Pensamentos Finais
Enquanto reflito sobre tudo aquilo que partilhei neste livro, quero acrescentar alguns pensamentos importantes.
Recentemente, após ter proferido um discurso na digressão, um homem abordou-me e perguntou: “Se você transportava todo aquele peso como proteção, então o que é que está a protegê-la agora?” Considerei que era uma pergunta justa e isso fez-me pensar.
Durante muitos anos, comer era a minha forma de lidar com as coisas. Tal como muitas pessoas, quando me sentia magoada, confusa ou abandonada, encontrava consolo na comida. Comer era uma resposta emocional aos meus problemas e tornou-se uma resposta habitual. Não sabia como comunicar e pedir aquilo que queria. Aceitava simplesmente o que me aparecia no caminho. A comida fazia-me esquecer a sensação de vazio – ela preenchia-me literalmente.
Obviamente, estes não eram pensamentos conscientes na altura. Aquilo que entendo agora é que as decisões que tomava na altura acerca da minha vida eram baseadas naquilo que eu pensava que merecia. Em muitos aspetos, era como se estivesse a observar o mundo e a reagir a ele segundo a perspetiva de uma criança. Embora o peso estivesse a afetar o meu corpo e a minha vida de adulta, acho que é possível que os meus problemas com a comida tivessem origem nas minhas reações a situações da infância – e da maneira como as entendia enquanto criança. Era como se eu nunca tivesse crescido o suficiente nessa perspetiva.
Mas isso não alterava o facto de que a minha gordura era real e tornara-se um problema real com o qual eu precisava de lidar. The Biggest Loser deu-me o presente de um ambiente seguro não apenas para alterar o meu corpo e tornar-me saudável, mas também para refletir nas respostas emocionais e decisões que me levaram a uma situação tão pouco saudável.
Portanto, acho que a resposta à pergunta daquele senhor é: eu já não preciso de ser protegida. Já não sou uma criança. Conforme perdi o peso, ganhei maturidade. Enquanto adulta, consigo ver as situações e as ações dos outros como aquilo que elas realmente são – e decidir honestamente se elas têm alguma coisa que ver comigo. Não sou uma menina pequena que se sente mal consigo própria. Compreendo que não sou responsável por todas as coisas desagradáveis que acontecem na vida. Não têm que ver comigo.
Para mim, e para muitas pessoas, a perda de peso é muito mais do que apenas queimar quilos. É também uma jornada de crescimento e responsabilidade pessoal. Acredito verdadeiramente que todos nós temos a capacidade de escolher como respondemos perante a vida. Temos apenas de estar dispostos a olhar de uma forma exigente e honesta para nós próprios e acreditar que aquilo que queremos está ao nosso alcance.
BETTE-SUE
Dei à minha mãe uma cópia do livro quando este era ainda um manuscrito em bruto. Queria saber o que ela pensava e queria que estivesse preparada para algumas das coisas que eu estava a partilhar sobre as nossas vidas. Sei que lê-lo foi difícil para ela. Cada uma de nós precisou de criar alguma distância e acalmar antes de nos conseguirmos sentar e falar sobre isso em conjunto.
Ao longo dos anos, tanto a minha mãe como eu criámos situações de que não nos orgulhamos. A nossa vida nunca foi um cenário perfeito, mas, mais uma vez, não penso que isso seja a realidade para a maioria das pessoas. A verdade é que somos as pessoas que somos como resultado de todas as coisas que nos acontecem, boas e más. E, para mim, a minha relação mais importante e influente na vida é aquela que partilho com a minha mãe.
A minha mãe era ela própria uma miúda quando me teve a mim e à Amber. Acredito sinceramente que a minha mãe fez o melhor que pôde para nos criar e nunca magoou intencionalmente os seus filhos. Estou agradecida pelas muitas oportunidades maravilhosas que me revelou, como a natação, um alicerce religioso que respeito e o seu apoio ao nosso crescimento e reflexão pessoais. O engraçado é que, enquanto adulta, percebo que ela e eu somos mais parecidas do que aquilo que eu alguma vez quis admitir. Mas sabem uma coisa? Não consigo pensar numa pessoa melhor com quem ser parecida. Somos duas mulheres que estão a tentar crescer, aprender e descobrir-se neste mundo.
A grande diferença na nossa relação agora – e é algo que foi reexaminado ao longo do processo de escrita deste livro – é que aprendemos, e continuamos a aprender, a ouvir-nos uma à outra. Não temos de aceitar a censura, a culpa ou a responsabilidade pela dor da outra – precisamos apenas de permitir uma à outra exprimir aquilo que sentimos e escutar realmente isso sem nos tornarmos defensivas ou argumentativas. Agora, quando divergimos (e, dadas as nossas personalidades fortes, penso que alguma divergência é inevitável!), recuperamos muito mais rápido. Já não há dias e semanas que se passam em que não falamos uma com a outra. Ela é uma mulher, tal como eu, que tenta levar uma vida boa, esforçando-se para alcançar amor-próprio e autoestima.
Hoje, a minha mãe é mais aberta do que nunca. Está a encontrar a pura felicidade para si própria no seu casamento e na ligação com a igreja mórmon. Respeito aquilo que a igreja significa para ela e outros e estou agradecida por isso lhe dar tanto bem-estar e alegria. A minha mãe também adora ser avó! Penso que passar tempo com os netos tem sido revigorante para ela.
Ambas crescemos ao longo dos últimos anos. E embora este livro se tenha tornado temporariamente outro obstáculo na nossa relação, nós superámo-lo. Nestes dias existe uma sensação de tranquilidade na minha impetuosa mãe que nunca antes testemunhara. Penso que ambas percebemos que lá por termos sentido a dor nas nossas vidas – às vezes às mãos uma da outra – isso não significa que tenha de determinar quem somos daqui para a frente. Temos a oportunidade de escolher novamente todos os dias e de tomar decisões de que nos podemos orgulhar.
Termino este livro da mesma maneira como comecei. Aquilo que sei ser verdade é que tem apenas de começar a dar pequenos passos, fazer um esforço para ser mais saudável todos os dias. Com o tempo, irá compreender aquilo que a motiva e encontrará razões para encetar o trabalho árduo necessário para fazer mudanças na sua vida. Nem sempre é fácil manter isso, mas quantos mais resultados vir, mais perceção irá começando a ganhar. Pensar acerca da sua vida é criá-la. Tem de assumir onde está agora e saber onde quer ir antes de conseguir chegar lá. Continue a recolher provas para o seu sucesso. Pode acreditar nele e pode alcançá-lo. Comece agora mesmo.