Como sempre desde que o mundo é mundo, para cada um que nasce, há outro que agoniza. O de agora, falamos do que está à morte, é o rei Herodes, que sofre, além do mais e pior que se dirá, de uma horrível comichão que o põe às portas da loucura, como se as mandíbulas miudinhas e ferozes de cem mil formigas lhe estivessem roendo o corpo, infatigáveis. Depois de terem experimentado, com nenhumas melhoras, quantos bálsamos se usaram até hoje em todo o orbe conhecido, sem exclusão do Egipto e da Índia, os médicos reais, já de cabeça perdida ou, para ser mais exacto, com medo de perdê-la, lançaram-se a compor banhos e mezinhas ao acaso, misturando em água ou óleo quaisquer ervas ou pós de que alguma vez se tivesse dito algum bem, mesmo sendo contrárias as indicações da farmacopeia. O rei, possesso de dor e furor, com a espuma a saltar-lhe da boca como se o tivesse mordido um cão raivoso, ameaça que os fará crucificar a todos se não descobrirem rapidamente remédio suficiente para os seus males, que, como já foi antecipado, não se limitam ao ardor insofrível da pele e também às convulsões que frequentemente o derrubam, o atiram ao chão, fazendo dele um novelo retorcido, agónico, com os olhos a saltarem-lhe das órbitas, as mãos rasgando as vestes, por baixo das quais as formigas, multiplicando-se, prosseguem o devastador trabalho. O pior, o pior verdadeiramente, é a gangrena que se tem manifestado nestes últimos dias, e esse horror sem explicação nem nome de que se fala em segredo no palácio, a saber, os vermes que infestam os órgãos genitais da real pessoa e que, esses sim, a estão devorando em vida. Os gritos de Herodes atroam as salas e as galerias do palácio, os eunucos que o servem directamente não dormem nem descansam, os escravos de nível inferior fogem de encontrar-se no seu caminho. Arrastando um corpo que fede de putrefacção, apesar dos perfumes de que leva embebidas as roupas e ungidos os cabelos pintados, a Herodes só o mantém vivo a fúria. Transportado numa liteira, rodeado de médicos e de guardas armados, percorre o palácio de um extremo a outro à procura de traidores, desde há muito que os vê ou adivinha em toda a parte, e o seu dedo de súbito aponta, pode ser um chefe de eunucos que estava conquistando demasiada influência, ou um fariseu recalcitrante que anda protestando contra os que desobedecem à lei devendo ser os primeiros a respeitá-la, neste caso nem é preciso pronunciar um nome para saber de quem se trata, podem ser ainda os seus próprios filhos Alexandre e Aristóbulo, presos e logo condenados à morte por um tribunal de nobres à pressa convocado para essa sentença e não outra, ora, que outra coisa poderia ter feito este pobre rei se em alucinados sonhos via aqueles maus filhos avançando para ele de espada nua, e se, no mais abominável dos pesadelos, olhava, como num espelho, a sua própria cabeça cortada. Do fim terrível conseguiu livrar-se, agora pode contemplar tranquilamente os cadáveres daqueles que um minuto antes ainda eram herdeiros de um trono, os seus próprios filhos, culpados de conspiração, abuso e arrogância, mortos por estrangulamento.
Mas eis agora que um outro pesadelo, vindo das sombras mais profundas do cérebro, o arranca, aos gritos, dos breves e inquietos sonos em que de puro esgotamento cai, quando o seu perturbado espírito lhe faz aparecer o profeta Miqueias, esse que viveu no tempo de Isaías, testemunha daquelas terríveis guerras que os assírios trouxeram a Samaria e a Judeia, e vem clamando contra os ricos e os poderosos, como a profeta compete e ao caso convém. Coberto do pó das batalhas, com a túnica manchada de sangue vivo, Miqueias entra no sonho de rompante, em meio de um estrondo que não pode ser deste mundo, como se empurrasse com mãos relampejantes umas enormes portas de bronze, e anuncia em estentórea voz, O Senhor vai sair da sua morada, vai descer e pisar as alturas da terra, e logo ameaça, Ai dos que planeiam a iniquidade, dos que maquinam o mal em seus leitos, e o executam logo ao amanhecer do dia, porque têm o poder na sua mão, e denuncia, Cobiçam as terras e apoderam-se delas, cobiçam as casas e roubam-nas, fazem violência ao homem e à sua família, ao dono e à sua herança. Depois, em cada noite, de cada vez, tendo dito isto, como a um sinal que só ele pudesse ouvir, Miqueias desaparece como desfeito em fumo. Contudo, o que faz despertar Herodes em ânsias e suores não é tanto o assombro dos proféticos gritos, mas a impressão angustiante de que o seu visitante nocturno se retira no preciso momento em que, parecendo ir dizer algo mais, é o gesto que se levanta, é a boca que se abre, o guardasse para a próxima vez. Ora, qualquer um sabe que este rei Herodes não é homem a quem amedrontem ameaças, se nem remorsos conserva das tantas e tantas mortes que carrega na memória. Lembremos que mandou afogar o irmão da mulher a quem mais amou na vida, Mariame, que fez estrangular o avô dela, e por fim a ela própria, depois de tê-la acusado de adultério. É verdade que depois caiu numa espécie de delírio, em meio do qual chamava por Mariame como se ela estivesse ainda viva, mas curou-se da insanidade a tempo de descobrir que a sogra, alma doutros manejos anteriores, tramava uma conspiração para derrubá-lo do poder. Em menos que um credo, a perigosa intriguista foi juntar-se ao panteão da família a quem Herodes, em má hora para uns e outros, se ligara. Ficaram então ao rei, como herdeiros do trono, os seus três filhos, Alexandre e Aristóbulo, de cujo desgraçado fim já tivemos notícia, e Antipatro, que irá pelo mesmo caminho não tarda. E já agora, pois nem tudo na vida são tragédias e horrores, lembremos que, para o refocilamento e consolo do corpo, dez esposas magníficas em dotes físicos chegou a ter Herodes, sendo porém certo que a estas alturas já de pouco lhe servem, e ele a elas nada. Então, vir agora o irado fantasma de um profeta assombrar as noites do poderoso rei de Judeia e Samaria, de Pereia e Idumeia, de Galileia e Gaulanitide, de Traconitide, Auranitide e Bataneia, o estupendo monarca que de tudo isto é senhor e tudo aquilo fez, igualmente seria nada se não fosse a indefinível ameaça em que o sonho de cada vez se suspende, aquele instante que tendo prometido não deu, e que, por não ter dado, mantém intacta a promessa duma nova ameaça, qual, como, quando.
Neste meio-tempo, lá em Belém, por assim dizer paredes meias com o palácio de Herodes, José e a sua família continuavam a viver na cova, pois sendo tão breve a estada prevista não valia a pena andar à procura de casa, tanto mais que o problema da habitação já era naquela época uma dor de cabeça, com a agravante de não estar ainda inventado o benefício social e usurário do aluguer de quartos. No oitavo dia depois do nascimento, levou José o seu primogénito à sinagoga para ser circuncidado, e ali o sacerdote cortou destramente, com uma faca de pedra e a habilidade de um prático, o prepúcio da chorosa criança, cujo destino, do prepúcio falamos, não do menino, daria por si só um romance, contado a partir deste momento, em que não passa de um pálido anel de pele que apenas sangra, e a sua santificação gloriosa, quando foi papa Pascoal I, no oitavo século desta nossa era. Quem o quiser ver, hoje, não tem mais do que ir à paróquia de Calcata, que está perto de Viterbo, cidade italiana, onde relicariamente se mostra para edificação de crentes empedernidos e desfrute de incréus curiosos. Disse José que seu filho se chamaria Jesus, e assim ficou recenseado nos cadastros de Deus depois de já o ter sido nos registos de César. Não se conformava o infante com a diminuição que acabara de sofrer no seu corpo, sem a contrapartida de um qualquer acrescentamento sensível do espírito, e chorou durante todo aquele santo caminho até à cova onde o esperava a mãe ansiosa, e não é de estranhar, sendo o primeiro, Coitadinho, coitadinho, disse ela, e acto contínuo, abrindo a túnica, deu-lhe de mamar, primeiro o seio esquerdo, supõe-se que por estar mais perto do coração. Jesus, mas ele ainda não pode saber que é este o seu nome, por enquanto não passa de um pequeno ser natural, como o pinto duma galinha, o cachorro duma cadela, o cordeiro duma ovelha, Jesus, dizíamos, suspirou com deliciada satisfação, sentindo na face o suave peso do seio, a humidade da pele ao contacto doutra pele. A boca encheu-se-lhe do sabor adocicado do leite materno, e a ofensa entre as pernas, insuportável antes, tornou-se distante, dissipava-se numa espécie de prazer que nascia e não acabava de nascer, como se o detivesse um limiar, uma porta fechada ou uma proibição. Crescendo, irá esquecer estas sensações primitivas, a ponto de não poder imaginar que as tivesse experimentado, é assim com todos nós, onde quer que tenhamos nascido, de mulher sempre, e seja qual for o destino que nos espera. Se a José ousássemos fazer tal pergunta, indiscrição de que Deus nos livrará, ele responderia que são outras e mais sérias as preocupações de um chefe de família, a braços, doravante, com o problema de alimentar duas bocas, facilidade de expressão a que a evidência do filho mamando directamente da mãe, não retira, no entanto, força e propriedade. Mas é verdade que tem José sérias razões para preocupar-se, e são elas como vai a família viver até que possam regressar a Nazaré, pois Maria saiu debilitada do parto e não estaria em condições de fazer a longa viagem, sem esquecer que ainda terá de esperar que termine o tempo da sua impureza, trinta e três são os dias que deverá ficar no sangue da sua purificação, contados a partir deste em que estamos, o da circuncisão. O dinheiro trazido de Nazaré, que já era pouco, está-se a acabar, e a José é impossível exercer aqui o seu ofício de carpinteiro, se lhe faltam as ferramentas e não tem fundo de maneio para comprar as madeiras. A vida da pobre gente já naquele tempo era difícil e Deus não podia prover a tudo. De dentro da cova veio uma breve e inarticulada queixa, logo interrompida, o sinal de que Maria mudara o filho do seio esquerdo para o seio direito, e o menino, frustrado por um momento, sentira reavivar-se-lhe a dor na parte ofendida. Daqui a pouco, refarto, adormecerá no colo da mãe, e não despertará quando ela, com mil precauções, o entregar ao regaço da manjedoura, como à guarda duma ama carinhosa e fiel. Sentado na entrada da cova, José continua às voltas com os seus pensamentos, a deitar contas à vida, já sabe que em Belém não tem qualquer hipótese, nem sequer como assalariado, que bem o tentara antes, sem resultado, a não ser as palavras do costume, Quando precisar de ajudante, mando-te chamar, são promessas que não enchem a barriga, embora este povo ande a viver delas desde que nasceu.
Mil vezes a experiência tem demonstrado, mesmo em pessoas não particularmente dadas à reflexão, que a melhor maneira de chegar a uma boa ideia é ir deixando discorrer o pensamento ao sabor dos seus próprios acasos e inclinações, mas vigiando-o com uma atenção que convém parecer distraída, como se se estivesse a pensar noutra coisa, e de repente salta-se em cima do desprevenido achado como um tigre sobre a presa. Foi desta maneira que as falsas promessas dos mestres-carpinteiros de Belém levaram José a pensar em Deus e nas suas, dele, promessas verdadeiras, e daí ao templo de Jerusalém e às obras que aqui ainda se estavam fazendo, enfim, branco é galinha o pôs, já se sabe que onde haja obras, obreiros em geral se necessitam, pedreiros e canteiros em primeiro lugar, mas também carpinteiros, quanto mais não seja para esquadriar barrotes e aplainar pranchas, primárias operações que estão ao alcance da arte de José. O único defeito que a solução apresenta, supondo que lhe vão dar o emprego, é a distância a que está o local do trabalho, uma boa hora e meia de caminho, ou mais, a andar bem, que de cá para lá tudo são subidas, sem um santo alpinista para ajudar, salvo se levar consigo o burro, mas então terá José para resolver o problema de onde deixar em segurança o animal, que não é por ser esta terra, sobre todas, a preferida de Deus, que acabaram os ladrões nela, não temos mais que recordar o que todas as noites vem dizendo o profeta Miqueias. Cavilando estava José sobre estas complexas questões quando Maria saiu da cova, acabara de dar de mamar ao filho e de aconchegá-lo na manjedoura. Como está Jesus, perguntou o pai, consciente da expressão um tanto ridícula duma pergunta formulada assim, mas incapaz de resistir ao orgulho de ter um filho e poder dar-lhe um nome. O menino está bem, respondeu Maria, para quem o menos importante de tudo ainda era o nome, poderia mesmo chamar-lhe menino toda a sua vida se não tivesse por certo que fatalmente outros filhos hão-de nascer, chamar meninos a todos seria uma confusão como a de Babel. Deixando sair as palavras como se apenas estivesse a pensar em voz alta, maneira de não dar demasiada confiança, José disse, Tenho de dar caminho à vida enquanto cá estivermos, em Belém não se encontra trabalho que preste. Maria não respondeu nem tinha que responder, estava ali apenas para ouvir, e já era muito favor o que o marido lhe fazia. Olhou José o sol, a calcular o tempo de que disporia para ir e voltar, foi dentro da cova a buscar o manto e o alforge, e tornando anunciou, Com Deus me vou e a Deus me confio para que me dê trabalho na sua casa, se para tão grande mercê achar merecimentos em quem nele põe toda a esperança e é honesto artífice. Cruzou a aba direita do manto por cima do ombro esquerdo, acomodou nele o alforge e sem mais palavra meteu pés ao caminho.
Em verdade, há horas felizes. Embora as obras do templo levassem já grande adiantamento, ainda havia trabalho para novos contratados, sobretudo se não eram exigentes na hora de combinar a soldada. José passou sem dificuldade as provas de aptidão a que ligeiramente o submeteu um contramestre de carpinteiros, resultado inesperado que nos deveria fazer reflectir se não teremos andado a ser algo injustos nos comentários pejorativos que, desde o princípio deste evangelho, temos feito acerca da competência profissional do pai de Jesus. Foi-se dali o novel trabalhador do templo dando múltiplas graças a Deus, algumas vezes deteve no caminho viandantes que com ele se cruzavam, para pedir-lhes que o acompanhassem nos louvores ao Senhor, e eles, benévolos, satisfaziam-no com grandes sorrisos, que neste povo a alegria de cada um foi quase sempre a alegria de todos, falamos, claro está, de gente miúda como esta. Quando chegou à altura do túmulo de Raquel, ocorreu a José uma ideia que mais lhe terá subido das entranhas do que se criou no cérebro, e foi que esta mulher que tanto desejara outro filho veio a morrer, permita-se a expressão, às mãos dele, e nem tempo teve para conhecê-lo, nenhuma palavra, nenhum olhar, um corpo que se separa doutro corpo, tão indiferente a ele como um fruto que se desprende da árvore. Depois teve um pensamento ainda mais triste, o de os filhos sempre morrerem por causa dos pais que os geraram e das mães que os puseram no mundo, e então teve pena do seu próprio filho, condenado à morte sem culpa. Angustiado, confuso, postado diante do túmulo da esposa mais amada de Jacob, o carpinteiro José deixou cair os braços e pender a cabeça, todo o seu corpo se alagava de um frio suor, e na estrada, agora, não passava ninguém a quem pudesse pedir um auxílio. Compreendeu que pela primeira vez na sua vida duvidava do sentido do mundo, e, como quem renuncia a uma última esperança, disse em voz alta, Vou morrer aqui. Talvez que estas palavras, noutros casos, se fôssemos capazes de pronunciá-las com toda a força e convicção, como se supõe que é a dos suicidas, estas palavras poderiam, sem dor nem lágrimas, abrir-nos, por si sós, a porta por onde se sai do mundo dos vivos, mas o geral dos homens padece de instabilidade emocional, uma alta nuvem o distrai, uma aranha tecendo a sua teia, um cão que persegue uma borboleta, uma galinha que esgaravata a terra e cacareja chamando os filhos, ou algo ainda mais simples, do próprio corpo, como sentir uma comichão na cara e coçá-la, e depois perguntar-se, Em que estava eu a pensar. Foi por isto que de um momento para o outro o túmulo de Raquel se tornou no que era, uma pequena construção caiada, sem janelas, como um dado perdido, esquecido por não fazer falta ao jogo, manchada a pedra que tapa a entrada pelo suor e pela sujidade das mãos dos peregrinos que aqui têm vindo desde os tempos antigos, e ao redor oliveiras que talvez já fossem velhas quando Jacob escolheu este local para última morada da pobre mãe, sacrificando as que foi preciso para despejar o terreno, afinal bem se pode afirmar que o destino existe, o destino de cada um é nas mãos dos outros que está. Então José foi-se dali, mas antes ainda deixou uma bênção, a que lhe pareceu mais própria da ocasião e do lugar, disse ele, Bendito sejas tu, Senhor, nosso Deus e Deus de nossos pais, Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacob, grande, poderoso e maravilhoso Deus, bendito sejas. Quando entrou na cova, e ainda antes de informar a mulher de que tinha arranjado trabalho, José foi à manjedoura ver o filho, que dormia. Disse consigo mesmo, Morrerá, terá de morrer, e o coração doeu-lhe, mas depois pensou que, segundo a ordem natural das coisas, deverá ser o primeiro a morrer, e que essa morte sua, ao retirá-lo de entre os vivos, ao fazer dele ausência, dará ao filho uma espécie de, como dizer, eternidade limitada, passe a contradição, a eternidade que é continuar ainda por algum tempo mais quando os que conhecemos e amámos já não existem.
Não prevenira José o capataz do seu grupo de que só ficaria ali umas poucas semanas, com certeza não mais do que cinco, o tempo de levar o filho ao Templo, purificar-se a mãe e fazer as malas. Tinha-se calado por medo de que não o recebessem, pormenor que mostra não estar o carpinteiro nazareno muito em dia com as relações de trabalho do seu país, provavelmente por se considerar e realmente ser trabalhador por conta própria, portanto distraído das realidades do mundo obreiro, naquele tempo composto, quase exclusivamente, por tarefeiros. Mantinha-se atento à contagem dos dias que faltavam, vinte e quatro, vinte e três, vinte e dois, e, para não se enganar, improvisara um calendário numa das paredes da gruta, dezanove, com uns tantos riscos que ia sucessivamente cortando, dezasseis, perante o pasmo respeitoso de Maria, catorze, treze, que dava graças ao Senhor por lhe ter dado, nove, oito, sete, seis, marido em tudo tão capaz. José tinha-lhe dito, Partimos logo depois de irmos ao Templo, que já me tardam Nazaré e os fregueses que lá deixei, e ela, suavemente, para não parecer que o corrigia, Mas não podemos ir-nos daqui sem agradecer à dona da gruta e à escrava que me assistiu, que quase todos os dias cá vem, a saber como está o menino. José não respondeu, nunca confessaria que não se lembrara de um gesto tão elementar, a prova estava em que a sua primeira intenção fora levar o burro já carregado, pô-lo a guardar durante o tempo dos ritos, e ala para Nazaré, sem perder tempo com agradecimentos e adeuses. Maria tinha razão, seria uma grosseria irem-se dali sem uma palavra, mas a verdade, se em todas as coisas a pobrezinha prevalecesse, obrigá-lo-ia a confessar que em matéria de boa educação estava bastante falto. Durante uma hora, por causa do seu próprio erro, andou irritado com a mulher, sentimento que habitualmente lhe servia para abafar recriminações da consciência. Ficariam, pois, dois ou três dias mais, fariam as suas despedidas em boa e devida forma, com tais e tantas vénias que não ficariam dúvidas nem dívidas, e então, sim, poderiam partir, deixando nos habitantes de Belém a recordação feliz duma família de galileus piedosos, bem-educados e cumpridores do dever, excepção portanto assinalável, se tivermos em conta a fraca opinião que os habitantes de Jerusalém e arredores, no geral, fazem da gente de Galileia.
Chegou, enfim, o memorável dia em que o menino Jesus foi levado ao Templo ao colo de sua mãe, cavalgando ela o paciente asno que desde o princípio acompanha e ajuda esta família. José leva o burro pela arreata, tem pressa de chegar, pois não quer perder todo um dia de trabalho, apesar de estar em vésperas de partida. Por essa razão, também, é que tinham saído de casa tão cedo, quando a fresca madrugada ainda estava empurrando com as suas mãos aurorais a última sombra nocturna. O túmulo de Raquel já ficou para trás, tocava-lhe a frontaria, quando por ele passaram, uma ardente cor de romã, nem parecia a mesma parede que a noite opaca torna lívida e a que a lua alta dá uma ameaçadora brancura de ossos ou cobre de sangue ao nascer. Às tantas, o infante Jesus acordou, mas agora a valer, que antes mal abrira os olhos quando sua mãe o enfaixara para a viagem, e pediu alimento com a sua voz de choro, única que ainda tem. Um dia, como qualquer de nós, outras vozes virá a aprender, graças às quais saberá exprimir outras fomes e experimentar outras lágrimas.
Já perto de Jerusalém, na íngreme ladeira, a família confundiu-se com a multidão de peregrinos e vendedores que afluíam à cidade, todos parecendo querer ser os primeiros a chegar, mas, por cautela, moderando a pressa e refreando a excitação à vista dos soldados romanos que, aos pares, vigiavam os ajuntamentos, e de um ou outro grupo da tropa mercenária de Herodes, onde se podia encontrar de tudo, recrutas judeus, evidentemente, mas também idumeus, gálatas e trácios, germanos e gauleses, e até babilónios, com a sua fama de habilíssimos arqueiros. José, carpinteiro e homem de paz, combatente dessas pacíficas armas que se chamam plaina e enxó, maço e martelo, ou pregos e cavilhas, tem, para com estes ferrabrases, um sentimento misto, muito de temor, algo de desprezo, que não o deixa ser natural, nem mesmo na simples maneira de olhar. Por isso vai passando de olhos baixos, e é Maria, aquela que sempre está metida em casa, e nestas semanas mais resguardada ainda, oculta numa cova, onde só é visitada por uma escrava, é Maria quem tudo vai olhando em redor, curiosa, com o queixinho levantado de compreensível orgulho, pois leva ali o seu primogénito, ela, uma fraca mulher, mas muito capaz, como se vê, de dar filhos a Deus e a seu marido. Tão irradiante vai em sua felicidade que uns toscos e brutos mercenários gauleses, louros, de grandes bigodes pendentes, armas postas, mas afinal, supõe-se, de tenro coração diante deste renovo do mundo que é uma jovem mãe com o seu primeiro filho, estes guerreiros endurecidos sorriram à passagem da família, com podres dentes sorriram, é certo, mas o que conta é a intenção.
Aí está o Templo. Visto assim de perto, do plano inferior em que estamos, é uma construção que dá vertigens, uma montanha de pedras sobre pedras, algumas que nenhum poder do mundo pareceria ser capaz de aparelhar, levantar, assentar e ajustar, e contudo estão ali, unidas pelo próprio peso, sem argamassa, tão simplesmente como se o mundo fosse todo ele uma construção de armar, até às altíssimas cimalhas que, olhadas de baixo, parecem roçar o céu, como outra e diferente torre de Babel que a protecção de Deus, contudo, não logrará salvar, pois um igual destino a espera, ruína, confusão, sangue derramado, vozes que mil vezes perguntarão, Porquê, imaginando que há uma resposta, e que mais cedo ou mais tarde acabam por calar-se, porque só o silêncio é certo. José foi deixar o asno a guardar num caravançarai de bestas que no tempo da Páscoa e outras festas não teria nem espaço para sacudir-se um camelo as moscas com o rabo, mas que nestes dias, passado o prazo do recenseamento e regressados os viajantes às suas terras, não tinha mais que a sua ocupação normal, neste momento, aliás, bastante diminuída em virtude da hora matutina. Porém, no Pátio dos Gentios, que rodeava, entre o grande quadrilátero das arcadas, o recinto do Templo propriamente dito, havia já uma multidão de gente, cambistas, passarinheiros, marchantes que vendiam borregos e cabritos, peregrinos que sempre vinham por um motivo ou outro, e também muitos estrangeiros aqui trazidos pela curiosidade de conhecer o templo mandado construir pelo rei Herodes, de que em todo o mundo se fala. Mas sendo o pátio o que era, aquela imensidão, alguém que se encontrasse do lado oposto não pareceria maior do que um minúsculo insecto, como se os arquitectos de Herodes, tomando para si o olhar de Deus, tivessem querido sublinhar a insignificância do homem perante o Todo-Poderoso, mormente em se tratando de gentios. Porque os judeus, se não vêm apenas a passear como ociosos, têm no centro do pátio o seu objectivo, o centro do mundo, o umbigo dos umbigos, o santo dos santos. Para lá vão caminhando o carpinteiro e sua mulher, para lá vai sendo levado Jesus, depois de ter seu pai comprado duas rolas a um comissário do Templo, se a designação é apropriada para quem serve o monopólio deste religioso negócio. As pobres avezinhas não sabem ao que vão, embora o cheiro de carne e de penas queimadas que paira no ar não devesse enganar ninguém, sem falar de cheiros muito mais fortes, como o do sangue, ou o da bosta dos bois arrastados para o sacrifício e que de premonitório medo se borram desgraçadamente. José é o que leva as rolas, aconchegadas no côncavo das suas grossas mãos de obreiro, e elas, iludidas, dão-lhe, de pura satisfação, umas bicadas suaves nos dedos, encurva dos em forma de gaiola, como se quisessem dizer ao novo dono, Ainda bem que nos compraste, contigo queremos ficar. Maria não dá por nada, agora só para o filho tem olhos, e a pele de José é demasiado dura para sentir e decifrar o morse amoroso do casal de rolinhas.
Vão entrar pela Porta da Lenha, uma das treze passagens por onde se chega ao Templo, e que, como todas as outras, tem em proclama uma lápida insculpida em grego e latim, que assim reza, A nenhum gentio é permitido cruzar este limiar e a barreira que rodeia o Templo, aquele que se atrever pagará com a vida. José e Maria entram, entra Jesus levado por eles, e a seu tempo sairão a salvo, mas as rolas, já o sabíamos, vão morrer, é o que quer a lei para reconhecer e confirmar a purificação de Maria. A um espírito voltaireano, irónico e irrespeitoso, se bem que nada original, não escaparia o ensejo de observar que, vistas as coisas, parece ser condição para a manutenção da pureza no mundo existirem nele animais inocentes, rolas ou cordeiros sejam. Sobem José e Maria os catorze degraus por onde se acede, finalmente, à plataforma sobre a qual está levantado o Templo. Aqui é o Pátio das Mulheres, à esquerda está o armazém do azeite e do vinho usados na liturgia, à direita a câmara dos nazireus, que são uns sacerdotes que não pertencem à tribu de Levi e a quem se proíbe cortar o cabelo, beber vinho ou aproximar-se de um cadáver. Em frente, do outro lado, ladeando a porta fronteira a esta, e também à esquerda e à direita, respectivamente, a câmara onde os leprosos que se crêem curados esperam que os sacerdotes vão observá-los e o armazém onde se guarda a lenha, todos os dias inspeccionada porque ao fogo do altar não podem ser levadas madeiras apodrecidas ou bichosas. Maria já não tem muitos mais passos que dar. Ainda subirá os quinze degraus semicirculares que levam à Porta de Nicanor, também Preciosa chamada, mas aí se deterá, porque às mulheres não é permitido entrar no Pátio dos Israelitas, para onde dá a porta. À entrada estão os levitas à espera dos que vêm oferecer sacrifícios, porém neste lugar a atmosfera será tudo menos piedosa, salvo se a piedade era então compreendida doutra maneira, não é só o cheiro e o fumo das gorduras estorricadas, do sangue fresco, do incenso, é também o vozear dos homens, os berros, os balidos, os mugidos dos animais que esperam vez no matadouro, o último e áspero grasnido duma ave que antes soubera cantar. Maria diz ao levita que os atendeu que vem para a purificação e José entrega as rolas. Por um momento, Maria pousa as mãos sobre as avezinhas, será o seu único gesto, e logo o levita e o marido se afastam e desaparecem atrás da porta. Não se moverá Maria dali até que José regresse, apenas se aparta a um lado para não obstruir a passagem, e, com o filho nos braços, espera.
Lá dentro é uma forja, um talho e um matadouro. Em cima de duas grandes mesas de pedra preparam-se as vítimas de maiores dimensões, os bois e os vitelos, sobretudo, mas também carneiros e ovelhas, cabras e bodes. Perto das mesas encontram-se uns altos pilares onde se dependuram, em ganchos chumbados na pedra, as carcaças das reses, e vê-se a frenética actividade do arsenal dos açougues, as facas, os cutelos, os machados, os serrotes, a atmosfera está carregada dos fumos da lenha e dos coiratos queimados, de vapor de sangue e de suor, uma alma qualquer, que nem precisará ser santa, das vulgares, terá dificuldade em entender como poderá Deus sentir-se feliz em meio de tal carnificina, sendo, como diz que é, pai comum dos homens e das bestas. José tem de ficar do lado de fora da balaustrada que separa o Pátio dos Israelitas do Pátio dos Sacerdotes, mas pode olhar à vontade, donde está, o Grande Altar, com mais de quatro vezes a altura de um homem, e ao fundo o Templo, enfim falamos do autêntico, porque isto aqui é como aquelas caixas abissais que nesta época já se fabricam na China, umas dentro de outras, avistamos de longe e dizemos, O Templo, quando entramos no Pátio dos Gentios tornamos a dizer, O Templo, e agora o carpinteiro José, apoiado à balaustrada, olha e diz, O Templo, e é ele quem tem razão, ali está a larga fachada com as suas quatro colunas embebidas na parede, com os seus capitéis festoados de folhas de acanto, à moda grega, e o altíssimo vão de porta, sem porta material, porém, para chegar lá dentro, onde habita Deus, Templo dos Templos, seria preciso contrariar todas as proibições, passar o Lugar Santo, chamado Hereal, e, enfim, entrar no Debir, que é, final e derradeira caixa, o Santo dos Santos, essa terrível câmara de pedra, vazia como o universo, sem janelas, onde a luz do dia não entrou nunca nem entrará, salvo quando soar a hora da destruição e da ruína e todas as pedras se parecerem umas com as outras. Deus é tanto mais Deus quanto mais inacessível for, e José não passa de pai de um menino judeu entre os meninos judeus, que vai ver morrer duas rolas inocentes, o pai, não o filho, que esse, inocente também, ficou ao colo da mãe, imaginando, se tanto pode, que o mundo será sempre assim.
Junto ao altar, feito de grandes pedras em tosco, que nenhuma ferramenta metálica tocou desde que foram arrancadas da pedreira até virem ocupar o seu lugar na gigantesca construção, um sacerdote, descalço, vestido com uma túnica de linho, espera que o levita lhe entregue as rolas. Recebe a primeira, leva-a até uma esquina do altar e aí, de um só golpe, separa-lhe a cabeça do corpo. O sangue esguicha. O sacerdote esparge com ele a parte inferior do altar, e vai depois colocar a ave degolada num escoadouro onde acabará de dessangrar-se, e aonde, acabado o turno de serviço, irá buscá-la, pois passou a pertencer-lhe. A outra rola gozará da dignidade do sacrifício completo, o que significa que será queimada. O sacerdote sobe a rampa que leva ao cimo do altar, onde arde o fogo sagrado, e, sobre a cornija, na segunda esquina do mesmo lado, sudeste esta, sudoeste a primeira, descabeça a ave, rega com o sangue o chão da plataforma, em cujos cantos se erguem ornamentos como cornos de carneiro, e arranca-lhe as vísceras. Ninguém dá atenção ao que se passa, é apenas uma pequena morte. José, de cabeça levantada, quereria perceber, identificar, entre o fumo geral e os cheiros gerais, o fumo e o cheiro do seu sacrifício, quando o sacerdote, depois de salgar a cabeça e o corpo da ave, os atirar à fogueira. Mal pode ter a certeza. Ardendo entre as labaredas revoltas, atiçadas pela gordura, o corpinho esventrado e flácido da rola não enche a cova de um dente de Deus. E em baixo, onde a rampa começa, já estão três sacerdotes à espera. Um bezerro cai fulminado pela choupa, meu Deus, meu Deus, que frágeis nos fizeste e que fácil é morrer. José já não tem mais que fazer ali, deve retirar-se, levar a mulher e o filho. Maria está outra vez limpa, de verdadeira pureza não se fala, evidentemente, que a tanto não poderão aspirar os seres humanos em geral e as mulheres em particular, foi o caso que com o tempo e o recolhimento se lhe normalizaram os fluxos e os humores, tudo voltou ao que era antes, a diferença é haver duas rolas a menos no mundo e um menino mais que as fez morrer. Saíram do Templo pela porta por onde tinham entrado, José foi recolher o burro, e enquanto Maria, ajudando-se numa pedra, se acomodava em cima do animal, o pai segurou no filho, já algumas vezes acontecera, mas agora, talvez por causa daquela rola a que vira arrancar as entranhas, tardou em restituí-lo à mãe, como se pensasse que nenhuns braços poderiam defendê-lo melhor do que os seus. Acompanhou a família à porta da cidade e depois voltou para o Templo, para o trabalho. Virá ainda amanhã, a fim de perfazer a semana, mas depois, louvado seja por toda a eternidade o poder de Deus, que nem mais um instante se perca, regressarão a Nazaré.
Nessa mesma noite, o profeta Miqueias disse o que até então andara a calar. Quando o rei Herodes, nos seus agónicos mas já resignados sonhos, esperava que a aparição se fosse embora depois dos clamores costumados, tornados inócuos pela repetição, deixando no último instante à flor dos lábios, uma vez mais, a ameaça suspensa, cresceu de súbito o vulto formidável e palavras novas foram ouvidas, Mas tu, Belém, tão pequena entre as famílias de Judá, foi já de ti que me saiu aquele que governará Israel. Neste preciso momento, o rei acordou. Como o som da corda mais extensa da harpa, as palavras do profeta continuavam a ressoar no quarto. Herodes permaneceu de olhos abertos, procurando descobrir o sentido último da revelação, se o havia, a tal ponto absorto no pensamento que mal sentia as formigas que o roíam por baixo da pele e os vermes que se babavam sobre as suas últimas fibras íntimas e as apodreciam. A profecia não era novidade, conhecia-a como qualquer judeu, mas nunca perdera tempo a preocupar-se com anúncios de profetas, a ele bastavam-lhe as conspirações de portas adentro. O que o perturbava, agora, era uma inquietação indefinida, uma sensação de angustiadora estranheza, como se as palavras ouvidas fossem, ao mesmo tempo, elas próprias e outras, e escondessem, numa breve sílaba, numa simples partícula, num rápido som, qualquer urgente e temível ameaça. Tentou afastar a obsessão, voltar a adormecer, mas o corpo recusava-se e abria-se às dores, retalhado até às entranhas, pensar era como uma protecção. De olhos fitos nas traves do tecto, cujos ornamentos o clarão de duas tochas odoríferas, amortecido por guarda-fogos, parecia agitar, o rei Herodes procurava a resposta e não a achava. Então gritou pelo chefe dos eunucos que lhe guardavam o sono e a vigília e ordenou que viesse à sua presença, Sem tardar, disse, um sacerdote do Templo, e que trouxesse com ele o Livro de Miqueias.
Entre ir e voltar, do palácio ao Templo, do Templo ao palácio, passou quase uma hora. A madrugada principiava a clarear quando o sacerdote entrou na câmara. Lê, disse o rei, e ele começou, Palavra do Senhor, que foi dirigida a Miqueias de Moreset, nos dias de Joatão, de Acaz e de Ezequias, reis de Judá. Continuou a ler, até que Herodes disse, Adiante, e o sacerdote, confundido, sem compreender por que o tinham chamado, saltou para outra passagem, Ai dos que planeiam a iniquidade, dos que maquinam o mal em seus leitos, mas neste ponto interrompeu-se, aterrado com a involuntária imprudência, e, atropelando as palavras, como se pretendesse fazer esquecer o que dissera, prosseguiu, Acontecerá no fim dos tempos, o monte da casa do Senhor será estabelecido no cimo dos montes e se elevará sobre as colinas, Adiante, rosnou Herodes, impaciente pela demora em chegar à passagem que lhe interessava, e o sacerdote, enfim, Mas tu, Belém, tão pequena entre as famílias de Judá, é de ti que me há-de sair aquele que governará em Israel. Herodes levantou a mão, Repete, disse, e o sacerdote obedeceu, Outra vez, e o sacerdote tornou a ler, Basta, disse o rei depois de um longo silêncio, retira-te. Tudo se explicava agora, o livro anunciava um nascimento futuro, só isso, ao passo que a aparição de Miqueias viera dizer-lhe que esse nascimento já ocorrera, De ti me saiu, palavras muito claras, como são todas as dos profetas, mesmo quando ainda as andamos interpretando mal. Herodes pensou, tornou a pensar, foi-se-lhe tornando o semblante mais e mais carregado, por fim assustador, depois mandou chamar o comandante da guarda e deu-lhe uma ordem para executar imediatamente. Quando o comandante regressou, Missão cumprida, deu-lhe outra ordem, mas esta para o dia seguinte, daqui a poucas horas. Não será preciso, portanto, esperar muito tempo para sabermos de que se trata, sendo certo, porém, que o sacerdote não chegou a viver este pouco porque o mataram uns brutos soldados antes de chegar ao Templo. Sobram razões para crer que tenha sido essa, precisamente, a primeira das duas ordens, tão próximos se encontram a causa provável e o efeito necessário. Quanto ao Livro de Miqueias, desapareceu, imagine-se a perda que seria se se tratasse de exemplar único.