No galpão da alfândega do Aeroporto Monzano, examinaram nossa bagagem e exigiram que convertêssemos o dinheiro que gastaríamos em San Lorenzo em cabos, a moeda local. “Papa” Monzano insistia em declarar que um cabo valia cinquenta centavos de dólar americano.
O galpão era novo e estava limpo, com exceção de vários cartazes colados nas paredes de forma desleixada e confusa.
Um deles dizia:
QUALQUER UM QUE FOR PEGO PRATICANDO O BOKONONISMO EM SAN LORENZO MORRERÁ NO GANCHO!
Outro cartaz mostrava uma fotografia de Bokonon, um velhinho negro esquelético fumando um charuto. Ele parecia inteligente, bondoso e bem-humorado.
Abaixo da fotografia, as seguintes palavras: PROCURADO VIVO OU MORTO, RECOMPENSA DE 10 000 CABOS!
Cheguei mais perto e vi que haviam colocado na parte inferior do cartaz uma espécie de ficha policial que Bokonon havia preenchido no passado, pelos idos de 1929. Aparentemente, o objetivo era mostrar as impressões digitais e a letra de Bokonon aos caçadores de recompensa.
Mas o que me interessou de verdade foram as palavras com que Bokonon escolheu preencher os espaços em branco naquele ano de 1929. Sempre que possível, ele assumia um ponto de vista cósmico, por exemplo, levando em consideração coisas como a brevidade da vida e a dimensão da eternidade.
Como seu passatempo, ele respondeu: “estar vivo”.
Como sua ocupação principal, respondeu: “estar morto”.
Outro cartaz dizia:
ESTE É UM PAÍS CRISTÃO! QUALQUER UM QUE FOR PEGO DE PÉS DESCALÇOS SEM MOTIVO JUSTO SERÁ PUNIDO COM O GANCHO.
O cartaz não fazia nenhum sentido para mim, já que eu ainda não sabia que os bokononistas uniam suas almas comprimindo a sola do pé nas solas dos pés de outras pessoas.
O maior mistério de todos, até a parte do livro de Castle que eu tinha lido, era como Bokonon, amigo do peito do cabo McCabe, havia se tornado um fora da lei.