Fiquei tão absorto no livro de Philip Castle que não levantei os olhos dele nem quando pousamos por dez minutos em San Juan, Porto Rico. Não tirei os olhos dele nem quando alguém atrás de mim sussurrou, encantado, que um anão havia subido a bordo.
Pouco tempo depois procurei pelo anão, mas não consegui vê-lo. No entanto, na frente de Hazel e H. Lowe Crosby, sentou uma nova passageira, uma mulher com cara de cavalo e cabelo louro platinado. Ao lado dela havia uma poltrona aparentemente vazia, uma poltrona que poderia muito bem abrigar um anão sem que eu conseguisse ver o topo de sua cabeça.
Mas, como era San Lorenzo: a terra, a história e o povo que me fascinava no momento, desisti de procurar o anão. Afinal, os anões servem de entretenimento quando queremos nos divertir ou não temos o que fazer, e eu estava seriamente empolgado com a teoria de Bokonon sobre o que ele chamava de “tensão dinâmica”, sua percepção de um valioso equilíbrio entre bem e mal.
Quando vi o termo “tensão dinâmica” pela primeira vez no livro de Philip Castle dei uma risadinha que imaginei ser de superioridade. Era o termo predileto de Bokonon, segundo o livro do jovem Castle, e eu presumi que sabia de algo que Bokonon não sabia: que o termo havia sido popularizado por Charles Atlas, um fisiculturista que vendia seu método pelo correio.
Como fiquei sabendo ao prosseguir com a leitura, Bokonon sabia exatamente quem era Charles Atlas. Na verdade, Bokonon havia sido aluno dele, na sua escola de fisiculturismo.
Charles Atlas acreditava que os músculos podiam ser trabalhados sem barras de peso ou exercícios constantes, bastava colocar uma série de músculos contra outra.
Bokonon acreditava que era possível formar boas sociedades apenas colocando o bem contra o mal e mantendo sempre uma elevada tensão entre eles.
No livro de Castle, li meu primeiro poema bokononista, ou “calipso”. Era assim:
O “Papa” Monzano é muito malvado,
Mas, sem o “Papa” malvado, eu ficaria chateado;
Porque sem essa malvadeza,
Diga-me, com certeza,
Como poderia o perverso Bokonon
Algum dia parecer bom?