Na manhã seguinte, completamente contra a minha vontade, Frankie pede a tia Jayne que nos deixe no shopping e toma a dianteira até sua loja preferida, a Bling. Tudo lá dentro — incluindo os funcionários — é transparente, emborrachado ou brilhante, ou alguma combinação disso.
Apoiada contra o alto-falante atrás do balcão, uma loira só um pouco mais velha do que nós folheia a Celeb Style do mês e balança a cabeça, fazendo corações de prata dançarem sobre seus ombros ao som da música techno atrás dela.
Sem se intimidar por uma mulher de blusinha preta, Frankie bate no balcão.
— Olá! — grita ela contra a música. — Vocês já receberam a coleção de moda praia?
A moça emborrachada, cujo short jeans parece uma calcinha com bolsos, arqueia a sobrancelha para Frankie e aponta com a cabeça para um canto da loja.
— Obrigada — diz Frankie.
— De nada. — A moça emborrachada vira a página e solta um suspiro de “ah! a-minha vida é tão dura”.
Por sorte mamãe não estava ali para testemunhar o diálogo, senão ela chamaria a gerência da Bling para falar sobre como a falta de profissionalismo da moça emborrachada reflete em toda a indústria da confecção.
— Ela é nova — explica Frankie, me puxando para o canto que a moça indicou com tanta amabilidade.
Depois de me entregar a câmera com instruções explícitas para eu continuar filmando, Frankie respira fundo e se põe a trabalhar. Ela abre caminho em meio a araras de roupas de banho, chafurdando como uma mãe antílope para seus filhotes que morrem de fome, passando por cores e estilos que são “tão ano passado” ou “tão blá-blá-blá para a praia”. Quando encontra algo surpreendente, toca no tecido para simular um dia de ondas e o segura contra a luz para garantir a transparência.
Depois de quinze minutos de caça, Frankie emerge das araras com duas pilhas. Uma unha quebrada e um ligeiro cansaço são suas únicas cicatrizes da batalha.
— Você pega esta metade, depois trocamos. — Ela me passa uma pilha de roupas de elastano cintilante, brilhante, ao entrarmos nos provadores e nos escondermos em cabines vizinhas.
— Acho que devemos ficar com os pretos — digo para Frankie ao abrir a porta do provador e lhe mostrar um horrível maiô alaranjado largo em minhas costas, o terceiro e terrível traje que experimentava. — Era para emagrecer.
— Todo mundo usa preto — retruca Frankie —, e não precisamos emagrecer. Precisamos de algo divertido. Algo... ui! Não tão divertido assim.— Ela me empurra de volta para o provador antes que qualquer passante pudesse associá-la à monstruosidade alaranjada do provador A.
— Continue tentando, Anna. Você vai encontrar algum.
Cinco outros maiôs, cinco rejeições. Tudo bem, talvez o maiô amarelo do ano passado com colar de margaridas tenha potencial.
— Frank, impossível. Não basta eu usar meu...
— Não! — ela ordena, saindo de sua cabine. — Você não vai mencionar aquele maiô amarelo de novo. Acho que encontrei um de que gosto. Venha ver.
Abro minha porta. Frankie é uma miragem sob o brilho artificial do provador.
Ela abre a cortina para revelar um biquíni azul-bebê preso no pescoço e no quadril e que cobre o suficiente para atiçar a imaginação de todos. Aquele biquíni foi feito para ela; prova disso foram as mães e filhas em volta dela, como ovelhas desgarradas buscando orientação em meio aos pastos da coleção de verão da Bling.
— Ah, meu Deus! É isso mesmo! — Saio de meu provador e a abraço como se estivéssemos experimentando vestidos de noiva. — Você está maravilhosa!
— Ele me faz parecer gorda? — Ela toca a parte de baixo e se volta para olhar seu bumbum e barriga no espelho. — E minhas costelas gigantes? Tenho costelas de homem.
Uma das mães ri.
— Querida — diz a mulher —, se eu tivesse este corpo, iria para a praia nua.
Frankie sorri. As outras mães concordam. Uma menininha fica olhando. Celeb Style, aí vamos nós.
— Frank, é maravilhoso. Você tem de comprar este biquíni.
— Você acha? Tem certeza?
— Sim — dizemos, a ovelha perdida e eu.
— Certo, desde que você esteja sendo honesta.
— Ah, meu Deus, se você não comprar este biquíni, não vou para a Califórnia.
— Certo, certo! Vou comprá-lo. Enquanto isso, aqui. — Ela volta ao provador e pega um cabide com um biquíni verde-oliva. — Acho que encontrei um para você também. Sei que você é um pouco mais conservadora para essas coisas.
Trancada em minha cabine, tiro a roupa de novo e me preparo para outra dolorosa e previsível rejeição. Se este não ficar bom, vou para o Alasca. Lá ninguém precisa de biquíni.
Visto, estico e amarro as várias partes sem me olhar no espelho. Ao examinar o esmalte Cotton Candy nas unhas de meus pés, imagino-me andando pela praia com meu maiô amarelo e infantil ao lado de Frankie, Rainha do Verão, em azul-bebê. Vou ser a coadjuvante. A reserva. A segunda porção. A segunda opção.
Minha cabeça dói.
— E aí? — Frankie bate na porta. — Vestiu?
Destranco a porta e a abro, ainda com medo de me olhar no espelho.
— Uau. Uau. Anna, meu Deus. Uau!
— Ruim? — sussurro.
— Ah, vem cá. — Antes que eu possa dizer alguma palavra, Frankie me agarra pelo pulso e me empurra para o principal provador, diante do espelho triplo. Por sorte, as ovelhas haviam debandado. — Olhe. — Ela me empurra. Encaro meu reflexo. A menina no espelho me encara. Não a reconheço. — Anna, você vai comprar este biquíni.
— São oitenta dólares.
— Anna, você vai comprar este biquíni.
— Mas eu...
— Anna, você vai comprar este biquíni. É isso.
Viro-me e me contorço para encontrar alguma falha crítica que me obrigue a abandonar o traje, mas não encontro nada. Não no sutiã, que é amarrado no pescoço como o de Frankie. Não na tanga, que faz minha barriga parecer retinha e se ajeita sobre meu quadril como uma segunda pele.
— Está vendo? Eu disse que você está maravilhosa! — comemora Frankie.
— Que seja. — Ainda estou me acostumando à ideia de mostrar meu umbigo de propósito.
— Ah, meu Deus — grita Frankie. — Anna, acabo de ter a melhor ideia de todos os tempos.
— Ótimo. Vou pedir a mamãe para reservar o dinheiro da fiança.
— Não, escute. — Ela me abraça e abaixa o tom de voz. — É sobre o albatroz. — Sua sobrancelha parece dançar enquanto ela se agita de modo sugestivo.
— Ah, certo. Seu projeto. — Estou ao mesmo tempo intrigada e com medo, uma combinação à qual me acostumei no último ano com Frankie.
— É perfeito. Estaremos na Califórnia por vinte e três dias, certo? — Ela faz cálculos com os dedos, olhando para o teto para se concentrar. — Se dermos três dias para a chegada, exploração e estratégia, restam dezoito, dezenove, vinte. Vinte dias, nem mais nem menos.
— Vinte dias para quê?
— Vinte garotos.
Acho que ela está brincando, mas seus olhos estão determinados. Preciso deter essa loucura antes que nos compre um pacote de camisinhas na farmácia.
— Frankie, não vou dormir com vinte caras. Nem você!
Ela ri.
— Que é isso, Anna? Só quis dizer que, se conhecermos um garoto por dia e fizermos um test-drive, com certeza você poderá se livrar do A.A. em algum momento, certo? Podemos até mesmo fazer uma competição. Quem conquistar mais garotos em potencial vence.
Apesar de a Anna no maiô amarelo jamais concordar com uma disputa tão escandalosa, a menina louca no espelho usando o biquíni verde-oliva não resiste ao sorriso sincero de Frankie. É um sorriso de orelha a orelha, quase atravessando seus olhos azuis, e, antes mesmo que eu pudesse pensar no quanto a ideia era ruim, nossa missão é ativada.
— Vinte dias — digo, alegre com seu entusiasmo duradouro. — Vinte garotos. Estou dentro.
Frankie arqueia a sobrancelha e dá mais uma olhada aprovadora em nossos biquínis.
Sorrio e aprovo também. Desafio aceito.
Entra o locutor de cinema.
Em algum lugar no litoral da Califórnia, um vento estranho sopra no oceano, e vinte garotos sem pensar desviam ao mesmo tempo o olhar de suas pranchas de surfe.