MASHA

 

 

 

Masha sentava-se num banco estreito perto da esquadra central e fingia ouvir atentamente Dima Safronov, o jovem polícia de giro. Dima sentia-se grato por ali estar com aquele borracho da Petrovka, fumando cigarros caros e pensando se deveria convidá-la para ir ao cinema. Depois disso, naturalmente, precisava de se embebedar... Mas algo lhe dizia que aquela miúda não apreciava bares reles.

Falava-lhe de Kolyan. Porém, não havia muito para dizer. O tipo era um alcoólico sem remédio, mas havia muitos desses. Inofensivo. Não era do tipo criminoso. Teria sido bem educado porque não mijava onde lhe apetecesse. Kolyan deixava-se ficar pelo bairro. Como tinha ido parar à Torre Kutafya? Teria sido para morrer num sítio bonito? E havia muitos polícias por lá. Era um sítio agradável para acabar uma garrafa, mas Kolyan tinha um apartamento para esse tipo de coisa. Porquê ir tão longe? Mais tarde, quando veio parar às mãos daquele médico-legista empertigado, descobriu-se que não tinha sido o coração de Kolyan a matá-lo. Asfixiara. O médico-legista acreditava que líquido gotejando continuamente pela boca dentro lhe inchara a garganta.

– Que tipo de líquido? – interrompeu Masha. Continuava a repetir mentalmente a cena de comédia burlesca do seu choque contra Yakovlev no corredor. Era uma idiota.

– Vodca, claro. Li o relatório. Faz-se gota a gota. É uma tortura medieval qualquer. Acho que torturavam pessoas na China assim.

– Não só na China – disse Masha, franzindo a testa enquanto sentia a sombra atrás das suas costas.

Vendo-a ficar com os olhos estranhos, distantes e tristes, Dima decidiu não convidar a miúda da Petrovka para sair. Mas tinha mais coisas para lhe dizer.

– E no apartamento dele – disse – não encontraram uma única impressão digital! Nem na cozinha, no corredor ou no quarto. E porquê assassinar um bêbado inofensivo? Talvez tenha visto alguma coisa que não devia?

– Talvez – disse Masha. Era um motivo perfeitamente razoável que conseguiria explicar tudo. E Masha odiava-o.

Dima atirou o cigarro ao chão e levantou-se. Masha imitou-o e apertou-lhe a mão de um modo muito formal.

– Obrigada pelo seu tempo – disse-lhe.

– De nada – respondeu Dima, envergonhado por toda aquela boa educação. – Ligue-me se tiver mais perguntas.

– Com certeza. – Masha afastou cuidadosamente a mão da dele, um pouco depois do que teria considerado ideal. Tinha já atravessado a rua quando se virou para trás e viu Dima a olhá-la enquanto se afastava.

– A tatuagem no braço! – gritou Masha. – O número quatro. Já tinha visto algo assim?

– Não. O Kolyan não tinha tatuagens! – respondeu Dima, gritando também. – Passava a maior parte do tempo só com uma camisola interior. Tê-la-ia visto.

Um sorriso satisfeito alastrou pela cara de Masha. Despediu-se com um aceno e apressou o passo.