otoni Gali Rosa, Zezzo, Dag Lemos e outros. Jânio Quadros parece apoiar totalmente os desenhistas.
Os Grandes Desenhistas Começam a Brilhar
Ziraldo Alves Pinto desponta, no Rio de Janeiro, como o grande desenhista de humor da época. Seu personagem, o “Pererê”, com temas altamente nacionais, é um sucesso absoluto. É a “Primavera do Brasil”. Em São Paulo, é Mauricio de Souza quem desponta, com “Bidu e Franjinha” e, logo depois, “Mônica e Cebolinha”. No gênero adulto, proliferam as histórias de terror e mistério, quando Luiz Saidenberg nos brinda com uma obra prima, “O Gato Preto”, adaptação de conto de Edgar Allan Poe. Nesse período, que seria brutalmente truncado pelo golpe de 1º de abril de 1964, brilham ainda inúmeros valores, como Acácio Alves Pinto (“Eugênio, o Gênio”, 1959 – Capitão Z), Antonio Vaz (“Mirinho”, 1964 – Anjinho) Álvaro Moya (“Zumbi”, 1955 – Ed. Maravilhosa, e “MacBeth”, 1959 – Ed. Outubro), Ari Moreira (“O Soldado Tambor”, 1963 – Anjinho), Carlos Estevão (“Dr. Macarra”, 1962 – O Cruzeiro), Diamantino Silva (“Simão Brasil”, 1952 – Última Hora, e “Flávio, o Corsário”, 1953 – Ed. Júpiter), Edmundo Rodrigues (“Jerônimo”, 1959 – Rio Gráfica), Flávio Colin (“O Anjo”, 1961 – Rio Gráfica, “Sepé Tiaraiu”, 1963 – Coop. Porto Alegre, “O Vigilante Rodoviário”, 1963 – Ed. Outubro), Getúlio Delphin (“Capitão 7”, 1959 – Ed. Outubro, “Jet Jackson”, 1960 – Ed. Outubro, e “Aba Larga”, 1963 – Coop. Porto Alegre), Gil Brandão (“Raça e Coragem”, 1960 – Sesinho), Gil Coimbra, (“O Tigre da Abolição”, 1957 – Ed. Maravilhosa), Gutemberg Monteiro (“O Sonho das Esmeraldas”, 1955 – Ed. Maravilhosa, e a Retirada da Laguna, 1956 – Ed. Maravilhosa), Henrique Souza Filho/Henfil (“Os 2 Fradinhos”, 1964 – Alterosa), Ivan Wasth Rodrigues (“Histórias do Brasil”, 1962 – Ebal, Ivan Saidenberg (“Histórias Macabras”, 1960/64 – Ed. Outubro e La Selva), Jarbas (“Cão e Gato”, 1958 – Sesinho), Jayme Fonseca (“Espadinha”, 1963 – Anjinho, “Pingo, o Repórter”, 1963 – Anjinho, e “Lamparina” – Anjinho), Jayme Cortez (“Dick Peter”, 1952 – Bentivegna, “Sérgio Amazonas”, 1953 – Idem, e “Contos de Terror”, 1960 – Ed. Outubro), José Del Bó (“Gatinha Paulista”, 1963 – Última Hora, e “Colorado”, 1963 – Ed. Outubro), José Geraldo (“Charlie Chan”, 1952 – O Cruzeiro, e “Os Meus Balões”, 1955 – Ed. Maravilhosa), José Lanzellotti (“Raimundo, o Cangaceiro” – 1953 – Bentivegna). Joselito (“Martim Pescador”, 1958 – Sesinho), Juarez Odilon (“Cavaleiro Negro”, 1963 – Rio Gráfica), Luiz Saidenberg (“O Bandeirante”, 1963 – B. Lessa Produções, e “Histórias de Terror”, 1960/63 – Ed. Outubro), Manoel Victor Filho (“Capitão Tarumã”, 1963 – B. Lessa Produções) e outros.