Curriculum vitae resumido de C.G. Jung

Carl Gustav Jung nasceu em 26 de julho de 1875, em Kesswil (Cantão Thurgau), na Suíça, mas desde os quatro anos de idade viveu em Basel junto com seus pais, de onde provinha também sua mãe, enquanto que os antecedentes de seu pai vieram da Alemanha; da Alemanha seu avô emigrou para a Suíça, quando Alexander von Humboldt o auxiliou em 1822 a tornar-se professor de Cirurgia na Universidade de Basel. O pai de Jung era pastor e seus antecessores, tanto paternos quanto maternos, provinham igualmente de profissões intelectuais. Ele cumpriu seus estudos primário e secundário, assim como o estudo da medicina, na cidade natal de Basel, mas depois (1900), como assistente no manicômio cantonal e na clínica psiquiátrica na Universidade de Zurique, começou sua carreira de psiquiatra; mais tarde, precisamente ali, exerceu o cargo de médico-chefe durante quatro anos. Nesse meio-tempo, no ano de 1902, cursou um semestre de aulas junto a Pierre Janet na Salpetrière em Paris, aprofundando seus conhecimentos em psicopatologia teórica, e depois disso trabalhou sob a orientação de E. Bleuler, o então diretor da Clínica Burghölzli (Zurique), em inúmeras pesquisas científicas. Como resultado desses trabalhos, publicou uma série de escritos importantes, dentre os quais um método de teste, introduzido por ele, o “experimento de associação” (publicado em 1904), que lhe assegurou renome internacional e fez com que recebesse muitos convites para conferências no estrangeiro e, entre outras coisas, rendeu-lhe o título de doctor honoris causa da Clark University (Massachusetts). Em 1905 tornou-se docente de psiquiatria na Universidade de Zurique. Em 1909 Jung renunciou ao seu posto na clínica psiquiátrica para, dali por diante, dedicar-se a sua atividade de médico psicoterapeuta, a suas pesquisas científicas e a seu trabalho de escritor. Em 1903 casou com Emma Rauschenbach, que se tornou sua colaboradora fiel e valorosa até sua morte em 1955; desse casamento nasceram um filho e quatro filhas, os quais já estão todos casados gerando inúmeros filhos e netos.

No ano de 1907 aconteceu o primeiro encontro pessoal com Sigmund Freud, e ali começou seu ingresso profundo para dentro das teorias da psicanálise, nas quais encontrou uma confirmação decisiva das pesquisas e resultados que ele realizara até então no âmbito da psicopatologia experimental. Seguiu-se uma época de trocas de pensamento e intercâmbio científico intensos e um enriquecimento mútuo, no decorrer do qual Jung se tornou o redator do Jahrbuch für psychologische und psychopathologische Forschungen, de Bleuler e Freud, e mais tarde (1911) tornou-se presidente da Internationale Paychoanalytische Gesellschaft, que fundou com a intenção de reunir todos os médicos e cientistas com orientação de psicologia profunda e que desenvolveu uma atividade científica viva. O livro Wandlungen und Symbole der Libido (Transformações e símbolos da libido), publicado em 1912, e que apresentava um debate com a teoria de Freud, já mostrava, porém, que as concepções de Jung estavam tomando um caminho diferente, divergente do de Freud, o que, mais tarde, em 1913, também acabou levando-o a uma separação definitiva de Freud e da escola psicanalítica. A partir daí Jung designou sua própria concepção como “psicologia analítica”, e mais tarde, quando se tratava de qualificar a própria doutrina puramente teórica, chamou-a de “psicologia complexa”. No entanto, hoje, alinhando-se com as formulações linguísticas de língua estrangeira, seus discípulos usam também na língua alemã apenas a designação de “Analytische Psychologie” (psicologia analítica). A partir de 1913 Jung renunciou também à sua atividade como docente na universidade, dedicando-se de forma cada vez mais exclusiva a suas pesquisas sobre a estrutura e a fenomenologia do inconsciente e sobre os problemas do comportamento psíquico em geral. Em sua obra sobre os Tipos psicológicos (1920) encontramos a primeira redação fundamental sobre o assunto. Numa sequência acelerada foram publicados seus trabalhos restantes, em parte abrindo um reino totalmente novo, sobre a natureza do inconsciente coletivo e de sua relação para com a consciência, assim como essência e formas do caminho de desenvolvimento psíquico, o “processo de individuação”, que leva à elaboração e realização da “inteireza”, presente como disposição natural na psique humana.

Em virtude de suas pesquisas sobre o inconsciente e de sua fenomenologia, logo Jung se viu motivado a empreender grandes viagens a fim de estudar a psicologia dos primitivos em contato direto com eles. Passou bastante tempo na África do Norte (1921), assim como junto aos povos indígenas no Arizona e Novo México, nos Estados Unidos (1924-1925), onde no ano seguinte (1926) se seguiu uma outra expedição aos habitantes das costas do sul e do oeste do Monte Elgon no Quênia (África Oriental britânica). As analogias impressionantes entre os conteúdos do inconsciente de um europeu moderno e certas manifestações da psique primitiva e seu universo mitológico e das sagas motivaram Jung a estender e aprofundar suas pesquisas etnológicas e de psicologia da religião.

Logo começou a dedicar-se também à simbologia filosófica e religiosa do distante Oriente, encontrando ali também tesouros inestimáveis para o avanço no desenvolvimento de suas concepções. Nesse sentido, uma etapa decisiva foi marcada por seu encontro com Richard Wilhelm (morto em 1930), o então diretor do Instituto chinês em Frankfurt e tradutor e elaborador de quase todas as obras chinesas de filosofia e poesia. Como resultado desse encontro foi publicado em 1930 o trabalho conjunto de um texto do antigo taoismo O segredo da flor de ouro. Nos anos tardios, uma outra ligação fascinante se estabeleceu no trabalho conjunto com Heinrich Zimmer (morto em 1943), alemão estudioso de hindu, cuja última obra Jung publicou sob o título Der Weg zum Selbst (O caminho para o si-mesmo, 1944), e por fim a ligação com o filólogo e pesquisador de mitos, o húngaro Karl Kerényi, a cujo encontro se devem os trabalhos comuns sobre “Das Göttliche Kind” (A criança divina) e “Das Göttliche Mädchen” (A menina divina”), Einführung in das Wesen der Mythologie (Introdução à essência da mitologia), (Amsterdam, 1942).

Ao lado de sua extensa prática como psicoterapeuta, Jung proferiu também inúmeras conferências a convite de diversos congressos e universidades. Também atuou como professor-visitante de diversas escolas superiores, como por exemplo a Universidade de Fordham, a Universidade de Clark, a Universidade de Yale nos Estados Unidos, assim como a Universidade de Harvard, que por ocasião de seu terceiro centenário (1936) conferiu o título de doutor honorário aos mais importantes cientistas vivos então, dentre eles também a Jung. Depois disso, seguiram-se ainda outras homenagens a Jung com o título de doutor honorário; foi convidado para uma viagem à Índia pelo comitê organizador das festividades de comemoração dos 20 anos de existência da Universidade de Calcutá, onde recebeu em 1937 o título de d. de lit. da universidade indiana de Benares, da universidade maometana de Allahabad, assim como D. Sc. da Universidade de Oxford na Inglaterra, sendo nomeado como F.R.S. (Fellow of the Royal Society of Medicine).

Seus trabalhos científicos, seu interesse universal, suas inúmeras viagens e sua abertura para qualquer intercâmbio espiritual logo transformaram Jung em uma personalidade de liderança nas buscas internacionais da pesquisa no campo da psicologia profunda. Em 1930 foi-lhe conferida a presidência de honra da “Deutsche Ärtzliche Gesellschaft für Psychotherapie” (Sociedade médica alemã de psicoterapia) e em 1933, a presidência da “Internationale Allgemeine Ärztliche Gesellschaft für Psychotherapie” (Sociedade médica geral internacional de psicoterapia), e até sua demissão, que se deu em 1939, foi também editor do Zentralblattes für Psychotherapie und ihre Grenzgebiete. No mesmo ano (1933) retomou suas preleções acadêmicas no departamento de disciplinas livres da ETH (Eidgenössische Tecnische Hochshule), sendo nomeado como professor-titular em 1935. Desde 1935 foi presidente da “Schweizerische Gesellschaft für praktische Psychologie” (Sociedade suíça de psicologia prática) em Zurique. Por motivos de saúde, em 1942 renunciou a suas atividades junto à ETH, para, porém, no ano de 1944, apesar de estar extremamente atarefado, anuir ao convite da universidade de sua cidade natal, Basel, como professor ordinário nos quadros de um ordinariato de psicologia médica por ele fundado. Infelizmente, em virtude de enfermidade, um ano mais tarde teve de renunciar também a essa tarefa e pedir demissão. Desde então vive exclusivamente em função de seu trabalho científico e de escritor, renunciando inclusive à sua atividade prática como médico.

Nos últimos 20 anos apareceu uma série de publicações fundamentais científicas, em primeira linha no âmbito da alquimia em seu contexto psicológico e da psicologia da religião comparada, que receberam uma explicitação totalmente nova e uma interpretação psicológica através de Jung.

Após a Segunda Guerra Mundial, Jung voltou sua atenção cada vez mais aos fenômenos dos processos de centralização psíquicos e de sua simbologia, de onde surgiram inúmeras obras essenciais, como Aion, uma pesquisa em história da simbologia e os dois importantes volumes sobre Mysterium coniunctionis. Ele também mostrou um interesse renovado no âmbito das manifestações parapsicológicas, às quais dedicara atenção especial em sua tese de doutoramento através de pesquisas autônomas que lhe possibilitaram expor novos pontos de vista e novos princípios de explicitação.

Dentre as deferências que lhe foram concedidas por sua terra natal, devem ser mencionados o prêmio de literatura da cidade de Zurique (1932), a nomeação como membro de honra da “Scheizerische Akademie der Medizinische Wissenschaften” (Academia suíça de ciências médicas, 1943) e o título de doutor honorífico concedido a ele em 1945, por ocasião de seu 70º aniversário pela Universidade de Genf, assim como em 1955, por ocasião de seu 80º aniversário, pela da confederação da escola superior técnica de Zurique.

Durante os últimos anos de sua vida Jung dedicou um interesse sempre crescente também aos problemas do coletivo da humanidade. O escrito “Civilização e futuro”, que alcançou ampla divulgação, apresenta um testemunho convincente disso. Mesmo já estando bastante adiantado o entardecer de sua vida, ainda encontrou tempo para compor, junto com sua fiel colaboradora e discípula, a Senhora Aniela Jaffé, sua biografia profunda no livro Erinnerungen, Träume, Gedanken (Memórias, sonhos, reflexões). No dia 6 de junho ele morreu, depois de uma longa vida plena, em consequência de breve enfermidade.

Com seu trabalho pioneiro, prestado em sua obra, que abarca mais que 120 escritos maiores e menores, ele não só deu um impulso totalmente novo à psicologia do inconsciente, mas também tocou e fecundou inúmeros outros âmbitos.

As obras de Jung foram traduzidas em todas as línguas europeias e também em algumas línguas extraeuropeias, e despertam interesse crescente também dentro das ciências que, em princípio, parecem estar afastadas da psicologia. A edição completa de suas obras em língua inglesa, publicada simultaneamente na Inglaterra e nos Estados Unidos, é composta de 18 volumes, como na edição completa alemã.