MASHA

 

 

 

Masha encostou-se à parede do lado de fora do gabinete de Anyutin. Não era difícil imaginar o que aconteceria lá dentro. Anyutin explicava ao tipo desagradável com calças de ganga turcas baratas que ela era a contrapartida de algum acordo não oficial (como se o tipo não tivesse já percebido isso) e que teria de deixar a contrapartida fingir ajudá-lo.

O pior de tudo era o facto de ser realmente uma contrapartida, um peão em jogo alheio. Mas, sem esse acordo, nunca teria conseguido o estágio na Petrovka e precisava realmente de ali estar. Depois de ser forçado a aceitá-la daquela forma, pensou Masha, deprimindo-se, o tipo das calças de ganga acabaria inevitavelmente por a odiar e por partilhar mexericos acerca dela com todos os outros detetives homens e Masha seria a miúda estúpida em quem ninguém confiaria algo importante. Todos a olhariam com aquele frio conhecedor nos olhos, esperando impacientemente até os aliviar finalmente do fardo da sua presença.

Pensou se não deveria ter aceitado um estágio no tribunal como todos os outros, fazendo fotocópias e trazendo cafés. Essa sucessão de pensamentos sombrios foi interrompida quando a porta se abriu. Yakovlev saiu apressado, com expressão ainda mais desagradada do que esperara.

– Siga-me – disse, levando-a por vários corredores compridos até à porta de um gabinete diferente. Viu um parapeito de janela suportando um cato morto há muito, um par de secretárias cobertas com dossiês atafulhados e cerca de dez pessoas que não lhe prestaram qualquer atenção.

Masha sentiu uma centelha de esperança. Ter outras pessoas à volta alimentava a possibilidade remota de a raiva do detetive se dissipar um pouco, permitindo a Masha uma possibilidade de se juntar à equipa, que, como esperava desesperadamente, a trataria um pouco melhor do que aquele imbecil.

Enquanto pensava, o capitão empurrou alguns dossiês para o lado e apontou a parte de tampo de secretária que tinha acabado de libertar.

– Isto é o seu local de trabalho – disse-lhe, secamente, colocando a palavra «trabalho» entre aspas invisíveis e deixando claro que trabalhar era a última coisa que esperava que fizesse.

As pessoas que chegavam à Petrovka graças aos seus contactos deviam apenas ficar sentadas e gastar o fundo das calças.