A estrada e o pânico

[24/02/2001]

Ela tem 25 anos, é formada em arquitetura, casada e, de modo geral, considera-se uma pessoa sadia. Há duas semanas vinha dirigindo sozinha pela freeway quando de repente começou a sentir-se tonta, nauseada, as mãos formigando. Suava muito e tinha dificuldade de respirar. Não conseguiu mais dirigir; estacionou o carro e, pelo celular, chamou um médico. Este veio e fez um diagnóstico que está se tornando cada vez mais comum, afetando milhões de pessoas.

Doença do pânico. Trata-se de uma entidade agora reconhecida e razoavelmente bem estudada. Seu nome evoca o deus grego Pan, quase sempre representado tocando uma característica flauta. Quando não estava tocando o instrumento, estava correndo atrás das ninfas, com propósitos não muito inocentes.

A pergunta é: o que tem a ver uma divindade tão debochada com ataques de pânico? É que, durante uma batalha dos deuses contra os gigantes, Pan soltou um grito tão forte que botou estes últimos a correr, assustados. Os gregos também achavam que Pan tinha apavorado os persas na batalha de Maratona. Daí por diante, pânico ficou sinônimo de medo exagerado, sem razão aparente.

 

 

Um aspecto curioso da doença do pânico é que ela frequentemente se associa com agorafobia. “Ágora” também é uma palavra grega, significando praça, lugar aberto. Agorafobia, portanto, é o temor de lugares abertos. E estes incluem as estradas — como aquela em que vinha a arquiteta —, e os viadutos. As pessoas ali se sentem desamparadas, como que soltas no espaço. No viaduto, em geral, pioram quando estão na faixa de maior velocidade. É como se o acostamento proporcionasse, se não um abrigo, pelo menos um conforto.

 

 

Do ponto de vista psicodinâmico, os ataques de pânico têm origem em temores infantis. Se a criança teve vivências traumáticas, se não se sentiu adequadamente protegida pelos pais em situação de ameaça real ou imaginária, ela vai se transformar em um adulto também vulnerável. E a estrada é hoje o símbolo da insegurança em nosso mundo. É um lugar aberto, às vezes em meio à vastidão, um lugar de intenso movimento e de barulho: motores roncando, buzinas soando, o vento zunindo. Um lugar capaz de despertar ansiedade.

Até há pouco tempo, as pessoas com doença do pânico tinham dificuldade de falar do problema. Não queriam ser rotuladas como medrosas, como covardes. Ficavam deprimidas, às vezes recorriam ao álcool. Hoje há mais abertura em relação ao problema; as pessoas devem, sim, consultar o médico. Em primeiro lugar, porque o pânico pode resultar de uma doença orgânica: excesso de funcionamento da glândula tireoide, arritmia cardíaca. Em segundo lugar, porque a doença do pânico pode ser tratada — com medicamentos, com psicoterapia e com técnicas comportamentais. Às vezes, o simples fato de aprender a respirar calmamente já ajuda.

O deus Pan está solto em nosso mundo. Não toca flauta, toca buzinas potentes. Mas continua sendo, em grande medida, uma criatura imaginária.