Apresentação
O texto que se apresenta foi arquitetado em duas grandes partes. A primeira parte, intitulada “Idéias e controvérsias”, é composta dos primeiros cinco capítulos do livro e busca situar a tuberculose como questão polifônica.
A presença da doença e do doente em diferentes conjunturas históricas e o enquadramento de ambos como ‘ameaças’ à vida coletiva incentivou as ciências médicas a decifrar o enigma representado pela tuberculose e pelo tuberculoso, resultando em discursos sobretudo convergentes e justificados por pesquisas laboratoriais e por análises epidemiológicas. Ao mesmo tempo, a cultura ocidental construía um inusitado número de imagens sobre os doentes do peito, buscando na medicina justificativas legitimadoras das imagens, da mesma maneira que os médicos encontravam na trama cultural motivos e argumentações para suas conclusões clínico-epidemiológicas.
Transferidas para o contexto nacional, as proposições médicas e as representações sociais sobre os tísicos cobravam iniciativas oficiais e filantrópicas, abrindo oportunidades para que fosse possível realizar-se o estudo do gerenciamento sanitário da Peste Branca e das estratégias e conteúdos educadores impostos aos tuberculosos.
Estabelecido o pano de fundo, a segunda parte do texto, denominada “Personagens e cenários”, é composta pelos últimos cinco capítulos, focando a trajetória socialmente elaborada para os tísicos, oferecendo elementos para uma possível ‘cultura dos tuberculosos’ e surgimento do espírito comunitários que os faziam sentir-se membros de uma espécie de ‘irmandade’ construída pela doença e pela exclusão do mundo dos sadios e pela permanência por longos períodos – senão pelo resto da vida – em sanatórios ou em cidades sanitárias, dimensões que sofreram sensíveis alterações quando obteve-se o primeiro quimioterápico específico contra a terrível enfermidade.
Este livro é produto revisto da minha tese de doutorado apresentada à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, na primavera de 1992, sob a orientação do Prof. Dr. José Carlos Sebe Bom Meihy, contando com o apoio da bolsa oferecida pelo Programa de Capacitação Docente do Capes.
Foram Muitas as pessoas e as instituições que me ajudaram nesta tarefa, sobretudo os docentes do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, especialmente os Professores Doutores Regina Marsiglia, Nelson Ibañez e Mario Sposati, que há duas décadas ensinam-me o sentido histórico-social dos eventos médico-sanitários, tanto no plano coletivo, quanto na esfera individual.
Apesar dos posicionamentos assumidos neste texto serem de responsabilidade exclusiva do autor, algumas pessoas tornaram-se fundamentais na sua formulação, somando ao apoio acadêmico um afeto imprescindível: Ana Maria, José Carlos e Mário incentivaram-me a estudar a tuberculose e os tuberculosos ao mesmo tempo que se postaram como rígidos avaliadores de tudo que eu escrevia. Na seqüência, a professora Teresinha de Fátima Nogueira e a minha filha, Alice, ofereceram-me novos motivos para ir em frente. Mais recentemente, minha esposa, Raquel, e a nossa pequena Laura impuseram novos rumos à minha vida e fizeram com que a tese universitária finalmente se transformasse em livro, sendo a elas dedicada esta obra. A todas as pessoas mencionadas, minha gratidão e meu amor.