Seja como for, neste livro pretendo incluir o máximo possível de membros de meu karass e quero examinar todas as pistas concretas que expliquem o que raios nós, coletivamente, viemos fazer aqui.
Não tenho intenção de transformar este livro em um tratado em favor do bokononismo. No entanto, gostaria de dar um conselho bokononista a respeito dele. A primeira frase que aparece em Os livros de Bokonon é esta:
“Todas as verdades que estou prestes a contar são mentiras descaradas.”
Meu conselho bokononista é este:
Quem for incapaz de entender como uma religião benéfica pode ser baseada em mentiras também não vai entender este livro.
Que assim seja.
Bom, sobre meu karass.
Certamente ele inclui os três filhos do dr. Felix Hoenikker, um dos chamados “pais” da primeira bomba atômica. O próprio dr. Hoenikker, sem dúvida, foi membro de meu karass, apesar de ter morrido antes que meus sinookas, as trepadeiras de minha vida, começassem a se enrolar com as de seus filhos.
O primeiro de seus herdeiros a ser tocado por meus sinookas foi Newton Hoenikker, o caçula de seus três filhos. Descobri pela revista de minha fraternidade, a Delta Upsilon Quarterly, que Newton Hoenikker, filho de Felix Hoenikker, físico ganhador do Nobel, fez o juramento em minha irmandade, a irmandade de Cornell.
Então, escrevi esta carta para Newt:
Prezado sr. Hoenikker:
Ou devo dizer prezado irmão Hoenikker?
Sou um ex-aluno de Cornell, membro da Delta Upsilon, ganhando a vida atualmente como escritor freelancer. Estou reunindo material para um livro sobre a primeira bomba atômica. O conteúdo vai tratar somente dos incidentes ocorridos em 6 de agosto de 1945, dia em que a bomba foi lançada sobre Hiroshima.
Já que seu falecido pai é geralmente identificado como um dos principais inventores da bomba, se não se importar, gostaria muito de conhecer alguma coisa que puder me contar sobre o cotidiano na casa de seu pai no dia em que jogaram a bomba.
Lamento dizer que não sei tanto sobre sua ilustre família quanto deveria, e nem sei se você tem irmãos. Se tiver, adoraria que me enviasse seus endereços, a fim de lhes mandar uma carta como esta.
Sei que você era muito jovem quando a bomba foi lançada, o que é ainda melhor. Meu livro vai destacar o lado humano da bomba, em vez do lado técnico, ou seja, se eu conseguisse lembranças daquele dia pelos olhos de um “moleque”, se me perdoa a expressão, seria simplesmente perfeito.
Não se preocupe com o estilo e a forma de escrever. Deixe isso comigo. Só me dê a essência de sua história.
É claro que vou lhe enviar a versão final do livro, para sua aprovação antes da publicação.
Fraternalmente…