Capítulo
UM

– Como presidente do Clube das Baby-Sitters proponho discutir como nos vamos organizar quando a senhora Newton tiver de ir para o hospital para ter o bebé – disse a Kristy Thomas.

– Como assim? – perguntei.

– Bem, temos de estar preparadas. Quer dizer, há meses que esperamos por este bebé e os Newton são os nossos melhores clientes. Enquanto eles estiveres na maternidade irão, com toda a certeza, precisar de alguém para tomar conta do Jamie. Uma boa baby-sitter estaria preparada para esta situação.

– Eu acho uma boa ideia – disse a Mary Anne Spier. –, concordo em discutirmos este assunto. – A Mary Anne costuma concordar com tudo o que a Kristy diz, não fossem elas as melhores amigas.

Olho para o outro lado do quarto onde está a Claudia Kishi, que me retribui o olhar e encolhe os ombros. Ela é a minha melhor amiga e vice-presidente do nosso clube.

O Clube das Baby-Sitters é composto apenas por nós as quatro: a Kristy, a Claudia, a Mary Anne (que é a nossa secretária), e eu, Stacey McGill, que sou a tesoureira. Faz dois meses que começámos este nosso negócio. Quem teve a ideia foi a Kristy, por isso é ela a presidente. Reunimo-nos três vezes por semana, entre as 17h30 e as 18h00, no quarto da Claudia (ela tem um daqueles telefones com fio no quarto). A razão do nosso clube ter tanto sucesso é o facto de ser composto pelas quatro. Deste modo, é garantido que cada pessoa que nos liga tem sempre uma baby-sitter disponível para o dia e a hora que quer. Os nossos clientes gostam disso. Dizem que ter de fazer um monte chamadas para arranjar uma baby-sitter é uma perda de tempo. Para além disso, eles gostam de nós. Acham que somos boas baby-sitters. Nós também trabalhamos afincadamente para o clube funcionar bem: imprimimos panfletos que deixamos nas caixas de correio dos nossos vizinhos e até colocámos um anúncio no jornal Notícias de Stoneybrook, a voz de Stoneybrook, Connecticut.

É aqui que vivo, nesta cidade pequenina de Connecticut. Deixem-me que vos diga: a minha nova vida é muito diferente da que vivia na cidade de Nova Iorque. Nova Iorque é gigante, Stoneybrook nem por isso. Esta cidade tem apenas uma EB 2,3, a que eu frequento. Todas nós. (Estamos as quatro no sétimo ano). Em Nova Iorque há imensas EB 2,3. Na verdade, Nova Iorque tem imenso de tudo – pessoas, carros, prédios, lojas, pombos, amigos e atividades para fazermos.

Aqui há… bem, aqui não há grande coisa, para ser sincera. Os meus pais e eu mudámo-nos em agosto e eu não fiz uma única amiga até setembro, quando conheci a Claudia na escola. Toda a gente parece conhecer-se desde que nasceu. Na realidade, a Claudia, a Kristy e a Mary Anne conhecem-se desde bebés e cresceram juntas. A Mary Anne vive na casa ao lado da Kristy e a Claudia vive do outro lado da rua, em Bradford Court. (Eu moro duas ruas abaixo delas.)

Portanto, claro que fiquei superfeliz quando a Claudia me contou que a Kristy queria começar um clube! Finalmente iria ter amigas, pensei na altura. E foi mesmo isso que encontrei. Apesar de me dar melhor com a Claudia, não sei o que faria sem a Kristy e a Mary Anne. É verdade que elas as duas parecem mais novas do que eu e a Claudia (ainda não dão muita atenção a roupas ou a rapazes – embora a Kristy já tenha ido ao seu primeiro baile). A Mary Anne é incrivelmente tímida e a Kristy é um bocadinho maria-rapaz. Mas são minhas amigas e não as trocaria por nada deste mundo. Ao contrário de certas traidoras que ficaram em Nova Iorque.

– Muito bem, então vamos começar pela primeira hipótese – continuou a Kristy. – Imaginem que a senhora Newton precisa de ir para o hospital à tarde de um dia de semana. Ela liga para o senhor Newton, ou chama um táxi, ou algo assim, e depois liga-nos para uma de nós ir tomar conta do Jamie.

– E se estivermos todas ocupadas? – perguntei.

– Hum, talvez durante algum tempo uma de nós devesse estar livre uma tarde por semana. Assim garantíamos que a senhora Newton tinha uma baby-sitter. Será um serviço especial só para ela, uma vez que eles são os nossos melhores clientes – respondeu a Kristy.

– Isso parece-me um bocado exagerado – afirmou a Claudia.

Era exatamente o que eu estava a pensar.

– Também acho – concordei. – Os bebés podem demorar mais duas ou três semanas do que o previsto. Podemos estar a desistir de tardes incrivelmente divertidas por razão nenhuma.

– É verdade... – disse a Kristy pensativa.

– E que tal um plano noturno? – sugeri. – Tenho ideia de que as grávidas entram sempre em trabalho de parto durante a noite. Eu nasci às duas e vinte e dois da manhã.

– Eu nasci às quatro e trinta e seis da manhã em ponto – contou a Claudia.

– E eu nasci às quatro da manhã em ponto – declarou a Kristy.

Olhámos para a Mary Anne, que encolheu os ombros.

– Eu não sei a que horas é que nasci. – A mãe da Mary Anne morreu quando ela ainda era pequena e a Mary Anne não é muito chegada ao pai. É normal que nunca tenham falado do dia (ou noite) em que ela nasceu.

Alguém bateu à porta do quarto. Era a Mimi, a avó da Claudia.

– Olá meninas – cumprimentou ela educadamente, abrindo a porta e espreitando para o interior.

– Olá Mimi – respondemos todas.

– Gostariam de comer alguma coisa? – perguntou. A família da Claudia é japonesa e a Mimi, que só veio para os Estados Unidos quando já tinha 32 anos, fala com um sotaque agradável e enrolado. Ela vive com a família Kishi desde antes de a Claudia ter nascido.

– Não obrigada, Mimi – agradeceu a Claudia. – Mas talvez tu nos possas ajudar.

– Com todo o prazer. – A Mimi abriu mais a porta e entrou no quarto.

– Sabes a que horas é que a Mary Anne nasceu? – questionou a neta, calculando que provavelmente a avó devia saber, uma vez que os pais da Claudia são amigos dos Thomas e dos Spier há anos e a Mimi também conhece bem as famílias.

A Mimi olhou para nós um pouco surpresa.

– Deixa-me pensar um bocadinho, minha Claudia… A tua mãe e o teu pai foram para a maternidade por volta da hora de jantar, Mary Anne. Disso eu lembro-me perfeitamente. E, se a memória não me falha, tu nasceste perto das onze horas.

– Oh! – exclamou a Mary Anne com um sorriso a iluminar-lhe o rosto. – Não sabia. Então eu também fui outro bebé nascido durante a noite. Obrigada Mimi.

– Foi um prazer. – A Mimi virou-se para sair do quarto e quase chocou com a Janine, a irmã da Claudia, que estava a entrar.

– Claudia, Claudia – gritava a Janine.

Olhei para ela assustada. A Janine tem quinze anos, é muito empertigada e nada divertida, mas é um génio. Para ser sincera, acho-a uma grande seca. Mesmo muito maçadora. Nunca a ouvi levantar a voz uma vez que fosse, por isso é que quando ela entrou no quarto a gritar «Claudia», eu soube logo que algo de errado se passava. Algo de muito errado mesmo.

Infelizmente tinha razão.

– Janine! O que aconteceu? – interrogou a Claudia.

– Isto. – A Janine abanava um papel que trazia na mão. Passou pela Mimi e deixou-o cair no colo da irmã.

A Claudia pegou no papel e a Kristy, a Mary Anne e eu juntámo-nos a ela. Lemos o panfleto com uma expressão aterrorizada. Isto era o que tinha escrito:

Precisa de uma baby-sitter de confiança?

Precisa de uma urgentemente?

Então ligue para a:

AGÊNCIA DE BABY-SITTERS

Liz Lewis: 555-1162

OU

Michelle Patterson: 555-7548

E descubra um novo grupo de baby-sitters responsáveis!

Idades: 13 para cima

Disponibilidade:

Dias de semana (depois da escola)

Noites de semana (até às 11h00)

Fins de semana (até à meia-noite)

Preços baixos! Anos de experiência!

A melhor escolha para casos de última hora!

LIGUE JÁ!

Olhámos as quatro umas para as outras. Até a Kristy que tem sempre algo a dizer estava sem palavras. Os olhos da Mary Anne estavam tão grandes que eu pensei que lhe fossem saltar da cara.