8.

Como Inés nunca manifestou antes um interesse por moda, ele espera que ela não vá ficar muito tempo na Modas Modernas. Mas está errado. Ela se revela um sucesso como vendedora, principalmente junto às clientes mais velhas, que apreciam a sua paciência com elas. Descartando o guarda-roupa que trouxe de Novilla, ela própria começa a usar roupas novas compradas com desconto ou emprestadas da loja.

Logo fica amiga de Claudia, a proprietária, uma mulher de sua idade. Almoçam num café na esquina, ou compram sanduí­ches que comem na sala de estoque, onde Claudia desabafa a respeito do filho que começou a andar em más companhias e está a ponto de largar a escola; também, em termos menos específicos, a respeito do marido aventureiro. Inés não conta se ela, por sua vez, também desabafa, ao menos não para ele, Simón.

Para preparar a nova estação, Claudia vai numa expedição de compras a Novilla e deixa Inés encarregada da loja. Sua repentina promoção desperta a ira da caixa, Inocencia, que trabalha na Modas Modernas desde que a loja abriu. Quando Claudia volta, é um alívio para todas.

Toda noite, ele, Simón, ouve as histórias de Inés sobre os altos e baixos da moda, sobre as clientes difíceis ou ultraexigentes, sobre a involuntária rivalidade com Inocencia. Inés não manifesta curiosidade sobre as miúdas aventuras que ocorrem com ele em seu turno de distribuidor.

Na viagem seguinte de Claudia a Novilla, ela convida Inés para ir junto. Inés pergunta a ele, Simón, o que ele acha. Deve ir? E se for reconhecida e capturada pela polícia? Ele zomba dos medos dela. Na escala dos crimes hediondos, diz ele, ajudar e acobertar um menor na prática de cabular aulas certamente figura bem embaixo. A ficha de Davíd a essa altura já deve estar enterrada sob montanhas de outras fichas; e mesmo que não esteja, a polícia certamente tem coisa melhor a fazer do que patrulhar as ruas em busca de pais delinquentes.

Então Inés aceita o convite de Claudia. Juntas, tomam o trem noturno para Novilla e passam o dia no depósito de um distribuidor no bairro industrial da cidade fazendo sua seleção. Durante uma pausa, Inés telefona para La Residencia e fala com o irmão, Diego. Sem preliminares, Diego pede o carro de volta (ele diz que é seu carro). Inés recusa, mas oferece pagar metade do valor se ele concordar que ela fique com o carro. Ele pede dois terços; mas ela finca o pé e ele capitula.

Ela então pede para falar com o outro irmão, Stefano. Diego a informa de que Stefano não mora mais em La Residencia. Foi morar na cidade com a namorada que está esperando bebê.

Com Inés distante ou preocupada com o movimento da Modas Modernas, sobra para ele, Simón, atender as necessidades de Davíd. Além de acompanhá-lo à Academia de manhã e trazê-lo de volta à tarde, ele assume a tarefa de preparar suas refeições. Seu comando da arte culinária é rudimentar, mas felizmente o menino anda tão esfomeado que come o que se puser à sua frente. Engole grandes porções de purê de batatas com ervilhas verdes; espera ansiosamente o frango assado dos fins de semana.

Está crescendo depressa. Nunca será alto, mas seus membros são bem-proporcionados e sua energia ilimitada. Depois da escola, ele corre para os jogos de futebol com outros meninos do prédio de apartamentos. Embora seja o mais novo, sua determinação e sua fibra conquistam o respeito dos meninos mais velhos, maiores. Seu estilo ao correr — ombros encolhidos, cabeça baixa, cotovelos fincados no corpo — pode ser excêntrico, mas ele é rápido, duro de derrubar.

No começo, ele, Simón mantinha Bolívar na guia enquanto o menino jogava, temendo que o cachorro pudesse correr para o campo e atacar alguém que ameaçasse seu jovem dono. Mas Bolívar logo aprende que correr atrás da bola é só um jogo, um jogo humano. Ele agora se contenta em ficar sentado quieto nas laterais, indiferente ao futebol, curtindo o suave calor do sol e a rica mistura de odores no ar.

Segundo Inés, Bolívar tem sete anos, mas ele, Simón, se pergunta se o cachorro não é mais velho. Certamente está na fase final da vida, a fase de declínio. Começou a ganhar peso; embora seja um macho intacto, parece ter perdido o interesse por cadelas. Tornou-se menos acessível também. Outros cachorros o temem. Basta levantar a cabeça e dar um rosnado baixo para que saiam correndo.

Ele, Simón, é o único espectador das fragmentadas partidas de futebol à tarde, partidas cuja ação é continuamente interrompida por discussões entre os jogadores. Um dia, uma delegação de meninos mais velhos o aborda para pedir que ele seja o juiz. Ele recusa: “Estou muito velho e fora de forma”, diz. Não é verdade, absolutamente; mas pensando bem, ele fica contente de ter recusado e desconfia que Davíd ficou contente também.

Fica imaginando o que os meninos do prédio pensam que ele é: pai de Davíd? Avô? Um tio? Que história Davíd terá contado a eles? Que o homem que assiste aos jogos mora na mesma casa com ele e sua mãe, embora durma sozinho? Davíd tem orgulho ou vergonha dele, ou as duas coisas, orgulho e vergonha?; ou será que, aos seis, quase sete anos, é jovem demais para ter sentimentos ambivalentes?

Ao menos os meninos respeitam o cachorro. No primeiro dia em que ele chega com o cachorro, reúnem-se em volta dele. “O nome dele é Bolívar”, Davíd anuncia. “É um alsaciano. Não morde.” Bolívar, o alsaciano, olha calmamente ao longe, deixando que os meninos o reverenciem.

No apartamento, ele, Simón, se comporta mais como um inquilino do que como membro igual da família. Cuida para que seu quarto esteja limpo e arrumado o tempo todo. Não deixa seus objetos de toalete no banheiro, ou seu casaco no cabide da porta de entrada. Não sabe como Inés explica para Claudia o papel dele em sua vida. Com toda certeza, na sua frente, ela nunca se referiu a ele como marido; se ela prefere apresentá-lo como um cavalheiro pensionista, ele se contenta com o papel.

Inés é uma mulher difícil. Mesmo assim, ele descobre em si mesmo uma crescente admiração por ela e também um afeto cada vez maior. Quem poderia imaginar que ela deixaria La Residencia e a boa vida que levava lá para se dedicar exclusivamente ao destino daquele menino caprichoso?

“A gente é uma família, você, a Inés e eu?”, o menino pergunta.

“Claro que somos uma família”, ele responde devidamente. “Famílias têm muitas formas. Nós somos uma das formas de família.”

“Mas a gente tem de ser uma família?”

Ele tomou a resolução de não ceder à irritação, de levar as perguntas do menino a sério mesmo quando são meras bobagens.

“Se a gente quiser, pode ser menos que família. Eu posso mudar daqui, encontrar acomodação só para mim e ver você de vez em quando. Ou Inés pode se apaixonar, casar e levar você para morar com o marido novo. Mas esses são caminhos que nenhum de nós quer tomar.”

“O Bolívar não tem família.”

“Nós somos a família do Bolívar. Nós cuidamos do Bolívar e o Bolívar cuida de nós. Mas não, você tem razão, o Bolívar não tem família, uma família canina. Ele tinha família quando era pequeno, mas depois cresceu e descobriu que não precisava mais de família. O Bolívar prefere morar sozinho e encontrar outros cachorros na rua, ao acaso. Você pode resolver fazer isso também, quando crescer: viver sozinho, sem família. Mas enquanto é criança precisa de nós para cuidar de você. Então nós somos a sua família: a Inés, o Bolívar e eu.”

Se a gente quiser, pode ser menos que família. Dois dias depois dessa conversa, o menino anuncia, do nada, que quer ser aluno interno na Academia.

Ele, Simón, tenta desencorajá-lo. “Por que você ia querer se mudar para a Academia quando tem uma vida tão boa aqui?”, ele pergunta. “Inés vai sentir terrivelmente a sua falta. Eu vou sentir sua falta.”

“A Inés não vai sentir. A Inés nunca me reconheceu.”

“Claro que reconheceu.”

“Ela diz que não.”

“A Inés ama você. Tem você no coração.”

“Mas ela não me reconhece. O señor Arroyo me reconhece.”

“Se você se mudar para o señor Arroyo, não vai mais ter um quarto só seu. Vai ter de dormir no dormitório com os outros meninos. Quando se sentir sozinho no meio da noite, não vai ter ninguém para te consolar. O señor Arroyo e Ana Magdalena com certeza não vão deixar você ir para a cama deles. Não vai mais ter futebol de tarde. No jantar, vai ter de comer cenoura e couve-flor, que você detesta, em vez de purê de batatas e molho. E o Bolívar? O Bolívar não vai entender o que aconteceu. Cadê o meu dono?, o Bolívar vai dizer. Por que ele me abandonou?

“O Bolívar pode me visitar”, diz o menino. “Você pode levar ele junto.”

“É uma decisão importante, virar interno. Não podemos deixar para o próximo trimestre e dar um tempo para pensar direito?”

“Não. Eu quero ser interno agora.”

Ele fala com Inés. “Não sei o que Ana Magdalena pode ter prometido”, diz ele. “Acho que não é uma boa ideia. Ele é muito novo para sair de casa.”

Para sua surpresa, Inés discorda. “Deixe ele ir. Logo vai estar implorando para voltar para casa. Isso vai ensinar a ele uma lição.”

É a última coisa que ele podia esperar dela: ceder seu precioso filho para os Arroyo.

“Vai ser caro”, ele diz. “Vamos ter que pelo menos discutir com as irmãs, ver o que elas acham. Afinal de contas, é o dinheiro delas.”

Embora não tenham sido convidados à casa das irmãs em Estrella, tomaram o cuidado de manter o vínculo com Roberta na fazenda e de vez em quando fazem uma visita quando as irmãs estão lá, como prova de que não esqueceram de sua generosidade. Nessas visitas, Davíd em geral é eloquente sobre a Academia. As irmãs ouviram sua exposição sobre os números nobres e os números auxiliares e viram o menino realizar alguns movimentos das danças mais simples, a Dois e Três, danças que, se feitas direito, invocam das estrelas seus respectivos números nobres. Ficaram encantadas com a graça física dele e impressionadas com a seriedade com que ele apresenta o ensinamento incomum da Academia. Mas nessa nova visita o menino se depara com um desafio de outro tipo: explicar por que ele quer sair de casa e ir morar com os Arroyo.

“Tem certeza que o señor e a señora Arroyo vão ter lugar para você?”, Consuelo pergunta. “Pelo que sei, me corrija se eu estiver errada, Inés, são só os dois, e eles têm um bom grupo de internos, além dos próprios filhos. O que você tem contra morar em casa com seus pais?”

“Eles não me entendem”, diz o menino.

Consuelo e Valentina trocam olhares. “Meus pais não me entendem”, Consuelo rumina. “Onde eu ouvi essas palavras antes? Por favor, me diga, mocinho: por que é tão importante seus pais entenderem você? Não basta eles serem bons pais?”

“Simón não entende os números”, diz o menino.

“Eu também não entendo de números. Deixo esse tipo de coisa com a Roberta.”

O menino fica calado.

“Você pensou bem a respeito, Davíd?”, pergunta Valentina. “Está decidido? Tem certeza que depois de uma semana com os Arroyo você não vai mudar de ideia e pedir para voltar para casa?”

“Não vou mudar de ideia.”

“Muito bem”, diz Consuelo. Ela olha para Valentina, para Alma. “Se é o que você quer, vai ser interno na Academia. Vamos discutir a mensalidade com a señora Arroyo. Mas a sua queixa sobre seus pais, que eles não entendem você, é dolorosa para nós. Parece que você está querendo muita coisa, que eles não só sejam bons pais, mas que entendam você também. Eu com toda certeza não entendo você.”

“Nem eu”, diz Valentina. Alma fica calada.

“Não vai agradecer a señora Consuelo, señora Valentina e señora Alma?”, diz Inés.

“Obrigado”, o menino diz.

Na manhã seguinte, em vez de ir para a Modas Modernas, Inés o acompanha até a Academia. “Davíd disse que quer ser aluno interno daqui”, ela diz a Ana Magdalena. “Não sei quem pôs essa ideia na cabeça dele e não estou pedindo que me diga. Só quero saber o seguinte: tem vaga para ele?”

“É verdade, Davíd? Quer morar conosco?”

“Quero”, diz o menino.

“E a señora se opõe?”, pergunta Ana Magdalena. “Se é contra a ideia, por que não dizer simplesmente?”

Ela está se dirigindo a Inés, mas ele, Simón, é quem responde. “Nós não nos opomos a essa última vontade dele pela simples razão de que não temos força para isso”, ele diz. “Conosco, Davíd sempre acaba conseguindo o que quer. Somos uma família desse tipo: um chefe e dois servidores.”

Inés não acha engraçado. Nem Ana Magdalena. Mas Davíd sorri serenamente.

“Meninas gostam de segurança”, diz Ana Magdalena, “mas meninos são diferentes. Para meninos, alguns meninos, sair de casa é uma grande aventura. Mas tenho de te avisar, Davíd, que se vier morar conosco não vai mais ser o chefe. Na nossa casa o señor Arroyo é o chefe e os meninos e meninas escutam o que ele diz. Você aceita isso?”

“Aceito”, diz o menino.

“Mas só durante a semana”, diz Inés. “Nos fins de semana ele volta para casa.”

“Vou fazer uma lista das coisas que precisam trazer”, diz Ana Magdalena. “Não se preocupem. Se ele se sentir sozinho, sentir falta dos pais, eu telefono. Alyosha vai ficar de olho nele também. Alyosha tem sensibilidade para essas coisas.”

“Alyosha”, diz ele, Simón. “Quem é Alyosha?”

“Alyosha é quem cuida dos internos”, diz Inés. “Eu falei para você. Você não estava ouvindo?”

“Alyosha é o rapaz que nos ajuda”, diz Ana Magdalena. “Ele é um filho da Academia, então conhece o nosso jeito de fazer as coisas. Os internos são responsabilidade especial dele. Faz as refeições com eles e tem um quarto próprio fora do dormitório. É muito sensível, muito bondoso, muito simpático. Vou apresentar vocês a ele.”

A transição de estudante externo para interno se revela muito simples. Inés compra uma pequena mala na qual embala alguns objetos de toalete e mudas de roupa. O menino acrescenta o Dom Quixote. Na manhã seguinte, prosaicamente ele dá um beijo de despedida em Inés e marcha rua abaixo, com ele, Simón, seguindo atrás com a mala.

Dmitri, como sempre, está esperando na porta. “Ahá, então o rapazinho está chegando pra se instalar”, diz Dmitri, pegando a mala. “Grande dia, com certeza. Dia para cantar, dançar e aprontar a festa.”

“Até logo, meu menino”, diz ele, Simón. “Seja um bom garoto e nos vemos no sábado.”

“Eu sou bom”, diz o menino. “Sou sempre bom.”

Ele fica olhando enquanto Dmitri e o menino desaparecem escada acima. Então, num impulso, ele o segue. Chega ao estúdio a tempo de ver de relance o menino trotando para a parte interna do apartamento, segurando a mão de Ana Magdalena. Uma sensação de perda rola dentro dele como uma névoa. Vêm-lhe lágrimas, que ele tenta em vão esconder.

Dmitri passa um braço consolador por seu ombro. “Calma”, diz Dmitri.

Em vez de se acalmar, ele cai em prantos. Dmitri o aperta junto ao peito; ele não oferece resistência. Permite-se um imenso soluço, outro, um terceiro, inalando profundamente e de um jeito trêmulo os cheiros de fumaça de tabaco e sarja. Desapegando, ele pensa, estou me desapegando. É desculpável, num pai.

Então o momento das lágrimas acaba. Ele se liberta, pigarreia, sussurra uma palavra com intenção de agradecimento, mas que sai como uma espécie de gorgolejo, e desce a escada correndo.

Em casa, essa noite, ele conta o episódio a Inés, um episódio que em retrospecto lhe parece mais e mais estranho, mais que estranho, bizarro.

“Não sei o que deu em mim”, ele diz. “Afinal, o menino não foi levado embora e trancado numa prisão. Se ele se sentir sozinho, se não se der bem com esse sujeito Alyosha, pode, como disse a Ana Magdalena, estar em casa em meia hora. Então por que me partiu o coração? E na frente do Dmitri, justamente ele, o Dmitri!”

Mas Inés está com a cabeça em outra coisa. “Eu devia ter mandado um pijama quente”, ela diz. “Se eu te der, você leva amanhã?”

Na manhã seguinte, ele entrega a Dmitri o pijama dentro de um saco marrom com o nome de Davíd. “Roupa quente que Inés mandou”, ele diz. “Não entregue direto para o Davíd, ele é muito avoado. Entregue para a Ana Magdalena, ou melhor, dê para o rapaz que cuida dos internos.”

“O Alyosha. Entrego para ele, sem falta.”

“A Inés está preocupada que o Davíd possa sentir frio de noite. É o jeito dela: se preocupa. A propósito, você me desculpe pelo drama que fiz ontem. Não sei o que deu em mim.”

“Foi amor”, diz Dmitri. “Você ama o menino. Partiu seu coração ver ele virar as costas desse jeito.”

“Virar as costas? Você não entendeu direito. O Davíd não está virando as costas para nós. Longe disso. Ficar interno na Academia é só temporário, um capricho dele, uma experiência. Quando ele se cansar, ou ficar infeliz, vai voltar para casa.”

“Os pais sempre ficam magoados quando os filhos saem do ninho”, diz Dmitri. “É natural. Você tem coração mole, dá pra perceber. Eu também tenho coração mole, apesar de parecer durão. Não precisa se envergonhar. É a sua natureza e a minha. Nós nascemos assim. Sensíveis.” Ele sorri. “Não como aquela sua Inés. Un corazón de cuero.”

“Você não faz a menor ideia do que está dizendo”, ele diz, duro. “Nunca existiu mãe mais dedicada que Inés.”

Un corazón de cuero”, Dmitri repete. “Um coração de couro. Se não acredita, espere para ver.”

Ele estica o turno de bicicleta o máximo possível, pedalando devagar, perdendo tempo pelas esquinas. A tarde boceja diante dele como um deserto. Ele encontra um bar e pede um vino de paja, o vinho rústico de que passou a gostar na fazenda. Quando sai, está se sentindo agradavelmente tonto. Mas não demora para a melancolia opressiva voltar. Tenho de encontrar alguma coisa para fazer!, ele diz a si mesmo. Não se pode viver assim, matando o tempo!

Un corazón de cuero. Se alguém tem o coração duro é Davíd, não Inés. Não pode haver dúvidas do amor de Inés pelo menino, nem do dele. Mas será bom para o menino eles, por amor, cederem tão facilmente a seus desejos? Quem sabe nas instituições da sociedade resida uma sabedoria cega. Quem sabe se em vez de tratar o menino como um principezinho, devessem devolvê-lo às escolas públicas e deixar que os professores o domassem, transformando-o em um animal social.

Está com dor de cabeça, volta ao apartamento, se tranca em seu quarto e adormece. Quando acorda, já é noite e Inés está em casa.

“Desculpe”, ele diz, “eu estava exausto. Não fiz o jantar.”

“Eu já comi”, diz Inés.