Capítulo 26

Mantenho-me a uma distância segura dela, meus sentimentos se alternando entre a culpa e a raiva, mais raiva do que culpa. Frankie não olha para trás nenhuma vez, confiante de que não a deixarei se distanciar demais. Ela sabe tão bem quanto eu que, se não aparecermos agindo com naturalidade, vamos precisar dar muita explicação.

Dou uma corridinha nos últimos quinze metros para garantir que subamos as escadas do quintal dos fundos juntas, sorrindo, raios perfeitos de sol voltando de uma noitada só para meninas. Red e Jayne estão na cozinha preparando algo para o almoço, no lugar certo.

— Ei, meninas! — tia Jayne diz, enxugando as mãos na bermuda. — Como foi a festa do pijama?

— Boa — ambas respondemos no mesmo tom monótono.

— Parece que vocês não dormiram muito — diz tio Red de trás de seu jornal.

— Papai, você não dorme de verdade quando dorme na casa de uma amiga.

— Desculpe minha ignorância — brinca ele, dobrando o jornal e o colocando sobre a mesa. — O que vocês fizeram?

Muitas coisas. Certo, Anna? — A voz de Frank é aguda e insolente.

— Ah, vocês sabem — respondo, pegando uma maçã da bancada e dando uma mordida exagerada. — Bebidas. Meninos. O de sempre.

Frankie arregala os olhos, mas Red e Jayne riem. Eles nunca pensariam que estou falando a verdade.

— Nesse caso, vou com vocês da próxima vez — Tia Jayne pisca e oferece sanduíches e tortilhas na mesa, me encarando um segundo a mais. Depois da primeira noite na varanda, não conversamos mais sobre Matt e Frankie. Eu me pergunto se ela é capaz de perceber a distância entre sua filha e mim neste momento, chegando como gaivotas tontas depois de uma noite de bebedeira — outra tentativa equivocada de esquecimento.

Deixamos as mochilas na sala de estar e assumimos nosso lugar na mesa, nas poses mais naturais que somos capazes de fingir. Estou tão cansada que acho que vou começar a ter alucinações. Parece que meu coração bombeia melaço em minhas veias e meu pescoço esquenta à espera do próximo comentário de Frankie.

Mas nada vem, no entanto. Ela me lança alguns olhares malvados quando Red e Jayne não estão prestando atenção, os quais eu devolvo com a mesma intensidade, mas ela se mantém calada. Obrigo-me a comer boa parte de meu sanduíche e alguns salgadinhos antes de pedir licença e ir para o quarto para uma necessária soneca.

— Certo — diz tio Red. — Vamos acordá-la mais tarde para o jantar. Vocês decidem aonde vamos. Qualquer lugar que queiram.

— Obrigada, tio Red — coloco minha louça na pia e subo as escadas. Inventar uma doença repentina para evitar passar a noite com Frankie deve estar fora de questão, por isso me resigno, tiro a ideia da cabeça e entro nos lençóis frios de minha cama, apagando por um tempo as últimas horas da existência. Puf!

Algumas horas mais tarde, Frankie me acorda chutando a lateral da cama.

— Que foi? — pergunto.

— Levante. Vamos jantar em quinze minutos.

— Ah, obrigada por avisar.

— Que seja.

Depois do conflito, Frankie e eu nos aprontamos para o jantar em silêncio, nos desviando uma da outra como se a próxima pessoa a falar ou fazer contato se transformasse em pedra. Ela olha em minha direção e eu na dela, esperando uma abertura, um sorriso, um meneio de cabeça — qualquer indício de que voltaremos a nos falar.

Mas nada vem.

Não de Frankie, que talvez perdoasse o universo por levar Matt antes de considerar me perdoar por não lhe contar o que houve entre nós.

E, sem dúvida, nada também vem de mim. Por mais que eu me divertisse com Frankie, por mais que a amasse e quisesse passar todos os verões com ela, por mais que quisesse cuidar dela para Matt, sei que nunca vai ser a mesma coisa de novo.

Depois de alguns minutos desconfortáveis, Frankie afinal quebra o silêncio, as lágrimas rolando.

— Não entendo como você pôde não me falar nada!

— Ah, é mesmo? — grito-suspiro de volta, passando as mãos nos cabelos. — Devia ter lhe contado sobre o Matt, mas está tudo bem quanto a você mentir sobre Johan e Jake?

— Isso é bem diferente e você sabe!

— Deixe de tentar justificar suas besteiras, Frankie! Estou cansada disso!

— Meninas, vamos! — grita tio Red lá de baixo. — Vamos a um restaurante, não a uma formatura!

— Cinco minutos, papai! — grita Frankie, voltando-se para mim. — Ah, então eu devo ser um monstro de amiga, não é? Obriguei você a vir nesta viagem e a obriguei a perder sua estúpida virgindade e a obriguei a mentir sobre Matt?

Agarro-a pelo pulso e a encaro nos olhos, quase nariz contra nariz.

— Sabe de uma coisa, Frankie? Para mim, chega. — Largo seu pulso e dou uma olhada em minha expressão no espelho.

— Não se importe — ela diz, olhando para meu reflexo. — Ninguém vai notar.

A noite toda Frankie é uma imagem fantasiosa, falando aos pais de meninas que não existem, jogos que nunca jogamos e filmes aos quais não assistimos, às vezes olhando para mim para acrescentar um detalhe ou um “Ah, eu me lembro disso! Foi tão divertido!”. Red e Jayne parecem maravilhados, uma imagem perfeita de férias de verão normais com sua filha normal e sua melhor amiga, também normal. O que poderia ser melhor?

— Estou tão feliz que tenhamos feito esta viagem juntos — diz tia Jayne, pegando a mão de Frankie do outro lado da mesa no bistrô Shelly’s Seaside. — Podemos muito bem voltar no ano que vem.

— Talvez possamos até mesmo fazer Helen e Carl virem — diz tio Red.

— Isso! Ótimo, mamãe! — Frankie me lança outro olhar malvado. — Pena que não possamos ficar algumas semanas a mais, não é, Anna?

Penso em Sam e sorrio.

— É, é uma pena mesmo.

Depois do jantar, os Perino nos levam para o píer. Deve ser o último fim de semana de todos na praia. O lugar está cheio.

— Está cheio aqui hoje — Red desvia para não bater num carrinho de bebê. — Por que não vamos até o outro lado da praia? Ainda não fomos lá.

Bem, talvez vocês não tenham ido. Mas sua filha e eu somos praticamente nativas agora.

Andamos pela calçada devagar, Frankie e eu alguns passos atrás, os punhos cerrados, sorrisos forçados sem trair nosso drama particular.

Tia Jayne pergunta se gostaríamos de parar em algum lugar para uma sobremesa e, como fazer que sim e sorrir é mais fácil do que balançar a cabeça e inventar um motivo para não querer sobremesa, aceitamos sem pensar.

E, como o universo está trabalhando em sua misteriosa forma durante todas as férias, esta noite não deveria ser diferente, e é por isso que nenhuma de nós se surpreende ao descobrir que tia Jayne está louca por um smoothie.