Ao entardecer, Isabel foi avisar os médicos que Juan Eugenio, o porto-riquenho, havia piorado. Suspeitando de uma infecção intestinal contagiosa, isolaram o garoto em um quarto. Salvany a acompanhou para auscultá-lo. Percebeu que tinha as órbitas oculares afundadas. Apertou a pele de Juan, que parecia de papelão, e quando pediu que abrisse a boca deparou com gengivas brancas.
— Está desidratado — disse.
Isabel contou que lhe dava água com suco de lima, mas que o garoto passara a rejeitar. Havia vomitado diversas vezes.
— Uma infecção intestinal o está consumindo — disse Salvany. — Precisamos continuar dando água com lima e, quando estiver melhor, é preciso dar um xarope de ipecacuanha.
Administraram o remédio a pequenos goles, enquanto acalmavam e tranquilizavam o garoto, que, por fim, conseguiu engolir. Então, exausto pelo esforço, pegou no sono. Isabel e Salvany permaneceram um longo período em silêncio, acompanhando na penumbra o sono do garoto.
Então Salvany se atreveu a fazer um gesto que ela não esperava: acariciou seu rosto. O susto a deixou petrificada, mas era uma surpresa de amor; quando se recompôs, ela olhou nos olhos dele e esboçou um sorriso terno. Como parecia linda aos olhos de Salvany, naquela penumbra, com o rosto lívido e o olhar lânguido, tão diferente do comum entre as mulheres. Ele sentia um prazer quase espiritual ao contemplá-la. Uma doce força lhe dava uma sensação de segurança muito prazerosa, como se nada de ruim pudesse lhe acontecer quanto ela estivesse por perto. Ali estava a felicidade, ao alcance das mãos. No fundo, sabia que era apenas uma ilusão, que não tinha direito de desfrutar daquela mulher que a vida havia posto em seu caminho.
No entanto, puxou-a em sua direção e abraçou-a. Então, ela apoiou a cabeça em seu peito, que exalava o cheiro das compressas de eucalipto que ela havia aplicado. Permaneceram calados e imóveis até que ela se espreguiçou, endireitou-se e pôs as mãos ao redor da cabeça dele. Deu-lhe um beijo, o primeiro que ela dava por iniciativa própria, em vez de receber, um beijo que durou uma eternidade porque ambos estavam à espreita do passo seguinte. Foi ela quem continuou no comando: mordiscou orelhas dele, o pescoço, mergulhou os dedos naquele cabelo grosso e, então, desabotoou a camisa e passou os dedos pela cintura de Salvany, percorrendo o cós da calça enquanto escutava gemidos de prazer. Teria ido até o fim, até o ápice, se o pequeno Juan Eugenio não tivesse acordado gritando. Sobressaltada, Isabel ajeitou o corpete e foi ver o garoto.
— Foi um pesadelo — disse. — É por causa da febre.
Preparou um lenço molhado e passou na testa do menino. Depois que o garoto já havia se tranquilizado, Isabel voltou para o lado de Salvany. O ardor havia esfriado, e ela mais uma vez apoiou a cabeça sobre o peito de seu amado.
— Agora ele vai dormir...
Ficaram um longo tempo em silêncio.
— Posso fazer uma pergunta? — sussurrou Isabel.
Salvany assentiu.
— Você nunca se casou? Não tem filhos?
Salvany demorou para responder. Seu rosto anuviou-se.
— Estive a ponto de me casar com a filha de um professor de latim; ela gostava muito de poesia, como eu. Como você. Eu a amava muito e queríamos ter filhos.
— E...?
— Fiquei doente outra vez, já achava na época que era tuberculose, e no fim das contas era mesmo. Senti-me moralmente obrigado a romper o compromisso. Ela não queria, dizia que cuidaria de mim, que não se importava com a doença, que muitos conviviam com esse mal durante anos, mas achei que ela merecia um marido melhor que um doente como eu. Além disso, que sentido haveria em transmitir minha herança de má saúde a meus descendentes? Pensei muito e decidi que não podia ser pai. Nem marido nem pai. Sou casado com minha doença.
— Não diga isso...
— É verdade... Uma semana antes do casamento, expliquei a ela. Foi difícil para os dois, mas tive de fazer isso justamente porque a amava. Não teria conseguido conviver com a culpa caso houvesse acontecido algo de ruim com ela ou se tivéssemos um filho com algum problema...
— Agora você é casado com a expedição.
Salvany riu.
— Quem sabe eu não possa me curar em algum rincão deste novo mundo. E então...
— E então?
— Um dia a expedição acabará, então irei buscá-los e a encontrarei onde estiver.
Isabel se aninhou no peito de Salvany. Escutava as batidas de seu coração e, ao longe, a respiração do garoto doente que dormia. Era a segunda vez na vida que se encontrava nos braços de um homem que amava.
De repente, ela se sobressaltou com o rangido da porta. Era Balmis, que não conseguia acreditar no que seus olhos viam: Isabel, com o cabelo bagunçado, recostada sobre Salvany, que tinha os olhos brilhantes e a camisa desabotoada. Conseguiu discernir o olhar trêmulo de Isabel, resplandecendo como um clarão na penumbra. Teve a impressão de ver lágrimas em seus olhos.
Não disse nada, foi embora batendo a porta e com a respiração entrecortada. O pior não fora o que viu, mas o que não viu. Aquilo que sua mente, em um espantado desvario para dar sentido à descoberta, sugerira com rebuscada malícia. Viu sem ver corpos nus e entrelaçados, ouviu sem ouvir a explosão de júbilo dos orgasmos sincronizados, sentiu sem sentir o cheiro dos corpos suados, tocou sem tocar a roupa atirada no chão. Saiu dali encolhendo o pescoço e piscando, ébrio de fúria contida.
Salvany e Isabel se arrumaram. Não disseram nada um ao outro, as palavras não faziam falta. Ambos sabiam que aquele momento de descuido lhes custaria caro.