Parte VII – 28/9/1980

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Num clima de euforia, os artistas brasileiros criaram histórias nacionais com muito humor no período em que Jânio Quadros governou. Para os cartunistas, o “homem da vassoura” era um prato cheio e sua figura exótica prestava-se a todo tipo de charges. Súbito, sem explicações Jânio renunciou à Presidência da República, a 25 de agosto de 1961, deixando o Brasil inteiro perplexo. Militares direitistas, uma vez mais, tentam tomar o poder e impedir a posse de João Goulart, vice-presidente de Jânio, que estava em visita à China. Surge a “Campanha da Legalidade”, no Rio Grande do Sul, liderada por Leonel Brizola, cunhado de Goulart, e o vice toma posse sob o regime do parlamentarismo.

O Período de Goulart e o Brasil Agitado

Quem melhor retratou o período do parlamentarismo, no qual o presidente governava mas não mandava, foi Augusto Bandeira, numa charge publicada no Correio da Manhã (10/7/1962) prevendo o fim desse regime. João Belchior Marques Goulart (Jango) aparece vestido à gaúcha e fazendo um churrasco com o parlamentarismo. Um plebiscito pôs fim a esse regime, seis meses depois. Assumindo plenos poderes presidenciais, Jango levou a Nação a um de seus períodos mais agitados: falava-se na nacionalização de empresas estrangeiras, surge uma lei contra a remessa de lucros para o exterior e um movimento pela legalização do PCB (Partido Comunista Brasileiro).

O Golpe Militar de 1964

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O marechal Castelo Branco assume o poder e há uma reação temerosa na imprensa brasileira. O Ato Institucional nº 1 é decretado e o País fica em suspense, vendo seus líderes civis sendo todos cassados. Os cartunistas, nesse período, preferem retratar figuras como Carlos Lacerda, governador do então estado da Guanabara, Aliomar Baleeiro, Ademar de Barros, governador de São Paulo, etc., como é o caso Appe (O Cruzeiro – 1964).

A situação se agrava em 1968, quando há uma grande reação civil ao golpe já durante o governo do marechal Arthur da Costa e Silva. Os atos institucionais se sucedem, culminando com o Ato Institucional nº 5, o famigerado “AI-5” que lançaria o Brasil numa noite de dez anos.

O Fim da Segunda “Época de Ouro” dos Quadrinhos

Jamais os desenhistas e argumentistas de quadrinhos brasileiros poderiam sonhar com a renúncia de Jânio Quadros, que lhes dava todo o apoio: foi um rude golpe, mas os artistas continuaram lutando bravamente até a queda de Jango, em 1964. O golpe militar desse ano decretou, também, o fim da segunda “Época de Ouro” dos quadrinhos brasileiros.

Mas não nos podemos esquecer dos artistas que lutaram pela nacionalização e que a conseguiram, em 1963, através de um decreto-lei de João Goulart, que pretendia um mínimo de 20% de HQs nacionais em revistas e jornais, numa escala percentual crescente que atingiria os 100% em 1970.

Os Artistas de um Período Conturbado

Tentando fazer renascer o trabalhismo e o populismo dos tempos de Getúlio, Jango põe tudo a perder: após decretar uma lei contra a remessa de lucros das empresas multinacionais ao exterior, é derrubado do poder, subitamente, na fria madrugada de 1º de abril de 1964.

Tropas de Minas Gerais avançam sobre o Rio de Janeiro, onde o presidente se encontrava. Jango tenta ir para Brasília, depois para o Rio Grande do Sul e, por fim, deixa o País, indo se exilar no Uruguai. A Nação, entre surpresa e temerosa, vê surgir um novo regime.

O Regime Militar e os Cartunistas

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Muitos foram os artistas que continuaram na luta: Aylton Thomaz (“Oscarito e Grande Otelo” e “Histórias de Terror”, 1960/64 – Ed. La Selva), Edmundo Rodrigues, Flávio Collin, Ivan Saidenberg, Izomar Guilherme (“Joãozinho Nada-Teme”, 1960/64 – Ed. La Selva), Jayme Cortez, José Geraldo (fundador da CETPA – Coop. Editora de Trabalho de Porto Alegre), Luiz Saidenberg, Mauricio de Souza (“Mônica”, 1964 – M.S. Produções), Lyrio Aragão, Nico Rosso (“Histórias de Terror”, 1960/64 – Ed. Outubro), Orlando Pizzi (“Duduca e Jambolão”, 1960 – Ed. La Selva), Otoni Gali Rosa (“Contos de Terror”, 1960/64 – Ed. Outubro), Paulo Hamasaki (“Último Assalto”, 1960, e “Polícia Fantasma”, 1964 – G.E.P.) Pedro Segui (“Tim, o Camundongo”, 1960, e “Pelé e Pelado”, 1961 – Ed. La Selva), Renato Canini (“Zé Candango”, 1961 – CETPA), Rodolfo Zalla (“Jacaré Mendonça”, 1963 – B. Lessa Produções), Rubens Cordeiro (“2ª Guerra Mundial”, 1964 – Diário da Noite), Rujos (José Horta) - (“O Universo”, 1962 – Jornais de BH, e “João Bruzundunga” – Idem), Sérgio Lima (“Histórias de Terror”, 1960 – Ed. Outubro), Sérgio Militelli (“Tupinho”, 1964 – Ed. La Selva), Shimamoto (“Fidêncio, o Gaúcho”, 1963 – B. Lessa Prod.), Waldir Igayara (“Peninha, o índio”, 1960 – Zás-Trás, e “Zeca e Peteca” – Idem), Zezzo (“O Tubarão Voador”, 1962 – Jornal Juvenil) e Ziraldo (“Pererê”, 1960/64 – O Cruzeiro).

Mas, Aconteceu o Pior…

Depois do Golpe Militar de 1964, veio o de 1968, com o AI-5, e tudo pareceu desabar sobre a cabeça dos desenhistas nacionais. Muitas editoras pequenas fecharam, muitos artistas foram despedidos sob a acusação de serem “comunistas”, por desejarem nacionalizar os quadrinhos; Shimamoto foi preso e torturado, entre outros, sem ao menos saber por quê.

Os jornais e revistas brasileiros passaram a publicar quase somente material importado dos EUA, pouco restando àqueles que desejavam continuar na luta, apesar de todos os pesares. Mas, em 1969, quando tudo parecia perdido, surge um jornal nanico que iria, em plena época de repressão e ditadura, mostrar a sua força: O Pasquim, capítulo à parte no Humor