MASHA

 

 

 

Quase exatamente em simultâneo, Fomin voltou a ouvir-se do outro lado da linha.

– Já tenho o registo de visitas. Hoje, a vítima teve três reuniões à tarde. Aqui está a última: N. N. Katyshev. Entrou às sete e quinze, saiu às sete e quarenta e cinco.

– Que porta usou? Saiu pela receção?

– Bom... sim – disse Fomin, sem perceber. – Tudo segundo as regras. Aqui está a assinatura. Deram-lhe um crachá...

Andrey praguejou, olhando Masha.

– Volta para a Petrovka – ordenou. Irado, bateu com o telefone no tabliê.

Masha sabia porque estava tão furioso. Ainda não eram oito. Tinham estado tão perto. O assassino poderia ter sido qualquer uma daquelas silhuetas fantasmagóricas de pedestres que passavam apressadamente por eles.

– Não voltará para casa – disse Masha, baixando a voz. – E duvido que volte à dacha. Deixa-me pensar.

Estacionaram e Masha abriu o mapa da adega sobre os joelhos. Olhou a teia de ruas da baixa e os buracos dos alfinetes espalhados sobre o fundo verde-claro. «Portanto», pensou Masha. «Agora, vejamos isto pelo outro lado.» Começou, muito metodicamente, um a um, a riscar mentalmente os locais onde tinham sido cometidos crimes. A marginal da Bersenevskaya. A Lenivka. A Praça Pushkin. Kolomenskoye. Enquanto contava, alisou com o dedo cada buraco de alfinete no papel. Sentiu que soltava aqueles nomes antigos das ruas e praças da sua terrível história, libertando-os novamente. O seu dedo vacilou por um momento quando chegou à Colina de Poklonnaya. Andrey abriu a janela e fumou um cigarro, sem afastar os olhos dela. Lubyansky, Nikolskaya, Prechistenka. Restava um. Um furo, quase no centro do mapa, onde havia já número mais que suficiente de furos.

Masha pegou no mapa e aproximou-o dos olhos. Leu o nome e virou a face pálida para Andrey.

– Aqui está – disse ela. – Vês? Tinha tudo pronto para nós.

– Que queres dizer com isso? – Andrey atirou o cigarro pela janela e tirou-lhe o mapa das mãos.

– Algumas das portagens, alguns dos homicídios, faltavam. Pensei que o Nick-Nick... que o assassino os tivesse cometido, mas não sabíamos onde procurar. Mas, aqui no mapa, temos o número exato de furos por cada vítima que encontrámos, incluindo a morte de hoje... e mais um. Havia um alfinete adicional no mapa, Andrey.

– E que significa isso?

Masha falou devagar.

– Penso que considerou a possibilidade de podermos encontrar o seu covil. E, se o encontrássemos e descobríssemos este mapa, não teria forma de regressar. Por isso, deixou um alfinete adicional no mapa, um sítio a que poderia regressar, se necessário, depois de passar todas as portagens. Esse alfinete assinalava um sítio que ainda não relacionámos com uma morte. Mas... – Masha hesitou, antes de continuar com voz abalada. – Mas estava na lista que o Kenty fez.

– Dizes que nos convida aos dois para um encontro? – perguntou Andrey, incrédulo.

Masha assentiu com a cabeça.

– Na... – Andrey semicerrou os olhos e leu as letras minúsculas, tarefa quase impossível com a luz ténue no interior do carro – Ladeira de Vasilevsky?

– Na Ladeira de Vasilevsky.