69.

Um grande mosaico

Eu e os Crosby tivemos a curiosa experiência de sermos os primeiros hóspedes de um novo hotel. Fomos os primeiros a assinar o livro de registros do Casa Mona.

Os Crosby estavam na minha frente, mas H. Lowe Crosby ficou tão surpreso com o livro todo em branco que não conseguiu assiná-lo. Precisou pensar um pouco.

– Assine você primeiro – ele me disse. Depois, desafiando-me a pensar que ele era supersticioso, declarou que queria fotografar um homem que fazia um enorme mosaico no reboco fresco da parede do saguão.

O mosaico era um retrato de Mona Aamons Monzano. Tinha seis metros de altura. O homem que trabalhava nele era jovem e musculoso. Estava sentado no topo da escada de mão. Vestia apenas calças brancas.

Era um homem branco.

O mosaicista fazia com lascas de ouro os lindos cabelos da nuca de Mona, equilibrados em seu pescoço de cisne.

Crosby foi até lá para fotografá-lo e voltou dizendo que o homem era o maior sacana que já tinha visto. Ele estava vermelho como um tomate quando disse isso.

– Ele distorce tudo o que a gente diz.

Eu me aproximei do mosaicista, observei-o por alguns momentos e então disse a ele:

– Eu invejo você.

– Sempre soube – ele suspirou – que, se esperasse bastante, apareceria alguém para me invejar. Dizia a mim mesmo para ser paciente, que cedo ou tarde alguém invejoso viria.

– Você é americano?

– Tenho essa alegria. – Ele continuou seu trabalho, de costas para mim. Não estava nada curioso para saber como eu era. – Também quer tirar uma foto minha?

– Você se importa?

– Penso, logo, existo, logo, sou fotografável.

– Infelizmente, não trouxe minha câmera.

– Bom, então, pelo amor de Deus, vá buscá-la! Você não é daquelas pessoas que confiam na memória, né?

– Acho que não vou esquecer tão cedo esse rosto que você está fazendo.

– Vai esquecê-lo quando estiver morto, e eu também. Quando morrer, vou esquecer de tudo. E aconselho você a fazer o mesmo.

– Ela posou para o mosaico ou você está trabalhando com base em fotografias ou algo assim?

– Estou trabalhando com base em algo assim.

– Como?

– Estou trabalhando com base em algo assim – ele bateu na testa. – Tenho tudo de que preciso nesta minha cabeça invejável.

– Você a conhece?

– Tenho essa alegria.

– Frank Hoenikker é um cara de sorte.

– Frank Hoenikker é um merdinha.

– Você é bem sincero.

– Também sou rico.

– Fico feliz por você.

– Se quer a opinião de um especialista, o dinheiro nem sempre traz felicidade.

– Obrigado pela informação. Você me salvou de uma baita encrenca. Eu estava prestes a ganhar dinheiro.

– Como?

– Escrevendo.

– Escrevi um livro uma vez.

– Como se chamava?

San Lorenzo – disse ele –, a terra, a história e o povo.