Paul Fournier tinha reservado uma sala privada no Les Enfants Terribles. Conhecia bem o gerente e podia contar com a sua discrição. A manhã fora um horror. Vira-se obrigado a defender-se praticamente perante todos os burocratas pela hierarquia acima e abaixo. O diretor-geral da Polícia Nacional queria a sua cabeça, as feministas queriam os seus tomates e tudo o que ele queria era que aquele absurdo desaparecesse. Que importância tinham os sentimentos de uma gaja quando ele se debatia com a segurança nacional da República?
Por sorte, Paul Cooke não fazia ideia da conferência de imprensa daquela manhã. Tinha saído do jato privado com um andar animado, parecendo ávido por concluir o acordo. Ele gostava de Cooke pelo simples motivo de ele ser um espelho de si mesmo. Era inteligente e pragmático. Nunca se deixava levar pela componente emocional das coisas, o que era o beijo da morte naquele ramo de atividade. Não havia lugar para compaixão ou sentimentos. Era uma arena brutal, onde só os melhores e mais astutos podiam sobreviver.
Em parte, era por isso que devotava tanto respeito a Stansfield e Hurley. Tinham sido uma boa equipa ao longo dos anos. O cérebro de Stansfield e a atitude implacável de Hurley, capaz de esmagar o inimigo custasse o que custasse, tinham sido uma combinação muito potente. Mas ambos estavam a ficar velhos, e o facto de terem deixado que alguém como Cooke lhes passasse despercebido era prova de que estava na hora de arrumarem as botas. Fournier preocupava-se com isso. Perceberia ele quando chegasse a sua altura? Tinha passado muito tempo a pensar nisso e a planeá-lo. Era por isso que tinha todo o seu dinheiro bem guardado. Quando chegasse o momento, desapareceria simplesmente, se fosse necessário.
— Então, o que pode dizer-me acerca destas pessoas? — perguntou Cooke.
Fournier tomou um pouco de vinho e disse:
— Pagam generosamente por informações. Isso é o mais importante.
— Alguma vez o ameaçaram?
Fournier sorriu.
— Têm uns quantos elementos pouco civilizados, mas o Max mantém-nos na linha. Vai gostar dele. É um bom homem. Não é um desses radicais que passam a vida a ameaçar lançar coisas pelos ares.
Cooke riu-se.
— Bem, desde que o Max consiga controlá-los, isto deverá correr bem.
Fournier olhou para o relógio, acabou o vinho e disse:
— É melhor irmos. Gosto de os fazer esperar, mas não demasiado.
— A que horas devíamos encontrar-nos com eles?
— À uma.
Cooke verificou o seu relógio e franziu o sobrolho. Eram 13h38. Os dois homens levantaram-se. Fournier afastou a cortina da sala privada e avançou para a porta. Vários clientes tentaram chamar-lhe a atenção e muitos mais fitavam-no e cochichavam. Ignorou-os a todos. Quando chegaram à porta, o seu chefe de segurança e Mermet estavam à espera. Este último parecia à beira de um ataque de ansiedade.
Fournier puxou-o à parte e perguntou-lhe:
— Mais más notícias?
— Sim. Ligaram do gabinete do presidente. Querem ver o ficheiro.
Fournier inspirou pelo nariz.
— Aquela cabra arranjou-me mesmo problemas. — Sacou de um cigarro e disse: — Diga-lhes que estou ocupado a interrogar um ativo dos serviços secretos de alto nível e que ainda esta noite lhes fazemos chegar o ficheiro.
Mermet assentiu com a cabeça e começaram a atravessar a rua. Fournier ofereceu um cigarro a Cooke, mas este recusou, dizendo ao amigo que ainda remava e que aquilo não era bom para os pulmões. Fournier fingiu não ouvir nada do que ele dizia.
O Hotel Balzac ficava mesmo do outro lado da rua. Avançaram pelos degraus atapetados e pararam debaixo do pórtico circular. Fournier virou-se para Mermet e disse-lhe:
— Espere aqui em baixo. Isto deve demorar cerca de meia hora.
A verdade era que não queria demasiados olhos e ouvidos a inteirarem-se do que estava prestes a acontecer. Uma quantidade considerável de dinheiro ia mudar de mãos e, dependendo de como corresse a reunião, poderia sentir-se tentado a meter-se no carro e conduzir até à Suíça quando acabasse.
Juntamente com Cooke, atravessou o átrio até aos elevadores. Houve mais olhares fixos nele e uma pessoa que tentou abordá-lo, mas ele manteve o olhar em frente e avançou. Por sorte, o elevador do meio estava disponível. Carregou no botão do último andar e, passado menos de um minuto, estavam no último piso do hotel de seis andares. Ao fundo do corredor, o guarda-costas de Max estava postado em frente à melhor suíte do hotel.
— Olá, Omar — saudou Fournier. — Pedimos desculpa pelo atraso.
Omar não sorriu. Deu um passo em frente e, num francês muito macarrónico, disse:
— Abram os casacos.
— Temos de fazer isto sempre, Omar? Estamos no meu país, afinal.
— Regras — foi tudo o que ele disse.
Depois de se assegurar de que não estavam armados, Omar sacou de uma chave e abriu a porta. Fournier entrou primeiro, com Cooke apenas um passo atrás. Avançaram para a grande sala de estar, onde Max se encontrava descontraidamente reclinado num dos três sofás.
— Max — cumprimentou-o Fournier com entusiasmo. — Que bom vê-lo.
— Sim — respondeu Max com uma piscadela de olho e indicando o televisor com um aceno da cabeça. — Estou a ver que teve um dia muito complicado.
Fournier ignorou o comentário.
— Neste ofício, Max, tenho suportado bem pior.
— Sim, não duvido. — Max virou-se para Cooke e estendeu-lhe a mão. — Há algum tempo que queria conhecê-lo.
— Igualmente — respondeu Cooke.
— Por favor, sentem-se. Posso servir-vos alguma coisa?
— Não, obrigado — respondeu Fournier pelos dois. — Acabámos de almoçar e temos uma agenda bastante preenchida. — Sentou-se num dos sofás grandes e Cooke sentou-se a seu lado.
— Compreendo. — Max não fez caso da desconsideração e sentou-se à frente deles. — Então querem ir diretos ao assunto.
— Isso seria ótimo. Como sabe, graças ali ao seu amigo Samir, tenho outros problemas com que estou a tentar lidar.
Até então, Cooke não tinha reparado no homem com o curativo no rosto. Sorriu-lhe, mas não recebeu qualquer cordialidade em troca.
Fournier perguntou:
— Onde está o Rafique?
— Gostará de saber que está a preparar o avião. Assim que tivermos concluído o nosso negócio, deixaremos o país.
— Folgo muito em sabê-lo. Obrigado.
— Então — disse Max, olhando para Cooke —, tem algo para mim.
— Sim, tenho, mas gostaria de ver o dinheiro primeiro.
— Claro. — Max olhou por cima do ombro. — Samir, traz o dinheiro.
— Presumo que o meu seja transferido de acordo com as minhas instruções habituais — atalhou Fournier.
— Com certeza. O meu secretário pessoal tratará de tudo assim que eu fizer o telefonema.
— Muito bem.
Samir voltou com uma pasta grande e pousou-a na mesa entre os dois sofás. Abriu os fechos e mostrou o dinheiro a Cooke.
— Um milhão de dólares e outro milhão numa conta bancária na Suíça — disse Max. — Agora preciso da informação que prometeu.
Cooke sorriu e retirou um envelope dobrado do bolso do casaco.
— Chama-se Mitch Rapp. Tenho aqui uma foto. Moradas conhecidas. A mãe encontra-se doente em estado terminal, mas ele tem um irmão que poderá ser usado para o pressionar.