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Depois de perder a mulher, a última coisa que Jacobo Zendal desejava era separar-se da filha; no entanto, ele sabia que essa era a única possibilidade de salvá-la da miséria e de suas consequências. Não apenas deixaria de ser um custo, como também poderia ajudá-los enviando víveres, talvez até dinheiro. Além disso, aprenderia boas maneiras e poderia subir na vida. Qualquer coisa que não fosse se manter empacada naquele mundo sem futuro.

O cura, que tinha um apreço genuíno pelos Zendal e sentia afeição por aquela garota que havia sido sua aluna, entrou em ação logo em seguida, dizendo a todos que quisessem ouvir que tinha uma boa candidata para uma casa de alto nível. Alertou as paróquias dos povoados nos arredores para que outros curas também espalhassem a notícia. Dadas as circunstâncias, não tinha grandes esperanças de conseguir um emprego para ela, mas fez tudo o que estava a seu alcance.

Enquanto isso, tal qual Jacobo havia vaticinado, alguns vizinhos foram abatidos por uma febre que, de início, o médico definiu como pútrida, ardente, maligna e pestilenta. Acometia os mais fracos, sem dar outros sinais além de frio seguido de dor nas costas, sensação de ter as pernas feitas de algodão, enxaquecas que pareciam capazes de explodir a cabeça e um gosto de bile na boca. Alguns percebiam bem no início tremores nas mãos e nos pulsos e ficavam com o rosto e os olhos vermelhos, enfrentando vigílias fortes e delírios noturnos. Quando, dias mais tarde, brotava uma infinidade de pústulas no corpo inteiro, o médico identificava o mal: varíola. Mais uma vez, Isabel esvaziou a casa para limpá-la a fundo. Então, regou-a com muito vinagre e, para finalizar, espargiu pelo chão flores e ervas odoríferas. Havia pouco a fazer, exceto cobrir as paredes com argamassa de cal — era o que fazia quando o pai entrou em casa, aturdido.

— Largue isso e venha comigo, vamos à casa do cura.

— Não posso, pai — disse Isabel.

— Pode, venha, filha… E dê uma lavadinha no corpo.

Ela soltou o balde de cal em um canto e lavou os braços. Como não entendia a razão pela qual devia acompanhá-lo, Jacobo lhe explicou que havia pedido um emprego para ela e acrescentou que não mencionara antes porque não tinha muitas esperanças. Mas talvez Deus e Ignacia houvessem escutado suas súplicas, porque chegara à aldeia um pároco em busca de uma servente para uma família muito boa. Queria conversar com Isabel. Esperavam por eles.

A jovem estava confusa. Sua primeira reação foi de júbilo, porque realizaria o desejo mais fervoroso de quase todas as moças de sua idade. Sair da aldeia — ou seja, da miséria — era muita sorte, e ela sabia disso. Mas a ideia súbita de abandonar aqueles que amava — Jacobo, Francisca, Juan — e de se afastar do bem-estar afetivo que compensava aquela vida causava certa inquietação.

Assim que entrou na casa de dom Cayetano, Isabel sentiu o cheiro de ensopado e teve vontade de desmaiar. A jovem estava puro osso. Os dois religiosos olharam para ela com interesse. Era mais alta que o normal, o que ressaltava sua magreza. Estava vestida de preto, com uma jaqueta surrada e uma saia que alcançava os tornozelos; um pano cheio de rasgos cobria seu cabelo preto. Tinha as bochechas enrubescidas, e a pele das mãos era como uma bucha, com manchas brancas de cal na unha. Mas suas feições eram normais: ela luzia um sorriso claro e, através de grandes olhos pretos, um olhar profundo e sereno. As penúrias do último ano haviam apagado nela qualquer vestígio de infância. Agora era uma mulher que, se estivesse mais bem-vestida e alimentada, ninguém hesitaria em classificar como bela. Mas estava tão abatida que o pároco visitante perguntou se estava doente.

— Não, estou bem… — respondeu, juntando as mãos com nervosismo.

Jacobo rebateu:

— Tem uma ótima saúde. Não fica doente nunca!

— O que a rapaciña tem é fome! — exclamou a governanta.

Intimidada, Isabel olhou para o chão. A governanta se aproximou e, em voz baixa, perguntou:

— Você está com fome, garota?

A jovem olhou para o pai, como se perguntasse o que devia responder, mas Jacobo não deu nenhuma pista. Vacilou por um instante e, então, disse:

— Tenho muita fome. Se me derem um pedaço de pão, comerei de bom grado.

Sua franqueza fez os religiosos sorrirem.

— Deem uma tigela para ela, e sirva-se de pote à vontade! — disparou dom Cayetano. — E outro para o Jacobo!

— Vou para o fogo! Venham comigo!

Na cozinha, depois de terem devorado uma tigela transbordando de pote fumegante, cozido de verduras e legumes típicos da Galícia, o pai e a filha retornaram. A cara deles era outra. O pároco explicou que podia conseguir para ela uma vaga de criada na casa de uma pessoa de grande importância em La Coruña. Ao escutar o nome dessa cidade, tão próxima e ao mesmo tempo tão distante, Isabel engasgou. Se houvessem dito que a mandariam para outro planeta, a reação teria sido a mesma. Aos treze anos, ela nunca havia saído da aldeia, sequer para ir a Santiago, que ficava a apenas três léguas de distância. Como parecia muito desconcertada, o pároco perguntou:

— Você quer trabalhar de criada?

Isabel hesitou. Primeiro dirigiu o olhar ao pai, então à tigela de comida; por fim, respondeu:

— Quero.

— Leve em conta que é preciso trabalhar muito…

— Seja como for.

Nesse momento, Jacobo interrompeu a conversa.

— O senhor a conhece, padre.

— Como se fosse minha filha — disse dom Cayetano. — Espalhei a informação de que é uma moça de conduta moral inquestionável e cumpridora da religião.

Jacobo assentiu com a cabeça. O pároco continuou as perguntas.

— Você gosta de crianças?

— Sim, muito.

Jacobo voltou a interromper.

— Ela criou sozinha os sobrinhos — comentou, olhando para o cura a espera de que assentisse.

— Acredito, acredito.

— E quanto pretende ganhar? — perguntou o pároco.

Ela voltou-se para o pai antes de responder.

— O que me oferecerem.

— Prefere receber por mês ou por ano?

— Como quiserem.

— Começarão pagando dez pesos ao ano e você terá dois uniformes, um de reserva. Não terá nenhum gasto. Tenho certeza de que, com o tempo, lhe darão um pouco mais, se fizer por merecer.

— Ela fará — disse dom Cayetano.

— Bem, bem… — concluiu o pároco, já convencido. — Então é isso, partiremos amanhã, na diligência que sai de Ordes à tarde.

— Esteja aqui à uma hora, rapaciña, que eu os levarei até Ordes em minha charrete — disse dom Cayetano.

Isabel os encarou com os grandes olhos pretos arregalados. Não sentia nada, era como se sua mente estivesse envolta em um espesso nevoeiro. Não sabia se o que acabara de ocorrer era um cataclismo ou uma oportunidade fabulosa. “Amanhã?”, pensou. “Mas já é quase noite!” Conseguiu disfarçar a própria perturbação e despediu-se.

Do lado de fora, chovia. No caminho para casa, nem o pai nem a filha abriram a boca. Entre os pobres existia a aceitação tácita de que o destino não era algo que se escolhia. Ele se impunha, na maioria das vezes de um jeito ruim, em outras para o bem. Sempre de forma inelutável.

Nesta noite, ao tomar seu lugar na cama em que todos dormiam, Isabel afundou o rosto na palha do leito para afogar seus soluços. Jacobo escutou. Estendeu o braço e segurou a mão da filha. Era um gesto que ele não fazia desde que ela era pequena. Então a abraçou, e assim dormiram na última noite que passaram juntos entre roncos, tosses e a respiração dos demais.