ANDREY
«Perfeito!», rosnou Andrey. Era óbvio que alguém no alto tinha forçado Anyutin a aceitar a rapariga, mas o próprio Katyshev! Herr Procurador! Uma reputação implacável, o melhor dos melhores, o vingador do povo. Alguém a quem Andrey não teria sequer coragem de pedir lume. Aparentemente, a aluna exemplar era uma amiga do peito. Pela forma como o tinha beijado na face, poderiam ser da mesma família.
Andrey sentia-se tão irritado que decidiu subir as escadas a correr em vez de usar o elevador.
Só depois de chegar ao seu gabinete e de se sentar à sua secretária, começou a recuperar um pouco. Ligou a cafeteira elétrica, abriu uma janela, encontrou um cigarro e acendeu-o. Enquanto fumava, misturou um pouco de café instantâneo na água quente e debruçou-se sobre o computador. Acedeu à base de dados de desaparecidos e introduziu os seus critérios de pesquisa. Homens, seis meses anteriores. Surgiram caras no ecrã. Muita gente tinha desaparecido em Moscovo nos seis meses anteriores.
«Espera lá.» Andrey estendeu a mão para o telefone e abriu as fotografias, mas já sabia. O homem afogado que tinham encontrado naquele dia partilhava uma face nada simpática com um tal I. A. Yelnik, nascido em 1970, desaparecido desde fevereiro. «Muito bem!», sussurrou Andrey enquanto o café lhe queimava a garganta. Os seus dedos tremeram de excitação enquanto sentia que o caso ganhava raízes.
O primeiro passo minúsculo, mesmo que cobrisse apenas um centímetro, era o mais importante. Andrey via um novo caso como um penedo no topo de uma colina. Empurrava-o com afinco, gradualmente, até começar finalmente a ceder. Passaria ao passo seguinte. «Quem és tu, Yelnik, meu velho?» A base de dados de criminosos presos não o desiludiu. O ecrã do computador de Andrey encheu-se com texto e imagens, fotografias de frente e perfil, em que Yelnik era claramente mais jovem do que o homem que tinham encontrado naquela manhã nas margens do Moskva. Andrey voltou a esfregar o nariz. Daquela vez, de satisfação.
O velho Yelnik era um assassino.