capítulo 8
Dauphine
Desde minha primeira fantasia no rio Abita, quase um mês atrás, senti como se uma carga extra de voltagem tivesse sido instalada no meu corpo. O que mais poderia explicar minha energia naquele dia? Não só mandei Elizabeth para casa, mas classifiquei e coloquei preços nos artigos das caixas da herança, limpei o estoque antigo e deixei a loja tão impecável, tão reluzente que achei melhor fechar a fim de que meu trabalho duro não fosse desarrumado por clientes de verdade.
Tirei até uma foto. E, em vez de me sentir exausta com o esforço, me senti vitoriosa, energizada. Então as avistei através da vitrine da frente: as mesas! Esqueci as mesas dobráveis à venda na calçada.
“Droga, droga, droga”, eu disse ao destrancar a porta depressa. O horário comercial já estava encerrado, por isso a rua Magazine estava quase vazia. Empilhei e marquei as caixas de plástico que tinham de tudo: luvas de trajes a rigor, perucas assimétricas, bolsinhas forradas de cetim com manchinhas, meias arrastão em tamanhos fora do padrão, uma caixa de bijuterias de strass de gosto duvidoso, onde se lia “Bazar de Caridade: dois dólares cada ou todas por vinte dólares”. Eu tinha sido avisada pela Associação Comercial da rua Magazine que não estava autorizada a colocar minhas mercadorias na calçada, a menos que fosse durante a Spring Fling, quando toda a rua é fechada para uma liquidação ao ar livre. Recebi uma multa de oitocentos dólares quando ignorei o regulamento nos feriados da Páscoa, no ano passado. Mas estava tão orgulhosa de mim mesma por ter feito um progresso, embora pequeno, ao me livrar de meu estoque antigo, que isso justificara minha infração.
Vi uma sombra alta e imponente diante de mim cruzando a mesa.
“Senhorita Dauphine Mason?”
Virei devagar. Numa das mãos levava uma peruca cor-de-rosa em estilo pajem[18] e debaixo do braço duas luvas avulsas, que não formariam um par. Minha visão estava na altura de uma camisa azul bem passada e um distintivo de metal reluzente.
“Melhor calar a boca”, eu disse enfurecida, com o sotaque da minha mãe. Com seus cabelos cortados à escovinha e ombros largos, policiais despertavam a “mocinha” que havia em mim.
E esse era particularmente... impressionante, olhos com manchas acinzentadas e uma covinha peculiar na bochecha, que desaparecia quando mascava o chiclete. Um homem acostumado com a própria autoridade. Ficou em pé com uma atitude petulante, com um par de algemas penduradas no cinto.
“Preciso entrar na loja, senhorita Mason”, ele disse levantando o queixo ao olhar em volta.
“Quem me delatou dessa vez?”
“Por favor, apenas entre. Não se preocupe. Não há problema.”
Ele tinha as coxas de um corredor — talvez de tanto caçar bandidos?
“Jesus Cristo, esconjuro”, eu disse, agora com as mãos no quadril. “Senhor, é apenas uma maldita mesa usada.”
“Tenha modos, senhorita Mason.”
“Se eu tiver de pagar outra multa de oitocentos dólares por colocar mesas na calçada, não vou ficar muito contente.”
Sem responder, ele me acompanhou para dentro da loja, onde eu já não podia conter minha revolta. Acendi as luzes.
“Sabe que isso é ridículo”, eu disse, atirando as chaves da loja no balcão de vidro. “Você deveria estar prendendo criminosos, e não empresárias que lutam para ganhar a vida.”
Enquanto eu discursava, ele andava devagar pela loja, inclinando a cabeça para observar a área masculina, olhando os cabides pendurados no alto.
“Senhorita Mason, tenho uma radiopatrulha estacionada lá fora.”
“Para quê?”
“Para lhe poupar do constrangimento de levá-la presa pela rua. Mas se fechar...”
“Você quer me calar? Bem, não vou. Não é justo que...”
“Senhorita Mason, o que eu ia dizer é que, se fechar a porta e depois trancá-la, e então aceitar o Passo, não precisarei... prendê-la.”
Com isso ele veio em minha direção, balançando as algemas que tirara do cinto. O sorriso dele assumiu uma perversidade divertida.
“Não me obrigue a usar isso. A menos que queira.”
“Eu... eu... você é do... Eles o mandaram?”
Minha fúria interrompida foi substituída por constrangimento, depois por curiosidade, e a seguir por excitação.
“Como vai ser, senhorita Mason?”
“Você é um policial de verdade?”, perguntei, estreitando os olhos. Aquilo estava ficando interessante.
“Não tenho de responder isso.”
Ele estava de pé, perto o suficiente para que eu pudesse sentir o cheiro do chiclete de menta.
Ergui os pulsos à frente. “Bem, acho que está na hora”, eu disse. “Aceito o Passo.”
Se é que um policial pudesse ser coreógrafo, esse é o termo que usaria para descrever como ele me virou habilidosamente, segurou meus braços atrás das minhas costas e prendeu meus pulsos bem apertados nas algemas. Aproximou a boca do meu ouvido.
“Onde estão as chaves da loja?”, ele sussurrou.
Um tremor ardente percorreu minhas costas. Então é assim que a gente se sente quando é dominada. Sinceramente, esse não era apenas um dos meus temores, mas também uma das minhas fantasias mais secretas. Começava a enxergar um padrão. Primeiro, enfrentar a água; agora isso.
“Vamos ficar aqui?”
“Acho que não, madame. Vou levar você para a delegacia.”
Olhei para o meu vestido de algodão, usado para ficar em casa, perfeito para tarefas domésticas e faxina, mas não para seduzir. Sem a melhor aparência para transar? Outro medo. Dane-se.
“Eu estou... vestida de acordo com uma delegacia?”
“Você será a mais bem-vestida ou despida por lá.”
“O que você vai fazer comigo?”
“Tudo o que quiser, e nada que você não queira.”
Certo. Foi bom ter sido relembrada. Eu me senti mais calma de novo. Então chegamos à área próxima dos provadores e parei de repente, com os pés grudados no piso de cimento pintado.
“Espere!”
“Coragem, Dauphine”, ele disse, cutucando suavemente minhas costas.
“Não. Preciso da minha bolsa.”
Ele expirou.
“Onde está?”
“Debaixo do balcão”, eu disse, erguendo o queixo para indicar o local. “Muito obrigada.”
Estava impressionada com a excentricidade daquela cena: esse símbolo de justiça e masculinidade voltando com a minha bolsa coral a tiracolo.
A noite estava silenciosa e o ar frio no beco. Ele trancou as portas da frente e dos fundos da loja e, com a mão na minha cabeça, me empurrou para o banco traseiro de um carro escuro, enfiando a bolsa para dentro, perto de mim.
“Meus cordiais agradecimentos. Você é um cavalheiro.”
“Não. Eu sou um policial malvado.”
“Certo”, eu disse. “Entendo.”
Ele tem um papel a desempenhar — deixe-o fazer isso, Dauphine. Confiança e controle.
Quando sentou no lugar do motorista e deu a partida, senti certo pânico. Sabia que esse homem não me machucaria, nem abandonaria ou me deixaria em algum lugar no qual eu não quisesse ficar, mas não me agradava ser uma passageira, e muito menos ficar presa assim. Já não tinha ficado com medo de aquele bonitão me deixar flutuando no rio Abita? Fiquei apavorada quando ele virou na estrada Covington naquele dia, mas tão feliz depois! Não parei de pensar naquilo. Tentei relaxar no assento do carro, porém alternava entre o medo e a agitação, o que me deixava ainda mais excitada. Comecei a entender o poder da dominação.
Depois de apenas algumas voltas pelas ruas escuras do Garden District, chegamos ao nosso destino: a Mansão. Os portões se abriram engolindo o carro. Até aquele momento eu apenas estivera na Casa de Treinamento, e meu coração acelerou. Os batimentos diminuíram depois que passamos pela entrada lateral, em direção a um local ligeiramente elevado que parecia uma grande garagem, próximo à piscina em formato de rim que brilhava sob o céu escuro.
“Não vamos para a Mansão?”, questionei.
“Sem mais perguntas.”
O portão da garagem se abriu devagar, e o meu policial avançou com o carro em um espaço entre dois outros automóveis, ambos caros e luxuosos, embora eu não pudesse identificar os carros, nem que o policial pusesse um revólver na minha cabeça. Ele desligou o motor, saiu do carro e abriu a porta de trás.
“Saia do automóvel, senhorita Mason.”
Com os punhos algemados, fiquei de pé dando um impulso para a frente. Ele me ajudou a dar um passo ao lado para fechar a porta do carro e me puxou para perto dele. Podia senti-lo endurecido contra meu quadril.
“Você está me transformando em um tira mau, senhorita Mason”, ele disse, inclinando-se para me beijar de um jeito firme e insistente.
Quando abri a boca, ele logo se afastou.
“Está pronta para o interrogatório?”
Inclinei a cabeça. Ok. Isso vai dar certo. Ele me levou pelo braço através de uma porta na garagem, e entramos em um escritório pequeno e quente. Lá estavam duas cadeiras de aço, uma diante da outra sobre um tapete felpudo, e, ao lado, uma mesa. As janelas eram cobertas por cortinas com blecaute. Toda a sala era iluminada por uma lâmpada fraca pendurada no alto. Ele puxou uma cadeira para mim, e sentei. Sentou na outra cadeira, de um modo que nossos joelhos quase se tocavam.
“Está pronta?”, ele perguntou.
Olhei ao redor da sala vazia e silenciosa. Não era exatamente um cenário muito romântico, mas a atmosfera parecia estar carregada de sexo.
“Pronta, quando você quiser”, eu disse, recostando-me na cadeira, as mãos algemadas para trás.
“Você está sendo insolente.”
“Autoridade me desperta isso.” Era verdade. Decidi que, se quisesse que eu me entregasse, precisaria me obrigar a isso.
“Por favor, levante-se. Quero ver se está usando uma escuta.”
“Uma o quê?”, perguntei rindo.
“Levante e me deixe desabotoar esse vestido.”
Fiquei de pé diante dele, o queixo levantado. Ele colocou as mãos enormes no botão de cima. Desabotoou um após o outro, deixando meu vestido aberto. Ah, minha calcinha não combinava com o sutiã. Por que de repente aquilo foi tão trágico? Dificilmente isso seria um impedimento, e mesmo assim estava decepcionada. Deveria estar mais bem-vestida, diferente. Confiança e controle.
Ele tirou o vestido dos meus ombros, que ficou preso atrás, sobre as algemas.
“Viu? Sem escutas, senhor policial.” Minha voz estava trêmula? Onde estava minha ousadia?
“Não fiz a revista”, ele disse. Ele evidentemente gostou do que viu, mas nunca me senti tão vulnerável por ser olhada daquela maneira tão direta. “Chegue mais perto”, ele disse.
Abriu as pernas, então pude dar um passo e ficar entre elas, com a parte externa das minhas coxas tocando as partes internas das coxas dele. Ele reclinou-se com as mãos na cabeça e olhou para o meu rosto.
“Para uma mulher bem má, você parece muito boa agora”, ele disse.
Seus olhos rastrearam meus seios, minha pele, meu quadril. Sem tirar o sutiã, ele levantou meus seios e os colocou audaciosamente por cima da lingerie.
“Perfeito”, ele disse.
Meu coração acelerou. O fato de ficar algemada, impedida de tocá-lo ou empurrá-lo, me amedrontava um pouco. Mas o rosto dele era tão franco e simpático, e aqueles olhos...
“Eu vou tirar a sua roupa íntima, senhorita Mason”, ele disse. “Preciso fazer uma revista completa.”
Delicadamente colocou os dedos no elástico da calcinha, e com o rosto severo abaixou-a até o chão. Dei um passo me afastando da lingerie. Podia sentir sua respiração na minha pele e na minha barriga. Então ele girou meu corpo e, por trás, segurou firme no meu quadril.
“O que está fazendo?”, perguntei, agora sentindo medo de que não estivesse agradando. Olhei rapidamente ao redor da sala.
“Checando você toda.”
Ele tirou o vestido, ainda preso aos meus pulsos. Deslizou uma das mãos pela minha bunda, como se estivesse admirando uma escultura de perto, beijando suavemente os locais em que tocava. Fechei os olhos. Devagar e de um jeito torturante, senti seus dedos escorregando entre as minhas pernas onde sabia que já estava molhada.
“Apenas para ter certeza de que não está escondendo nada”, ele disse, ao enroscar seu dedo dentro de mim, Ahhhh. A voz dele crepitava com a falta de defesa que apenas o desejo pode criar.
Isso realmente estava acontecendo?
Ele me puxou para o seu colo. Ah, Senhor, eu podia sentir a ereção contra a minha coxa, com as mãos agora tão perto daquilo, e senti o desejo aumentar ansiosamente. Por trás, ele afastou as minhas pernas, enterrando o rosto entre as escápulas. Puxou o elástico do rabo de cavalo, soltando meus cabelos nas costas. Eu olhava as mãos se moverem pela frente do meu corpo, os dedos me reencontrando de novo tão molhada que quase pedi desculpas.
“Você tem sido uma menina má, Dauphine.”
“Sim...” Fechei os olhos, recostando nele, o desejo elevando-se à medida que os dedos mergulhavam e circulavam pela minha intimidade tão úmida.
“Vou precisar fazer umas coisas ruins com você. Gostaria disso?”
“Sim”, eu disse. Podia sentir a ereção aumentar, eu a roçava de leve com o quadril, instintivamente.
“Hora de terminar o interrogatório”, murmurou, ao levantar da cadeira e me levar consigo, em direção à mesa.
Ele me empurrou, e meus seios ficaram contra a superfície fria.
“Se eu tirar suas algemas, promete ficar boazinha?”, ele perguntou.
Eu inclinava a cabeça fazendo um sinal positivo, enquanto ele me soltava, colocando uma das mãos, depois a outra, na mesa. Esfreguei os pulsos enquanto ele tirava o cinto. Espiei por cima do ombro para vê-lo tirar o uniforme, puxar a camiseta branca para que eu pudesse finalmente dar uma olhada naquilo que estive sentindo: um peito largo e rijo, a luz do alto iluminando cada dobra, uma extensão de pele macia, uma linha de pelos escuros do umbigo, a sua ereção forte visível sobre o tampo da mesa. Isso é tão excitante.
“Olhe você, aberta assim para mim!”, ele disse, ao lamber um dedo e o deslizar pela espinha até a minha bunda, agora levantada. Ah, meu Deus. Fechei os olhos enquanto ele percorria a fenda do meu traseiro, circulando sem pudor em volta das terminações nervosas da prega escura.
“Jesus”, murmurei, agarrando as laterais da mesa a cada onda de prazer que cada toque ou estocada enviava a todo o meu corpo. Nunca fui tocada ali antes, não assim, tão abertamente.
“O que você está fazendo comigo?”
“Coisas safadas para uma menina safada”, ele disse, puxando minhas nádegas com força, ampliando o que me dava prazer. Ele se inclinou para me alcançar, agora só com a língua, devagar e languidamente. As sensações perversas me golpeavam por todo o corpo. Eu pulsava, intumescida, a ponto de gozar sem ele nem chegar perto dos locais habituais. Ah, Deus.
“Você gosta disso?”
Quase em delírio, só podia responder com sons. Então ouvi uma gaveta abrir, na mesa, e o ruído do rompimento da embalagem da camisinha.
“Vire-se, Dauphine. Quero ver seu rosto bonito enquanto eu fodo com você até deixá-la sem sentidos.”
Fiz isso numa espécie de transe, entusiasticamente virada de frente para ver seu torso perfeito. Nunca tinha visto um homem esculpido como ele. Ondulações sobre os músculos, sem pelos, feito para isso.
Joguei-me em cima dos cotovelos para assisti-lo colocar a camisinha. Ele puxou meu quadril com força para a borda da mesa, testando minha intimidade ao introduzir apenas a glande, enfiando-a dentro de mim e retirando de novo, sem parar de me olhar. Ele fazia pausas de segundos para que eu pudesse me acostumar com a grossura de seu pênis e me ajudava passando os dedos molhados pelo clitóris. Quando estava totalmente dentro de mim, me deixei cair na mesa, agora com suas mãos acariciando meus seios, livres do sutiã. Meus mamilos respondiam endurecendo ao seu toque. Quando viu como eu estava excitada, movimentou-se mais impetuosamente. Reclinei de novo e agarrei a outra lateral da mesa, buscando maior equilíbrio, e então nos tornamos uma nuvem indistinta de estocadas frenéticas. Ah, sim. Muito bom.
Depois veio a primeira onda, quando seus golpes acharam meu ponto fraco bem ao fundo, atrás da minha pélvis, e eu me perdi, com os braços arremessados por trás da cabeça, minhas defesas caindo, desfazendo-me de qualquer resíduo de medo. Nossos olhos encontraram-se no ápice quando meu orgasmo chegou ardente e intenso, e o dele também, enquanto ele entrava rijo e bem rápido em mim, murmurando: “Isso tudo é para você, Dauphine. Isso é para você”.
Ele se sacudiu e estremeceu no final, mas permaneceu por cima e dentro de mim, coberto com um deslumbrante brilho de suor, enquanto eu me apertava e me contraía em volta dele. Minha respiração se estabilizou vagarosamente.
Ele sorriu. Deu uma gargalhada.
“Uau”, ele disse.
“Você conseguiu... toda a informação... que precisava?”
“Consegui, e mais. Agora tenho algo para você.”
Ele relaxou e se curvou para pegar alguma coisa nos bolsos da calça do uniforme, jogada no chão a seus pés. Quando levantou, balançava um talismã reluzente entre o polegar e o indicador.
“O que isso quer dizer?”, perguntei, ainda estendida na mesa.
“Coragem. E, portanto, seu legítimo direito, senhorita Mason.”
Ele jogou o talismã para o alto, como se fosse uma moeda, deixando-o cair na minha barriga molhada, e colocou uma das mãos por cima.
“Cara ou coroa?”
“O que eu ganho se acertar?”, perguntei.
“O que quiser, senhorita Mason.”
“Coroa.”
Levantou a mão da minha barriga devagar e espiou por baixo.
“Bem, você sabe o quê”, ele disse.
Seus olhos rastrearam meu corpo, e ele abaixou para beijar o talismã na minha barriga. Foi mais abaixo e fechei os olhos. Sua boca voltou a me excitar e me levou de volta àquele êxtase, derrubando-me outra vez naquele incrível abismo.
Depois fiquei deitada na mesa, os dedos entrelaçados no espesso cabelo dourado, sua respiração na minha barriga. Sob a palma da outra mão, que jazia pendurada ao lado da mesa, o talismã da Coragem.