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As semanas passaram, e a carta de Benito não chegava. No início, Isabel pensou que o noivo estava sem tempo ou que o correio estava com dificuldades na entrega. Então, se inquietou: “E se estivesse ferido, sem conseguir escrever?”. Inconscientemente, rechaçava a outra pergunta que surgia conforme os dias se sucediam na ausência de notícias: “E se morreu em combate?”.

— Não, isso não. Você teria ficado sabendo — dizia a cozinheira, sua única confidente.

Falava isso para consolá-la, porque não explicava como Isabel teria ficado sabendo. A garota, confusa, preferiu acreditar nela para afugentar a dor. Até que não pôde mais e, certa tarde, foi até o quartel e perguntou pelo cabo Vélez. Confirmaram que não estava ferido nem morto, simplesmente porque as tropas não haviam entrado em combate devido a problemas de abastecimento. Os franceses continuavam a ocupar as províncias bascas e o norte da Catalunha. “Então, por que ele não me escreve?”, perguntava a si mesma, desesperada. “Ele prometeu!”

A cozinheira sentia-se desolada ar vê-la sofrendo tanto, a cada dia mais. Agora, tinha grandes olheiras que ressaltavam a palidez marmórea de sua pele. Sentia-se cansada e fraca quando precisava estender a roupa ou acender a lareira. Ao servir a mesa, o cheiro da comida lhe dava náuseas. Quando a cozinheira reparou nas pernas de Isabel e viu que as veias pareciam lombrigas, exclamou:

— Filha, você está preñá!

Isabel sentiu o sangue gelar. Havia algum tempo reparara que os peitos estavam inchados, mas não deu muita atenção ao fato.

— Quanto tempo faz que não desce?

— Um mês... bem, quase dois...

Não queria escutar as transformações de seu corpo porque, inconscientemente, rechaçava aquele que intuía ser o veredito. Suspeitava, mas não queria admitir. Por isso, quando a cozinheira disse de maneira tão franca, aquilo doeu como se houvessem cravado nela uma faca. aquela mulherona tinha razão. Estava grávida, e era um desastre, porque esperava o filho de um homem desaparecido. De um homem a quem antecipara favores em troca de palavras. Vivia em um mundo onde a honra das mulheres vinha de sua castidade; a dos homens, de manter a castidade das mulheres que estavam sob sua responsabilidade. Perder a honra levava à vergonha e ao ostracismo.

Sentou-se para lutar contra o enjoo. Seu futuro, seus planos, seus sonhos, seu afã de melhorar, tudo escorria pelo ralo. Provavelmente, seu trabalho também.

— Por favor, eu imploro, não diga nada a dom Jerónimo.

— Não direi nada — respondeu a cozinheira —, é você quem terá de dizer.

— Mas não agora; não posso.

— Mas terá de fazer isso em algum momento.

Até então, ainda nutria a esperança de que Benito Vélez reaparecesse.

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Com o fim da guerra, os soldados, desmoralizados, voltaram aos quartéis. E nem sinal de Benito. Isabel se recusava a admitir que seu amor não havia sido mais que uma ilusão, que havia caído no truque mais antigo, mais banal, mais tosco que um homem podia aplicar em uma mulher: prometer-lhe o casamento em troca de sua entrega. E a vida na América, os filhos que teriam...? Não havia dito que aquilo tudo era sagrado?

“Não se apaixonem, meninas; meninas, não se apaixonem pelas palavrinhas de um homem”, cantarolava a cozinheira.

A ideia de ter sido enganada deixava-a enraivecida, e seu inconsciente se revelava à noite, quando era assaltada por um pesadelo recorrente: estava presa em uma casa em chamas, e Benito aparecia para resgatá-la em seu uniforme rutilante. Acordava suada em meio a um mar de lágrimas causadas pelo choque de realidade. Quando podia sair da casa, percorria os lugares por onde haviam passeado, como se assim pudesse ocorrer um milagre para que o noivo ressurgisse do nada. Perguntava por ele aos soldados do regimento, chamava-o aos gritos no parque, alheia aos olhares de espanto dos transeuntes. Escreveu diversas cartas a ele, mas não obteve nenhuma resposta. Se estava vivo, havia deixado de existir. Pouco a pouco, foi se dando conta de que estava sozinha no mundo, carregando nas entranhas um filho que logo mudaria sua vida. No fim do dia, enfiava a cara no travesseiro. Imaginava-se voltando à aldeia, à sujeira e ao frio, sem ninguém, com o filho no colo, e começava a soluçar. O afeto que os Hijosa tinham por ela não servia de consolo, tampouco se sentia digna de merecê-lo. Perdera o rumo.

No terceiro mês, ainda não havia contado aos patrões, apesar da insistência da cozinheira amiga para que o fizesse. Estava tão convencida de que iriam despedi-la que não se atrevia a confessar. No fundo, continuava acreditando que seu homem voltaria. Ia duas vezes por semana ao escritório do regimento em La Coruña; após um mês, disseram-lhe que finalmente haviam tido sinal dele, que estava vivo. O broto de esperança durou pouco, apenas tempo suficiente para que o oficial acrescentasse que as pistas de Benito acabavam em Sevilha. Então, Isabel pensou que ele havia partido para a América sem avisar por não ter como levá-la... Era difícil para ela se convencer de que havia sido pura e simplesmente abandonada, esquecida, traída, apagada da mente do homem que amava. Não admitia isso. Sempre acabava desculpando-o, alimentando a ideia de que um dia voltaria com dinheiro no bolso para buscar o filho e ela. Precisava dessa esperança para enfrentar a situação. Porque suas opções eram péssimas. Abortar, nem cogitou. Tampouco abandonar o filho em um orfanato. A falta de um referencial masculino a tornava uma prostituta em potencial. As autoridades municipais diziam que “nenhuma moça solteira deve viver sozinha nem vender frutas ou castanhas, e as que contravierem devem ser postas em sanatórios”. Só havia uma opção para evitar o opróbio: declarar-se “espontânea”, procedimento que exigia que se apresentasse ao corregedor declarando gravidez por palavra de casamento não cumprida e solicitar proteção da justiça para que não fosse incomodada nem perseguida. Em troca, deveria se comprometer a cuidar do filho ou entregá-lo para adoção e a levar uma vida recatada. Era isso ou voltar para a aldeia, de cabeça baixa e marcada para sempre. Sabia que só seria aceita pela família se não voltasse a rescindir em pecado e sob a condição de levar uma vida honrada e trabalhadora, dedicada em corpo e alma a cuidar da criança.

Estava mentalmente preparada para contar aos Hijosa sobre a gravidez quando, de repente, algo muito mais urgente e grave fez com que todos os seus problemas passassem a segundo plano. A doce e bela dona María Josefa adoeceu, com sintomas de gripe.