– Câncer – disse Julian Castle, quando lhe contei que “Papa” estava sofrendo, à beira da morte.
– Câncer de que?
– Câncer de tudo, praticamente. Disse que ele desmaiou no palanque hoje, não é mesmo?
– E como desmaiou – disse Angela.
– Foi o efeito dos remédios – declarou Castle. – Ele chegou ao ponto em que os remédios e a dor atingem um equilíbrio. Mais remédios o matariam.
– Acho que eu me mataria – murmurou Newt. Estava sentado numa espécie de cadeira alta dobrável que levava com ele quando ia visitar alguém. Era feita com tubos de alumínio e lona. – Melhor do que sentar em um dicionário, um atlas e uma lista telefônica – disse ele, enquanto montava a cadeira.
– Foi o que fez o cabo McCabe, é claro – disse Castle. – Ele declarou o mordomo como seu sucessor e atirou em si mesmo.
– Câncer, também?
– Não dá para saber ao certo, mas duvido. Essa vilania não aplacada acabou com ele, esse é meu palpite. Isso aconteceu bem antes de eu vir para cá.
– Esta é certamente uma conversa alegre – disse Angela.
– Acho que todo mundo concorda que vivemos tempos alegres – disse Castle.
– Bom – eu disse a ele –, acho que o senhor tem mais motivos para ser alegre do que a maioria das pessoas, fazendo o que você faz da sua vida.
– Sabe, eu já tive um iate também.
– Como assim?
– Ter um iate também é um bom motivo para ser mais alegre do que a maioria das pessoas.
– Se você não é o médico do “Papa” – eu disse –, então quem é?
– Um médico da minha equipe, o dr. Schlichter von Koenigswald.
– Alemão?
– Vagamente. Ele fez parte da SS por quatorze anos. Foi médico de campo de Auschwitz por seis anos, naquele tempo.
– Ele está fazendo penitência na Casa da Esperança e da Misericórdia?
– Sim – disse Castle –, e fazendo grandes progressos também, salvando vidas de todos os lados.
– Bom para ele.
– Sim. Se ele continuar no ritmo atual, trabalhando dia e noite, o número de pessoas que terá salvo se igualará ao número de pessoas que ele deixou morrer… no ano 3010.
E aí está outro membro do meu karass: o dr. Schlichter von Koenigswald.