– Acabei de sair do escritório dele. Sou escritor. Estava entrevistando seu irmão sobre o dr. Hoenikker – eu disse a Marvin Breed.
– Um grande esquisito, esse filho da mãe. O Hoenikker, quero dizer, não meu irmão.
– Você vendeu a ele aquele monumento para sua esposa?
– Vendi aos filhos dele. Ele não teve nada a ver com isso. Nunca veio aqui para colocar qualquer tipo de marcador no túmulo dela. E então, depois que ela havia morrido fazia um ano ou mais, os três filhos de Hoenikker apareceram: a garota alta, o garoto e o bebezinho. Queriam a maior pedra que o dinheiro pudesse comprar, e os dois mais velhos haviam escrito poemas. Queriam gravar os poemas na pedra. Pode rir da pedra, se quiser, mas ela deu mais conforto àqueles garotos do que qualquer outra coisa que o dinheiro pudesse comprar. Eles vinham aqui, olhavam para ela e colocavam flores no túmulo sabe Deus quantas vezes por ano.
– Deve ter sido bem caro.
– O dinheiro do Prêmio Nobel pagou por isso. Duas coisas que esse dinheiro comprou: um chalé em Cape Cod e esse monumento.
– Dinheiro de dinamite – falei, impressionado, pensando na violência da dinamite e no repouso absoluto do túmulo e de uma casa de campo.
– O quê?
– Nobel inventou a dinamite.
– Bom, cada um sabe de si…
Se eu fosse bokononista nessa época, pensando na misteriosa e intrincada cadeia de eventos que havia levado o dinheiro de dinamite até aquela loja de túmulos específica, talvez tivesse sussurrado: “Gira, gira, gira”.
Gira, gira, gira é o que nós, bokononistas, sussurramos quando pensamos na complexidade e imprevisibilidade do maquinário da vida.
Mas, como cristão, tudo o que pude dizer foi:
– A vida é engraçada às vezes.
– E às vezes não é – disse Marvin Breed.