— Angina — sentenciou o doutor Posse Roybanes, retorcendo a ponta do bigode untado de brilhantina.
Ele era o médico da família, profissional de excelente reputação que fora docente na Universidade de Santiago de Compostela antes de se dedicar inteiramente a trabalhar nas instituições assistenciais, onde se tornara amigo de dom Jerónimo. No início, o médico aparecia duas vezes ao dia para aplicar em dona María Josefa algumas gotas de tintura de mertiolate nas amígdalas inflamadas. Mas, com o passar dos dias, em vez de melhorar, o estado da paciente se agravou. O que começara com febre e dor ao engolir acabou se transformando em convulsões, taquicardia e fortes cãibras nos braços e nas pernas, que provocavam dores violentas.
— Isabel...! — gritava a senhora, com o rosto torcido. — Veeenha, preciso de você!
Apenas a criada era capaz de acalmar a dor dos músculos entumescidos, aplicando massagens de linimento. Na antessala, com o semblante sério, estavam o doutor Posse, dom Jerónimo e as criadas.
— Precisamos redobrar os cuidados; é preciso isolar dona María Josefa — sussurrou o médico, que assim confessava certo desconserto. — Precisamos mandar as crianças para outra casa, de preferência nos arredores da cidade.
— Elas podem ir para o paço que temos em Betanzos... — disse dom Jerónimo.
Puxou o médico pelo braço e o levou até um canto do cômodo, onde podiam falar sem que os ouvissem. Então, o doutor Posse se dirigiu a Isabel:
— É melhor que a senhora fique para cuidar de dona María Josefa. Dom Jerónimo e eu julgamos que a senhora seja a mais preparada para enfrentar uma situação tão delicada — disse, antes de dar instruções para que isolasse a paciente.
Enquanto isso, dom Jerónimo mandava a mulata acompanhar as crianças até o paço.
“Se soubessem a verdade a meu respeito!”, era o que pensava Isabel. Sentia-se desonrada, mas, como queria se mostrar à altura da consideração que tinham por ela, dedicou-se de corpo e alma a cuidar da doente. Todas as manhãs, ela a limpava, então a distraía contando anedotas das crianças e lhe dava de comer. À tarde, levava suco de limão fervido com mel e alecrim e sempre estava disposta a massagear suas pernas retesadas pelas cãibras. Só ela e o médico eram autorizados a entrar no quarto. A mulher sentia saudades dos filhos e chorava tanto de dor que Isabel deixou de pensar em sua própria desgraça.
— É preciso esperar que a doença fale — dizia o médico.
Após quatro dias de agonia, a doença “falou”: no belo rosto de dona María Josefa apareceram manchas vermelhas do tamanho de ervilhas. Isabel se lembrou das que vira no rosto de sua mãe naquela manhã em que retornava do campo, a manhã em que deixara sua infância para trás. Enquanto passava um pano umedecido em água fria sobre a testa suada, o médico se dirigiu a dom Jerónimo para confirmar o diagnóstico:
— Trata-se de um ataque funestíssimo de varíola.
— Não é possível! — disse dom Jerónimo, levando as mãos à cabeça. — O que ela fez para merecer tamanho castigo?
— Nada — respondeu o médico. — A doença não é um mal enviado por Deus contra os homens por causa de seus pecados. Deixemos esse discurso para os curas.
Ele era um homem do Iluminismo, um apaixonado pela ciência, inimigo da superstição. Enquanto examinava as manchas com uma lupa, prosseguiu:
— Vemos os efeitos da varíola, mas ignoramos as causas. Só o que sabemos é que o contágio se dá por contato.
— Mas ela...?
— A varíola não discrimina, dom Jerónimo. Pouco importa o sexo, o clima, a idade ou a classe social.
O doutor Posse havia visto centenas de rostos tão belos quanto o de María Josefa, ou mais, serem levados ao túmulo no mais espantoso estado de feiura. Havia visto criaturas inocentes apodrecerem com demasiada frequência. Para ele, a varíola era o mais tirano dos estragos, mas também sabia que nem todos os casos evoluíam da mesma maneira. Por isso, acendeu uma chama de esperança.
— É possível que as transformações da varíola se manifestem de maneira benigna.
Isabel, que escutava a conversa, sentiu um calafrio. Compreendia aquela linguagem. Se a varíola fosse maligna, implicaria sofrimentos atrozes seguidos de morte, como ocorrera com Ignacia, sua mãe. Se fosse benigna, a mulher sobreviveria. Teria sequelas, talvez ficasse cega. Com certeza, passaria a fazer parte da grande maioria de pessoas com a cara marcada pela doença.
— No momento, é urgente adotar medidas de boa higiene — concluiu o doutor Posse.
Isabel sabia do que o médico estava falando. Assim como fizera com as roupas de sua mãe, atirou na fogueira as de dona María Josefa. Sentia muita pena ao queimar as anáguas de cetim, os conjuntos de percal, os corpetes de seda Tussah e as saias de brocado. Não pelas peças em si, cujo tecido deslizava entre suas mãos como fizessem carinho, mas porque tinha a sensação de colaborar com a devastação da beleza daquela senhora que pouco tempo antes era deslumbrante. O marido mandou defumar a mansão com vapores de azeite de vitríolo, depois lhe entregou dois grandes porta-joias cheios de adornos que a esposa jamais ostentara. Isabel pegou um por um: broches em forma de pavão com brilhantes e esmeraldas incrustados, colares de pérolas cinza e brincos de rubis. Desinfetou-os com água-forte e água sanitária, como se fossem talheres usados.
A deformação da doente era espantosa. Uma erupção cutânea invadiu o contorno dos orifícios da face e as pústulas avançaram em direção ao peito, aos braços e às pernas. O médico anotava a cor das manchas: esbranquiçada, enegrecida, plúmbea ou rubra; e a forma: mais ou menos elevada, dilatada ou profunda. O pior foi a inflamação das mucosas; mal conseguia abrir os olhos devido à conjuntivite; a respiração se tornou pedregosa; a voz, rouca.
— Há risco de edema de glote — disse o médico.
Em voz baixa, por ter se dado conta de que precisava explicar, acrescentou:
— Pode se asfixiar a qualquer momento. Também há risco de septicemia, isto é, de infecção generalizada. É preciso manter a pele dela o mais limpa possível.
Depois de quatro dias, as pápulas pareciam vesículas cujo conteúdo era turvo e purulento. Exalavam um fedor insuportável, mas Isabel não alterou em nada seu hábito de limpá-las e secá-las. Cumpria a tarefa com gestos precisos, como se houvesse dedicado toda a vida a isso. Estavam no umbral crítico da doença, pois a temperatura da paciente subiu; aliás, subiu tanto que ela começou a delirar. Então, um cura surgiu como por encanto, pois supostamente ninguém o havia chamado, e encontrou-a em tão mal estado que administrou santos óleos.
— O que está fazendo aqui, dom Camilo? — censurou o médico, cético por natureza.
— Todos queremos que dona María Josefa possa morrer na paz do Senhor — disse o cura, com a voz doce.
— Não adiante os fatos, o senhor parece um pássaro de mau agouro.
A visita do cura causou pânico entre os serventes. Alegando desculpas esfarrapadas, alguns fugiram para suas respectivas aldeias. Os que ficaram escapuliam quando pediam que subissem as escadas. Quando se dirigiam a Isabel, mantinham certa distância — exceto a cozinheira, que já havia enfrentado a varíola e estava imunizada. A mansão foi envolvida pelo silêncio e pela penumbra. Dom Jerónimo, tão forte e valente com os assuntos mundanos, sucumbia diante do medo da morte. A imprevisibilidade da doença e a virulência de seus efeitos o haviam paralisado. “Sobreviverá?”, “serei eu o próximo?”, parecia perguntar-se, “ou serão as crianças?”. Isabel tornou-se o pilar daquela casa, ocupando-se dos cuidados, da intendência e da organização. Dedicando-se a isso e mantendo a cabeça e as mãos ocupadas, conseguia se esquecer da própria situação e mitigar a dor em seu coração. Por causa da morte da mãe, sabia que aquela era a melhor maneira de suportar o vazio da ausência.
A “flor negra”, como chamavam a varíola, não levou a vida de dona María Josefa. No duodécimo dia, ao verificar que as pústulas estavam secando e se transformando em crostas, o médico respirou aliviado.
— O pior já passou — disse. — Chegou a última fase, a da secagem. Ela vai sair dessa.
De fato, as dores foram se atenuando, substituídas por um prurido intenso conforme as crostas se desprendiam. Ao todo, a doença perdurou quinze dias.
— A única vantagem, se é que podemos falar assim, é que agora dona María Josefa está imunizada para o resto da vida.
Quando, pela primeira vez após duas semanas de inferno, dona María Josefa se levantou e viu sua imagem no espelho da sala, não abriu a boca. Começou a chorar, inconsolável e em silêncio, durante muito tempo. Derramou tantas lágrimas que sua blusa ficou empapada, e Isabel teve que trocá-la. Não chorava pela emoção de continuar viva, chorava pela beleza perdida.