capítulo 11

Cassie

Era apenas uma questão de tempo Mark Drury aparecer no Café Rose para o brunch de domingo, com um jornal dobrado debaixo do braço e um sorriso desconfiado no rosto. Ele não tinha meu número de telefone e eu não ligara desde aquela noite que passamos juntos, havia quase duas semanas.

“Olá, Cassie”, disse ele. “Muito bom te encontrar aqui.”

“É muito bom”, disse eu, “e muito cedo, uma hora da tarde; colocou o despertador?”

“Engraçadinha.”

Levei o cardápio, peguei a xícara de café e a enchi até a borda.

“Já volto para pegar seu pedido.”

“Não estou com pressa”, disse ele, desdobrando o jornal. Referia-se à manhã seguinte, quando fui embora da casa dele bem rápido. A última vez que o vi, estava enrolado em lençóis que não combinavam e roncava baixinho.

Revirei os olhos e segui em direção à cozinha.

Quando retornei, ele pediu ovos mexidos, salsicha Boudin e torrada, que depois comeu em questão de minutos. Quando retirei os pratos vazios, pediu uma Salada da Casa Grande.

“Para uma boa digestão. Como os italianos”, disse ele.

Depois da salada perguntou sobre a sopa do dia.

“Era de couve-flor ao curry, mas acabou”, disse eu, quando Dell entrou com uma bandeja de ovos Benedict.

“Vou descongelar um pouco daquele minestrone. Leva só um minuto”, ela propôs.

“Perfeito”, ele respondeu.

“Deve estar com fome hoje, senhor Drury.”

“Tenho um show esta noite. Sempre fico com fome. Por que não vem nos ver? Vai ser no Spotted Cat.”

Puxou um flyer do bolso e me entregou quando Will, coberto de poeira da cabeça aos pés, saiu de um canto e seguiu lá para cima. Não estava certa se ele escutara o final da conversa, então elevei o tom de voz:

“Farei o possível para ir lá esta noite, Mark; obrigada pelo convite!”

“Ótimo!”, respondeu Mark, confuso com meu súbito entusiasmo. “Devo ir agora.”

“E a sopa?”

“Somente a conta. Preciso limpar a casa se tiver hóspedes depois do show.”

“Não é provável”, disse eu num tom mais baixo dessa vez.

“Vamos ver.”

Quando ele me olhou, toda a arrogância da sua juventude parecia ter se dissipado, e por um segundo era apenas um rapaz que gostaria de passar um tempo comigo. E ainda assim... ainda assim... tudo o que eu desejava era uma boa e longa corrida, seguida de um afago na minha gata, meu sofá e o controle remoto.

Peguei a conta de Mark, notando que me deixou uma gorjeta substancial. Então subi para dizer a Will que estava saindo. Não estivera naquele espaço por duas semanas, e a transformação fora surpreendente. De um depósito escuro com o papel de parede descascando e piso empoeirado, Will criou um salão de jantar gracioso e moderno, com novas esquadrias nas janelas com vista para a rua, tijolo aparente em duas das paredes, assoalho de tábuas impecavelmente enceradas. Do alto da escada ele pintava o banheiro masculino, perto das novas claraboias. Enfiei a cabeça, aproveitei e acendi a luz, o que nos fez piscar os olhos com a claridade.

“Uau, não percebi que a luz estava acabando. Que horas são?”

“Hora de ir para casa. Queria dizer que Dell estará sozinha até Tracina chegar.”

“Dia cheio?”

Era preocupante perceber que a voz dele ainda podia me paralisar por dentro. Havia cinco meses desde que...

“Foi bom.”

Também era difícil não notar que seu torso estava ficando mais definido com todo aquele trabalho braçal, especialmente os antebraços. Eu queria desesperadamente tirar os pingos de tinta e de gesso do seu cabelo.

“Planos para a noite?”, ele continuou, quando eu saía dos banheiros para ver o resto da reforma.

“Na verdade, sim, tenho planos.”

“Com aquele garoto magro que estava aqui?”

“Talvez”, eu disse. “Nem posso dizer como isso aqui em cima ficou bonito. Estou muito impressionada.”

“Vocês estão saindo juntos?”

“Hum... ele é apenas um amigo, Will”, eu disse, recusando-me a ir direto ao ponto, mas silenciosamente satisfeita pelo fato de ele querer saber.

A área principal do salão de jantar me tirou o fôlego — as arandelas de vidro fumê nas paredes, as luminárias de metal penduradas no bar. Já podia ver como o local ficaria lindo mobiliado e movimentado, cheio de clientes resplandecentes e sensuais apaixonando-se à luz de velas. Foi quando vi algo esquisito saindo por trás do balcão de imbuia do bar: um colchão de solteiro entre a parede e a geladeira, um edredom sem forro jogado por cima.

Will chegou tropeçando no salão, esfregando as mãos no jeans. Tirei a vista do colchão e olhei para ele.

“Ah”, disse ele, tirando os olhos de mim e voltando-os para o colchão. “Estive dormindo aqui algumas noites. Com a gravidez, Tracina... quero dizer, se eu não a acordo, ela me acorda. E nós dois precisamos descansar. Quando o bebê nascer, tudo ficará mais fácil.”

“Acho que é exatamente o contrário do que ouço falar sobre bebês”, eu disse. Queria desesperadamente mudar de assunto. Então mudei. “Will, está tão lindo, de verdade”, eu disse. “Seu trabalho... deve estar muito orgulhoso. Esse será um dos restaurantes mais bonitos da Frenchmen.”

“Quero ter uma carta de vinhos realmente interessante, sabe? Trazer alguns de locais atípicos como o Uruguai e o Texas. Há grandes vinícolas em Hill Country.”

“Não sabia disso.”

“Vai saber. Em breve.”

“Sobre o que está falando?”

“Bem, você precisará melhorar seus conhecimentos sobre vinhos, porque vai gerenciar este lugar para mim. Quero que administre isso”, disse Will. “Seus horários vão mudar. Ficará da tarde até depois do movimento do jantar. Precisará usar roupas mais bonitas. Não quero dizer vestidos pretos de seda, mas também não serão camisetas pretas. Vou lhe dar um aumento. Vou lhe pagar bem.”

Fiquei ali em pé olhando os movimentos da sua boca enquanto falava... Ficar perto dele, trabalhar com ele, vê-lo todo dia — eu queria aquilo. Observá-lo com Tracina e o bebê, sentindo uma dor constante por estar à parte como testemunha de sua vida em família, isso eu não queria.

“Não consigo pensar em ninguém além de você para esse trabalho”, acrescentou Will aproximando-se de mim.

“Tracina sabe?”

“Ainda não contei. Cassie, nós não somos... não somos parceiros. Não como teria sido com... você.”

Ambos sentimos o peso daquelas palavras encher a sala inacabada. Fui mais à frente, acariciando seus antebraços, eletrizando-nos. Fiz isso como um gesto de agradecimento, para pontuar a grande oportunidade que ele acabara de me oferecer, que ainda exigiria tempo para pensar. Mas então minha mão começou a se mover, quase por si só, passeando em seu braço, por debaixo da manga da camiseta onde um novo músculo se formara, aquele que retesava quando digitava números na caixa registradora ou passava uma camada de tinta na parede. Minha mão correu vagarosamente pelo seu peito, parando acima do coração, que disparava com o toque, enviando uma vibração pelo meu braço. Ele me pegou pelos cotovelos e me puxou com força contra si, colocando a mão debaixo do meu queixo para acariciar meu rosto quando fitei seus olhos.

“Entende o quanto eu te quero?” A voz dele era tensa e rouca.

Abri a boca para dizer algo, qualquer coisa, mas as palavras ficaram presas na garganta. E então senti sua boca no meu pescoço, me beijando. Quando nossos lábios se encontraram, era como se estivessem com saudades havia tempo.

“Cassie...” Ele disse meu nome entre beijos, mordiscando, provocando meus lábios, um dos braços em torno das minhas costas, me apertando contra ele, a outra mão mergulhava debaixo da camiseta apalpando meus seios amorosa, avidamente. Senti que estava excitado ao fechar os olhos e enterrar a cabeça no seu ombro. Ambicionava congelar esse momento com o único homem que realmente queria, segurando-me e desejando-me...

“Não vou parar, a menos que você me diga”, ele sussurrou, ao escorregar a mão pela parte de trás do jeans, apertando-me.

Não queria que parasse, e se não tivesse olhado meu rosto ruborizado e culpado no espelho acima do bar, não o teria obrigado a parar.

“Não podemos”, eu disse, ao desvencilhar-me de seu abraço dando um passo para trás. Ele também recuou, não de mim, mas das próprias atitudes.

“Fomos amigos por anos, Will”, eu disse. “Bons amigos.”

“Não quero outra amiga. Quero você.”

“Acredite em mim, em alguns meses vamos precisar de amigos”, disse eu, ao colocar a camiseta dentro da calça e esticar o avental.

“Sinto muito, Cassie. É realmente nojento eu lhe dar uma promoção e, em seguida, pegar você dessa maneira.”

“Não vou dar queixa... se me prometer não fazer isso de novo.”

“Não estou mais fazendo promessas que não possa cumprir. Mas posso fazer uma pergunta?”

“Faça.”

“Vai pensar na minha oferta de emprego?”

“Vou.”

“Estará aqui amanhã?”

“Logo cedo.”

“E no dia seguinte?”

“E no dia depois também.”

“Acho que isso já está bom. Por enquanto.”

Sorri. E como não poderia? Virei e saí da sala, descendo a escada.

“Cassie, apenas saiba que...”

Virei o rosto na direção dele.

“É você... sempre foi você.”

Fiquei encostada no corrimão.

“Você ouviu?”

“Ouvi. Preciso ir, Will.”

Lá embaixo dei um “até logo” para Dell na cozinha, que me olhou de um jeito estranho. Então tirei a bolsa do armário e fui embora, lágrimas quentes me ardendo os olhos. Quando cheguei à rua Chartres, percebi que a frente da minha camiseta preta estava coberta com gesso e pedaços de tinta.