Você está deitado em sua cama. Arfante, você senta-se e olha ao seu redor. Dentro de uma circunferência de mais ou menos vinte metros, não há nada. Para além desse limite, uma espécie de cerca-viva se estende ao longo de todo o entorno do lugar onde você está. Viva é modo de dizer, pois o aspecto remete muito mais à morte, um sem-fim de ramificações constituídas de galhos secos, folhas mortas, um emaranhado que configura um limite, uma fronteira e também um tipo de cárcere. Você se vira para a esquerda, para a direita, olha para trás e em nenhuma das direções consegue ver uma brecha que possa servir como saída, o que o faz questionar como foi parar lá dentro. Seu pulso acelera, você começa a transpirar, sente a camiseta preta molhada no torso e o suor a escorrer pelas têmporas. Toda a paleta de cores que o cenário ao seu redor comporta gira em torno de tons de preto e, quando muito, cinza. Até mesmo os lençóis que o cobrem não fogem à regra. Você se levanta, a respiração cada vez mais descompassada, corre até o limite da cerca-viva e a sacode, na esperança de desembaraçar algum galho podre que possa abrir um ponto de fuga. Mas ela é firme, densa. Você corre ao redor, testando sua resistência com cada vez mais força até que, exausto, deita-se no chão e, ao avistar a cúpula acima, percebe os contornos de sua origem: dois braços, duas mãos das quais brotam toda a matéria morta que dá origem à sua prisão, e um rosto sem formas, sem nome, mas, ainda assim, estranhamente familiar. Você grita com todas as forças que é capaz de reunir e acorda em seu quarto. O rádio-relógio indica que são três da manhã.