79.

Por que McCabe ficou desumano

– McCabe e Bokonon não conseguiram aumentar o que geralmente chamamos de “padrão de vida” – disse Castle. – A verdade é que a vida era curta, bruta e cruel, como sempre foi.

Ele continuou:

– Mas as pessoas não precisaram se ater a essa horrível verdade. Conforme crescia a fama do cruel tirano na cidade e do gentil homem santo na selva, também crescia a felicidade das pessoas. Elas estavam comprometidas em tempo integral como atores em uma peça que compreendiam, uma peça que qualquer ser humano em qualquer lugar poderia compreender e aplaudir.

– Ou seja, a vida tornou-se uma obra de arte. – Fiquei admirado.

– Sim. Só tinha um problema.

– Qual?

– As almas dos atores principais, McCabe e Bokonon, pagaram um preço alto pelo teatro que criaram. Quando jovens, eles tinham um temperamento muito parecido, os dois eram metade anjo, metade pirata. Mas o drama exigiu que a metade pirata de Bokonon e a metade anjo de McCabe desaparecessem. E McCabe e Bokonon conheceram a agonia pela felicidade do povo: McCabe viveu a agonia do tirano e Bokonon, a agonia do santo. Para todos os efeitos práticos, ambos enlouqueceram.

Castle dobrou o dedo indicador da mão esquerda.

– Depois disso, as pessoas começaram a morrer de verdade no ga-ahn-an-chuh.

– Mas Bokonon nunca foi pego? – perguntei.

– McCabe ficou maluco, mas nunca a esse ponto. Ele nunca se esforçou seriamente em pegar Bokonon. Teria sido bem fácil fazer isso.

– Por que ele não o pegou?

– McCabe sempre foi são o bastante para perceber que, sem a guerra contra o homem santo, ele mesmo seria insignificante. “Papa” Monzano também sabe disso.

– As pessoas ainda morrem no gancho?

– É inevitável.

– Quero dizer – eu disse –, o “Papa” realmente mata as pessoas dessa forma?

– Ele mata uma pessoa a cada dois anos, só para manter a farsa funcionando, por assim dizer. – Castle suspirou, olhando para o céu noturno. – Gira, gira, gira.

– Como?

– É o que nós, bokononistas, dizemos – disse ele – quando percebemos o quão misteriosa a vida é.

– Você? – Eu estava admirado. – Você também é bokononista?

Ele me olhou firmemente.

– E você também. Vai descobrir em breve.