ANDREY

 

 

 

Andrey sentou-se curvado diante do seu computador, tentando perceber que tipo de associação o nome Katya Ferzina despertava no seu subconsciente. Danovich, o agente na secretária ao lado, contava-lhe que Katya Ferzina tinha morrido alguns dias antes no carro de outra pessoa, num acidente perto do centro de Moscovo. Num acidente estranho. Em vez de chocar contra um enorme utilitário desportivo conduzido de forma igualmente incapaz por outra mulher condutora, como se esperaria, Katya tinha chocado contra a barreira de betão que rodeava uma obra no Banco Central Rusich. Além disso, os agentes no local encontraram vestígios que sugeriam que não tinha sido um acidente e sim um homicídio rebuscado. Mas quem faria semelhante esforço para assassinar a jovem Sra. Ferzina? E onde raio tinha ouvido aquele nome antes?

Tentou escrever o nome dela. Vê-lo no ecrã não invocou nada, o que significava que não o teria lido. Teria ouvido alguém referi-lo. Mas quem? Não conseguia concentrar-se. Tudo o que podia fazer era ficar ali sentado e sussurrar, experimentando entoações diferentes.

– Katya? Katya Ferzina? Katya! FER-zina! Merda.

– Onde está a tua estagiária? – perguntou Danovich, olhando para a metade vazia e arrumada da secretária, contrastando profundamente com o domínio caótico de Andrey. Masha Karavay mantinha o seu local de trabalho impecável e ordeiro.

Andrey sobressaltou-se. A memória despertara finalmente e vibrou através dele como uma dor de dentes. Masha tinha dito o nome ao telefone, dois dias antes. A sua amiga Katya tinha morrido e precisava de algum tempo para ajudar com o funeral. Andrey recordou como a sua voz o tinha deixado desconfortável, parecendo estranha e, de alguma forma, morta.

– Ei – disse, levantando-se de repente. – De quem era o carro em que a tua Katya Ferzina morreu?

Danovich olhou-o, surpreendido, mas abriu o dossiê.

– N. S. Karavay – leu. A seguir, percebeu. – Karavay. A estagiária?

Andrey acenou afirmativamente. A sua face ficara rígida e dura. Não eram as iniciais de Masha, mas o carro pertenceria a alguém da sua família. A amiga de Masha tinha sido assassinada. E o único caso em que Masha Karavay se envolvia era o da Jerusalém Celestial. «Não há motivo para preocupações», disse a si mesmo. «Não há motivo para preocupações!»

– Dá-me esse dossiê – gritou e, com um olhar à expressão preocupada de Andrey, Danovich estendeu-lho. Andrey passou cada página até encontrar o depoimento de Rita Ferzina, mãe da falecida. Ferzina disse que a sua filha vestia a roupa de outra pessoa. E disse também que essas roupas tinham a mesma proveniência do carro. Pertencia tudo à mais antiga amiga da vítima, Maria Karavay. Masha!

– Andrey! Andrey! – Danovich puxara-lhe a manga há algum tempo, mas Andrey não reparara. – Talvez devesses avisá-la como precaução?

– Claro que a vou avisar – rosnou Andrey, arrepiando-se como se um vento frio lhe tivesse entrado de repente na cabeça. Poderia ser coincidência? Andrey acreditava em acasos, mas odiava-os. Sobretudo daquele tipo. Sobretudo no que dizia respeito a Masha. Tirou o casaco das costas da cadeira. – Agora mesmo.