Capítulo
DOZE

Quinta-feira, 11 de dezembro

Surpresa! Hoje a Stacey convocou uma reunião de emergência do clube para a hora de almoço. Foi inesperado por duas razões. Primeiro: a Kristy disse que não devíamos tratar mais de assuntos relacionados com o nosso negócio na escola. Segundo: a Kristy costuma convocar reuniões de emergência por tudo e por nada, mas nenhum dos outros membros alguma vez o fizera. A Stacey foi a primeira a fazê-lo e ainda bem que o fez, porque o que ela nos contou ajudou o clube a preparar-se para a batalha final na guerra contra a Agência de Baby-Sitters.

***

Li o que a Mary Anne escreveu no nosso diário sobre batalhas e guerras e acho que ela estava a dramatizar. Contudo, ela tinha razão, foi acertado termo-nos reunido. Fez-nos pensar em coisas importantes.

Encontrar um lugar onde nos pudéssemos reunir é que foi um problema. A Kristy agia como se toda a escola estivesse sobre escuta ou assim.

– E se nós separássemos uma mesa no refeitório? – sugeriu a Claudia.

– Estás a brincar? Nunca! – afirmou a Kristy. – De certeza que alguém nos irá ouvir.

– Não há uma sala de aula vazia que possamos usar? – interrogou a Mary Anne.

A Kristy rejeitou a ideia.

– É demasiado fácil para alguém se pôr a ouvir atrás da porta.

– Acho que a casa de banho pode…

– Nem pensar. Basta alguém se esconder dentro de uma das cabinas que consegue ouvir tudo e nenhuma de nós dá pela sua presença.

– Bem, e que tal o recreio? – disse eu. – Vamos sozinhas, mas estaremos à vista de todos. Assim ninguém vai ser capaz de nos espiar e podemos afastar-nos para longe se alguém começar a aproximar-se muito.

Foi mesmo isso que fizemos. Almoçámos rapidamente e juntámo-nos no recreio. Como ninguém estava a jogar no campo de basebol, decidimos sentar-nos lá. Tinha nevado na noite anterior e o chão estava com uma cobertura de oito centímetros de neve. Os pés já se tinham transformado em blocos de gelo mesmo antes de começarmos a conversar. (Em Nova Iorque, oito centímetros de neve não iam durar muito. Os flocos iam derreter assim que tocassem no chão.)

– Muito bem, Stacey – declarou a Kristy. – Porque é que convocaste esta reunião.

– Porque temos um problema.

– Outro?

– E é um grande, mas pode acabar por ser uma vantagem para nós – afirmei.

– Isso seria uma novidade – comentou a Claudia.

– O que aconteceu foi o seguinte – comecei a dizer enquanto punha as minhas mãos enluvadas debaixo dos meus braços, numa tentativa de aquecer os meus dedos que estavam tão congelados quanto os meus pés. – Ontem fui tomar conta de duas crianças. Lembram-se de vos ter contado na reunião que fui fazer baby-sitting ao Jamie e notei que ele estava chateado por causa das novas baby-sitters?

As minhas amigas assentiram.

– Bem, eu esqueci-me de vos contar que disse ao Jamie que ele devia falar com a sua mãe sobre isso. Quer dizer, nós não podemos dizer nada aos pais, mas as crianças podem.

– É uma boa ideia – elogiou a Kristy.

– À noite, fui tomar conta da Charlotte e ela também estava chateada, por isso, disse-lhe o mesmo: que ela devia falar com os seus pais. Acho que, a partir de agora, devíamos estar atentas a sinais que possam mostrar que as crianças de quem tomamos conta não estão felizes com a Agência de Baby-Sitters. Depois devíamos encorajá-los a falarem sobre isso com os pais. Estão no direito deles.

Os outros membros do clube concordaram comigo.

Também acordámos que a Agência de Baby-Sitters era muito má comparada com o Clube das Baby-Sitters. Nós tínhamos qualidade e eles… bem, eles não tinham. Mas nenhuma de nós estava preparada para o que vimos no caminho de regresso a casa nessa mesma tarde.

O tempo estava horrível. O céu estava cinzento e o ar estava frio e ventoso. Era um dia de inverno. As estradas tinham-se tornado camas de gelo e estavam cheias de poças nas bordas. Estávamos todas a morrer de frio e os meus dentes não paravam de tremer. Quando nos aproximámos da rua onde a Kristy, a Claudia e a Mary Anne viviam, quase chocámos com o Jamie Newton. Ele estava sozinho, no pequenino espaço relvado que havia entre o passeio e a estrada.

– Olá! – cumprimentou-nos o Jamie.

– Jamie! – exclamou a Kristy. – O que é que estás aqui a fazer?

– Estou a brincar – respondeu ele.

– Mas estás demasiado perto da estrada. Não devias estar no teu jardim?

Ela olhou para nós como que a dizer «No que é que a senhora Newton está a pensar

– E onde é que estão as tuas luvas, Jamie? – perguntei. – E o teu gorro? Está um dia gelado. A tua mãe hoje está muito atarefada a cuidar da Lucy?

O Jamie fez que não com a cabeça.

– Ela está numa reunião. A Lucy está a dormir.

Um carro passou por nós a acelerar e salpicou-nos com a água das poças da borda da estrada. Tremi e tentei não pensar no que poderia ter acontecido se o Jamie estivesse a brincar onde o encontrámos.

– Jamie – disse a Mary Anne de repente –, está alguma baby-sitter a tomar conta de vocês hoje?

– Sim.

– Como é que se chama?

– Barb, não, Cathy.

– Cathy Morris? – inquiri.

– Sim.

– Ela sabe que tu estás aqui? – interrogou a Kristy.

O Jamie encolheu os ombros.

– Ela disse que eu podia brincar na rua.

Olhei para os membros do clube.

– O que é que acham que devíamos fazer? – questionei.

– Não tenho a certeza – replicou a Kristy lentamente.

– Jamie – disse, ajoelhando-me para ficar ao nível dos seus olhos –, consegues fazer duas coisas especiais? Por nós?

– Sim – respondeu com um ar solene.

– Lindo menino. A primeira é ires lá dentro e pores as tuas luvas e o teu gorro. Se não os conseguires tirar do armário, pede ajuda à Cathy, mas não venhas para a rua sem eles, está bem?

– Sim.

– A segunda coisa é brincares no teu jardim, se quiseres brincar ao ar livre. É muito perigoso estares aqui, perto da estrada. Brinca no teu baloiço, está bem?

– Sim.

Vimos o Jamie atravessar o seu alpendre e entrar dentro de casa pela porta da frente antes de seguirmos o nosso caminho.

– Uau – disse a Kristy. – Isto é muito grave. A baby-sitter que a tão aclamada Agência encontrou para os Newton deixa crianças de três anos brincar na rua sozinhos. Têm noção do que podia ter acontecido?

– Ele podia ter sido atropelado – declarou a Claudia.

– Ou podia ter decidido começar a andar e afastar-se da sua casa – continuou a Mary Anne. – Sabem que o ribeiro ainda não está totalmente congelado. E se ele tivesse caído lá?

– Há coisas piores – acrescentei. – Já se esqueceram de quantas crianças desaparecem hoje em dia? Alguém podia ter passado e ter pegado nele e o ter posto dentro do seu carro. Num dia como este – acenei com a minha mão para o ar –, provavelmente não haveria ninguém na rua para ver o que estava a acontecer. A pessoa nem tinha de se incomodar a tentar chamar a atenção do Jamie para ele entrar no carro. Apenas tinha de… o raptar.

– Isso é horrível – declarou a Kristy.

– Eu sei.

– Bem, acho que agora devíamos fazer alguma coisa em relação à Agência. Algo mais do que apenas dizer às crianças para elas contarem aos pais o que acontece quando ficam sozinhas com as baby-sitters – afirmou seriamente a Kristy. – A questão é o quê? Talvez devêssemos falar com os nossos pais. A minha mãe sabe sempre o que fazer.

– Não vejo qual é o problema – respondeu a Claudia. – Se eu soubesse onde é que a senhora Newton está neste momento, ligava-lhe já e contava-lhe o que acabou de acontecer com o Jamie. Depois ligava a todas as pessoas que eu conhecesse.

Tínhamos chegado a casa da Kristy e estávamos no seu alpendre a falar e a tremer.

– Não – disse eu. – Eu sei o que a Kristy quer fazer. Se começássemos nós mesmas a ligar para os pais das crianças, eles pensariam que estávamos apenas a tentar acabar com a Agência porque ela é a nossa concorrência.

– Oh – fez a Claudia. – Têm razão.

– Bem, vamos para casa – sugeriu a Mary Anne. – Talvez devêssemos falar com os nossos pais. O importante é que o Jamie está a salvo por agora.

– Sim – concordou a Kristy, sem ter a certeza absoluta.

A Claudia, a Kristy e a Mary Anne entraram em suas casas e eu continuei o resto do caminho até chegar à minha. Encontrei a minha mãe na cozinha, a ler o jornal e a beber café.

– Olá, querida – cumprimentou-me ela. – Como correu a escola?

– Bem… Mãe?

– Sim?

Tinha pendurado o meu casaco e estava a preparar um copo de leite para mim. Sentei-me à mesa, no banco ao lado dela.

– Se soubesses que alguém andava a fazer algo que pode pôr outra pessoa em risco, o que farias?

A minha mãe olhou para mim pensativa.

– Acho que preciso de um bocadinho mais de informação.

– Bom, se a pessoa em risco fosse uma criança e a pessoa que o estava a pôr em perigo era alguém em quem os pais confiavam, mas, se tu contasses, tu é que ficarias mal vista?

– Stacey Elizabeth – ralhou a minha mãe severamente. – Não estás a falar de abuso infantil, pois não?

– Oh, não. Nada parecido com isso.

Podia ver o alívio nos olhos da minha mãe.

– E não estás a falar de alguma das raparigas do Clube das Baby-Sitters, certo?

– Não. Juro. Quer dizer, a pessoa que está a causar o problema não faz parte do clube.

– Muito bem. O que queres dizer com ficar mal vista?

– Dar a parecer que está com inveja ou que é uma queixinhas. Qual é a expressão que o pai usa?

– Uvas azedas?

– Sim, é isso.

– Isto é apenas a minha opinião – disse a minha mãe – porque não me deste os factos, mas, tirando isso, acho que, se uma criança está em perigo, a pessoa que iria fazer queixinhas devia arriscar ficar «mal vista». Para mim não há qualquer dúvida quanto a isso. Mesmo que seja uma coisa complicada.

Assenti.

– Está bem. Obrigada, mãe.

Corri escadas acima até ao quarto dos meus pais e liguei para a Kristy.

– Eu liguei para a minha mãe que estava a trabalhar e ela disse-me o mesmo que a tua mãe te disse, só que eu contei-lhe a história toda – informou-me. – A Mary Anne ainda não conseguiu falar com o pai dela, mas a Claudia falou com a Mimi que também disse o mesmo. – (A Claudia falava de todos os seus problemas com a Mimi. Eram as duas muito cúmplices.)

– E então? – inquiri.

– Então… – A Kristy engoliu em seco. – Acabei de ver passar o carro da senhora Newton. Ela já está em casa. Acho que é agora ou nunca.

*

Quinze minutos depois, encontrámo-nos no alpendre dos Newton. Nenhuma de nós queria tocar à campainha. Depois de muito hesitarmos, a Claudia finalmente tocou.

O Jamie abriu-nos a porta.

– Olá, outra vez – cumprimentou ele. – A mãe já está em casa. – Parecia completamente feliz.

– Boa – respondeu a Claudia. – É mesmo com a tua mãe que queremos falar.

A senhora Newton levou-nos até à sala de estar.

– Estão muito sérias – notou ela. – Passa-se alguma coisa?

– Na verdade, sim – afirmou a Kristy. Ela olhou para o Jamie, que estava a tentar sentar-se no colo da sua mãe. – Podemos falar a sós?

– Bem… com certeza. – A senhora Newton parecia espantada. Não a podia culpar. – Jamie, querido, vai ver se está a dar a Rua Sésamo, pode ser? – disse ela.

O Jamie saiu da sala.

– Nós não sabemos muito bem como lhe dizer o que viemos cá dizer – começou a Kristy, sentindo-se incomodada –, mas acho que devemos começar pelo que aconteceu esta tarde. – Ela olhou para todas.

A senhora Newton assentiu pacientemente.

– Bem, hum, estávamos a vir da escola para casa e, quando chegámos aqui a sua casa, encontrámos o Jamie a brincar na rua.

– Sozinho – acrescentou a Mary Anne.

– Perto da estrada – disse a Claudia.

– Sem luvas ou gorro – afirmei.

– Ele disse-nos que a Cathy Morris estava a tomar conta dele – continuou a Kristy –, mas ela estava dentro de casa. Nós não achamos que ela saiba onde é que o Jamie estava… Mas achámos que a senhora Newton devia ter conhecimento da situação na mesma…

A mãe do Jamie não disse uma palavra. Parecia aterrada.

– Pedimos desculpa de sermos tão queixinhas – disse nervosamente –, mas nós…

– Não, não. Oh, meninas, eu agradeço terem-me contado. Tenho a certeza de que não foi fácil virem-me contar isto. Eu estou só… Não consigo acreditar… Quer dizer, isso foi tão irresponsável.

Decidi que a senhora Newton também devia saber sobre o resto.

– Eu soube ontem que o Jamie não gostou de nenhuma das suas novas baby-sitters, mas não queria que pensasse que estávamos só a ser más-línguas em relação à nossa concorrência. O Jamie disse-me que a maioria das suas novas baby-sitters passa o tempo a falar ao telefone ou a ver televisão. Ele achava que eu também não iria dar-lhe nenhuma atenção. E uma das baby-sitters fuma e queimou a almofada de uma cadeira do escritório. A Charlotte Johanssen também tem andado chateada. Tivemos uma longa conversa ontem à noite. Ele disse-me que uma das suas baby-sitters convida o namorado para lá ir a casa.

– Bom – declarou a senhora Newton bruscamente –, certamente não irei ligar mais para a Agência, apesar de termos encontrado um rapaz de dezassete anos que era um baby-sitter muito bom. Vou continuar a ligar-lhe, mas será diretamente, sem ser através da Agência. Tenho de admitir que o Jamie não tem andado muito feliz recentemente, mas achava que andava com ciúmes da Lucy. Também vou ligar à Peggy Johanssen e a outros pais. Eles irão querer saber o que me acabaram de contar. Depois vou ligar à Michelle e à Liz. E à Cathy Morris, claro. Gostava de saber qual das baby-sitters é a fumadora.

– Senhora Newton – declarou a Kristy de repente –, eu sei que vai querer falar com a Cathy sobre o que se passou esta tarde, mas será que pode deixar sermos nós a falar com a Liz e com a Michelle? Temos umas contas a acertar com elas.