MASHA

 

 

 

Masha viu o seu supervisor afastar-se, incrédula. Que pessoa estranha. Sempre que começava a achar que poderia ser um tipo decente, afastava-se sem sequer se despedir. Que perfeito idiota! Mas, mesmo assim... Masha começou a subir as escadas, com a sua disposição melhorando com cada passo. Andrey acabara de a encorajar. Disse que a sua teoria era «boa». «Talvez mereça estar aqui, afinal, capitão Yakovlev!» E deixá-la trabalhar com Kenty era um milagre.

Restava-lhe ligar e dar a boa notícia. Durante os dias seguintes, em vez de avaliar ícones, de visitar mercados de velharias e de conviver com colecionadores, entrevistaria uma dúzia de testemunhas de casos de homicídio.

– Kenty! – suplicou, mal o ouviu atender. – Vem salvar-me! Tenho de entrevistar um monte de gente e não posso fazê-lo sozinha. – Seguiu-se um silêncio pesado do outro lado da linha. – Sei que tenho abusado impiedosamente de ti, mas não há mais ninguém de quem possa abusar da mesma maneira. Será só durante três ou quatro dias.

– Está bem, alinho – concordou Kenty, rindo. – Estava só a ver se posso cancelar os meus compromissos do resto da semana.

– Excelente! – exclamou Masha. – Precisamos de descobrir exatamente que tipo de pecadores eram as nossas vítimas. Compro gravadores para os dois.

– Já tenho um, Masha. Compra um para ti. Vou buscar-te amanhã. Agora, não posso falar. Tenho visitas.

– Está bem, desculpa. Vemo-nos amanhã. – E Masha desligou com um sorriso satisfeito. O trabalho a sério estava prestes a começar e fá-lo-ia com Kenty a seu lado, a distância segura do seu chefe furioso. O que poderia ser melhor?

 

*

 

No dia seguinte, Kenty chegou à hora marcada. Encontrou Masha à sua espera no banco, lá fora, ligando para todos os números da sua lista.

– Olá – disse-lhe ele. Masha acenou e voltou a focar-se no telefone. Innokenty sentou-se a seu lado. Despediu-se da pessoa com quem falava e virou-se para ele.

– Olha. Consegui marcar-nos um monte de entrevistas. Decidi que faria sentido começar pelo primeiro conjunto de números misteriosos. Fico com o número um. Estou prestes a ir falar com a namorada do tipo menos mutilado naquela cave na Bersenevskaya. Tinha a camisola com o número um escrito. Slava Ovechkin. Enquanto isso, vais falar com um atleta, um nadador, na Aldeia Olímpica. Vai falar-te do seu colega de equipa, a vítima número três, Alexander Solyanko. A seguir, tenho Tanya Shurupova, melhor amiga de Julia Tomilina, a vítima número dois. Depois dela, precisamos de encontrar os amigos de copos do Kolyan. Não consegui contactá-los por telefone, claro. Podes tentar encontrá-los depois de falares com o nadador?

Innokenty acenou com a cabeça.

Masha passou-lhe uma lista de moradas e levantou-se.

– Vamos!