Contribuição para o conhecimento das espécies brasileiras do gênero Simulium*

Pelo Dr. Adolpho Lutz

Aos dípteros chupadores de sangue, além de outros grupos geralmente conhecidos, pertencem também as espécies do gênero Simulium, chamadas borrachudos nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo e pium no norte do Brasil; em muitos lugares estes dípteros impõem-se à atenção geral pelo seu grande número e suas picadas dolorosas.

As espécies de Simulium geralmente são de tamanho pequeno e na sua aparência exterior são mais parecidas a pequenas moscas que a mosquitos típicos, como os culicídeos; são, todavia, mais próximos dos últimos, por causa das antenas multiarticulares e, como também fica provado, pelo estudo de seus estados anteriores. Estes são encontrados somente em água bastante agitada; em conseqüência disso, os simuliídeos são muito menos geralmente espalhados que a maior parte dos outros dípteros sanguessugas, porque em terrenos planos são naturalmente mais raros ou faltam completamente. Também o número das espécies conhecidas é menor que o dos culicídeos e tabanídeos, não obstante sua vasta distribuição geográfica. Na Europa, Schiner enumera 29 espécies; Osten-Sacken, nos Estados Unidos, cinco espécies. Este número elevou-se, depois, a 15 espécies bem diferenciadas. O mesmo autor cita quatro espécies do México e uma de Cuba; Philippi descreve sete espécies chilenas, Blanchard uma e Bigot duas da Patagônia, enquanto do Brasil só há quatro conhecidas. Em geral, os simuliídeos são pouco estudados e, além das espécies descritas, freqüentemente pouco distintas, há, sem dúvida, muitas outras que escaparam à atenção, em parte, por não incomodar tanto o homem.

As espécies conhecidas de Simulium têm, em geral, tipo bastante uniforme e, por isso, são facilmente reconhecidas. Além do tamanho e da cor geral, são, principalmente, a cor e o desenho do escudo e das pernas que permitem diferenciação, nem sempre fácil; as larvas pouco se distinguem, enquanto nas ninfas a ramificação dos sifões respiratórios oferece, muitas vezes, caráter anatômico de grande valor. O modo de viver geralmente parece muito semelhante, como resulta da comparação das observações feitas na América do Norte com as minhas, das quais em seguida dou breve descrição.

Para a postura dos ovos, as fêmeas preferem pequenos córregos com bastante queda e procuram os lugares onde estes formam cachoeiras, nas quais se acham plantas herbáceas, folhas secas, raízes ou galhos finos; nestes, os ovos são depositados imediatamente acima do nível da água, de modo que, na primeira enchente,fiquem banhados, permitindo que as larvas saídas entrem na água. Na América do Norte a postura dos ovos foi observada nas próprias pedras, onde também se encontravam as larvas; mas, entre nós, as cachoeiras onde há somente pedras nunca contêm maior número de larvas.

As larvas, em geral, são cilíndricas e um pouco achatadas em sentido dorsoventral; a parte posterior é mais ou menos intumescida, em forma de clava, e munida de órgão de adesão terminal; outro órgão semelhante encontra-se num processo em forma de pé truncado, situado na metade cefálica da face ventral; por meio destes órgãos a larva pode caminhar ao modo das lagartas geometrídeas. Além disso, pode formar fio de seda e por estes meios sabe alcançar qualquer lugar, não obstante a mais forte correnteza. Chegada ao lugar de escolha, ela se fixa com a ventosa terminal, ficando freqüentemente todo corpo em vibração contínua. Na extremidade cefálica há dois pentes de cerdas em forma de leque que podem ser dobrados e em parte retraídos; sua função parece consistir em levar os alimentos à boca. Nas águas geralmente claras estes alimentos não são muito abundantes e, por isso, provavelmente, quase tudo o que se oferece é aproveitado, quer dizer, além de detritos animais e vegetais, principalmente pequenos organismos, tanto plantas como animais, por exemplo, diatomáceas, algas, principalmente unicelulares, e protozoários. As duas primeiras encontramos no conteúdo intestinal.

Observam-se duas antenas e duas manchas de pigmento em forma de olhos rudimentares situadas sobre a cápsula cefálica quitinosa e um órgão em forma de apêndice branquial, na extremidade posterior. A pele é lisa e bastante transparente, de modo que, antes da formação do casulo, já se podem reconhecer os futuros apêndices traqueais da ninfa, formando mancha preta distinta debaixo da pele da larva. A cor geral desta é esverdeada ou pardo-olivácea, o que, em parte, depende da alimentação. As larvas são geralmente encontradas, em maior número, e podem ser facilmente criadas, com a condição de se observar certas precauções; assim obtém-se também os machos que conhecemos de três das nossas espécies, e que, além dos caracteres sexuais, distinguem-se pelas dimensões menores e pelos olhos confluentes, tendo pelo lado de cima facetas maiores. Como os machos não chupam sangue e por isso não procuram o homem, não são facilmente obtidos; apenas podem ser encontrados, às vezes, nas vidraças das janelas, principalmente quando são acarretados por vento constante dos seus criadouros, muitas vezes bastante distantes.

Para transformar-se, as larvas tecem um casulo cônico um pouco achatado e aberto em cima, em forma de cartucho de papel, no qual a ninfa (que tem forma correspondente) se acha como que implantada, saindo apenas os filamentos traqueais livres que servem para a respiração. A metamorfose tem lugar dentro da água, às vezes em bastante profundidade, e o inseto adulto sai perfeito e sobe pela água com a maior facilidade, sem querer molhar-se. é fácil repetir este processo interessante colocando um borrachudo novo numa proveta onde há um pouco de água; pode-se então virar o tubo, qualquer número de vezes, sem que o mosquito sofra passando pela água, enquanto estiver protegido pelo seu revestimento intacto de pêlos e escamas.

Na água não agitada as larvas morrem em poucas horas, mas podem ser conservadas em vasos de cultura ligados ao encanamento de água; nestas condições aparece claramente que as larvas procuram o lugar de correnteza mais forte. Por este meio pode-se reuni-las em certos pontos e obrigá-las a se fixar em tubos ou lâminas de vidro. Das ninfas, em estado adiantado, pode-se obter as imagos nas primeiras horas, sem uso de água agitada, o que apresenta grande vantagem, vista a facilidade com que se pode encontrar as ninfas.

Tenho criado larvas e ninfas centenares de insetos adultos pertencentes a duas espécies, e, de terceira, pelo menos alguns indivíduos. Não é raro encontrar-se larvas infetadas por nosema ou contendo uma Agamomermis, o que se reconhece facilmente, porque tanto os vermes, como os quistos de nosema, aparecem pelo tegumento transparente; geralmente, são encontrados na parte posterior do corpo, onde há mais espaço.

Não me foi possível observar a copulação dos adultos e não me consta que já tivesse sido descrita; pode-se encontrar os dois sexos em distância considerável dos seus criadouros, sendo eles bastante influenciados pelo vento reinante. A absorção de sangue parece ter lugar somente depois da cópula e se limita às fêmeas; pode-se observar em todas as espécies, sendo, porém, os hábitos diferentes; enquanto o Simulium venustum Say representa a espécie que mais incomoda o homem, o albimanum de Macquart ataca de preferência os cavalos, em presença dos quais raramente molesta as pessoas.

S. venustum Say (pertinax Kollar) é observado em toda a extensão das serras costeiras do Rio de Janeiro e São Paulo com a maior abundância. Como a Stegomyia é, ao mesmo tempo, insistente e arisco, acompanhando o homem constantemente, mas só picando quando não é observado, de modo que o momento da picada muitas vezes passa despercebido; por isso há muitas pessoas que não conhecem os borrachudos. A própria picada não é muito dolorosa, não obstante ser o canal de punção mais largo que nos pernilongos e sempre marcado por ponto vermelho característico; rapidamente, porém, segue-se forte irritação com prurido, dor e inchação, podendo-se então espremer um líquido seroso abundante pelo canal de punção. Há pessoas que depois de picadas no dorso da mão apresentam tumefação intensa de toda a região.

Nas estações situadas entre São Paulo e Santos, na raiz da serra, estes borrachudos invadem os carros da estrada de ferro, onde picam de preferência as crianças mais novas, como estas acusam logo por gritos, que os pais nem sempre podem explicar; todavia a mesma espécie em São Paulo, na elevação de 700-800 metros acima do mar, não mostra tendência a atacar o homem, nem sequer na vizinhança dos seus criadouros. Isto não pode ser explicado apenas pela diferença de elevação e temperatura, porque vi as espécies rubrithorax e montanum atacar gente na altura de 1.500 metros acima do mar. Da mesma forma o Simulium perflavum Roubaud (ochraceum Walker?) em São Paulo, onde abunda, nunca ataca o homem; assim mesmo recebi do interior exemplares cheios de sangue humano.

Esta diferença singular de hábitos que se observa também em alguns culicídeos parece explicar-se pelo fato de que estes insetos, em certos lugares, são acostumados a procurar alimentação em outras fontes; porque não se pode duvidar que precisem de alimento abundante e de proveniência animal para amadurecer os ovos. Deve-se contar, por isso também, com os grandes animais domésticos, como mostra o nigrimanum acima citado, que ataca, de preferência, os cavalos, formando as fêmeas, mais ou menos repletas de sangue, verdadeira coroa nas margens orbitais de suas vítimas. S. venustum ataca também cavalos, cães e provavelmente muitos outros animais, sendo que, em tempos passados, as espécies indígenas devem ter procurado principalmente o sangue dos grandes animais de caça.

É conhecido que na Hungria e nos Estados Unidos espécies de Simulium, aparecendo em enxames colossais, podem determinar mortandade enorme do gado, perecendo os animais picados em conseqüência de intoxicação ou de asfixia, porque nem as mucosas são poupadas. A idéia de que os animais, que fogem como loucos, morram apenas de cansaço ou de excitação parece menos acertada, mas é certo que se podem ferir seriamente nessas ocasiões. Citam-se até exemplos de pessoas que sucumbiram aos ataques destes dípteros terríveis. Há também na América do Norte espécie que destrói os perus, o que mostra que às vezes também atacam pássaros. Quanto à perseguição de animais de sangue frio, faltam observações, e, em relação a insetos, só conheço uma.

Entre nós os borrachudos não causam prejuízos tão sérios, nem ameaçam a vida do homem, mas suas perseguições são suficientes para desgostá-los de certos lugares e a irritação produzida pelas picadas contribui para determinar feridas supuradas, tão freqüentemente observadas.

Embora, até há pouco, todos os borrachudos estivessem reunidos no único gênero Simulium, parece justificado considerá-los como formando família à parte entre os dípteros, porque não podem entrar sem dificuldade em uma das outras. Isto também é hoje geralmente aceito. Para a definição desta família servem, assim, ao mesmo tempo os caracteres do gênero, dos quais Schiner (Fauna austríaca, Die Fliegen, Wien, 1864) deu boa síntese, à qual empresto o seguinte:

Cabeça livre, face inferior breve; tromba um pouco saliente; palpos com quatro artículos, sendo o basal muito curto e o terminal bastante alongado; antenas curtas, bastante grossas, com dez articulações; fronte do macho tão estreita que os olhos se tocam por diante, sendo a da fêmea bastante larga; olhos grandes reniformes, aproximando-se da forma redonda, glabros; não há ocelos.

Escudo abaulado, sem sutura transversal; escutelo curto, em forma de meia-lua.

Abdome com sete anéis, sendo o primeiro munido de cílios marginais; segmento abdominal obtuso; órgãos genitais geralmente escondidos.

Pernas comparativamente curtas e fortes; coxas grossas e achatadas, metatarsos alongados, os outros artículos tarsais muito curtos, principalmente o último; unhas glabras, pulvilos rudimentares.

Escâmulas rudimentares, halteres expostos, geralmente inclinados sobre o abdome.

Asas compridas e largas, com as nervuras da margem anterior mais espessas que as outras, as quais, às vezes, são apenas perceptíveis. álulas grandes com ângulo saliente.

Juntamos aqui mais uns caracteres que podiam, em parte, ser aproveitados na sistemática, se não faltassem às vezes ou se não fossem de verificação muito difícil em exemplares montados em alfinetes. As unhas da fêmea muitas vezes têm do lado interno pequeno dente secundário, mas é freqüentemente bastante difícil de se observar; as unhas do macho, além de dente semelhante, têm um outro por fora. As asas são cobertas de pêlos microscópicos. As nervuras costais são munidas de espinhos e de cílios em distribuição variável. Nas pernas pode haver espinhos e pêlos maiores, sendo alguns dos últimos à vezes situados no dorso dos tarsos. As tíbias são munidas de esporões geralmente desenvolvidos no par médio, mas reduzidos no último; na tíbia da frente, às vezes, encontra-se um só esporão e outras vezes parece faltar; há também esporões na extremidade de alguns artículos tarsais. Há outros pêlos menores misturados com formações que parecem pêlos achatados, mas devem antes ser consideradas como escamas muito compridas e estreitas; apresentam geralmente cor vistosa, branca ou dourada e são encontradas em cima da cabeça, do tórax e nas pernas, onde ocupam principalmente a face anterior. Parecem repelir a água, protegendo assim a imago nova; mas, como são muito caducas, podem mais tarde deixá-la desamparada. Caracterizam muito bem as espécies quando são presentes; sua cor, às vezes, acompanha a do fundo, outras vezes, porém, dá-se o contrário. A cor dos olhos, em exemplares frescos, é verdedourada ou apresenta outros matizes vistosos; mas, como desaparece nos exemplares secos, deixei de aproveitá-la na parte sistemática.

De três espécies que, há seis anos, mandei para Washington, Coquillet considerou uma como idêntica ao S. venustum Say; esta deve corresponder ao S. pertinax, citado, mas apenas superficialmente descrito, por Kollar. As duas outras foram consideradas idênticas ao S. nigrum Philippi, do Chile, e ao S. ochraceum Walker, do México; há mais duas espécies descritas no Brasil, o S. nigrimanum MacQ. que tornei a encontrar, e o Similium amazonicum de Goeldi, que parece faltar às nossas regiões. Tenho mais cinco espécies novas. Abaixo darei as descrições de todas estas espécies, procedidas de uma chave.

Chave para determinação das espécies brasileiras do gênero Simulium Latr., subgênero Eusimulium Roubaud.

1. Escudo apenas com escamas, sem outro adorno no meio .............4

2. Escudo com desenhos....................................................................3

3. No escudo, manchas alaranjadas sobre fundo escuro. Espécie pequena S. varians n. sp. (9).
No escudo, desenho preto sobre fundo cinzento-azulado, tamanho médio.
S. amazonicum Goeldi (10).
No escudo, três linhas ou estrias paralelas sobre fundo pardo-liláceo, espécie grande...
S. scutistriatum n. sp. (2).

4. Escudo vermelho; pernas bicolores, espécie grande. S. rubrithorax n. sp. (1).
Escudo alaranjado, tarjado de branco; espécie média S. perflavum Roubaud (7).
Escudo enegrecido.....................................................................5

5. Cabeça, corpo e halteres escuros; pernas unicolores......................7

6. Pernas bicolores........................................................................8

7. Costa e subcostal com pêlos, projetados na célula costal; espécie pequena
S. hirticosta n. sp. (4).
Costa com pêlos mais curtos; espécie grande ..... S. montanum Phil. (3).

8. Halteres pardo-ocráceos; fêmures posteriores enegrecidos.
S. venustum Say, var. infuscata n. var. (5ª).

9. Halteres de cor amarela muito clara .........................................10

10. Antenas completamente negras; espécie pequena......S. exiguum n. sp. (8).
Antenas ocráceas, pelo menos na base, espécies maiores.............11

11. Tíbia anterior com fundo enegrecidom
S. albimanum MacQ. (6).

12. Tíbias anteriores com fundo ocráceo bastante claro.
S. venustum Say (5).

1. Simulium rubrithorax n. sp. Cor geral preta e vermelha, comprimento 3 a 4mm.

Cabeça preta com brilho prateado, tromba e palpos pardo-ferruginosos; occipício com pêlos bastante compridos.

Tórax: escudo vermelho-escuro, alaranjado ou pardacento, com escamas piliformes douradas; escutelo como o escudo, com pêlos escuros na margem livre; pleuras cor de chocolate, às vezes um pouco avermelhada, com brilho cinzento.

Abdome, em cima enfuscado, com brilho cinzento; dos lados e embaixo com cintas claras e escuras.

Pernas: primeiro par ocráceo até os joelhos, com pêlos e escamas finas, ora claras, ora escuras; tíbias, na parte anterior, com pó claro e escamas piliformes brancas, o resto ocráceo ou pardacento, o pé quase preto. Segundo par como o primeiro, mas o metatarso, nos terços posteriores, de cor clara, como também a tíbia com exceção das extremidades. Terceiro par: coxas escuras, trocanteres e fêmures ocráceos, como também a base das tíbias que no restante são enegrecidas, mas cobertas de escamas estreitas claras; metatarsos na metade basal e na maior parte da sua circunferência claros, o resto escuro, apenas a base do segundo artículo do pé um pouco mais claro. Unhas com um dente.

Asas como de costume, apenas na base da costa com uns pêlos mais compridos, projetados na célula costal; halteres com o capítulo de cor pálida de cera, tornando-se escura em direção à base.

Descrito de algumas fêmeas apanhadas na serra da Bocaina, a 1.500m de altura e em Batatais.

2. Simulium scutistriatum n. sp. Cor geral enegrecida, comprimento pouco mais de 4mm.

Cabeça com fundo pardo, coberto de pó claro, mostrando escamas e pêlos com brilho dourado. Tromba e palpos enegrecidos, antenas oliváceo-pardacentas, mais claras na base e no lado inferior.

Tórax: com fundo chocolate claro, em cima com matiz lilás e escamas douradas; há uma faixa longitudinal média e duas laterais mal limitadas, de cor mais escura; no meio da primeira há uma linha muito escura e bem definida; as pleuras e o esterno com brilho claro.

Abdome: o primeiro segmento de cor preta aveludada e com pêlos marginais dourados, o resto de cor preto-mate com brilho cinzento.

Pernas: primeiro par ferruginoso claro até o joelho, a tíbia enegrecida, com os três quartos superiores da face anterior mais claros e cobertos de escamas brancas; todo o pé enegrecido; o par médio com coxa e trocanter ocráceos, um tanto enegrecidos; fêmur com base ocrácea enfuscada, no resto, como a tíbia, é chocolate, porém, nos dois terços superiores da face anterior com escamas esbranquiçadas sobre fundo claro; metatarso, na metade basal, com fundo ocráceo e escamas brancas; todo o resto enegrecido. Terceiro par: a base ocrácea, os dois terços inferiores do fêmur chocolate, mas com escamas claras; a tíbia com a face anterior ocrácea e coberta de pêlos dourados que se estendem ainda sobre o fundo escuro do terço inferior; o pé igual ao segundo par, tendo, porém, também o segundo artículo tarsal a base clara. Unhas com dente basal bastante escondido.

Asas e halteres como na espécie anterior.

Descrição fundada no exame de uma fêmea, apanhada pelo Sr. David Madeira em Itaguaí (estado do Rio de Janeiro). Lembra muito o Simulium rubrithorax, mas distingue-se demais para ser considerado apenas como variedade. Na coleção do Instituto há mais duas fêmeas apanhadas em Xerém pelo Dr. A. Neiva.

3. S. montanum Phil. (?) Damos em seguida a tradução da descrição original feita em língua alemã por Philippi no catálogo dos dípteros chilenos:

Preto, subglabro, unicolor. Comprimento do corpo duas linhas. Nas montanhas de Chacabuco, perto de Catenu etc. A ausência total de manchas e desenhos distingue esta espécie. O occipício é coberto de pêlos cinzentos e o peito de pequenos cabelos sedosos, finos e apostos, que é preciso procurar com lente de aumento.

Damos em seguida a descrição de espécie encontrada aqui e considerada idêntica.

Cor geral preta ou chocolate escura; tamanho cerca de 3½mm.

Cabeça chocolate, a tromba um pouco mais clara, palpos quase pretos, antenas pretas com pubescência fina e clara e três segmentos basais ocráceo-pardacentos. Clípeo, fronte e vértice com escamas piliformes douradas; na margem dos olhos em cima e atrás há pêlos grossos escuros, inclinados para diante; no vértice há uma linha mediana deprimida.

Tórax: na região que corresponde aos lóbulos protorácicos há pêlos escuros; o escudo e o escutelo com escamas piliformes douradas sobre fundo chocolate e com algumas estrias longitudinais indistintas; as pleuras ligeiramente avermelhadas na metade posterior; o escutelo um pouco mais claro com fileiras marginais de pêlos escuros, compridos e grossos.

Abdome cor de chocolate mais ou menos enegrecido, com pêlos dourados na margem do primeiro segmento e outros mais curtos na dos outros.

Asas com a base pardacenta, a costa chocolate com pêlos e espinhos, subcostal na base só com pêlos, no ápice também com espinhos, as outras nervuras pardacentas; o fundo da asa com pontilhado escuro; na base da asa há uma faixa anterior de pêlos grossos e escuros e um outro posterior de pêlos finos compridos e de cor clara; halteres pardo-amarelados com o capítulo enfuscado.

Pernas enfuscadas, com pêlos escuros e escamas piliformes; a incisão no segundo tarso posterior não é bem acusada. Unhas com dente basal curto.

Esta espécie foi encontrada na serra da Bocaina, a 1.500 metros de altitude, e criada de larvas encontradas na vizinhança de Petrópolis. Se for idêntica à espécie de Philippi, deve ter transposto os Andes, fato excepcional, que talvez se possa explicar pela facilidade com que se cria em lugares elevados.

4. S. hirticosta n. sp. Tamanho geral apenas 2mm. Cor geral chocolate.

Tromba, palpos e antenas castanhos, as últimas um pouco mais claras, com pubescência fina de cor esbranquiçada.

Tórax cor chocolate, aveludado no escudo, um pouco mais claro no escutelo, que tem pêlos marginais compridos.

Abdome pardo-chocolate com a margem dos segmentos um pouco mais clara, de brilho cinzento, e munida de pêlos mais claros que o fundo.

Pernas de cor uniforme pardo-amarelo, com os pêlos maiores pardos, os pêlos finos e as escamas estreitas em parte esbranquiçadas. Unhas com pequeno dente basal.

Asas com as nervuras de colorido pardacento claro, a costal e a subcostal cobertas de cílios bastante compridos, na primeira célula subcostal. Halteres da cor do abdome.

Descrito de duas fêmeas, apanhadas na cidade de São Paulo, onde a espécie parece ser muito rara.

5. S. venustum Say (S. pertinax Kollar).

A espécie mais comum em Rio de Janeiro e São Paulo e que se pode considerar como original da descrição de Kollar, foi determinada por Coquillet como S. venustum Say. Com efeito, a comparação com as descrições desta espécie e alguns exemplares que obtive da América do Norte mostra grande semelhança até nas menores particularidades anatômicas. Quanto à cor, não há diferença bastante pronunciada para impedir a identificação, tanto mais que a espécie é considerada variável. Não se podendo facilmente supor uma disseminação por via marítima, só resta a hipótese de que a espécie se tenha estendido sobre o terreno que nos separa dos Estados Unidos, onde é encontrada em extensão muito vasta. Conquanto esta idéia, a priori, possa parecer estranha, não tem nada de impossível visto a extensão e altura das cordilheiras que ligam as regiões e onde devem abundar lugares favoráveis para a procriação.

Em todo caso, não sendo a questão completamente decidida, convém dar aqui uma descrição feita com exemplares nossos.

Tamanho geral 2 a 2,5mm, cor geral enegrecida.

Tromba pardo-cinzenta, com pêlos; antenas com pubescência esbranquiçada, de colorido ocráceo pardacento; palpos da mesma cor, porém, mais escuros; clípeo, fronte e vértice com pó prateado; olhos de cor verde-dourado; occipício cor de ardósia com brilho alvacento.

Escudo e escutelo cor de ardósia, com escamas piliformes douradas que, no escudo, são geralmente bastante espaçadas e pouco compridas; no escutelo seguem em parte direção transversal.

Abdome enegrecido, o primeiro anel com pêlos marginais dourados, bastante compridos; embaixo com reflexo claro.

Asas com pêlos compridos em redor da base, com as primeiras nervuras espessadas, variando de ocráceo a pardacento; as outras nervuras de cor pardacenta apagada.

Halteres de cor amarela de cera muito pálida.

Pernas: primeiro par ocráceo até os joelhos, tíbias da mesma cor, com exceção do ápice que é pardacento e da face anterior que é coberta de escamas brancas estreitas e compridas em toda a extensão, menos nas duas extremidades; tarso preto de fuligem; segundo par, como o primeiro, mas toda a tíbia branca, com alguns espinhos pretos no ápice; tarsos branco-amarelados, com a porção terminal dos artículos pardacentos, o último inteiramente de cor pardacenta clara; terceiro par ocráceo até os joelhos; as tíbias com a porção basal, até perto do meio, coberta de pó e pêlos brancos; o resto, pardo-amarelado; primeiro tarso (metatarso) branco, até perto do ápice, o segundo apenas na metade basal, o resto pardacento. Unhas da fêmea com um dente na base, as do macho com dois. A ninfa tem duas vezes seis filamentos respiratórios ramificados, como a do S. venustum Say, dos Estados Unidos.

5. Simulium venustum var. infuscata n. var.

Encontrei com bastante freqüência um tipo um pouco menor que se distingue pelos caracteres seguintes: todas as cores são um pouco mais carregadas e escuras; as partes ocráceas das pernas, principalmente o fêmur do terceiro par, mais ou menos enegrecidas; os halteres de cor ocrácea, um pouco pardacenta.

Esta forma encontrada, ora só, ora misturada com a precedente, parece representar apenas variedade, tendo-se notado variações semelhantes no S. venustum da América do Norte; parece ser mais comum em lugares elevados e com o clima mais frio.

6. S. nigrimanum MacQ. (A espécie foi descrita como S. nigrimana por MacQuart; não há razão de ser a forma feminina porque M. não escreveu Simulia como fazem alguns autores.)

Dou em seguida a descrição original (Diptères exotiques nouveaux etc., I, p. 88):

Long. 1½ Mâle. Pieds: cuisses fauves; jambes et tarses noirâtres; premier article des tarses intermédiaires et postérieurs blanc, à extrémité noire; deuxième noir, à base blanche. Du Brésil, au nord de la Capitainerie de Saint Paul.

Creio ter observado esta espécie em Avanhandava (noroeste de São Paulo), onde só encontrei fêmeas em grande número. Dou a descrição destas:

Cor geral preta, comprimento de 3 a 3,5mm.

Tromba e palpos pardos; os toros das antenas ocráceos, o resto ocráceo na base, tornando-se logo enfuscado, coberto de pubescência esbranquiçada; clípeo, fronte e vértice com pó alvacento.

Tórax preto, escudo e escutelo com escamas piliformes de cor dourado-mate dispostas em pequenos grupos; o aspecto macroscópico é mais claro que no venustum.

Abdome preto.

Asas muito claras, as nervuras grossas pardacentas, as outras com cor muito apagada; halteres da mesma cor branco-amarelada de cera, como no venustum.

Pernas: primeiro par: coxa, trocanter e fêmur ocráceos, o último enfuscado no ápice; tíbia escura, a face anterior com escamas piliformes brancas; segundo par: coxa parda, trocanter e fêmur ocráceo, com escamas piliformes douradas, tíbia parda com pêlos esbranquiçados, nas extremidades de cor clara, com pêlos brancos; os três quartos superiores do metatarso brancos, com pêlos brancos, o resto preto; terceiro par: coxa, trocanter, fêmur e tíbia pardos, os dois últimos com base amarelada, com pêlos brancos, metatarsos com os dois terços inferiores brancos com pêlos brancos. Unhas sem dente, apenas com saliência basal cônica.

7. Simulium perflavum E. Roubaud, 1906.

Esta espécie foi considerada por Coquillet como idêntica com S. ochraceum Walker, determinação que não concorda de modo completamente satisfatório com a descrição, tal qual se acha reproduzida no livro de Johannsen. Exemplares que tinha cedido ao British Museum foram descritos por Roubaud como S. perflavum. Dou, em seguida, a reprodução da descrição original deste autor.

“♀D'un beau jaune d'or. Face et front argentés, antennes testacé clair épaules et bords du thorax légèrement argentés.

Balanciers jaune pâle. Ailes hyalines à nervures peu distinctes.

Pattes entièrement testacé pâle, sauf l'extrémité des tibias postérieurs qui est légèrement enfumée. Les tarses noirs, sauf les métatarses postérieurs qui sont pâles à l'extrémité noire. Expansion faible au métatarse, n'atteignant pas l'incision tarsienne.

Griffes unidentées.

Abdomen testacé, plus clair à la base, à incisions noirâtres sur les côtes des segments moyens. Les deux premiers segments avec la collerette, jaune citron. Longueur, 2 millimètres.

♂ Identique à la femelle par sa teinte générale.

Le thorax est d'un jaune d'or plus vif; les yeux volumineux sont brun rougeâtre, l'abdome brun velouté soyeux, les deux segments basilaires plus clairs, ainsi que l'extrémité.

Deux taches argentées sur les côtes des segments 3 et 4. Même taille.

Assez voisine de S. ochraceum Walker, du Mexique, cette curieuse espèce se distingue, d'après la description, par la teinte jaune d'or uniforme du thorax, sans stries blanches; l'absence de taches noires aux fémurs et tibias, l'abdome testacé et non noirâtre.

Origine: Brésil, état de São Paulo, dr. Lutz (Collection du British Museum).”

Dou em seguida descrição feita antes de conhecer o trabalho de Sr. Roubaud, do qual só tive conhecimento nestes últimos dias.

Fêmea. Cor prevalecente amarelo alaranjado, tamanho 2-3mm.

Tromba ocrácea escura; palpos ocráceos, enfuscados na parte superior onde há pêlos maiores de cor ocrácea; antenas ocráceas com pubescência prateada, clípeo, fronte, vértice e occipício com pólen e pêlos prateados sobre fundo cor de ardósia.

Tórax, alaranjado em cima, com escamas compridas e estreitas de cor de ouro; em baixo ocráceo, mais ou menos pardacento; nas margens das pleuras e dos lóbulos protorácicos o escudo é largamente tarjado de branco prateado.

Abdome com o primeiro segmento ocráceo, franjado de pêlos prateados, o resto tornando-se enfuscado ou enegrecido.

Pernas ocráceas, com escamas piliformes e com pêlos curtos e escassos, ora brancos, ora escuros; o ápice da tíbia anterior enfuscado apenas na face posterior; terço apical da tíbia posterior e todo o pé anterior cor de chocolate; nos pares posteriores, os metatarsos são esbranquiçados nos dois terços basais e o segundo tarso do par médio também em cerca da metade basal; o resto dos pés é pardochocolate.

Asas sem caracteres especiais; halteres com o pedúnculo pardo-ocráceo, o capítulo cor de cera pálido-amarelada.

O macho se distingue pelos caracteres sexuais essenciais e acessórios.

Os olhos na fêmea são misturados de verde e alaranjado vivo; no macho a última cor prevalece na parte de cima, onde há facetas maiores.

As unhas, na fêmea, têm pequeno dente secundário, de percepção muitas vezes bastante difícil; no macho há dois, sendo um claro e outro escuro.

A ninfa tem oito filamentos respiratórios, saindo de três ramificações; de uma nascem dois e das outras cada vez três filamentos.

A larva é encontrada em abundância perto de São Paulo, misturada com a de Simulium venustum, que é menos abundante. As observações biológicas referemse a estas duas espécies.

Dou em seguida a descrição de Simulium ochraceum Walker (Ent. Soc. Trans., v. 332), copiada de Johannsen: Aquatic nematocerous Diptera (Albany, 1903), p.370.

Female: Testaceous with white tomentum; head white; antennae testaceous; thorax ochraceous, with two white stripes; abdomen blackish, testaceous at the base; femora and tibiae with black tips; tarsi black, testaceous towards the base; wings vitreous; veins pale testaceous. Length of body 2mm; of wings 4.5mm. Mexico.

Se se refere às estrias brancas ao tarjado lateral do tórax, as diferenças são poucas, limitando-se apenas às pernas, onde a descrição sumária combina somente com o último par. O abdome concorda perfeitamente com todos os nossos exem226 plares conservados, podendo todavia ser mais amarelo nos exemplares frescos. A decisão última desta questão de identidade dependerá da comparação com o tipo de Walker ou com exemplares provenientes do México.

8. Simulium exiguum n. sp. Cor geral preta; tamanho 1-1,5mm.

Tromba preta, palpos e antenas também, os últimos com pubescência branca; o resto da cabeça preto, com pequenos pêlos esbranquiçados.

Tórax: escudo preto aveludado, com escamas douradas, mais abundantes na parte posterior; escutelo com pêlos escuros, bastante compridos na margem e escamas douradas abundantes; em cima o fundo é mais claro com reflexo mate.

Abdome cor de chocolate, com pêlos pálidos no primeiro segmento.

Pernas: primeiro par enfuscado, a tíbia ocrácea, coberta com escamas brancas estreitas; há outras, mais largas, sobre fundo chocolate, no fêmur; segundo par em geral cor de chocolate, com escamas estreitas e compridas do lado exterior do fêmur e da tíbia; o metatarso mais claro; terceiro par: metade basal da tíbia amarela, coberta de escamas de cor nívea; os dois terços basais do metatarso apresentam o mesmo aspecto; o resto da perna chocolate. Unhas inermes.

Asas, como de costume; as nervuras de cor pardacenta bastante clara; halteres de cor de cera amarelada, bastante pálida.

Tenho vários exemplares do rio Grande, perto de Franca.

9. Simulium varians n. sp. Cor geral preta, em parte alaranjada, tamanho total cerca de 1,5mm.

Tromba chocolate, palpos também; antenas ocráceas na base, do terceiro artículo em diante mais escuras e com pubescência esbranquiçada; clípeo, fronte e vértice com brilho de chumbo.

Tórax: em cima castanho-escuro aveludado, com manchas alaranjadas de forma variada; num caso formam três estrias longitudinais, das quais a central é abreviada adiante e as laterais por trás; no outro há uma larga faixa mediana e as margens são largamente tarjadas da mesma cor; no terceiro a cor alaranjada se limita à margem anterior e posterior; o resto do tórax é preto com ligeiro brilho cinzento.

Abdome pardacento, com a base, principalmente embaixo, tirando sobre o ocráceo escuro.

Asas, como na espécie anterior; halteres alaranjados ou de amarelo pardacento pouco carregado; a base dos pedúnculos um pouco enfuscada.

Pernas em geral de cor ocrácea, mais ou menos enfuscada; o fêmur anterior com escamas douradas sobre fundo ocráceo; a tíbia, com a parte média mais clara, o resto do pé chocolate; no par médio a metade basal da tíbia e os dois terços basais do metatarso com fundo ocráceo e escamas, ora alvacentas, ora de dourado pálido; perna posterior com o fêmur coberto de escamas filiformes de um dourado pálido; o metatarso é esbranquiçado, menos na face anterior e no terço apical, que é chocolate, como o pé. As unhas parecem inermes.

Descrito de três fêmeas apanhadas no rio Grande, perto de Franca, estado de São Paulo.

Dou em seguida a reprodução da descrição dada por Goeldi, de espécie amazônica que não pode ser identificada a uma das acima descritas.

10. Simulium amazonicum n. sp. Goeldi (1905).

“♀ Imago: Colorido geral: enegrecido. Antenas de dez artículos, dos quais I e II (basais) maiores, o último (X) cônico; colorido uniforme brunáceo. Tórax: lado dorsal, colorido dominante em cinzento azulado-prateado, no qual se destaca um desenho característico de cor preta, com muitos lindos cabelos dourados pelo campo todo e principalmente pela margem exterior do desenho; este constitui-se: 1) de uma estria reta mediana; 2) de duas linhas curvas, em forma de semilua, combinandose com a mediana, de maneira a formar mais ou menos um T, virado para a frente. (Poder-se-ia assim falar de cinco linhas torácicas longitudinais.) Pernas: I. par: fêmur claro (somente o lado distal um pouco chamuscado), tíbia toda e todo o tarso fuliginoso-escuro. II. par: clara em toda a extensão, com única exceção talvez de serem um bocadinho chamuscadas todas as articulações, pelo lado distal, desde a tíbio-tarsal; III. par: escuro o fêmur, a metade distal da tíbia, o último quarto distal do tarso e o terço ou a metade distal dos outros artículos tarsais. é muito característico o colorido das pernas, sobretudo o terceiro par bicolor. Halteres amarelos esbranquiçados, contrastando fortemente com a cor escura do abdome.

Asas: belamente irisantes, com matizes dourados: aliás moldadas conforme feitio e nervatura usuais no gênero Simulium.

(Vena cubital, com os seus dois ramos VII1 e VII2 assaz difícil de ver, mormente a segunda.) – Abdome fuliginoso, aliás sem desenhos e marcas especiais. – Dimensões: Comprimento total 2,06mm. – Comprimento da antena 0,35mm. – Largura do tórax: 0,86mm. – Comprimento do abdome 1,12mm. – Maior largura do abdome 0,58mm. – Comprimento da asa 1,6mm. – Largura da asa 0,91mm.

Muitos exemplares ♀♀♀ vindos de Teffé (col. A. Ducke, janeiro 1905), correspondendo inteiramente com numerosos indivíduos, coligidos no alto dos rios Purus e Acre (dr. J. Huber e comissão do Museu 1904-1905) e conservados em alfinetes e no álcool.

Quando este trabalho já estava quase terminado, recebi o n.2 da Zeitschrift fur wissenschaftliche Insektenbiologie (de Berlim), na qual Schrottky descreve três espécies de Simulium do Paraguai. Parece tratar-se de duas espécies novas que poderão ser encontradas em território brasileiro, razão pela qual dou aqui a tradução das descrições; quanto à terceira (n.1) desconfio tratar-se apenas do Simulium venustum.

Descrição original:

1. Simulium inexorabile n. sp.

Cabeça e tórax preto com pó cinzento; abdome, em cima, cinzento de ardósia, mais escuro no meio dos segmentos, embaixo todo cinzento claro. Olhos (no animal vivo) verdes; palpos pretos, o artículo basal esférico, coberto do lado interno com pêlos compridos; o segundo artículo um pouco mais curto que o primeiro, os dois que se seguem três vezes mais compridos do que largos, em forma de clava, o artículo apical comprido e filiforme. Antenas pardo-claras, em cima, com exceção dos últimos dois a três artículos, pardo-escuras; primeiro artículo esférico, segundo tão comprido como o primeiro e com a coroa apical de pêlos pequenos e finos. 3 pouco menor do que o 2, 4 a 10, em forma de disco, a largura mais que dupla do comprimento, 11 pontiagudo. Tórax coberto de pêlos escassos e muito curtos de amarelo ouro; asas com brilho irisante intenso, halteres brancos. Pernas: I. fêmur amarelo-pardacento, tíbia branco-amarelada, com o ápice escuro, tarsos pretos. II. amarelo-pardacento com tarsos pardo-escuros. III. fêmur amarelo pardacento, tíbia branca na metade basal, pardo-escura na distal, metatarso branco, os outros artículos tarsais quase pretos. O primeiro segmento abdominal com pêlos amarelos de ouro na margem, os outros segmentos canelados com depressões longitudinais paralelas. Comprimento 3mm, excepcionalmente até 5mm.

2. Simulium paranense n. sp.

Cor do corpo preto aveludado, os artículos das antenas 1 a 3 pardo-amarelados, os outros pretos; os olhos (no animal vivo) verde-pardacento; as antenas mais curtas e grossas que na espécie anterior, os artículos dos palpos mais curtos e visgosos. Pernas: I. tíbia, metatarso e a base do artículo tarsal seguinte brancos, o resto preto. II. preto, metatarso branco, o último quinto preto; artículo seguinte branco na base, preto no ápice. III. preto, metatarso branco, o último terço preto; o artículo seguinte metade branco, metade preto; as asas hialinas e irisantes, os halteres brancos. No abdome não há vestígio de canelação. Comprimento 2½mm.

Paraguai (alto Paraná), talvez mais espalhado.

3. Simulium paraguayense n. sp.

Na coloração parecido com S. inexorabile, podendo ser diferenciado não só pelo tamanho menor, mas também imediatamente pelo abdome não canelado e pelo último artículo das antenas, o qual no Simulium paraguayense não é pontiagudo mas quadrangular, também comparativamente muito maior. Os olhos (no animal vivo) são furta-cores, vermelho de cobre para verde. O tórax é coberto com pêlos pequenos de cor verde dourado; as asas são hialinas, os halteres esbranquiçados. Pernas: I. fêmur e tíbia pardo-amarelados, tarso preto. II. pardoamarelado com tarsos mais claros. III fêmur e tíbia pardo-amarelados com ápice pardo-escuro, tarsos esbranquiçados, os artículos terminais mais escuros. Comprimento 2mm.

Paraguai, Argentina no rio Paraná, somente na vizinhança imediata do rio.

M. E. Roubaud (Comptes Rendus d. s. de L'Acad. des Sc., p.519) divide o gênero Simulium em dois subgêneros baseados na formação do segundo tarso posterior e outros caracteres. Eis a sua definição:

Le deuxième article des tarses postérieurs dans les deux sexes, allongé, linéaire, sans échancrure basilaire. Cases pupales agrégées, imparfaites. Un très-grand nombre de filaments nymphaux... S. G. I. Pro-Simulium E. Roubaud.

Le deuxième article des tarses postérieurs court, arqué, échancré dorsalement, à sa base, dans les deux sexes. Cases pupales solitaires parfaites. Filaments nymphaux en général peu nombreux... S. G. II. Eu-Simulium.

Este subgênero, segundo o autor, também tem o metatarso mais diferenciado: «Chez ces derniers en effet, l'organe présente distalement une expansion en forme de palette, qui protège la base du deuxième tarsien sur une longueur en général notable.» Nas nossas espécies este caráter, às vezes, como no S. venustum e rubrithorax, é bem acusado, outras vezes, pouco, como no S. perflavum; em S. nigrimanum falta quase completamente, mas a forma do segundo tarso sempre corresponde aos caracteres do subgênero. Também a incisura dorsal é sempre presente, às vezes, pouco conspícua.

Durante a impressão do presente trabalho chegou uma remessa de borrachudos, feita pelo Dr. Gurgel do Amaral. Procedia de Alfenas, no sul de Minas, perto de um afluente do rio Grande. De acordo com este fato continha um grande número de exemplares de S. exiguum n. sp., sendo o resto formado por S. nigrimanum MacQ. Da primeira espécie havia também dois machos, mal conservados e não mostrando nada de extraordinário.

Outra coleção foi feita pelo Dr. Arthur Neiva no salto de Itapura perto da confluência do Tietê com o Paraná. Continha um exemplar de S. perflavum Roub. e alguns de S. nigrimanum MacQ., sendo também representado (ao que me parece) o S. venustum Say.

O maior número de exemplares pertencia a uma espécie menor que combina bem com o S. paraguayense Schrottky. Pertence ao subgênero Eusimulium e tem unhas com pequeno dente basal pouco conspícuo.

Durante este tempo também verifiquei a existência do Simulium perflavum no Rio de Janeiro. No rio Tijuca as larvas e ninfas desta espécie são encontradas em grande número.