30
Na manhã seguinte, Sir Julian chegou aos Royal Courts of Justice uma hora antes de o julgamento recomeçar. Um funcionário judicial acompanhou-os, a ele e a Grace, até às celas na cave para poderem trocar impressões com o seu cliente.
— O senhor deu cabo do Stern — disse Arthur, apertando-lhe calorosamente a mão. — Se me tivesse representado no julgamento inicial, o veredito era bem capaz de ter sido o oposto.
— É muito amável em dizer isso, Arthur, mas, embora tenha conseguido desferir um ou outro golpe, infelizmente ainda não pus o Stern fora de combate. E a questão é que estamos diante de três juízes do Supremo Tribunal e não de um júri. A decisão que tomarem não será baseada em dúvida razoável, mas em critérios muito mais exigentes, antes de considerarem sequer a possibilidade de reverter a decisão do júri e declarar a existência de um erro judicial. Muito depende agora do testemunho do professor Abrahams.
— Não tenho a certeza de como os três venerandos juízes irão reagir ao professor — disse Grace.
— Nem eu — admitiu Sir Julian. — Mas ele é a nossa melhor hipótese.
— Ainda tem a possibilidade de contrainterrogar o inspetor Clarkson — recordou-lhe Arthur.
— O comparsa do Stern vai limitar-se a papaguear aquilo que o dono já disse. Podem ter a certeza de que ele e o Stern passaram a noite de ontem num pub a analisar cada uma das minhas perguntas. — Sir Julian olhou para o relógio. — É melhor irmos andando. Não podemos dar-nos ao luxo de deixar os meritíssimos à espera.
— Ontem, fez gato-sapato da minha mulher, BW — disse Faulkner, enquanto ele e o advogado tomavam o pequeno-almoço no Savoy.
— Obrigado, Miles, mas quando o Palmer o interrogar terá mesmo assim de explicar ao júri onde tem estado o Rembrandt nos últimos sete anos, como lhe veio parar às mãos e por que razão trocou as etiquetas das caixas. É bom que tenha respostas convincentes para todas essas perguntas, e ainda para várias outras, porque o Palmer vai atacá-lo com todas as armas que tem.
— Estarei pronto para isso. E também decidi fazer o sacrifício que me recomendou.
— Muito prudente. Mas, para já, mantenha esse truque na manga e deixe-me decidir qual é a altura certa para o usar.
— Entendido, BW. O que vai acontecer agora?
— A Coroa vai chamar o comandante Hawksby, que com certeza irá corroborar a história da sua mulher. Para ele, ela é o menor de dois males.
— Nesse caso, você terá de deitá-lo abaixo.
— Não tenciono contrainterrogá-lo.
— Porquê? — perguntou Faulkner, enquanto um empregado de mesa lhes servia mais café.
— O Hawksby é um profissional experiente e os jurados confiam nele. Ou seja, precisamos de afastá-lo do caminho o mais rapidamente possível.
— Mas isso não se aplica ao menino de coro… — disse Faulkner.
— Concordo, mas a Coroa não vai deixá-lo chegar perto do banco das testemunhas. Seria um risco demasiado grande.
— Nesse caso, porque é que não somos nós a chamá-lo a testemunhar?
— Também seria um risco demasiado grande. O Warwick é uma incógnita e os advogados gostam sempre de saber a resposta antes de fazerem a pergunta. Dessa forma, não são apanhados de surpresa. Por isso, sinceramente, Miles, preciso que esteja no seu melhor, porque a coisa mais importante na cabeça dos jurados quando estiverem a ponderar o veredito vai ser a sua credibilidade.
— Sem pressão! — disse Miles.
— Não é a primeira vez que se vê nestes apertos.
— Nunca estive num assim tão grande.
— É por isso que tem de estar no seu melhor.
— E se não estiver?
Booth Watson terminou o café antes de responder:
— Não vai voltar a comer bacon e ovos no Savoy durante bastante tempo.
A COROA CONTRA RAINSFORD
— Meritíssimos, na tradição da barra criminal inglesa, o advogado principal pode solicitar a condução de um dos interrogatórios durante um julgamento ao advogado que o assiste. Com a permissão de Vossas Excelências, convido a minha assistente a interrogar a próxima testemunha.
— Permissão concedida, Sir Julian — respondeu o juiz Arnott, depois de uma breve consulta aos colegas e brindando Grace com o sorriso mais caloroso de que fora capaz ao longo do julgamento.
Grace levantou-se um tanto ou quanto hesitante, ciente de que toda a gente tinha os olhos postos em si, mas também de que o destino de Arthur Rainsford estava agora nas suas mãos. Todos aqueles anos de estudo e formação, para não falar nas horas passadas junto ao pai, enquanto ele interpretava a lei e lhe explicava os procedimentos em tribunal. Agora, estava a passar-lhe o testemunho, confiante de que ela correria a última estafeta.
Sir Julian recostou-se, esperando que não fosse demasiado evidente que se encontrava tão nervoso quanto a filha. Também não ajudava que Grace pudesse ver a mãe sentada entre Beth e Joanna Rainsford ao fundo da sala, ambas inclinadas para a frente como adeptas de futebol ansiosamente à espera do primeiro golo.
Ela colocou o seu dossiê no pequeno suporte que o pai lhe dera no dia em que tinha começado a trabalhar com ele no escritório. Abriu-o, olhou para a primeira página e varreu-se-lhe tudo da memória.
— Está pronta para chamar a próxima testemunha, doutora Warwick? — perguntou o juiz Arnott, soando como um tio benevolente.
— Chamamos o professor Leonard Abrahams — disse Grace, surpreendida com a segurança da sua voz, já que as pernas não manifestavam a mesma confiança.
Se a porta da sala de audiências não se tivesse aberto e fechado, os observadores poderiam ser perdoados por ficarem a pensar se a próxima testemunha teria entrado realmente na sala. Abrahams piscou os olhos, olhou em volta e acabou por avistar o banco das testemunhas no canto mais afastado da sala de audiências. Quando lá chegou, ficou surpreendido ao ver que, na verdade, não havia lugar para se sentar e que esperavam que permanecesse de pé ao longo do interrogatório. Tipicamente britânico, pensou.
O funcionário judicial ergueu um cartão, não se mostrando surpreendido por a testemunha usar uma bata de laboratório branca e uma camisa verde de colarinho aberto. Abrahams pôs uma mão sobre a Bíblia — bem, pelo menos era o Antigo Testamento — e depois leu em voz alta:
— Juro dizer a verdade, toda a verdade e nada mais do que a verdade — acrescentando logo a seguir: — Assim Deus me ajude.
Depois perscrutou a sala de audiências, aliviado por ver que a sua caixa de truques tinha sido colocada no chão entre o banco das testemunhas e os três juízes, tal como solicitara.
O seu olhar deteve-se finalmente em Grace, uma das jovens mais inteligentes com quem se cruzara nos muitos anos que passara a ensinar raparigas inteligentes. Tinha gostado dela assim que a conhecera, em Heathrow, mas só mais tarde é que aprendera a respeitar a sua atenção ao pormenor e a paciência com que empreendia a procura dos factos, assim como a sua crença apaixonada na justiça. Perguntava-se se Sir Julian faria ideia de quão talentosa era a sua filha.
— Professor Abrahams — disse Grace —, gostaria de começar por lhe fazer perguntas sobre a sua formação, de modo a que os meritíssimos juízes possam apreciar as capacidades técnicas e os conhecimentos específicos que traz para este caso.
Ele estava tão habituado a que Grace lhe chamasse Len, que ficou surpreendido quando ela o tratou por professor.
— Qual é a sua nacionalidade, professor?
— Sou americano, embora tenha nascido na Polónia. Emigrei para os Estados Unidos aos dezassete anos, quando ganhei uma bolsa para estudar física na Universidade de Columbia, em Nova Iorque. Concluí o doutoramento na Universidade Brown, onde escrevi a minha tese sobre a utilização do ESDA em casos criminais.
— ESDA? — repetiu Grace, para benefício de todos quantos se encontravam na sala de audiências, à exceção de eles os dois.
— Aparelho de Deteção Eletroestática.
— E desde então escreveu duas obras de referência sobre o assunto, tendo sido recentemente agraciado com a Medalha Nacional da Ciência.
— Exatamente.
— E, além disso…
— Doutora Warwick — interrompeu o juiz Arnott —, creio que já determinou que o professor é notável na sua área. Talvez esteja na altura de nos mostrar a relevância dos seus conhecimentos para este caso em particular. Só espero — acrescentou, virando-se para a testemunha — que eu e os meus colegas sejamos capazes de acompanhar as suas explicações, professor.
— Não se preocupe, Meritíssimo — disse Abrahams. — Vou tratar-vos aos três como se fossem caloiros.
Sir Julian susteve a respiração, enquanto Grace olhava ansiosamente para os juízes, à espera de uma severa reprimenda, que não aconteceu. Os outros juízes limitaram-se a sorrir quando o juiz Arnott disse:
— É muito gentil da sua parte, professor, e espero que me perdoe se achar necessário fazer-lhe uma pergunta de vez em quando.
— Sempre que quiser, Meritíssimo. E em resposta à sua primeira pergunta, em relação à relevância do ESDA para este caso em particular, devo confessar que não teria aceitado esta incumbência se isso não me tivesse dado a oportunidade de visitar a minha mãe.
— A sua mãe vive em Inglaterra? — perguntou o juiz Arnott.
— Não, Meritíssimo, em Varsóvia. Mas a Inglaterra fica no caminho.
— Nunca pensei que a Inglaterra ficasse no caminho para onde quer que fosse — disse o juiz —, mas faça o favor de continuar, professor.
— Para o fazer, Meritíssimo, devo explicar primeiro por que razão o ESDA é agora considerado pela Ordem dos Advogados americana uma arma importante do seu arsenal. Nem sempre foi assim. A mudança teve lugar muito recentemente, quando um congressista por quem tenho uma profunda antipatia disse ao tribunal durante o seu julgamento por fraude que tinha lido todas as páginas de um documento de aquisições militares sensíveis e desconfiava que tinham sido acrescentadas algumas páginas em data posterior. Consegui provar que ele tinha mentido em tribunal, o que não só resultou na sua renúncia ao mandato, mas também numa longa pena de prisão.
— Mas neste caso, segundo me parece — disse o juiz Arnott —, vai tentar provar exatamente o oposto, ou seja, que houve uma folha que foi retirada, em vez de acrescentada.
— Correto, Meritíssimo. E, se me permitirem examinar as provas na vossa presença, creio que conseguirei determinar igualmente se foi o senhor Arthur Rainsford ou o inspetor Stern quem mentiu sob juramento, porque é impossível terem dito os dois a verdade.
O professor tinha agora a atenção de todos os presentes na sala de audiências.
— Para lá de qualquer dúvida razoável? — perguntou o juiz, erguendo uma sobrancelha.
— Os cientistas não lidam com a dúvida, Meritíssimo. Temos apenas factos ou ficção.
Isto silenciou o juiz Arnott.
— Mas para provar o meu ponto de vista, Meritíssimo, preciso da sua permissão para sair do banco das testemunhas e levar a cabo uma experiência.
O juiz acenou afirmativamente. O professor Abrahams desceu do banco das testemunhas e dirigiu-se para uma máquina que parecia uma fotocopiadora portátil. Calçou umas luvas de látex e virou-se para os juízes.
— Meritíssimo — interveio Grace —, poderei sugerir que Vossa Excelência e os seus colegas se juntem a nós, para todos podermos acompanhar a experiência mais de perto?
O juiz Arnott anuiu e os três magistrados desceram dos seus lugares para o espaço em frente, onde se juntaram também ambos os advogados, formando um círculo à volta do ESDA.
— Prestem atenção — disse Abrahams, como sempre fazia quando se preparava para falar aos estudantes nas suas aulas. — Ninguém sugeriu que o senhor Rainsford não rubricou a primeira página do seu depoimento que foi posteriormente apresentada como prova em tribunal. A única questão aqui é saber se havia três páginas em vez de duas. E, para provar tal coisa, vou precisar do depoimento original de duas páginas.
— Isto foi acordado por ambas as partes, Meritíssimo — interveio Grace.
Arnott fez um aceno de cabeça ao funcionário judicial, que entregou o depoimento original ao professor Abrahams.
— Bem — disse ele —, desconfio que precisamos todos de recordar o enunciado do depoimento original. Repito, não há divergências entre as partes relativamente à página um.
E começou a ler.
O meu nome é Arthur Edward Rainsford. Tenho cinquenta e um anos e resido presentemente no n.º 32 de Fulham Gardens, Londres SW7. Sou diretor de vendas de uma pequena empresa financeira especializada no investimento em laboratórios farmacêuticos em expansão.
A 5 de maio de 1983, viajei de comboio até Coventry para me encontrar com um potencial novo investidor. Depois dessa reunião, fomos almoçar juntos. Quando chegou a conta, apresentei o cartão de crédito da empresa e fiquei muito constrangido quando o mesmo foi recusado, pois não era a melhor forma de impressionar um potencial cliente. Fiquei extremamente irritado e contactei o nosso diretor financeiro, Gary Kirkland, para saber como era isso possível. Ele assegurou-me que não havia motivos para me preocupar e que devia ter sido simplesmente um erro bancário. Sugeriu-me que passasse pelo escritório quando fosse a caminho de casa nessa noite, altura em que iria verificar as contas comigo. Mais tarde, arrependi-me de ter perdido a cabeça, e nunca devia…
O professor pousou a primeira página e pegou na segunda.
— Esta, como sabem — disse ele ao público atento —, é a segunda página do depoimento apresentado como prova, embora o senhor Rainsford continue a afirmar que se trata, na verdade, da terceira página.
Recomeçou a ler:
… ter-lhe batido. Quando vi o golpe fundo que ele tinha na nuca, percebi de imediato que devia ter batido na cornija da lareira ou no guarda-fogo de latão ao cair. A seguir, lembro-me de ouvir uma sirene e, passados uns instantes, meia dúzia de polícias irromperam pela sala. Um deles, um tal inspetor Stern, deteve-me e mais tarde acusou-me do homicídio do Gary Kirkland, um dos meus amigos mais antigos. Hei de lamentar a sua morte para o resto da vida.
Arthur Rainsford
Li este depoimento na presença do inspetor Stern e do inspetor estagiário Clarkson.
O professor Abrahams parou por um momento, para se certificar de que os seus alunos continuavam atentos. Satisfeito, prosseguiu:
— Agora, quero que centrem a vossa atenção no ESDA, o Aparelho de Deteção Eletrostática. Vou colocar esta segunda página na chapa de bronze do ESDA. Alguma pergunta?
Ninguém falou.
— Ótimo. Agora, vou cobrir a página com uma folha de película Mylar antes de fechá-la.
O professor tirou um pequeno cilindro da sua caixa de truques e rolou-o repetidamente sobre a película Mylar até ter a certeza de que tinha eliminado quaisquer bolhas de ar. A seguir, tirou um fino dispositivo metálico do saco, explicando que se tratava de uma coroa. Fez um ligeiro zumbido quando ele a ligou. Segurou-a dois centímetros e meio acima da chapa e deslocou-a para trás e para diante sobre a página, várias vezes.
— O que está a coroa a fazer? — perguntou o juiz Arnott.
— Está a bombardear a película Mylar com cargas positivas, Meritíssimo, que serão atraídas para quaisquer reentrâncias existentes na página.
Depois de concluir a tarefa, o professor desligou a coroa e anunciou:
— Estou agora pronto para polvilhar algum toner de fotocopiadora sobre a superfície do papel, após o que iremos descobrir rapidamente se a minha experiência serviu o seu propósito ou foi uma completa perda de tempo.
O público atento, de cabeça baixa, olhou fixamente para o pedaço de papel enquanto o professor levantava um dos lados da chapa de bronze e polvilhava a página com limalha preta, que mais parecia pimenta e escorregava pela sua superfície até desaparecer num buraco estreito na base da chapa. Quando concluiu que o papel estava completamente coberto pela limalha, baixou a chapa de bronze e espreitou o resultado do seu trabalho manual.
— Olhe para o Arthur — segredou Grace.
Sir Julian olhou para o arguido, que continuava em pé no banco dos acusados. Arthur não parecia ter dúvidas sobre qual seria o resultado, ao passo que o juiz Arnott e os seus dois colegas continuavam um tanto ou quanto céticos e o doutor Llewellyn, nada convencido.
O professor Abrahams inclinou-se sobre a máquina, colocou uma folha de plástico autocolante cuidadosamente em cima da película Mylar e depois retirou a película com destreza da chapa. Por fim, separou a folha de plástico autocolante da película e, colocando uma folha de papel branco por trás, levantou-a para que todos pudessem ver.
Ninguém podia negar a existência das impressões inequívocas na página desaparecida.
O doutor Llewellyn continuava pouco impressionado quando o juiz Arnott disse:
— Talvez o professor queira fazer a gentileza de ler as palavras que estão na página, uma vez que tenho a sensação de que é capaz de já ter feito isto antes.
— Várias vezes, Meritíssimo. Contudo, devo avisá-los de que poderão existir algumas lacunas. Mas, primeiro, permitam-me que vos relembre a última frase da primeira página antes de passar à contestada segunda página. — O juiz anuiu. — «Mais tarde, arrependi-me de ter perdido a cabeça, e nunca devia…»
O professor tirou uma grande lupa do seu saco e analisou atentamente a página antes de prosseguir:
… tê-lo feito antes de ouvir o seu lado da história. Ao chegar est de Euston, apanhei um táxi para o nosso — hesitou — escritório em Marylebone. Quando abri a porta, vi um home bem constituído a corr na minha reção. Segurei-l a port, mas passou de rompante e para rua. Não pensei nis na altur, mas mais tard perceb que pod ser o assas ino. Fui direi ao gabin do Gary no ndar, e encont -o stendido n chão, junto à cornij da larei. Corri para ele, ma já ra demasiado arde. Algué devi
O professor virou para a terceira página do depoimento e concluiu:
— … ter-lhe batido.
Uma ou duas pessoas que estavam à volta da máquina irromperam em aplausos, enquanto as outras ficavam num silêncio aturdido.
— Obrigado, professor — disse o juiz Arnott, antes de acrescentar: — Minhas senhoras e meus senhores, façam o favor de voltar aos vossos lugares.
Grace esperou que toda a gente se acomodasse antes de se levantar e dizer:
— Não tenho mais perguntas, Meritíssimo. — E sentou-se.
— Tiro-te o chapéu — segredou o pai, levando os dedos da mão direita à testa.
— Doutor Llewellyn, deseja contrainterrogar a testemunha? — perguntou o juiz Arnott.
O professor Abrahams preparou-se para a réplica da acusação.
— Não, Meritíssimo — disse o advogado da Coroa, mal se mexendo do lugar.
— Estamos em dívida para consigo, professor Abrahams — disse o juiz Arnott. — Ainda bem que a sua mãe vive em Varsóvia e o senhor passou por cá para nos ver quando ia a caminho para lhe fazer uma visita.
— Obrigado, Meritíssimo — disse o professor, saindo do banco das testemunhas e pegando na sua caixa de truques.
Grace só tinha vontade de abraçá-lo enquanto ele atravessava a sala e piscava o olho a Arthur antes de abandonar o tribunal.
— Tem mais testemunhas, Sir Julian? — perguntou o juiz Arnott.
— Apenas uma, Meritíssimo. O inspetor Clarkson, o outro signatário do depoimento original do senhor Rainsford. Foi intimado para comparecer diante de Vossas Excelências amanhã de manhã, pelas dez horas.
— Nesse caso, a sessão fica suspensa até lá.
Sir Julian fez uma vénia e continuou de pé até os três juízes reunirem as suas copiosas anotações e saírem da sala.
— Acha que o Clarkson vai aparecer amanhã? — perguntou Grace.
— Eu cá não contava muito com isso — replicou o pai.