Capítulo
NOVE

Na tarde seguinte, uma vez que nenhuma de nós tinha trabalho como baby-sitter e estávamos entediadas, fomos para a casa dos Thomas. A Kristy ligou para a senhora Newton, que já estava em casa, a perguntar se podíamos ir visitá-la e conhecer a bebé. Quando ela disse que sim, ficámos muito contentes.

– Fantástico! – exclamou a Kristy depois de ter desligado a chamada. – Eu tenho um presente para a bebé e outro para o Jamie.

– Eu também – declarei.

– E eu – acrescentou a Claudia.

– Já somos quatro – afirmou a Mary Anne.

– Estão embrulhados? – perguntou a Claudia.

– Não – respondemos em uníssono.

– Boa. Então vão buscar os vossos presentes e venham ter a minha casa. Tenho imensas coisas para fazer embrulhos giros.

Quando nos reunimos no quarto da Claudia, espalhámos os nossos presentes no chão e começámos a ver o que cada uma tinha comprado para dar à bebé e ao Jamie.

– Oh, que querido!

A Kristy tinha comprado um pequeno carro de brincar para o Jamie e uma roca em forma de pato para a Lucy. A Claudia comprara um dinossauro para o Jamie e tinha pintado um quadro com gatinhos para a senhora Newton pendurar no quarto da bebé. Eu ia oferecer dois livros: um de capa mole chamado O Mike Mulligan e o seu Fogão Fumarento ao Jamie e Dá Festas no Coelhinho à Lucy.

Os presentes da Mary Anne eram os melhores de todos: um boné vermelho para o Jamie e um pequenino chapéu cor-de-rosa para a bebé.

– Fui eu que os fiz – disse ela timidamente. – Acham que se nota?

– Estás a brincar! – exclamei. – Tu é que os fizeste?

– Então não se nota?

– Nem um bocadinho!

– Mary Anne, não fazia ideia de que sabias coser – afirmou a Kristy.

A Mary Anne olhou para a Claudia, que lhe sorriu.

– A Mimi anda a ensinar-lhe – contou a Claudia. – Sempre quis ensinar alguém, mas a Janine e eu nunca tivemos interesse em aprender.

– Ela lembra-se da minha mãe – acrescentou a Mary Anne. – Fala-me sobre ela enquanto trabalhamos.

– Isso… Isso é fantástico – respondi. (Devia ter dito aquilo?)

A Mary Anne alegrou-se.

– Ela vai ajudar-me a fazer um cachecol para o meu pai.

– Uau! – Ficámos impressionadas.

A Claudia tirou uma grande caixa de cartão quadrada, do seu armário.

– Muito bem, mãos à obra – disse ela.

Abrimos a caixa. Estava cheia de coisas que a Claudia tinha colecionado ao longo dos anos: flores de plástico, corações de papel, laços, missangas, fitas, e pequenos animais feitos em crochê.

– Essas são as decorações para os sacos – instruiu ela. – Podemos fazer o nosso próprio papel de embrulho personalizado com o que está aqui – continuou abrindo uma caixa de sapatos que estava coberta de autocolantes. – Vêem, tenho aqui quatro carimbos de cores diferentes. Podem carimbar este papel branco para fazer o estampado que quiserem. Depois decoramos os sacos com as outras coisas.

Começámos a trabalhar. Coloquei corações vermelhos e flores azuis no meu papel de embrulho para a Lucy e grandes sapos verdes com balões de fala a dizer «Croá!» no meu papel de embrulho para o Jamie. Quando acabámos, admirámos rapidamente o nosso trabalho e corremos até à casa dos Newton.

Foi o Jamie que nos abriu a porta.

– Olá – cumprimentou ele.

A senhora Newton apareceu atrás dele.

– Oh, olá! Estou tão feliz de vos ver! O Jamie tem sentido a vossa falta e estou desejosa que vocês conheçam a Lucy. Entrem.

Assim o fizemos. Fiquei espantada de ver que a senhora Newton ainda estava, como dizer, gorda. Não com uma barriga de grávida, mas também não como eu pensei que ela ficaria depois de ter o bebé.

– Tão queridas, meninas. Trouxeram presentes. Não precisavam de se terem incomodado.

– Nós sabemos – disse a Kristy com um sorriso.

– Mas quisemos – acrescentei.

– Sim – concordou a Mary Anne – Os bebés são especiais.

O Jamie olhou para os presentes e depois para a mãe.

– Algum deles é para mim?

– Jamie! Não é bonito fazer-se essa pergunta! – A senhora Newton olhou para nós. – Desculpem. A última semana tem sido complicada. O Jamie anda com um pouco de C-I-Ú- -M-E-S – soletrou ela. – A L-U-C-Y tem recebido muitos P-R-E-S-E-N-T-E-S.

– Bem, Jamie, estás cheio de sorte – contou-lhe a Claudia. – Quatro destes presentes são para ti.

– Quatro! – exclamou o Jamie.

Não o fizemos esperar. Demos-lhe os presentes que eram para ele e vimo-lo a rasgar os embrulhos.

– O que se diz? – perguntou a senhora Newton ao filho.

– Obrigado – agradeceu-nos o Jamie de forma automática. Ele tinha colocado o boné e tentava ler o livro ao mesmo tempo que brincava com os novos brinquedos.

Depois demos à senhora Newton os presentes que eram para a Lucy.

– Vamos espreitar a bebé antes de eu os abrir – disse ela. – Gostava que a Lucy estivesse acordada para poderem pegar-lhe ao colo, mas ela ainda está a dormir.

A senhora Newton levou-nos ao andar de cima e abriu a porta para o quarto da Lucy. Um grande berço branco estava encostado a um canto, mas a Lucy estava a dormir noutro berço azul mais pequeno, que estava perto da porta.

– Ela é muito pequena para dormir no berço branco – sussurrou a senhora Newton. – Os recém-nascidos sentem-se mais seguros nestes berços pequenos.

Os membros do Clube das Baby-Sitters puseram-se em volta do berço azul sem fazer barulho e a observar a bebé.

– Ohhh – deliciei-me eu com a pequenina Lucy.

– Ela é tão pequenina – sussurrou a Mary Anne.

Era mesmo. Acho que nunca me tinha apercebido do quão pequeninos eram os bebés recém-nascidos.

– Posso tocar-lhe? – perguntei baixinho à senhora Newton.

Ela acenou que sim.

Inclinei-me e toquei numa das minúsculas mãos da Lucy. Eram macias como seda e perfeitas: quatro pequeninos dedos e um mini polegar, cada um com uma unha tão pequena como uma migalha. Respirei fundo. A Lucy tinha um cheiro doce, como pó talco e leite. Depois dei-lhe uma festa na cabecinha, sentindo o seu fino cabelo escuro. Ela mexeu-se e abriu os olhos o suficiente para eu ver que eram de um azul cor do mar. Depois voltou a fechá-los.

Olhei para as minhas amigas. A Claudia, a Kristy e a Mary Anne estavam encantadas com a bebé.

Passado alguns minutos, saímos e fomos sentar-nos na sala de estar enquanto a senhora Newton abria os presentes que tínhamos levado para a Lucy. Ela adorou cada um deles e comentou os embrulhos originais.

– Acha que o chapéu cabe? – interrogou a Mary Anne sem ter a certeza se era o tamanho certo.

– Dentro de algumas semanas ficará perfeito.

A Mary Anne suspirou de alívio.

– Senhora Newton? Posso fazer-lhe uma pergunta? – inquiriu a Kristy.

– Claro que sim.

De repente o meu estômago deu uma volta. Tinha um pressentimento horrível do que a Kristy ia dizer a seguir. Olhei para a Claudia, que já estava a olhar para mim. Oh, não, o seu olhar dizia-me que ela não estava a acreditar que a Kristy iria trazer aquele assunto à baila agora.

Mas trouxe.

– Não sei como dizer isto – começou a Kristy –, mas, quando o Jamie esteve em minha casa a semana passada, ele disse que nós não iríamos deixar de ser as baby-sitters dele. Quer dizer, não foi bem assim… Ele disse que a ouviu a falar ao telefone com a Liz Lewis da Agência de Baby-Sitters. É…? Podemos…? – A Kristy não sabia como terminar o que tinha começado.

A cara da senhora Newton estava vermelha de vergonha. Tinha a certeza que a minha estava igual. Sentia o meu rosto muito quente.

– Acho que vos devia ter contado – respondeu a senhora Newton. – Sabia como estavam contentes com a chegada da bebé. E, claro, vocês sempre serão as nossas baby-sitters preferidas. É só que um recém-nascido é muito frágil e delicado, precisa de cuidados especiais redobrados…

– Mas nós somos muito responsáveis – protestou a Kristy.

– Eu já tomei conta de bebés – acrescentei.

– Recém-nascidos? – questionou a senhora Newton.

– Bem, um tinha dez meses e outro tinha oito.

– Isso é uma grande diferença – afirmou ela. – Até entre bebés recém-nascidos e bebés de três meses há uma grande diferença. De qualquer forma, o que estava a dizer é que, nos próximos meses, eu vou sentir-me mais tranquila em deixar a Lucy com uma baby-sitter mais velha. Mas haverá alturas em que a Lucy vai sair comigo e irei precisar de alguém para ficar com o Jamie. Ficarei muito feliz em ligar para o Clube das Baby-Sitters.

– Compreendo – disse a Claudia calmamente.

– Fico contente em saber que ainda quer o nosso serviço para ficarmos com o Jamie – respondeu a Kristy.

– E quando a Lucy crescer, espero que voltem a ser as minhas baby-sitters regulares – acrescentou a senhora Newton.

– Certamente que seremos – declarei, mas não me sentia nem um bocadinho tão animada como o meu tom de voz fazia crer. Nada parecia estar a correr como planeado para o clube.

***

No dia seguinte, depois da escola, conheci pela primeira vez a Janet e a Leslie. Elas chegaram à reunião de quarta-feira do Clube das Baby-Sitters às cinco e meia.

Observei-as minuciosamente. Claro, elas já eram membros do clube, mas não resisti em fazer-lhes algumas perguntas.

– Já tiveram muito trabalho como baby-sitters? – perguntei à Janet.

– Montes – respondeu ela, enquanto mascava sonoramente um grande pedaço de pastilha e fazia balões que depois rebentava.

– E tu? Também? – questionei à Leslie, que parecia entediada.

Ela afastou o seu farto cabelo da cara. Reparei que estava a usar maquilhagem. E não era pouca.

– Sim – disse. Depois olhou para a Janet e as duas trocaram sorrisinhos.

– Onde? – quis saber a Mary Anne. Fiquei surpresa de a ver entrar na conversa, mas sabia que ela também estava preocupada com a nossa reputação.

– No outro lado da cidade – retorquiu a Janet (Mnham, mnham. Pum.) – Provavelmente vocês não conhecem ninguém que more lá.

– Quantos anos tinha a criança mais nova de quem vocês já ficaram a tomar conta? – interrogou a Claudia.

– Uns nove meses – disse a Leslie.

– O (mnham) mesmo – declarou a Janet.

A Kristy observava a nossa interação nervosamente, os seus olhos passando dos novos membros do clube para os mais antigos e de volta para os novos.

– De quantas crianças conseguem tomar conta ao mesmo tempo? – quis saber.

– Ah, acho que de umas três ou quatro – afirmou a Leslie.

– Sim – concordou a Janet. (Mnham, pum.)

A Kristy decidiu que era hora de nos impressionar.

– Até que horas podem chegar a casa? – inquiriu.

– Até às onze nos dias de semana – responderam as duas em uníssono.

– Nas noites de sexta e sábado (mnham) posso chegar até à meia-noite (pum) – acrescentou a Janet.

– Eu posso ficar até às horas que eu quiser no fim de semana, desde que avise a minha mãe primeiro – contou a Leslie.

Fiquei de boca aberta.

– Quantos anos tens?

– Catorze – disse ela.

– Eu tenho treze – afirmou a Janet.

Comecei a ficar um bocadinho de nada impressionada.

A Kristy olhou para nós triunfantemente.

– Acho que o nosso próximo passo é falar aos clientes dos nossos novos membros. – Ela tirou uma cópia do panfleto do Clube das Baby-Sitters de uma pasta que trazia consigo. – Vamos acrescentar os nomes e as idades da Janet e da Leslie, e até que horas podemos ficar a trabalhar, aos nossos panfletos. Depois imprimimos as versões atualizadas e distribuímo-las assim que as cópias estiverem prontas. Quem me pode ajudar amanhã depois da escola?

– Eu – respondemos eu, a Claudia e a Mary Anne ao mesmo tempo.

Olhámos para a Janet e para a Leslie, que estavam a olhar uma para a outra.

– Bem (mnham, mnham), nós gostaríamos de vos ajudar, mas amanhã temos trabalhos que já tinham sido agendados anteriormente (mnham) – desculpou-se a Janet.

A Kristy olhou para mim como quem diz: «Vês como elas são responsáveis!»

– Muito bem – disse a Kristy –, o nosso plano será o seguinte: amanhã distribuímos os panfletos e ligamos aos nossos melhores clientes para lhes contar as novidades pessoalmente. Na sexta, voltamos a reunirmo-nos.

*

Seguimos o plano da Kristy e, na reunião de sexta-feira, conseguimos quatro trabalhos. Dois eram necessidades de última hora para as noites de fim de semana. A Janet e a Leslie ficaram com esses. Mal podíamos esperar pela reunião de segunda-feira para sabermos como tinham corrido.

O Clube das Baby-Sitters estava de volta à ação!