METANFETAMINA, LIBERDADE E A BUSCA PELA FELICIDADEAaron C. Anderson e Justine Lopez |
O protagonista de Breaking Bad, Walter White, é um professor de Ensino Médio que produz metanfetamina, desrespeita leis e desafia o status quo. Mas pode também ser um herói para a liberdade americana! A obra Sobre a liberdade, de John Stuart Mill (Hedra, 2010), é um material básico para a compreensão de repúblicas democráticas como a dos EUA desde sua publicação, em 1859, e pode nos ajudar a entender Walt (e seu alter ego, Heisenberg) como uma espécie de herói – ou anti-herói – da justiça, da liberdade e do progresso humano.
A obra de Mill é profundamente crítica à democracia e à conformidade forçada que ela traz. Ele é totalmente contra o conformismo e argumenta que fazer algo apenas porque é socialmente aceitável fazê-lo é um desserviço à causa da liberdade humana. Os heróis da liberdade são as pessoas que pensam por si mesmas e testam todas as ideias e estilos de vida, ainda que acabem se dando mal. Acredite ou não, Mill acha que alguém que está errado, mas que pensa por si mesmo, oferece mais ao progresso humano do que alguém que está certo, mas que não pensa por si mesmo! Perseguir pensamentos e ações fora da norma da sociedade tem valor inerente, por desafiar o status quo. Em outras palavras, pensar e agir diferentemente beneficia a todos, até mesmo àqueles cujas ideias estão sendo desafiadas.
Então, podemos considerar as atividades ilegais de Walt como um exercício da liberdade, tão eloquentemente defendido por Mill? Podemos considerar as leis contra a produção de drogas como “gostos” e “preferências” da maioria que foram transformados em leis?
Quando conhecemos Walter White, não esperávamos que ele se transformasse no maior produtor de metanfetamina do Novo México. Afinal, Walt não se parece com esse tipo de profissional. Com óculos de aro fino, camisas xadrez e calças cáqui, ele é o típico professor de Ciências!
Isso muda quando ele descobre que tem um câncer de pulmão inoperável. Ao final da primeira temporada, começa a transformação drástica em seu alter ego – o rei das drogas Heisenberg, de cabeça raspada e chapéu porkie pie. Podemos não concordar, mas entendemos por que Walt tomou as decisões que o levaram a tal transformação. Como ele mesmo afirma, no episódio “Bit by a Dead Bee”, da segunda temporada: “Minha esposa está grávida de sete meses de um bebê que não planejamos ter. Meu filho de 15 anos tem paralisia cerebral. Sou um professor de química com qualificação muito superior... Ganho US$ 43.700 por ano... E em dezoito meses, estarei morto”.
Então, o que você faria se estivesse no lugar dele? Talvez fazer metanfetamina ultrassofisticada não seja a primeira coisa que lhe venha à mente! Mas, de acordo com Mill, talvez seja possível justificar as atitudes exageradas de Walt e encontrar algo nobre e até bom em seu comportamento. Vista sob esse prisma filosófico, a decisão de Walt de produzir e vender metanfetamina pode ser pensada como um exemplo do que Mill chama de “soberania do sujeito sobre si mesmo”. De acordo com o autor, um dos principais objetivos da sociedade democrática liberal é determinar onde termina a “soberania do sujeito sobre si mesmo” e onde começa a “autoridade da sociedade”.
Para ele, a interferência da “autoridade da sociedade” na vida das pessoas é justificada somente quando alguém é prejudicado, prejudica ou vai (provavelmente) prejudicar alguém. Pensadores como Mill falam do princípio do dano, que é algo assim: como indivíduos livres tendo soberania sobre nós mesmos, deveríamos ser totalmente livres para tomar decisões acerca de nossas vidas. Contudo, se nossas ações prejudicam outras pessoas, a sociedade pode interferir em nosso comportamento.
Mill argumenta que, como sociedade, somos livres para nos expressar quando desaprovamos as ações de outras pessoas, mas não deveríamos poder impor penalidades legais sobre os outros só porque não concordamos com seu comportamento. Isso porque as pessoas estão mais interessadas no próprio bem-estar e são, portanto, mais propensas a tomar decisões nesse sentido. Para Mill, não cabe a outras pessoas, às autoridades ou ao governo tomar decisões por você ou por mim, ou limitar nossa habilidade de escolha por nós mesmos, contanto que outras pessoas não sejam prejudicadas por essas ações.
As ideias de Mill podem ser aplicadas a muitos dos personagens de Breaking Bad, desde Walt e sua decisão de produzir droga, a Jesse e sua decisão de usá-la. Por exemplo, depois que seu amigo (e traficante) Combo leva um tiro enquanto vendia drogas, no episódio “Mandala”, da segunda temporada, Jesse cai no vício. Ele começa fumando metanfetamina em cristal para conseguir lidar com seus problemas, mas logo passa à heroína e chega perto da overdose. Embora possamos considerar o uso de drogas perturbador e até “errado”, essas foram as decisões de Jesse; e, segundo Mill, somos livres para desaprová-las, mas não para penalizá-lo por elas (contanto que ele não esteja prejudicando ninguém).
É claro que o princípio do dano de Mill fica muito mais complexo se pensarmos em Walt e na decisão de produzir e vender metanfetamina. Ele deveria ser livre para produzir cristal de metanfetamina? Se sim, que tipo de penalidade a sociedade poderia impor de modo justo sobre ele e, mesmo assim, chamar-se de sociedade livre?
Breaking Bad é lotada de personagens que estão longe do que a sociedade chama de “perfeitos” ou “bons”. Skyler, esposa devotada e mãe de dois filhos, mantém um caso com o chefe, Ted Beneke, e depois compra um lava-rápido para lavar o dinheiro do trabalho de Walt com as drogas. Marie, esposa perfeita e enfermeira sem diploma, é cleptomaníaca e rouba uma tiara de diamantes para a filha de Walt e Skyler. Gus, aparente cidadão modelo e dono do Los Pollos Hermanos, é um assassino cruel envolvido no comércio de metanfetamina. Até Hank, agente aprumado do departamento antidrogas, tem seus problemas, inclusive o gosto por charutos cubanos ilegais!
Acredite ou não, Mill vê valor no estilo de vida “alternativo” desses personagens, porque representa o que ele chama de individualidade. Para ele, a individualidade – ou a busca pela tomada de decisões individuais e independentes – é a chave para o progresso humano e está diretamente relacionada à busca da humanidade pela verdade e pela perfeição. O potencial para o progresso do ser humano reside nos pensamentos e ações únicos de cada indivíduo. E no intuito de encorajar pensamento e ação livres, Mill argumenta que todos “deveriam fazer diversas experiências de vida”. Isso não é o mesmo que dizer que Mill aprovaria todas as ações dos personagens de Breaking Bad (principalmente Gus, o “assassino cruel”!), mas que “passe livre deveria ser dado a diversidades de caráter, contanto que não prejudicasse os outros”.
Mill diz que sempre existe valor nos pensamentos e escolhas de um indivíduo. Ainda que nossas decisões acabem “não dando certo”, novas ideias e estilos de vida alternativos servem ao valoroso propósito de questionar o status quo e continuar o debate sobre o que é mais certo e benéfico para a humanidade. O autor argumenta que o status quo deveria sempre ser testado, o que leva à afirmação de que o “estilo de vida alternativo” de Walt, ao produzir drogas, é benéfico para a sociedade, fazendo dele uma espécie de herói!
Você deve estar pensando como a decisão de Walt de produzir droga pode ser considerada uma coisa boa. Bem, nesse caso, produzir cristal de metanfetamina – junto com diversas outras “atividades ilegais” – é um exemplo do que Mill chama de espontaneidade individual. Calculando as despesas com faculdade, hipoteca e custo de vida, Walt conclui que precisa deixar US$ 737 mil para a esposa e para os filhos depois que morrer. Para um professor que ganha cerca de US$ 43 mil por ano, esses números não ajudam em nada! Portanto, Walt é forçado a pensar de um jeito novo e descobrir uma solução criativa para seu problema financeiro, usando aquilo de que mais entende: química.
Apesar do risco de ser preso, ou mesmo morto, Walt toma a decisão que considera ser a melhor para sua família. Ele testa um novo “plano de vida” que pode conter algumas porções de “verdade”, apesar de sua ilegalidade e apesar da sociedade não aprová-lo. O resultado do novo plano de vida de Walt, ou de qualquer plano de vida alternativo, pode estar totalmente errado, mas, porque desafia o status quo, pode ajudar o progresso da humanidade em direção a uma sociedade mais justa e livre.
Nesse sentido, Breaking Bad explora os limites da liberdade: até que ponto uma sociedade justa pode dizer que o que eu ou você escolhemos não é permitido, é ilegal? Mill logo nos lembra de que os pontos de vista mais amplamente aceitos pela sociedade podem estar tão certos quanto errados. E mesmo que estejam certos, se não forem questionados, correm o risco de perder a força de verdade. De acordo com o autor, a maioria e os que estão no comando tendem a não gostar muito da individualidade. Mas modos de vida alternativos praticados por uma minoria da população, como os que vemos em Breaking Bad, podem conter verdades ou verdades parciais e deveriam, portanto, ser protegidos por nós, enquanto sociedade dedicada à liberdade e à busca da verdade e da perfeição.
Enquanto pode-se argumentar que o estilo de vida alternativo de Walt pode beneficiar a sociedade, não há dúvida de que ele cometeu pecados muito graves ao longo do caminho. (Para refrescar sua memória: Walt estrangulou Krazy-8 com a trava da bicicleta, deixou a namorada de Jesse, Jane, asfixiar-se com o próprio vômito, montou a bomba suicida que matou Gus... Preciso dizer mais?) Mas Walt também exerce um impacto menos direto sobre as pessoas que o cercam, principalmente quanto ao bem-estar daqueles que usam seu produto. Quem é a favor da proibição de álcool e drogas costuma argumentar que, já que essas substâncias sempre prejudicam o usuário, o uso deveria ser limitado (ou banido mesmo). Levando o princípio do dano de Mill em consideração, até que ponto Walt está prejudicando os outros ao produzir metanfetamina? Deveria essa atividade ser permitida, mesmo sabendo-se que o produto será consumido e, portanto, prejudicar a saúde dos usuários?
Sobre a liberdade foi escrito em meados do século XIX, durante um movimento de comedimento, no qual foram promulgadas leis de proibição e antiálcool. Em sua discussão sobre o uso do álcool, uma das intenções principais do autor era derrubar a ideia de que substâncias intoxicantes deveriam ser restritas por prejudicar o usuário fisicamente. Mill expressa uma oposição geral à criminalização dos vícios e chega a escrever especificamente que a intoxicação alcoólica “não é assunto sujeito à interferência legislativa”. O ator aponta com perspicácia para a estranheza em tentar restringir o uso de álcool para proteger a saúde do usuário, notando que “há muitas ações que, sendo diretamente prejudiciais somente aos próprios agentes, não devem ser legalmente interditadas”.
Estendendo essa ideia às drogas, no caso, a metanfetamina, pode-se argumentar que produtores dedicados como Walt e seu inexperiente assistente, Gale, na verdade beneficiam a sociedade porque seu produto é puro e, portanto, menos prejudicial para o usuário. Gale, autoproclamado libertário, justifica seu trabalho como produtor de metanfetamina dizendo: “Há crimes e crimes... Adultos conscientes sabem o que querem. E se eu não fornecer, conseguirão com outras pessoas. Pelo menos, comigo eles conseguem exatamente aquilo pelo que pagam. Nada de toxinas nem adulterantes” (“Sunset”, terceira temporada).
A noção de dano é crucial para os argumentos de Mill quanto à extensão e aos limites da liberdade. Como mencionado anteriormente, o princípio do dano demanda que sejamos livres para exercer nossa individualidade, contanto que não prejudiquemos os outros. Na verdade, desde que uma ação individual não prejudique mais ninguém, impedir que alguém expresse sua individualidade ao criminalizar suas ações constitui um prejuízo em si. Então talvez possamos argumentar que impedir que Walt produza e venda metanfetamina faria mais dano do que bem à sociedade.
Por não podermos prejudicar os outros, Mill argumenta que deveríamos ser livres para causar prejuízo a nós mesmos. Portanto, segundo essa lógica, o uso de drogas é uma decisão individual. “Usuários”, como Jesse, Badger e Skinny Pete são livres para usar drogas e, possivelmente, prejudicar sua saúde porque, ao fazer isso, eles não causam impacto negativo em ninguém a não ser em si mesmos. Portanto, pode-se dizer que não é Walt quem deveria ser punido pelas decisões individuais deles.
Isso não é o mesmo que dizer que o dano não pode ser causado indiretamente. Acerca de dano indireto causado pelo uso de substâncias, Mill aceita que ele existe quando um indivíduo negligencia obrigações, como dívidas ou responsabilidades financeiras para consigo ou com sua família. Ele diz que se um indivíduo deve ser punido, deveria sê-lo especificamente por negligenciar seus deveres e não por usar álcool (ou, por extensão, drogas). Concluindo, ele defende que a “escolha de prazeres” e do jeito de gastar dinheiro, após termos cumprido nossas “obrigações legais e morais para com o Estado e os indivíduos”, são de “nossa conta”, de modo que permitir que o governo controle tais produtos é muito similar a sofrer um abuso e a prejudicar a causa da liberdade.
Embora Walt acenda baseados, use umas pílulas e fique bêbado em mais de uma ocasião, na maior parte do tempo ele é um cara bem certinho. Mas embora ele não use drogas de fato, ele as faz. A mesma liberdade que Mill afirma que deveria permitir que as pessoas usassem álcool pode ser estendida para aqueles que o produzem – ou, nesse caso, que produzem metanfetamina?
Muito da discussão do autor sobre a liberdade e a lei relaciona-se ao uso de álcool em sua época. Contudo, seus argumentos são facilmente estendidos ao consumo e a produção de drogas ilegais atuais. O que é importante em sua discussão sobre o uso do álcool é o argumento de que os consumidores não deveriam ser punidos, visto que a punição poderia fazer mal à liberdade e ao progresso humanos. Embora o argumento pareça meio falho, Mill não quer que a sociedade tome liberdades pessoais, principalmente se estas dizem respeito somente ao indivíduo ao fazer uma escolha.
A questão da punição é chave tanto para Mill quanto em Breaking Bad. Afinal, ao longo da série, Walt enfrenta duras consequências de suas ações. Ele vive tentando escapar da captura e da punição por suas ações: por exemplo, ele será punido com divórcio se for descoberto por Skyler; punido com cadeia se for descoberto por Hank; e corre risco de morte se mexer com Gus. Contudo, Mill argumentaria que não cabe à sociedade ditar o comportamento de Walt. De acordo com esse pensamento, Walt deveria ser livre para gerenciar a própria vida e tomar suas decisões individualmente. Mas, assim que ele começa a prejudicar outras pessoas, segundo Mill, merece ser punido.
Então, em que ponto Walt merece ser punido por suas ações? Os produtores causam mais ou menos dano aos outros do que os usuários? Enquanto produtor, Walt merece ser punido? Mill, por sua vez, não se preocupa muito com os produtores. Ele chama atenção às leis de proibição de sua época e defende que elas se preocupam muito mais em conter o uso de álcool do que em impedir sua produção. Portanto, por extensão, parece que Mill faria cara feia para a proibição da produção de drogas e argumentaria que essas leis estão mais preocupadas em proibir o uso das drogas e, portanto, estão impondo limites injustos à liberdade individual.
De acordo com Mill, republicanos e democratas, inclusive os que se orgulham de acatar a “vontade do povo”, podem representar sérias ameaças à justiça e ao progresso. Cidadãos que valorizam a liberdade precisam se proteger das maneiras com as quais a maioria pode restringir o progresso e a liberdade. Nos EUA, existe a tendência de muito se falar sobre as possibilidades da democracia, mas Mill avisa que a democracia tem a tendência a forçar uma espécie de “mediocridade coletiva”, na qual os cidadãos repetem comportamentos simplesmente por serem as normas aceitas pela maioria ou pelas autoridades. Em diversos modos, os personagens de Breaking Bad refletem como a maioria pode influenciar o costume e a legislação – quanto ao modo com que pensam sobre drogas e álcool nos EUA – e entravar a liberdade.
A obra de Mill chama constantemente atenção para os perigos da moralidade legislada: pode parecer que as leis proíbem coisas que prejudicam a sociedade, mas em muitos sentidos ela serve para refletir as opiniões de poucos, que adquiriram status de “costume” e ganharam força de lei. Essas leis acabam sendo aceitas sem questionamento, e podem minar a liberdade individual e causar uma regressão na humanidade. Por exemplo, Marie entra em pânico quando suspeita que Walt Jr. está “fumando maconha”. Ela exagera tanto que pede ajuda a Hank que leva Walt Jr. a um motel decadente para mostrar ao garoto quais são os perigos das drogas que abrem as portas para as demais (“... And the Bag’s in the River”, primeira temporada). Marie parece se preocupar com o impacto que a maconha poderia causar em Walt Jr., mas descobrimos, mais tarde, que ela mesma havia usado maconha na juventude!
Aqui, Marie serve como ótimo exemplo de alguém que, por falta de melhor motivo, segue o costume de ser contra as drogas, simplesmente porque isso é a coisa socialmente aceita a se fazer – e porque o marido é agente do departamento antidrogas! Como Mill aponta, imitar mesmo as mais corretas ideias apenas porque elas são aceitas socialmente mantém o progresso humano estagnado. Então, os costumes substituem motivos para o comportamento. Mill chama isso de influência mágica do costume. No fim, esse uso do costume dá força ao despotismo sobre os pensamentos e as ações dos indivíduos.
A sociedade americana tende a aceitar a produção e o consumo de álcool porque é mais ou menos comum fazê-lo, enquanto a mesma sociedade olha feio, estigmatiza e proíbe o uso de outras drogas, porque isso é a coisa aceita socialmente.
Pense nisso: Hank adora beber, mas se vivesse em um período de mentalidade antiálcool, como Mill, seu hábito não seria socialmente aceito. Como agente do departamento antidrogas, seu trabalho provavelmente envolveria fazer blitz em produtores de álcool. E já que ele mesmo produz sua cerveja caseira (chamada Schraderbrau), ele estaria não somente quebrando um costume, mas também a lei! Assim como Marie, Hank segue às cegas um costume, defendendo o álcool e acusando a metanfetamina quando, na verdade, ambos são drogas que foram consideradas ilegais nos EUA em algum momento.
Do ponto de vista de Mill, a opinião da maioria pode ser mais perigosa e tirânica do que as leis e penalidades legais de um governo repressor. E essa conformidade ao costume pelo costume gera a degradação do intelecto e uma “mecanização” dos seres humanos. Por esse motivo, a “individualidade”, expressa no comportamento de Walt (e de seu alter ego, Heisenberg), é crucial para o progresso e para a liberdade da sociedade.
Antes de ser diagnosticado com câncer no pulmão, Walt passou toda a vida sendo certinho. Sua transformação – de professor de ciências correto a traficante durão – tornou-o um improvável herói da justiça, do progresso e da liberdade! Com a história de um professor escolar que virou produtor de droga, Breaking Bad oferece um estudo de caso dos princípios filosóficos de Mill sobre a liberdade e o dano. Aplicando as ideias de Sobre a liberdade em Breaking Bad e em seu protagonista, Walter White, somos constantemente confrontados com essa questão: os princípios de Mill podem ser sustentados no caso extremo da produção de metanfetamina?
Para responder a essa questão, é crucial lembrar as palavras do autor: “Nessa época, o simples exemplo de não conformismo, a mera recusa de ajoelhar-se ao costume é, em si, um serviço”. Mill escrevia na década de 1850, mas suas palavras ainda são verdadeiras. Precisamos testar todas as ideias numa sociedade, inclusive as mais aceitas e “corretas”. Portanto, embora seja difícil justificar as ações extremas de Walt, o pensamento de Mill nos permite encontrar certo valor no estilo de vida alternativo de um produtor de metanfetamina. E, independentemente de estar certo ou errado, seu comportamento “criminoso” é heroico só por testar novas ideias e estilos de vida, desafiar o status quo e, no processo, somar ao progresso da humanidade.