ANDREY

 

 

 

Andrey sentava-se diante do prédio de Masha, movendo um olhar desconfortável entre o céu escuro e a rua, onde, como esperava, Masha surgiria. A sua mãe, cujo jantar interrompera uma hora antes, olhara-o de alto a baixo com interesse e disse-lhe que a filha tinha saído. Avaliando pelos livros em falta no seu quarto, era provável que estivesse na biblioteca, disse-lhe. Não, não sabia em que biblioteca. Sim, Masha tinha voltado a deixar o telefone em casa. Andrey já tinha ligado a Innokenty para o tranquilizar. Manteve o tom de voz oficial enquanto partilhava que Masha tinha deixado o telefone em casa e era provável que estivesse soterrada nos livros. Mas também tinha ligado para garantir que não estava em casa dele. Innokenty agradeceu-lhe o telefonema. Masha não estava lá. Saber isso tranquilizava-o ligeiramente.

Por fim, aproximou-se um carro e a estagiária Karavay saiu. Andrey levantou-se do banco e correu até ela sem saber realmente o que faria, sem fazer qualquer ideia real do que diria. Masha não pareceu surpreendida por o ver. Limitou-se a acenar com a cabeça. Andrey percebeu nesse momento as suas olheiras e a compaixão superou a vergonha que o devorara durante o dia inteiro. Queria abraçá-la com força, dizer-lhe que tudo ficaria bem e que apanhariam o vilão. Enfiou mais as mãos nos bolsos para se impedir de o fazer.

– Ainda bem que aqui estás – afirmou Masha, friamente. – Tenho algo novo na investigação. E acho...

– Espera um segundo – disse Andrey, sentindo o suor escorrer-lhe pela nuca. – Vim dizer-te que sinto muito. Fui malcriado ontem e não tive motivo nenhum para o ser. Quer dizer... – Passou a mão pelo cabelo rente e riu-se tristemente. – Há um motivo. Irritas-me muito.

A expressão de Masha ficou rígida e baixou o olhar. Andrey apressou-se a explicar.

– Gosto muito de ti. Mas talvez a parte da irritação seja... maior. Porque também gosto de ti. És boa de mais para mim, sei disso... Não penses que não sei. O Innokenty diria que somos de mundos diferentes ou coisa parecida...

– Para – disse Masha, baixando a voz.

– Não. Deixa-me acabar. Gosto de ti. Quero... bom... Quero tudo em ti. Mas não há nada entre nós e não poderá haver, não é? É por isso que estou a dar em doido!

Masha sorriu. Andrey mal teve tempo para se sentir ofendido antes de os braços dela lhe rodearem o pescoço e de o beijar, na testa, nos olhos, na cara, dizendo:

– Bolas, és um parvo tão grande! A sério. Alguma vez existiu alguém mais parvo? – Andrey ficou ali parado, em choque, e acabou por lhe prender a cara entre as mãos, beijando-a.

A última coisa que passou pela cabeça de Andrey antes de parar de pensar foi como era bom, afinal, que tivessem a mesma altura.