<!DOCTYPE HTML>
<html xmlns="http://www.w3.org/1999/xhtml">
<head>
<title>SciELO Books</title>
<link rel="stylesheet" href="css/scielobooks.css" type="text/css"/>
<meta charset="UTF-8"/>
</head>
<body>
<div class="chapter">
<div class="title">
<p>Notas dipterológicas: a propósito da <i>Mydaea pici </i> MacQuart<a class="hlink" id="c20-ftn1a" href="#c20-ftn1"><sup>*</sup></a></p>
</div>
<div class="section">
<p>Sob o título “<i>Mydaea anomala</i> Jaennike, a parasite of South-American birds”, o dr. J. C. Nielsen publicou, em <i>Vidensk. Meddel. fra den naturh. Foren</i>. (Kjoebenhaven, 1911) um artigo, ilustrado com várias fotografias. Duas destas representam pássaros parasitados, determinados como <i>Spermophila gutturalis</i> e <i>Mimus modulator</i>.</p>
<p>Já há muito tempo que observamos casos deste parasitismo que, em certas regiões, ocorre com bastante freqüência nos filhotes de pássaros <i>insessores</i>. Apenas aguardávamos a ocasião de fazer desenhar nosso material e um de nós (dr. Neiva) já reuniu toda a bibliografia sobre este assunto. Aproveitamos da ocasião, oferecida pela publicação do dr. Nielsen, para darmos uma nota sobre a nomenclatura do díptero.</p>
<p>Nielsen diz, à p.206, citando a autoridade de Brauer: “but the late Austrian dipterist Fr. Brauer identifies it with <i>Mesembrina anomala</i> Jaennike whose type is found in the collection <i>von Heyden,</i> now in the possession of the museum of Vienna”. Salientamos uma citação anterior que também se refere a Brauer e que resolve de outro modo a nomenclatura desta mosca.</p>
<p>Nos <i>Archivos do Museu Nacional</i> etc., p.153, Miranda Ribeiro publicou, em 1901, sob a epígrafe “<i>Sobre a Mydaea pici</i> MacQ.”, interessante trabalho, contendo as suas pesquisas sobre moscas, obtidas de larvas que parasitavam a pele de filhotes de <i>Peristera rufaxilla</i>. Na impossibilidade de determinar a espécie, mandou os dípteros ao prof. Hoseph Mik, que, por sua vez, teve de pedir o auxílio de Brauer.</p>
<p>Na carta abaixo, transcrita da versão portuguesa, dada por M. Ribeiro, o prof. Mik esclareceu a questão:</p>
<p>“A mosca foi descrita e desenhada por MacQuart nos <i>Annal. Soc. Entom. de France,</i> 1853, p.657, 660 e pl.XX, n.II. Ele denominou-a <i>Aricia pici</i> MacQ., por ter ela1 sido encontrada no <i>Picus striatus</i>. Mais tarde Jaennike descreveu-a como <i>Mesembrina anomala</i> nos <i>Abhandl. d. Senkenb. naturforsch. Gesellschaft.</i> Band VI, 1866-1867, p.377, como proveniente de Cuba. Encontra-se também aí uma boa ilustração (Taf. 44, Fig. 4). Ainda mais tarde Blanchard escreveu um artigo sobre a mesma mosca (“Contributions à l'étude des diptères parasites”, nos <i>Annal. Soc. Entom. de France,</i> 1896, p.652). Encontra-se aí uma magnífica ilustração colorida, pl. 17, Fig. 5-9. O inseto era dado como proveniente do <i>Oriolus cayennensis e O. mexicanus</i>.</p>
<p>Devo-lhe comunicar que não me foi lá muito fácil determinar a sua mosca na vasta literatura dipterológica. Esperava encontrá-la na grande coleção do Real e Imperial Museu de História Natural.</p>
<p>O diretor deste Museu, o dr. Brauer, lembra-se de ter recebido para determinar do sr. Blanchard, de Paris, há um ano, uma mosca de aspecto semelhante, que era a <i>Aricia pici</i> MacQ.</p>
<p>As observações de Brauer estão mencionadas no belo trabalho de Blanchard (“Contributions...”, etc.).</p>
<p>Encontra-se, entretanto, no Museu de Viena o exemplar tipo da <i>Mesembrina anomala</i> de Jaennicke, e não há dúvida alguma que o seu identifica-se completamente com ele. Jaennicke deixou-se enganar pelos costumes do inseto e determinou- o erradamente como <i>Mesembrina</i>.</p>
<p>Quanto à sua colocação, pertence ela aos antomiídeos, possuindo uma vasta área de dispersão (São Domingos, Cuba, Brasil). Não está mais no gênero <i>Aricia</i>, pois que as espécies deste gênero têm os olhos de pequeno tamanho e mais espessamente vilosos, o que não acontece com a <i>Aricia pici</i> MacQ.</p>
<p>Coloco o seu díptero no gênero <i>Mydaea</i> Rob. Desv. Conquanto alguns dipterólogos o tenham incluído no gênero <i>Spilogaster</i>, pode-se perfeitamente separálo deste. <i>Spilogaster</i>, <i>sensu strictiori,</i> tem visíveis manchas escuras no abdome, enquanto esta parte do corpo no gênero <i>Mydaea</i> é completamente imaculada.</p>
<p>O dipterólogo inglês Meade, estabeleceu<a class="hlink" id="c20-ftn2a" href="#c20-ftn2"><sup>2</sup></a> o gênero <i>Mydaea</i> (vide o <i>Entom. Monthly Mag</i>., 1881, p.27). Se Meade, <i>loc</i>. <i>cit</i>., diz sobre <i>Mydaea</i> “Eyes bare” não deve o senhor tomar esta frase ao pé da letra; ele refere também espécies de <i>Mydaea</i> da Europa que têm os olhos tão pouco vilosos que parecem nus, como na <i>Aricia pici.</i></p>
<p>Das minhas pesquisas resultam as seguintes sinonímias:</p>
<blockquote>
<p class="center"></p>
<p><i>Mydaea pici</i> MacQ. (Teste Mik.)</p>
<p>Sinônimo <i>Aricia pici</i> MacQ.</p>
<blockquote>
<p><i>Mesembrina anomala</i> Jaenn.</p>
<p><i>Spilogaster pici</i> MacQ. in Blanchard. (Teste Brauer)</p>
</blockquote>
</blockquote>
<p>Se a respeito publicar alguma coisa, peço-lhe não se esquecer de dizer que Brauer auxiliou a determinação da espécie da sua mosca, que eu identifico com o tipo de Jaennicke e coloco no gênero <i>Mydaea</i>.”</p>
<p>Pelo exposto, vê-se que o díptero em questão deverá ser assim chamado:</p>
<blockquote>
<p><i>Mydaea pici</i> MacQuart – 1853.</p>
<p>Sinonímia:<i>Mesembrina anomala</i> (Teste Brauer) Jaennicke 1866.</p>
<blockquote>
<p><i>Aricia pici</i> MacQ.</p>
<p><i>Spilogaster anomalus</i> Blanchard 1896.</p>
</blockquote>
<p><i>Mydaea anomala</i> Jaenn.-Nielsen 1911.</p>
<blockquote>
<p><i>Spilogaster anomala</i> Br u. Bergst.-Aldrich 1905.</p>
</blockquote>
<p><i>Mydaea spermophilae</i> Townsend 1902.</p>
<p><i>Mydaea spermophilae</i> Townsend-Aldrich 1905.</p>
<p><i>Hylemyia pici</i> MacQ.-Aldrich 1905.</p>
<p><i>Hylemyia angustifrons</i> Loew 1861.</p>
<p><i>Hylemyia pici</i> Ost.-Sack 1878.</p>
</blockquote>
<p>Pelas informações de Mogensen, que remeteu da Argentina material para Nielsen, os parasitos parecem causar pouco mal aos hospedeiros; este fato está de completo acordo com as nossas observações. O dr. Ruy Ladisláo, que a nosso pedido colecionou grande material de larvas, pupas e adultos por ele criados, registrou um caso de um filhote de guaxe (<i>Cassicus haemorrhous</i> ) crescido, portador de 154 larvas. Certo, isto constitui caso extraordinário; comumente, porém, os pássaros hospedam de seis a dez larvas quase do mesmo tamanho, o que indica que o inseto faz posturas parceladas, como se observa para <i>Dermatobia</i>. Nos pássaros muito parasitados pode-se encontrar, porém, larvas de todas as idades e, no caso acima citado, as partes do corpo, onde eram encontrados em maior número, foram: regiões axilares, fêmures, tíbia e uropígio. O mesmo colega pôde observar a seguinte particularidade: as larvas adultas conservam sempre os estigmas no nível do orifício cutâneo, circunstância que as torna muito aparentes, ao passo que as larvas, até certo tamanho, encontram-se sob a pele, distantes do orifício da loja. As larvas, quando muito pequenas, são encontradas juntas; quando maiores, isto nunca se observa, pois são uniloculares. Em regra geral a cabeça e as asas são os pontos que com mais freqüência são atacados. As larvas formam casulo e transformam- se em pupas no ninho e até sob a terra, ao cabo de onze dias, na média, o que está de acordo com as observações de Miranda Ribeiro e Busck; Mogensen observou a transformação última apenas em cinco a seis dias, o que nos parece muito curto prazo. Temos várias outras observações em parte já bem antigas. Existem outras na literatura cuja citação deixamos para um trabalho mais minucioso.</p>
<p>Queremos, todavia, observar que a infecção parece obter-se somente no ninho, faltando por isso nos pássaros adultos.</p>
<div class="footer">
<p id="c20-ftn1"><a class="hlink" href="#c20-ftn1a"><sup>*</sup></a> Trabalho de Adolpho Lutz e Arthur Neiva publicado em 1912 nas <i>Memórias do Instituto Oswaldo Cruz</i> (t.4, fasc.1, p.130-5), em português e alemão (duas colunas), neste último idioma com o título “Dipterologische Mitteilungen”. No final do trabalho – o quarto feito em colaboração entre os dois autores – consta o local e a data em que foi finalizado: Manguinhos, maio 1912. [N.E.]<br/>
Quer dizer, a larva. [N.A.]</p>
<p id="c20-ftn2"><a class="hlink" href="#c20-ftn2a"><sup>2</sup></a> Quer dizer, definiu. [N.A.]</p>
</div>
</div>
</div>
</body>
</html>