– Existe algo assim? – perguntei.
– Não, não, não, não – disse o dr. Breed, perdendo de novo a paciência comigo. – Só lhe contei tudo isso para que você compreenda a extraordinária originalidade com que Felix costumava abordar um velho problema. O que acabei de lhe contar é o que ele disse ao general dos fuzileiros navais que o perseguia sobre a questão da lama. Todo dia Felix comia sozinho na lanchonete. A regra era que ninguém sentasse com ele, interrompesse sua linha de pensamento. Mas o general dos fuzileiros navais apareceu sem pedir licença, puxou uma cadeira e começou a falar sobre lama. O que lhe contei foi a resposta improvisada de Felix.
– Não… não existe mesmo uma coisa dessas?
– Mas eu acabei de lhe falar que não! – gritou o dr. Breed, exaltado. – Felix morreu pouco tempo depois disso! E se estivesse ouvindo o que estou tentando lhe dizer sobre os homens que se dedicam à ciência básica, não me perguntaria isso! Homens dedicados à ciência básica trabalham no que os fascina, não no que os outros acham fascinante.
– Não consigo parar de pensar naquele pântano…
– Você pode parar de pensar nisso! Só usei o pântano como exemplo.
– Se os riachos que fluem através do pântano congelassem com o gelo-nove, o que aconteceria com os rios e lagos abastecidos pelo riacho?
– Congelariam. Mas o gelo-nove não existe.
– E os oceanos que os rios congelados abastecem?
– Congelariam, é claro – ele retrucou. – Imagino que agora você vai correndo contar a todos uma história sensacional sobre gelo-nove. Repito: isso não existe!
– E as nascentes que abastecem os riachos e lagos congelados, e todos os lençóis de água que abastecem as nascentes?
– Congelariam! Mas que droga! – ele gritou. – Se eu soubesse que você era da imprensa marrom – ele disse, solenemente, levantando-se –, não teria gastado um só minuto com você!
– E a chuva?
– Quando caísse, congelaria e viraria bolinhas bem duras de gelo-nove, e isso seria o fim do mundo! E este é o fim da entrevista, também! Adeus!