À medida que avançava pela praia e ia tirando os pesos, saboreei o quanto mais leve me sentia. A energia voltou ao meu corpo, como uma descarga de adrenalina. Lembro-me de correr monte acima na última parte de desafio, segurando a minha bandeira cor-de-rosa com “Ali” escrito nela. Senti-me triunfante! Como uma super-heroína – olhem para mim!
Em geral, todos os desafios em que competimos valeram a pena. À medida que ficávamos mais fortes e avançávamos na competição, o objetivo não era vencer os desafios mas sim vivê-los e apreciar quão longe chegáramos. Eram duros. Todo o processo era duro. Mas sabem que mais? Não me sentiria tão bem se fosse de outra forma.
A PESAGEM FINAL NO RANCHO
Antes da derradeira pesagem no rancho, assumimos todos que apenas três de nós iriam à final. Foi assim que sempre tudo funcionou nas anteriores temporadas do concurso. Duas mulheres, dois homens, competindo por três lugares. Roger, com a sua promessa de perder sete quilos, foi o primeiro a pesar-se. E conseguiu. Perdeu sete quilos, uma percentagem de peso perdido de 6,41 por cento.
A seguir foi Mark a subir para a balança e ele tinha perdido a marca incrível de cinco quilos e meio. A balança marcou 82,5 quilos, contra os 106 quilos de Roger, e ele estava agora no primeiro lugar, com uma espantosa percentagem de peso perdido de 6,63 por cento. Teria o meu plano êxito? Tinha feito bem as contas? Eu era a próxima. Com o coração acelerado, subi para a balança. Marcou 66,2 quilos. Tinha perdido cinco quilos, uma percentagem de peso perdido de 7,53 por cento! Estava no primeiro lugar! Não conseguia deixar de sorrir quando desci da balança. Perdera um total de 45 quilos ao longo de toda a temporada, batendo o meu próprio recorde do maior número de quilos perdido por uma mulher no campus.
A última a ser pesada era Kelly, que estava aterrorizada com o que a balança iria mostrar. Marcou 86,6 quilos, menos 5,8 quilos, numa percentagem de peso perdido de 6,81 por cento, colocando-a em segundo lugar. As mulheres arrasaram os homens! Kelly e eu desatámos aos saltos e abraçámos Jillian. Nós, as mulheres, íamos à final e nós decidiríamos quem seria o terceiro finalista entre Mark e Roger, já que ambos tinham ficado abaixo da linha amarela. Foi assim que aconteceu nas temporadas anteriores. Certo? Certo?
Não.
Numa daquelas reviravoltas de que só a reality TV ou apenas a realidade pura e dura são capazes, Ali Sweeney disse-nos que seria a América a escolher o terceiro finalista. Não ficava a cargo dos concorrentes que venceram a última pesagem.
Fiquei estupefacta. Todos ficámos. Jillian não queria acreditar. Bob ficou ali de pé. Estávamos todos à espera de que as regras fossem as mesmas das temporadas anteriores, nenhum de nós podia adivinhar. Mas percebi que fazia tudo parte do jogo, um jogo em que eu escolhera entrar. Acalmei-me e pensei: “OK, vamos a isso. É apenas mais um obstáculo na estrada. Darei conta dele.” A maior ameaça era o facto de Roger ainda ter muito peso para perder.
Chegara a altura de irmos para casa durante cerca de cinco semanas antes de regressarmos à Califórnia para a final ao vivo. Deixar o campus do concurso The Biggest Loser teve um sabor amargo. Sabia que estava a chegar ao fim de uma parte da minha viagem e a embarcar noutra. Estava a fechar um capítulo na minha vida, mas aguardava ansiosamente pelos próximos capítulos, por estabelecer novos objetivos, por aproveitar o que aprendera. Foi no rancho que aprendi novamente a sonhar. Foi onde aprendi a celebrar-me e a obrigar-me a ir mais longe do que alguma vez pensei ser possível. Sabia que retiraria força das experiências que ali tivera para o resto da minha vida e que seria finalmente capaz de criar o tipo de futuro que desejava ter, agora que possuía as ferramentas e a motivação para o fazer.
Existiram muitos momentos no passado em que não estive realmente presente. Não estava ali. Mas durante o tempo inteiro no rancho do concurso The Biggest Loser fiz um grande esforço para estar presente, para estar aberta e vulnerável. Para tudo aceitar e agarrar. Quando andava pelo rancho, dei por mim a reparar em tudo à minha volta – as árvores, os esquilos e as pedras debaixo dos meus pés. Sentia que fazia outra vez parte do mundo.
Recordei as palavras daquele produtor, no hotel onde os concorrentes da minha temporada foram escolhidos. Ele disse-nos que, a partir dali, pensaríamos nas nossas vidas em termos de “antes” e “depois” do concurso The Biggest Loser. Ele estava certo.
VOLTAR OUTRA VEZ PARA CASA
No carro que me levou do aeroporto para casa do meu pai em Chandler, Arizona, estava entusiasmada por ver a minha família mas estava também nervosa e assustada. Tivera muito tempo para mim no rancho. E embora tivesse voltado por seis semanas apenas, aquelas semanas foram para mim inestimáveis. Não tinha a certeza se a minha família iria reparar completamente nas minhas mudanças físicas. Mas queria que reconhecessem o quanto eu mudara interiormente. Aquelas últimas semanas no rancho e na Austrália foram enormemente espirituais para mim. Será que as pessoas que me conheceram durante toda a minha vida – que conheciam o antigo eu – estariam abertas e recetivas ao novo eu? Ou tentariam puxar-me de volta para a versão de mim com a qual estavam mais confortáveis?
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A COMIDA COMO CONSERTO
Da próxima vez que der por si distraidamente de pé em frente ao frigorífico, ou ao armário ou à sua gaveta de snacks, pergunte a si própria se está realmente com fome. Quando foi a última vez que comeu? Beba, talvez, um copo de água primeiro. Pode estar a confundir sede com fome. A seguir, pense no que fez disparar a sua vontade de comer. Teve uma discussão com a sua mãe? Teve um confronto com um colega? Tente perceber o que está a tentar consertar e lide com a situação.
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Alimentava também as minhas próprias dúvidas sobre se seria capaz de ir até ao fim. Por muito que sentisse, no meu coração, que ia ganhar, sabia também que em muitas ocasiões da minha vida cumprira 99,9 por cento da distância necessária para atingir um objetivo, apenas para desistir mesmo no fim. Seria eu capaz de fazer isto? De acabar? Ou a pressão seria demasiada para mim?
Quando estacionámos, vi uma longa passadeira cor-de-rosa até à porta de casa. Quando entrei no quintal, fiquei estupefacta com o número de pessoas que vieram para partilhar e celebrar este momento comigo. Toda a gente que eu conhecia estava ali, a aplaudir e a atirar pétalas de rosa. Amber estava lá, o que me deixou completamente surpreendida porque ela acabara de me visitar em Los Angeles, e sendo ela uma mãe com duas crianças pequenas em casa, sabia que não lhe era fácil viajar. Ambas as minhas avós estavam lá também e, claro, os meus pais. Todas estas pessoas se tinham juntado e planeado isto para mim. Nunca vivi nada assim. Não tive festa de formatura; nunca tive um casamento. Nunca tive qualquer tipo de celebração em que viesse tanta gente para me apoiar. E ali estava eu com todas aquelas pessoas que gostavam de mim – família, amigos, família estendida, amigos estendidos. Até os amigos do meu pai lá estavam, a dizerem-me o quanto eu os inspirara. E estava tudo cor-de-rosa! Toda a gente vestiu camisas cor-de-rosa, deram-me flores cor-de-rosa e havia até ponche cor-de-rosa para beber! Os meus irmãos recolheram 45 quilos de gordura em talhos e contentores de lixo e puseram-na num carrinho de mão. Toda a gente se esforçou ao máximo. Era um momento de pura celebração.
E assim foi a noite de divertimento. No dia seguinte, comecei realmente a sentir a pressão. Não queria desapontar todas aquelas pessoas que estavam tão orgulhosas de mim. Os sentimentos de insegurança começaram a insinuar-se. Estava a deixar que a pressão me esmagasse. Fiquei preocupada com a hipótese de me autossabotar. E embora não tivesse entrado em colapso, dei por mim a fazer coisas que não devia, como ir ao frigorífico durante a noite e comer mais uma colher de iogurte gelado quando não tinha fome.
A todo o lado onde ia na minha cidade, as pessoas seguiam-me. Na mercearia, podia senti-los a observar o que eu punha no cesto. No ginásio, as pessoas chegavam ao pé de mim para me perguntarem qualquer coisa quando eu estava a treinar. Estava feliz por partilhar a minha experiência com todos e encorajá-los, mas necessitava igualmente de me concentrar.
Tinha uma pequena vantagem em relação aos outros concorrentes: já passara por isto. Estabeleci um programa na primeira vez que fui para casa que tinha resultado para mim, pelo que voltei exatamente ao que fizera antes. Fui viver outra vez com Holly e Andy. Tornei a vida à prova de crianças (de mim própria, não com as minhas sobrinhas!) para manter as tentações afastadas e evitar situações convidativas. Vivia com um horário e com orçamento de calorias. Fazia imensas listas. A minha vida possuía estrutura. Como Jillian diz, se falhas a planear, planeias para falhar.
Eu tinha os meus treinadores, o meu ginásio, as minhas aulas. Tomara a decisão consciente de competir como nunca antes competira. Isto era a minha medalha de ouro olímpica, a minha Volta a França. Escolhi competir como um atleta. Iria dar tudo o que tivesse.
Estava determinada a ir em frente e alcançar o meu objetivo. Tinha, assim, de perceber porque é que andava a comer iogurte gelado durante a noite e porque é que me sentia tentada a desistir na linha de chegada. E o que percebi foi isto: ter uma linha de chegada à minha frente representava o fim de alguma coisa. Estava tão perto da final, da conclusão, e não sabia o que viria a seguir. Tive, assim, de começar a pensar nisso: que faria eu a seguir? No passado, tinha feito dietas mas, assim que atingia determinado patamar, desistia. Não planeava os passos seguintes. Percebi então que talvez devesse planear o que vinha a seguir. Eu era uma atleta, e sabia que os atletas treinam para objetivos e competições específicos. Precisava de objetivos. Precisava de treinar para alguma coisa, de algo por ansiar, de celebrar quando chegasse ao fim. Assim que percebi isso, deu-se o clique. Eu era capaz de envolver a minha mente para acabar esta parte da minha vida, porque seria apenas o primeiro de muitos desafios que eu iria agarrar.
Já alguma vez esperou na fila para uma viagem assustadora numa feira ou num parque de diversões e assim que chega a sua vez repara num pequeno portão de lado – a “saída de medrosos”? É a última oportunidade de fugir, mesmo que tenha estado na fila durante metade do dia e esteja ansiosa pela emoção. Eu não queria saídas de medrosos na minha vida. Queria ir àquela final e se não ganhasse não seria porque estava com demasiado medo da viagem. Se não ganhasse, queria apenas dizer que não ganhei.
Quando era mais nova, tinha escolhido muitas vezes a saída de medrosos. Na natação, eu era naturalmente talentosa e treinava, mas tinha aqueles dias em que cortava no treino ou não fazia todos os exercícios em terra que era suposto fazer. Dessa forma, haveria uma razão para não ganhar uma competição – sabia que não tinha feito tudo o que podia. Era a minha desculpa. Mas eu não queria mais desculpas. Não queria que a minha vida funcionasse dessa maneira. As saídas de medrosos são autossabotagem. Dão-nos uma falsa explicação para não termos o que queremos. Até este ponto da minha vida, nunca dera tudo o que tinha para dar. Mas agora iria fazê-lo.
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PERDER OS ÚLTIMOS CINCO QUILOS
Jillian chama aos últimos cinco quilos os “quilos da vaidade”. Quando eu tinha mais de 45 quilos para perder e ouvia mulheres falarem sobre perder aqueles últimos cinco quilos, pensava: “Isso são apenas uns grãos de areia.” Mas quando chegou a minha vez de perder os últimos cinco quilos antes da final, compreendi. São difíceis de perder! E descobri como fazê-lo – puxamos ainda mais por nós. O que fazemos é subir a parada. Na passadeira, por exemplo, subimos mais um nível. Se estamos nos oito quilómetros por hora, aumentamos para nove. Se estamos com uma inclinação de 6, aumentamos para 6,3. Temos de puxar para além da nossa zona de conforto para atingir o nosso objetivo de peso.
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DE REGRESSO PARA A FINAL
Planeara o meu grande momento da final durante meses e com grande pormenor. Sabia qual o aspeto que tudo iria ter, desde o meu cabelo até à maquilhagem e à roupa que iria vestir, e não deixei nada ao acaso. Testei a maquilhagem no dia antes da final. Ia ser o meu dia! Seria como o dia do meu casamento. Na manhã do programa, pedi à maquilhadora e à cabeleireira para chegarem cedo ao hotel para me prepararem.
O guarda-roupa do concurso tem roupas realmente bonitas para os concorrentes escolherem mas, por esta altura, vocês já me conhecem! Tinha a minha visão e queria vestir algo de que gostasse absolutamente para o meu grande momento. Fui às compras com algumas amigas e disse-lhes o que queria – um vestido, justo mas com classe, com linhas simples. Algo que mostrasse os meus novos braços tonificados e a minha clavícula. Quando descrevi o que queria, a minha amiga Tina disse que tinha em casa o vestido perfeito e que ficaria contente por mo emprestar.
Ora, Tina é a minha amiga magra. “Nunca irei caber em nada teu”, disse-lhe. Mas ela insistiu e lá acabámos por ir até ao apartamento dela. Ela mostrou-me o vestido, que era italiano, elástico e minúsculo. Fui para a casa de banho para prová-lo e... meu Deus, aquele vestido servia-me na perfeição. Mal podia acreditar. Saí, olhei-me no espelho e soube que encontrara o meu vestido. Queria pôr-lhe um cinto, um toque de cor-de-rosa. A minha irmã Holly tinha um excelente cinto cor-de-rosa que usou quando estava grávida e nós encurtámo-lo um bocado e pregámos-lhe uma pena cor-de-rosa engraçada.
Também não estava a ser fácil encontrar os sapatos perfeitos. Tinha visto um magnífico par de sapatos Christian Louboutin com um pequeno drapeado atrás, mas Oprah acabara de mostrá-los no seu programa e a procura foi tão esmagadora que estavam esgotados. Acabei assim por comprar uns sapatos pretos envernizados abertos à frente e a minha irmã colou-lhes pequenos cristais Swarovski cor-de-rosa nos saltos.
Pedi até jóias emprestadas para completar o meu look. Não consegui encontrar nada de que gostasse nas lojas a que fui em Phoenix. Uma amiga ofereceu-se então para me emprestar o anel dela, que era um grande topázio rosa rodeado de pequenas safiras. Era magnífico. Chamei-lhe o Anel da Primeira Mulher a Vencer The Biggest Loser. (Tenho hoje um igualzinho.) Fui à procura de mais jóias na internet, na loja onde a minha amiga comprara o anel dela e vi um par de brincos e um colar que eram exatamente o que estava à procura. Mas eram tão caros! No dia seguinte – e era exatamente o dia antes de ir embora para a final – telefonei à ourivesaria e expliquei a minha situação a um desconhecido.
“Olá, você não me conhece, mas chamo-me Ali Vincent e estou prestes a vencer um concurso chamado The Biggest Loser, que nunca foi ganho por uma mulher, pelo que isto é muito importante. Vou estar, ao vivo, na televisão em horário nobre, vão lá estar muitos jornalistas e vai ser a mim quem eles vão entrevistar, porque vou ganhar esta coisa. Há alguma maneira de me emprestarem algumas jóias para eu usar?”
A resposta? “Absolutamente.”
E pronto! O meu conjunto para a final estava pronto, completo com sapatos deslumbrantes, vestido emprestado, jóias emprestadas e um cinto feito em casa! Sentia-me a princesa do concurso The Biggest Loser!
O DIA DA FINAL
De pé, nos bastidores, a olhar para os monitores, esperámos pelos resultados do voto da América entre Mark e Roger para o terceiro finalista que iria juntar-se a mim e a Kelly na pesagem. Roger parecia magro. Alison Sweeney tinha um microfone no vestido mas era difícil ouvi-la a não ser que estivéssemos mesmo em cima dos monitores. Bob e Jillian estavam ali de pé connosco. Jillian inclinou-se para mim e murmurou: “Sabes que se for ele, vai ganhar.” Eu respondi: “Sei.” Nem sequer olhei para ela; estava colada ao monitor, a tentar ouvir o que se estava a passar.
Foi então que Alison disse: “A América vota em Roger!” e eu literalmente transformei-me numa bola, agachada nos meus saltos salpicados com cristais, a chorar. Toda a gente julgava que Roger ia perder. Foi uma experiência tão estranha; senti-me como se todas as partes do meu corpo estivessem a chorar. A Jillian chegou-se ao pé, ajoelhou-se atrás de mim e ajudou-me a levantar. “Vais ficar bem”, disse. Abraçou-me. “Conseguiste.” Eu sabia que ela tinha respeito por tudo pelo que passara. Éramos ambas mulheres de garra e paixão, que perseguem os seus objetivos com determinação resoluta. Ambas demos tudo o que tínhamos por este esforço. Era a nossa viagem e eu era uma mulher diferente. Ela tinha razão. Eu tinha ganho, aconteça o que acontecer. Tínhamos puxado por nós como ninguém o fizera. Eu sabia que dera tudo o que tinha.
Respirei fundo e acalmei-me. E era isso – nada mais podia fazer. Tinha chegado ao fim. E não tinha importância, porque fizera tudo por mim. E, pela primeira vez na minha vida, dera cem por cento. Estava linda e sentia-me linda. Todos os meus amigos e a minha família vieram para me apoiar. Até a minha avó estava lá. Para ela, vir à final era um grande feito – não viajava há anos e era muito cansativo. Assim, decidi que iria festejar acontecesse o que acontecesse. Pensei: “Posso não ser a primeira mulher a ganhar o The Biggest Loser, mas esta é a minha noite, e vai ser única como nenhuma outra.”
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ACERCA DA BALANÇA
Durante toda a minha vida, eu subia para a balança, pesava-me e os números só iam numa direção – para cima. No rancho, não tínhamos balanças pessoais, pelo que quando voltei para casa pela primeira vez, Bob aconselhou-me a não me pesar. Ele sabia como eu podia ficar obcecada acerca disso e pesar-me várias vezes ao dia. Isso não ajuda, porque o nosso corpo varia durante o dia. Se quer pesar-se, marque encontros regulares com a sua balança, uma vez por semana na mesma altura do dia e com o mesmo tipo de roupa vestida. Mas, por favor, não deixe a balança mandar na sua vida. Quando deixei de viver a minha vida com base no número que via na balança, assumi o controlo do meu corpo e da minha mente.
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Antes de sermos pesadas, Kelly e eu fomos apresentadas à assistência nos nossos vestidos, saltos altos e maquilhagem. Tínhamos de, literalmente, irromper através de posters nossos em tamanho natural de quando tínhamos o peso original. Na noite anterior, estivemos a ensaiar a parte de rasgar o papel. Porém, naquela noite, enquanto esperava atrás do papel com uma assistência ao vivo do outro lado, pensei: “Em dois, três segundos, o mundo inteiro irá julgar-me.” Tinha os punhos erguidos, prontos para socar através do papel, e vi então os olhos no poster. Os meus olhos. Pareciam tão tristes e perdidos. Tive uma conversa com a velha Ali. Disse-lhe: “Estás bem. És fantástica e maravilhosa, e nunca mais voltarás a sentir-te como antes. Esta mudança é para o resto da tua vida.” Recusei-me a dar um soco na minha cara, mas esmurrei com toda a força aquela barriga. Pás! Rasguei o poster, fui para o palco e foi todo meu. Foi tão divertido! Não me lembro de alguma vez ter tido tanta energia. Era como se todos os natais da minha infância se tivessem reunido num só.
O MOMENTO DE UMA VIDA
Depois de mudarmos para as roupas de pesagem, tive direito a escolher a ordem pela qual Kelly, Roger e eu subiríamos para a balança, já que tinha saído do rancho com a maior percentagem de peso perdido. Deixei Roger ir primeiro e Kelly a seguir.
Roger perdera 74 quilos, uma percentagem de peso perdido de 45,18 por cento. Kelly perdera 50 quilos, uma percentagem de peso perdido de 40,22 por cento. A percentagem de Roger era o valor a bater.
Chegou então a minha vez. Subi para a balança. Alison disse-me que eu precisava de ter perdido 48 quilos para vencer, pelo que sabia o que tinha de enfrentar. O ambiente no auditório era de loucura. Toda a gente aplaudia e gritava. Até àquela altura, pensara que Roger tinha ganho. Mas 48 quilos? Pensei: “Ainda posso vencer esta coisa.” Mas só acreditaria quando visse o valor na balança. Quando olhei para baixo e vi que a balança mostrava 55 quilos, o meu estado de agitação era tal que não consegui fazer as contas. Tive de virar-me e olhar para o ecrã atrás de mim para ver que tinha perdido 51 quilos e alcançado a percentagem vencedora de peso perdido de 47,86 por cento! E então, tal como imaginara, os confetti começaram a cair. Não conseguia acreditar. Consegui! Ergui as mãos. Gritei. Era incrível.
Era o momento de uma vida. Nunca vivera um momento como este, nunca. A primeira pessoa que abracei depois de descer da balança foi a minha mãe, que estava também no palco. Mas eu recebera antes um e-mail de Jillian a dizer: “Só para ver se está tudo claro e não há erros, é assim que vai acontecer. (...) Eu sou a primeira pessoa que vais abraçar.” Ela acabou assim por ser a pessoa que agarrei a seguir e depressa estávamos as três abraçadas, cobertas de confetti.
SEM TEMPO PARA CELEBRAR
Assim que as câmaras pararam de filmar, tivemos uma hora para entrevistas com a imprensa. A seguir, Jillian e eu apanhámos um voo noturno para Nova Iorque para podermos estar no Today Show na manhã seguinte. Fui praticamente arrastada para fora daquele auditório. Estava a tentar encontrar a minha avó para lhe dar um beijo de despedida e dizer “adoro-te” a ela e a toda a gente. As minhas irmãs ajudaram-me a apanhar rapidamente as minhas coisas.
Quando chegámos ao aeroporto para o check-in, Jillian apercebeu-se de que o meu lugar era em classe económica, enquanto ela estava em primeira classe. Não me importei. Nunca voara em primeira classe na vida exceto uma vez, poucas semanas antes, quando fiz um anúncio para a campanha do leite juntamente com os outros finalistas – fomos todos fotografados e o vencedor do concurso veria o seu anúncio publicado no USA Today no dia a seguir à final. Usei, é claro, um vestido cor-de-rosa na sessão!
Jillian estava pronta para uma discussão para me conseguir um lugar em primeira classe. “És a minha primeira mulher a vencer o The Biggest Loser e não vais viajar em classe económica”, disse. Ela puxou do seu cartão de crédito para pagar o meu bilhete em primeira classe e eu fui o tempo todo a protestar – não queria que pagasse.
“Ouve o que eu digo, e ouve bem”, disse ela. “Precisas de descansar porque amanhã vais estar no Today Show, serás a primeira vencedora do concurso The Biggest Loser a ir ao programa e vais ter um ótimo aspeto.”
Afinal, já não havia mais lugares em primeira classe, pelo que ela deu-me o seu bilhete e comprou um bilhete de executiva para ela. O engraçado foi que, mesmo em primeira classe, não consegui dormir. Estava sentada ao lado de um ator e, quando a hospedeira anunciou pelo sistema de comunicação que a primeira mulher a vencer o The Biggest Loser estava a bordo, ele nunca mais parou de falar comigo!
Quando aterrámos no JFK, corremos aeroporto fora para apanhar o carro que nos levaria ao Today Show. Eu queria parar num quiosque para ver se o meu anúncio do leite estava no USA Today. Estava mortinha por ver. “Oh, santa”, disse-me Jillian. Pelo que parámos, agarrei num jornal e comecei a virar as páginas, mas não conseguia encontrar o anúncio. Não sabia em que secção estava. Vi todos os anúncios em todas as páginas.
“Não o vejo”, disse. “Não saiu.”
Jillian tirou uma secção das minhas mãos e virou-a para me mostrar.
“A sério?”, disse.
O anúncio ocupava a contracapa inteira da secção de desporto. Jillian puxou-me de volta para o carro.
No Today Show vi pela primeira vez um clip da noite anterior e do momento da vitória, e foi incrível. Nem sequer me recordo das perguntas que o entrevistador, Lester Holt, me colocou; foi tudo tão difuso. Mais tarde, vi o guru da perda de peso Richard Simmons na sala verde e ele fez-me uma serenata!
Já lá fora, Jillian e eu dissemos adeus. Sabia, de certa forma, que a celebração estava a chegar ao fim, que entraria agora na parte seguinte da minha vida e ela seguiria para o próximo lote de concorrentes. Não sei como é que ela consegue. Ela dá tanto de si a cada concorrente que treina. Mas eu sabia que nunca perderíamos o contacto. Ainda no decorrer da temporada, ela brincara comigo dizendo que, se eu ganhasse, ela vestir-se-ia todos os dias de cor-de-rosa na temporada seguinte. Eu não queria que ela estragasse a imagem de se vestir de preto, mas decidi fazê-la cumprir a promessa. Comprei-lhe um colar, semelhante ao que ela usara no concurso, mas que tinha na parte de trás três pequenas safiras incrustadas no fecho. Ela manteve a palavra. Enviou-me um e-mail 24 horas antes de começar a filmar o concurso seguinte, perguntando-me freneticamente o que podia ela usar que fosse cor-de-rosa. Por coincidência, eu tinha acabado de lhe enviar o colar naquele dia, pelo que ela estava pronta para usar cor-de-rosa no dia seguinte, e no dia a seguir...
Eu aterrei no rancho por minha causa, mas saí por causa de todas as mulheres, por todos os desistentes, por todos aqueles que esqueceram o que é sonhar. Juro que o mundo queria que eu ganhasse e sei que essa é única razão por que ganhei. Assim que meti essa ideia na minha mente, utilizei essa energia para me ajudar a atravessar os momentos em que quis desistir. E quer as pessoas pensem ou não que eu sou louca por acreditar nisso, pouco me importa. Não quer dizer que só tenha seguido a minha vontade e que tenha sido apenas isso. Fi-lo, de facto, mas também lhe juntei ação. Investi em tempo para treinar, contei calorias, puxei por mim. Mas usei todos os recursos que possuía para me levarem para o que foi o maior e mais desafiante objetivo que alguma vez enfrentara na vida. E sabia que eu não era a única que o podia fazer. As pessoas em todo o lado podem fazê-lo, também. Se acreditarem, serão capazes.