16 de dezembro de 2017

Beja

Alex

Estávamos todos sentados na sala de espera quando uma enfermeira apareceu a anunciar que a Sofia tinha acordado.

A mãe dela abraçou-se ao pai, a rir e a chorar ao mesmo tempo. «O meu amorzinho acordou, a minha filhinha vai ficar boa. A nossa fadinha linda vai ficar bem.»

A Sofia tinha herdado a tendência para os diminutivos da mãe...

O Ricardo entrou nos Cuidados Intensivos, voltou passado pouco tempo, a mãe da Sofia falou com ele e foi a correr tocar à campainha.

O pai e o irmão substituíram-na nas perguntas. Ouvi o Ricardo dizer que ela estava muito inchada porque os rins estavam a funcionar mal, mas que de resto lhe parecia bem.

Disse algo ao pai da Sofia, pegou no casaco e pareceu-me com pressa para se ir embora. Fiquei intrigado por ele abandonar a sua Sofi tão depressa e questionei-o sobre a sua saída.

− Vou para o Hospital Garcia de Orta. – Apontou na direção da porta que dava para os Cuidados Intensivos. − Tenho ordens para ligar para o telefone da Madalena no minuto exato em que vir a Luisinha...

Desde que soube que a Sofia estava em coma, que se abriu um buraco sem fundo dentro de mim e não pensava em mais nada. Eu ainda não tinha pensado no estado da bebé, mas a Sofia lembrou-se da filha assim que acordou.

Senti-me a fraquejar, com uma sensação de impotência e medo. O que seria da Sofia se acontecesse alguma coisa à filha, que nasceu tão pequena que nem conseguia respirar sozinha...

− Pareceu-te que ela estava mesmo bem?

Ele acenou, mas com um movimento menos firme do que eu desejaria.

− Sim, está pálida e tem a cara e as mãos inchadas, mas de resto pareceu-me normal... Pede para entrar e fala com ela, para ficares mais descansado. Eu tenho de me ir embora. Se bem a conheço, deve estar a contar os minutos que vou demorar até Almada no Google Maps do telefone da mãe...

A Sofia, pálida e inchada ou como estivesse, continuava a ser o melhor da minha vida, mas eu não sabia o que lhe dizer. Assim que a vi sair de mão dada com ele do armazém ao pé do Guadiana, dediquei-me a procurar o João Rodrigues sem descanso. Quando ela me telefonava mal lhe respondia. Depois ficava arrependido, mas dizia para mim próprio que não queria que nada me distraísse...

Além disso, ela preferia ficar com a mãe, a contar os minutos para ele chegar ao pé da filha.

− Vem de carro atrás de mim, se apanharmos trânsito ponho a sirene.