Eu e os Crosby tivemos a curiosa experiência de sermos os primeiros hóspedes de um novo hotel. Fomos os primeiros a assinar o livro de registros do Casa Mona.
Os Crosby estavam na minha frente, mas H. Lowe Crosby ficou tão surpreso com o livro todo em branco que não conseguiu assiná-lo. Precisou pensar um pouco.
– Assine você primeiro – ele me disse. Depois, desafiando-me a pensar que ele era supersticioso, declarou que queria fotografar um homem que fazia um enorme mosaico no reboco fresco da parede do saguão.
O mosaico era um retrato de Mona Aamons Monzano. Tinha seis metros de altura. O homem que trabalhava nele era jovem e musculoso. Estava sentado no topo da escada de mão. Vestia apenas calças brancas.
Era um homem branco.
O mosaicista fazia com lascas de ouro os lindos cabelos da nuca de Mona, equilibrados em seu pescoço de cisne.
Crosby foi até lá para fotografá-lo e voltou dizendo que o homem era o maior sacana que já tinha visto. Ele estava vermelho como um tomate quando disse isso.
– Ele distorce tudo o que a gente diz.
Eu me aproximei do mosaicista, observei-o por alguns momentos e então disse a ele:
– Eu invejo você.
– Sempre soube – ele suspirou – que, se esperasse bastante, apareceria alguém para me invejar. Dizia a mim mesmo para ser paciente, que cedo ou tarde alguém invejoso viria.
– Você é americano?
– Tenho essa alegria. – Ele continuou seu trabalho, de costas para mim. Não estava nada curioso para saber como eu era. – Também quer tirar uma foto minha?
– Você se importa?
– Penso, logo, existo, logo, sou fotografável.
– Infelizmente, não trouxe minha câmera.
– Bom, então, pelo amor de Deus, vá buscá-la! Você não é daquelas pessoas que confiam na memória, né?
– Acho que não vou esquecer tão cedo esse rosto que você está fazendo.
– Vai esquecê-lo quando estiver morto, e eu também. Quando morrer, vou esquecer de tudo. E aconselho você a fazer o mesmo.
– Ela posou para o mosaico ou você está trabalhando com base em fotografias ou algo assim?
– Estou trabalhando com base em algo assim.
– Como?
– Estou trabalhando com base em algo assim – ele bateu na testa. – Tenho tudo de que preciso nesta minha cabeça invejável.
– Você a conhece?
– Tenho essa alegria.
– Frank Hoenikker é um cara de sorte.
– Frank Hoenikker é um merdinha.
– Você é bem sincero.
– Também sou rico.
– Fico feliz por você.
– Se quer a opinião de um especialista, o dinheiro nem sempre traz felicidade.
– Obrigado pela informação. Você me salvou de uma baita encrenca. Eu estava prestes a ganhar dinheiro.
– Como?
– Escrevendo.
– Escrevi um livro uma vez.
– Como se chamava?
– San Lorenzo – disse ele –, a terra, a história e o povo.