Pânico e entusiasmo tomam conta de meu corpo. No momento, minha cabeça e meu coração estão em conflito, tentando decidir se deveria ficar feliz por ver Sam ou com medo de que, se não executássemos algum tipo de plano de fuga de emergência nos próximos quinze segundos, toda a nossa história sobre Jackie e Samantha iria pelos ares. Frankie se vira para mim morrendo de medo. É a primeira vez que sua expressão mudou, e me amaldiçoo por não ter pensado em deixar claras as regras com Jake e Sam de antemão.
Boa noite, senhoras e senhores! Bem-vindos à Hora da Mentira de Anna e Frankie! Esperamos que vocês tenham gostado do show até aqui. No improvável evento, apareceremos na lanchonete com Red e Jayne Perino a reboque. Finja apenas que não nos conhece ou que são os irmãos mais velhos gays de nossas novas amigas, Jackie e Samantha. Obrigado e boa noite!
A sobrancelha de Frankie está toda arqueada e apavorada, e tudo o que consigo fazer é dar de ombros.
Há uma fila imensa para conseguir uma mesa na Shack esta noite, mas isso não detém Jayne. Pensando rápido, digo que preciso ir ao banheiro e abro caminho pela fila em meio a uma série de pessoas irritadas dizendo: “A fila começa lá atrás!” e “Nada de furar a fila!”.
Sam está no balcão, preparando smoothies em tempo recorde. Demora alguns minutos para ele me ver, e eu continuo a olhar para trás para garantir que Red e Jayne não podem me ver de seu lugar na fila.
— Anna! — Ele enfim olha para mim ao colocar dois gigantescos smoothies de morango na bandeja para uma impaciente garçonete com um rabo de cavalo loiro e delineador exagerado. — Como você chegou aqui tão cedo?
Ele limpa as mãos no avental verde e dá a volta no balcão para me abraçar. Sinto a mesma eletricidade assustadora e emocionante de novo e obrigo meu cérebro a se conter para me livrar do abraço de Sam e lhe dizer, numa versão de cinco segundos, por que ele não pode saber que eu existo.
— Entendido — ele diz, rindo. — Mas isso vai lhe custar caro. É melhor você voltar hoje à noite. — Eu lhe prometo que voltarei e volto à fila para encontrar os Perino, esperando que a cor de meu rosto volte ao normal antes que eles notem.
Depois de vinte minutos de histórias inventadas sobre nossas aventuras na praia, sentamo-nos num lugar aconchegante, examinando com atenção o cardápio de duas páginas de smoothies e milk-shakes.
Frankie me pega olhando para Sam e revira os olhos para mim sobre o cardápio.
Estou pensando em matá-la.
A loira impaciente que vi antes anota nossos pedidos sem tirar os olhos do bloquinho. Poucos minutos mais tarde, Sam chega à mesa, piscando para mim ao entregar nossas bebidas.
Frankie me chuta embaixo da mesa, mas eu a ignoro, pegando meu smoothie Va-Va-Vineapple (sorvete de baunilha, abacaxi e Ginger Ale). Os dedos de Sam tocam os meus, lançando um choque pela minha mão que sinto até os braços.
Tio Red agradece Sam, e vê-los respirando o mesmo ar e reagindo à conversa educada um do outro é como ver os dedos de Frankie em meu diário outra vez — dois mundos bem diferentes e distintos em colisão. Quero me enfiar no canudinho de meu smoothie e desaparecer no mar de sorvete e refrigerante de gengibre.
Depois que Sam volta para seu lugar atrás do balcão, Frankie para de me chutar e sugamos nossas bebidas por uns dois minutos, ansiosas para sair dali antes que alguém nos reconheça. Tio Red e tia Jayne, por outro lado, agem como se esta fosse a última barraquinha de smoothie que vissem, como se os smoothies estivessem em extinção e devessem ser apreciados e saboreados ao máximo. A cada minuto Frankie e eu nos abaixamos em nossas cadeiras, rezando para o Deus das Irritantes Coincidências pedindo que Jake não apareça e estrague tudo.
Depois do que pareceram ser três horas, Red paga a conta e voltamos para o anonimato da praia cheia. Sei que é arriscado, mas não resisto a lhe dar um adeus. De repente me lembro de que tenho que usar o banheiro de novo e abro caminho pela fila para chegar até o balcão. Depois de confirmar que não fui seguida, ajoelho-me num banquinho vazio e chamo Sam.
— Então, meia-noite? — pergunto.
— Que tal às onze?
— Onze e meia — digo. — Nem mais nem menos.
— Combinado — Ele se inclina e me dá um rápido beijo na boca, mal tocando os lábios antes que a garçonete frenética grite outro pedido para ele.
— Vejo você à noite. — Ele sorri e se volta para os potes de sorvete atrás do balcão.
Frankie está esperando por mim do lado de fora.
— Você demorou demais — ela diz. — Meus pais estão comprando cartões-postais. — Ela aponta para uma banquinha.
— Tudo bem? — pergunta Jayne quando nos reunimos.
— Sim — digo. — Só um pouco estufada por causa do milk-shake. Frankie acha que, se tentar entrar no carro rápido demais, sua saia vai explodir.
— Na verdade, mamãe — diz Frankie —, a Anna estava tentando conseguir o celular do menino dos smoothies, mas ele a desprezou.
— Ele não gostou da aparência da minha “irmãzinha” — digo.
— Isso e o fato de a Anna não ter seios.
— Meninas! — ri Jayne. — O que há com vocês duas esta noite? É a lua cheia ou coisa parecida?
— Não sei. A Anna está uivando?
— Oi, docinhos. — Tio Red entrega seus cartões-postais para Jayne e pega as chaves do carro. — Vamos andando. Ainda temos amanhã. — Tenho algo divertido planejado para nossa última noite.
Faço que sim. Por trás de Red e Jayne, Frankie Perino, destruidora de diário e dupla mentirosa quanto à virgindade, age como criança e mostra a língua para mim.
O tempo de pensar acabou.
Vou matá-la.
De volta à casa, Frankie passa mais de uma hora no banheiro se preparando para a cama. Uso a oportunidade para ajustar o alarme de meu celular. Não quero acordá-la quando estiver tentando escapar — a última coisa de que preciso é outra briga estúpida que pode acordar Red e Jayne. Com o alarme ligado, coloco o telefone sob o travesseiro, desligo a luz da mesinha da cabeceira e cubro a cabeça para não ter de olhar para ela esta noite.
Não me lembro de ouvi-la voltando do banheiro, mas de repente o telefone está tocando contra meu rosto, acordando-me do sono leve. Uso a luz da tela para localizar minhas sandálias e o moletom que coloquei sob a cama antes e noto que a cama de Frankie ainda está intocada.
Isso significa que ou ela está dormindo no sofá lá embaixo ou não suporta o fato de eu ter feito sexo antes dela e está com Jake neste mesmo instante, determinada a reassumir o centro do palco.
Lá embaixo, o sofá vazio e a porta da frente destrancada confirmam. Cultivo a ideia de trancá-la do lado de fora e sair pela janela, mas imagino como a cena se dará. Ela voltaria e perceberia o que aconteceu, bateria com violência na porta para acordar seus pais e os convenceria de que eu ameacei fugir para me encontrar com o Menino dos Smoothies e que ela estava apenas tentando me seguir e evitar que eu fizesse algo de estúpido (humpf), como uma melhor amiga deveria fazer (humpf), quando ela sem querer trancou a porta atrás de si (humpf, humpf, suspiro).
Sigo o caminho que percorremos tantas vezes neste verão — pelo quintal da frente, pela rua, cortando caminho pelo jardim do vizinho, descendo os degraus até a praia, passando pelo píer, pelo labirinto dos luais, até o deque da Shack e diretamente para os braços de Sam.
Sem falar, ele me beija na boca e eu o beijo também, gemendo e me encolhendo contra seu peito como uma marionete quebrada.