Dessa forma, tive a honra de assistir aos últimos ritos da fé bokononista.
Tentamos encontrar entre os soldados e os empregados do palácio alguém que admitisse conhecer os ritos e que pudesse administrá-los no “Papa”. Não havia voluntários. Isso não foi nenhuma surpresa, com um gancho e um calabouço tão próximos.
Então o dr. Koenigswald disse que poderia ao menos tentar. Ele nunca havia administrado os ritos antes, mas já vira Julian Castle fazê-lo centenas de vezes.
– Você é bokononista? – perguntei a ele.
– Eu concordo com apenas um preceito bokononista. Também acho que todas as religiões, incluindo o bokononismo, não passam de mentiras.
– Mas isso não o incomoda como cientista – perguntei –, ter de realizar um ritual como esse?
– Sou um péssimo cientista. Farei qualquer coisa que ajude um ser humano a se sentir melhor, mesmo se for algo não científico. Nenhum cientista de verdade diria isso.
E pulou no barco de ouro, para junto do “Papa”. Sentou-se na popa. Como era um lugar apertado, ele colocou o leme dourado debaixo do braço.
O dr. Koenigswald tirou as sandálias, que usava sem meias. Então puxou as cobertas, expondo os pés descalços de “Papa”. Colocou a sola dos pés na sola dos pés de “Papa”, adotando a clássica posição do boko-maru.