51.

Tudo bem, mamãe

Fui, então, até a traseira do avião para conversar com Angela Hoenikker Conners e o pequeno Newton Hoenikker, membros do meu karass.

Angela era a loura platinada com cara de cavalo que eu tinha visto anteriormente.

Newt era de fato um jovem muito pequeno, embora não fosse grotesco.

Era bem proporcionado em escala, como Gulliver entre o povo de Brobdingnag, e tão observador e perspicaz quanto ele.

Segurava uma taça de champanhe, inclusa no preço da sua passagem de avião. A taça era, para ele, o que um aquário seria para um homem de estatura normal, mas ele bebia seu champanhe com uma elegância natural – como se ele e a taça fossem feitos um para o outro.

O pequeno filho da mãe trazia com ele dentro da bagagem um cristal de gelo-nove em uma garrafa térmica, assim como sua infeliz irmã, enquanto abaixo de nós havia um dos estoques particulares de água de Deus, o Mar do Caribe.

Depois que extraiu todo o prazer que podia de apresentar hoosiers a hoosiers, Hazel nos deixou em paz.

– Lembrem-se – disse ela, ao sair –, de agora em diante me chamem de mamãe.

– Tudo bem, mamãe – disse eu.

– Tudo bem, mamãe – disse Newt. Por causa da sua laringe pequena, sua voz era bem aguda. Mas, apesar disso, conseguia dar um jeito de deixá-la masculina.

Angela insistia em tratar Newt como criança – e ele a perdoava por isso, com uma graça afável que eu imaginava ser impossível em alguém tão pequeno.

Newt e Angela se lembravam de mim, assim como lembraram das cartas que eu havia escrito, e me convidaram para sentar na poltrona vazia do seu grupo de três.

Angela pediu desculpas por nunca responder minhas cartas:

– Não conseguia pensar em nada que pudesse interessar ao leitor de um livro. Poderia ter inventado algo sobre aquele dia, mas achei que você não gostaria disso. Na verdade, foi um dia bem normal.

– Seu irmão aqui me escreveu uma carta muito boa.

Angela ficou surpresa:

– Newt? Como Newt lembraria de algo? – Ela se virou para ele. – Querido, você não lembra de nada daquele dia, não é? Você era apenas um bebê.

– Lembro, sim – disse ele, suavemente.

– Gostaria de ter lido essa carta. – Ela insinuava que Newt ainda era muito imaturo para lidar diretamente com o mundo exterior. Angela era uma mulher terrivelmente insensível, incapaz de compreender o que a pequena estatura significava para Newt. – Querido, você devia ter me mostrado essa carta – ralhou.

– Desculpe – disse Newt. – Não pensei direito.

– É bom que saiba também – Angela me disse – que o dr. Breed me aconselhou a não cooperar com o senhor. Disse que o senhor não estava interessado em pintar um retrato fiel do papai. – Ela demonstrou que não gostava de mim por isso.

Aplaquei um pouco da sua fúria dizendo que provavelmente nunca terminaria o livro, de qualquer maneira, que não tinha mais uma ideia clara do que ele significaria ou deveria significar.

– Bom, se um dia você escrever o livro, melhor mostrar papai como um santo, porque foi isso que ele foi.

Prometi que faria o possível para transmitir essa ideia aos leitores. Perguntei se ela e Newt estavam indo encontrar Frank para uma reunião de família em San Lorenzo.

– Frank vai se casar – disse Angela. – Estamos indo para a festa de noivado.

– É mesmo? E quem é a sortuda?

– Vou lhe mostrar – disse Angela, pegando uma carteira na bolsa. Dentro da carteira havia uma espécie de acordeão de plástico, e em cada dobra dele havia uma fotografia. Angela passou rapidamente pelas fotografias, dando-me vislumbres do pequeno Newt em uma praia de Cape Cod, do dr. Felix Hoenikker recebendo o Prêmio Nobel, de suas filhas gêmeas em casa e de Frank pilotando um aeromodelo, bem no fim de um dos gomos de plástico.

E então ela me mostrou uma foto da noiva de Frank.

Daria no mesmo se ela tivesse me chutado o saco.

A foto que ela me mostrou era de Mona Aamons Monzano, a mulher que eu amava.