O Laboratório de Pesquisa da General Forge and Foundry Company ficava perto do portão principal da fábrica de Ilium, a cerca de uma quadra do estacionamento executivo onde o dr. Breed deixava seu carro.
Perguntei ao dr. Breed quantas pessoas trabalhavam para o Laboratório de Pesquisa.
– Setecentas – ele respondeu. – Mas menos de cem realmente fazem pesquisas. As outras seiscentas pessoas são como zeladores, de um jeito ou de outro, e eu sou o principal zelador de todos.
Quando nos juntamos ao resto da humanidade que circulava nos corredores da empresa, uma mulher atrás de nós desejou ao dr. Breed um feliz Natal. Ele se virou para encarar benignamente o mar de rostos pálidos e identificou a saudadora como uma certa srta. Francine Pefko. A srta. Pefko tinha 20 anos, era vagamente bonita e saudável – monotonamente normal.
Honrando a ternura do período de Natal, o dr. Breed convidou a srta. Pefko a se juntar a nós. Ele a apresentou como secretária do dr. Nilsak Horvath. Depois me explicou quem era Horvath:
– O famoso químico de superfícies – disse ele – que está fazendo maravilhas com películas.
– O que há de novo na química de superfícies? – perguntei à srta. Pefko.
– Meu Deus – ela disse. – Não me pergunte. Apenas datilografo o que ele me manda datilografar. – E então ela pediu desculpas por ter dito “Meu Deus”.
– Ah, creio que você entende do assunto bem mais do que imagina – disse o dr. Breed.
– Eu não. – A srta. Pefko não estava acostumada a bater papo com alguém tão importante como o dr. Breed, e estava envergonhada. Até seu jeito de caminhar foi afetado, e ela começou a marchar de forma rígida e galinácea. Com um sorriso apático, ela esmiuçava o cérebro em busca de algo para falar, mas não encontrou nada além de lenços de papel usados e bijuterias.
– Bem… – disse em voz alta o dr. Breed, efusivo. – O que tem a dizer sobre nós, agora que está conosco há… quanto tempo? Quase um ano?
– Vocês, cientistas, pensam demais – disparou a srta. Pefko. Ela deu uma risada meio idiota. A simpatia do dr. Breed havia queimado todos os fusíveis de seu sistema nervoso. Ela não era mais responsável por suas ações. – Vocês todos pensam demais.
Uma mulher gorda e ofegante, com ar de derrota, vestindo um macacão imundo, vinha se arrastando atrás de nós, ouvindo o que a srta. Pefko dizia. Ela se virou para examinar o dr. Breed com um olhar de reprovação impotente. Detestava pessoas que pensavam demais. Naquele momento, ela me pareceu uma representante perfeita de quase toda a humanidade.
A expressão no rosto da mulher gorda dizia que ela teria uma síncope se alguém mais pensasse em alguma coisa.
– Creio que descobrirá – disse o dr. Breed – que todo mundo pensa mais ou menos com a mesma intensidade. Os cientistas simplesmente pensam nas coisas de um jeito, e as outras pessoas pensam de outro.
– Ai – suspirou a srta. Pefko apaticamente. – Para mim, o que o dr. Horvath dita é como uma língua estrangeira. Acho que não entenderia nem se fosse para a faculdade. E lá está ele, talvez falando de uma coisa que vai virar o mundo do avesso e de ponta-cabeça, como a bomba atômica. Quando voltava da escola, minha mãe me perguntava o que havia acontecido naquele dia, e eu contava a ela – disse a srta. Pefko. – Agora volto para casa depois do trabalho e ela me pergunta a mesma coisa e tudo que consigo dizer é… – A srta. Pefko balançou a cabeça e seus lábios vermelhos balbuciaram frouxamente: – Não sei, não sei, não sei.
– Se você não entende alguma coisa – incentivou o dr. Breed –, peça ao dr. Horvath para lhe explicar. Ele é muito bom em explicações. – Virou-se para mim: – O dr. Hoenikker dizia que um cientista que não conseguisse explicar seu trabalho a uma criança de 8 anos era um charlatão.
– Então sou mais burra do que uma criança de 8 anos – lamentou-se a srta. Pefko. – Não sei nem mesmo o que é um charlatão.