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Capítulo 7

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A PRIMEIRA COISA que atravessou a consciência de Darcy foi a percepção da presença da luz solar. Mesmo com os olhos ainda fechados, ele podia vê-la e sentir a estranheza disso. Ele sempre acordou antes que o sol nascesse. O calor em seus braços foi a próxima coisa a se registrar. Não precisava abrir os olhos para reconhecer Elizabeth Bennet. O braço dela estava em seu peito e, durante a noite, aparentemente ele capturara a perna dela entre as suas. Agora, esta era uma sensação que ele pretendia aproveitar! Era uma excelente maneira de acordar para um novo dia.

Exceto por uma coisa. Se o sol estava brilhando, a tempestade deveria ter terminado; e se a tempestade terminou, teria que deixar Elizabeth ir. Isso não era aceitável. Enquanto seus braços se apertavam ao redor dela, ele percebeu, pelo som da respiração dela, que ela não estava dormindo.

Então, ela acordou primeiro, mas ficou em seus braços? Esse pensamento chocante foi suficiente para fazê-lo abrir os olhos. A sala estava mais iluminada do que nunca estivera antes, e em silêncio. Sem rugir do vento, sem crepitar do fogo. Apenas Elizabeth em seus braços.

Ela moveu a cabeça ainda deitada sobre o ombro dele.

— O silêncio parece quase estranho, não é?

— Quem pensaria que você sentiria falta do som do vento? — provocou ele.

— Mmm. Bem, eu sei. Está quieto demais. — E ela ainda não fez nenhum esforço para deixar seus braços.

Não. Ele não tentaria entender seu comportamento, e certamente não sugeriria casamento de novo. Foi assim que ele se viu em apuros na véspera. Deveria aceitar o momento como um presente, e não pensar na separação que viria a seguir.

Ele levantou a cabeça o suficiente para ver o rosto dela. A expressão dela era ilegível, mas o relaxamento de seu corpo contra ele falava de contentamento, ou talvez algo mais. Seu próprio corpo estava certamente pensando em coisas além de contentamento, e estava cada vez mais exigente sobre isso a cada minuto, mas ele não queria pôr em perigo esse precioso tempo.

Exceto por uma coisa. Se tivesse que dizer adeus para sempre para Elizabeth Bennet em breve, queria beijá-la novamente primeiro, um beijo que não implicasse na imagem que ele não podia esquecer, dela pressionando as mãos sobre os ouvidos e apertando os olhos para evitá-lo. Não, desejava um beijo que ele pudesse se lembrar sem dor, que pudesse reproduzir em sua mente durante as longas e vazias noites sem ela.

Ele moveu o braço até alcançar o queixo dela e levantá-lo com o dedo indicador. Ela não lutou contra ele, e seus olhos escuros olharam firmemente para os dele, seus lábios se separaram um pouco. Não havia dúvida; ela estava esperando que ele a beijasse, sem o convidar, nem o evitar, apenas esperando.

Isso foi já bom o suficiente para ele. Ele inclinou a cabeça para ela lentamente, saboreando a antecipação e dando a chance dela se afastar, mas ela não se moveu até que seus lábios finalmente tocassem os dela. Então, a mão dela apertou sua camisa ao corresponder à sua paixão, apertando-se contra ele como se também estivesse ansiando por esse momento.

Não importava que ele estivesse tentando se conter, tentando limitar a intensidade desse beijo para evitar a explosão de paixão da noite anterior. Ele poderia manter o beijo lento, mas o poder de provar a essência dele o fez arder. Quão fácil seria se afogar em seus beijos? Ele mordiscou o lábio dela, exultando em como isso a fez tremer.

Mas ele tinha que parar enquanto ainda podia. Lamentando, ele recuou.

— Nós devemos ir — disse ele, bruscamente. — Não há como prever quando alguém pode chegar aqui.

Ela se enrijeceu, depois desviou o olhar.

— Claro. — Ela se sentou, jogando sua trança sobre seu ombro. — Pelo menos todas as nossas roupas estarão secas para usarmos.

— Isso ajudará. — Ele tomou uma última respiração profunda do ar que haviam compartilhado, então levantou-se. Se ele a olhasse agora, não conseguiria evitar de tentar beijá-la de novo então, em vez disso, ele começou a se preparar para partir. Primeiro, sua capa e, em seguida, o seu sobretudo. Hoje, ele fechou todos os botões, pois não o fizera no dia anterior, quando o compartilhara com Elizabeth. Em seguida, colocou a sua cartola e as luvas.

Como poderia demorar tão pouco para estar pronto para deixar para trás todas as horas que passaram juntos? Eles ainda estavam vestindo a roupa com que chegaram. Ele examinou Elizabeth, que estava dobrando a colcha, já com seu casaquinho e touca. Levou um momento para ele perceber o que estava errado. Ela não prendeu os cabelos, mas deixou-os soltos, os enfiando no interior da gola do casaquinho.

Ela deve ter visto seu olhar surpreso.

— É bastante impróprio, eu sei, mas não tenho lenço, e isso ajudará a manter meu pescoço quente.

— Muito sensato — disse ele, com gravidade. Não seria sensato ir até ela e soltar-lhe os cabelos, correr os dedos pelo comprimento sedoso e beijá-la até ela ficar sem sentidos.

Ele enfiou a mão no bolso e puxou um punhado de moedas de prata, depois as empilhou cuidadosamente sobre a mesa. Os alimentos e a lenha que haviam usado provavelmente teriam durado uma semana ou mais com os frugais inquilinos, e eles deveriam ter uma recompensa justa. Ele deu um último olhar ao redor da sala, tentando memorizá-la. Algo pequeno saiu do colchão. Abaixando-se, descobriu que era uma fita de cabelo violeta. Ele olhou para cima. Elizabeth estava olhando para a outra direção e vestindo as luvas. Rapidamente, recolheu a fita e colocou-a no bolso.

— Espero que você fique quente, Bola de Neve.

Elizabeth abaixou-se para acariciar a cabeça da gata, então endireitou-se e disse bruscamente:

— Você está pronto?

— Sim. — Tão pronto quanto jamais seria.

Quando ele levantou o trinco, a porta se moveu para dentro por vontade própria, a neve fofa derramando-se sobre o lintel. Deveria ter ficado empilhada na porta durante a noite. Ele a tirou do caminho e saiu em um mundo ofuscantemente branco. Além dos campos abertos, as árvores estavam cobertas de neve, e ele podia ver saliências que poderiam ser cercas enterradas.

Um clarão de pelo branco passou por ele e saltou para a neve.

— Bola de Neve! — chamou ele. Iria ela morrer de frio, depois de tudo

— Ela ficará bem. Os gatos são bons em encontrar lugares para se aquecer, como pilhas de madeira. E ela claramente não se quer ficar lá dentro. — Ainda assim, Elizabeth olhou para ela melancolicamente.

— Pelo menos ela parece não ter dificuldade em se virar na neve. — Ele pisoteou uma pequena área na entrada da porta e se afastou para permitir que Elizabeth passasse.

Ela olhou ao redor dele e ofegou.

— Isto é o que imagino que o mar se pareceria, apenas azul e em movimento.

— É realmente um verdadeiro mar de neve. — Ele abriu caminho através dos montes de neve. Mesmo além disso, a neve subia até o topo de suas botas.

— Sempre desejei ver o oceano mas, como nunca tive a sorte de visitar o litoral, isso terá que ser suficiente para mim. — Elizabeth levantou as saias e seguiu-o, seguindo o caminho de suas pegadas com cautela.

Agora, o que deveriam fazer? Estava nevando fortemente quando chegaram, e todos os pontos de referência foram há muito enterrados.

— Qual caminho é a estrada?

— É... — Elizabeth apontou para a direita, mas depois baixou a mão, a cabeça girando de um lado para o outro. — Eu acho... se essas árvores são o bosque que atravessei, e aquela elevação é Oakham Mount – não, isso não é correto. — Ela virou-se, fazendo um círculo lento. — Claro! Lá está o topo do campanário da igreja, então Meryton é por aqui, e a estrada deve estar ali. — Ela cobriu os olhos com a mão. — Sim, acredito estar vendo uma linha, que bem pode ser a sebe.

Tudo parecia o mesmo para ele, enterrado sob o manto de neve.

— Vamos tentar, então. Isso pode ser lento. Diga-me se você vê qualquer coisa que reconheça.

A neve era profunda demais para pisar por cima dela, então ele teve que tirá-la do caminho para avançar. Ele poderia ter ido um pouco mais rápido, se estivesse sozinho, mas ele precisou limpar espaço suficiente para Elizabeth, que tinha a dupla desvantagem de saias e pernas mais curtas. A neve deveria estar na altura dos joelhos dela.

Chute e ande, chute e ande. Quem pensaria que a neve poderia ser tão pesada? Ele esperava que o senso de direção de Elizabeth fosse bom.

Felizmente, ela mostrou-se correta quando finalmente chegaram à estrada. Darcy ficou aliviado ao ver trilhas na neve, por onde alguém passou a cavalo.

Quando Elizabeth o alcançou, com as saias levantadas, ela disse:

— Acho que levará algum tempo antes que eu sinta à vontade de dar uma longa caminhada em um dia de inverno!

Darcy apontou para a estrada.

— Será mais fácil a partir daqui, já que podemos andar pelo caminho que o cavalo abriu.

A respiração dela condensava-se em uma nuvem gelada.

— Suponho que seria melhor se fôssemos separados a partir daqui.

As palavras pareceram esfaqueá-lo.

— Como desejar. Eu me sentiria melhor se você fosse primeiro, pois se tiver alguma dificuldade, só precisa me esperar. Seria um quarto de hora tempo suficiente?

Ela olhou para as pernas dele.

— Se você não andar muito rápido.

— Não acredito que alguém possa caminhar rapidamente através desta neve.

— Muito bem, então. — Ela hesitou. —Agradeço tudo o que você fez nos últimos dois dias e sua vontade de me proteger, mesmo que seja desnecessário.

— Você entrará em contato comigo se houver alguma repercussão em sua reputação, por sua ausência? Posso ser encontrado na Darcy House, na Brook Street, em Londres.

— Se for necessário. — Ainda assim, ela esperou, como se, de algum modo, não quisesse deixá-lo. — Vá com Deus.

Ele evocou a imagem do despertar com ela em seus braços, depois acariciou o rosto dela com o dedo enluvado. — Vá com Deus, Miss Elizabeth. — O nó em sua garganta não permitiria dizer mais nada.

Ela sustentou seu olhar por um longo momento, depois virou-se e atravessou a estrada. Longe dele, longe desse interlúdio, para um futuro em que ele não desempenharia nenhum papel. Depois de tanto tempo em sua constante presença, o vazio que ela deixou era palpável. Mas era inútil. Todos os argumentos que ele usara em Londres, para não propor-lhe casamento, ainda se aplicavam. Ele fora capaz de colocá-los de lado quando parecia ser o seu dever, mas ela o recusara. Ele não podia justificar qualquer esforço a mais. Pemberley e Georgiana precisavam vir antes de seu desejo por Elizabeth Bennet. Além disso, ela deixara sua opinião bem clara.

A paisagem silenciosa, coberta de neve, parecia refletir a tristeza em seu coração. Verificou o relógio três vezes, antes de se passar a meia hora combinada. Pelo menos, faria a ela esse último favor de proteção à sua reputação. Ela dissera que havia uma taberna antes da cidade; ele ficaria lá por uma ou duas horas, até que sua aparição em Meryton não pudesse estar conectada com a dela.

Seus pés iniciaram a exaustiva caminhada. Dolorosamente, suas botas comprimiam seus pés, onde foram molhadas e depois secas de novo. Quando ele voltasse a Londres, retiraria essas botas e nunca as usaria novamente. Quanto às roupas dele, provavelmente seu camareiro as consideraria sem salvação. Não haveria lembranças – nenhuma, exceto uma fina fita de cabelo violeta.

Mesmo com a neve diminuindo, o caminho era traiçoeiro em determinados pontos, exigindo sua atenção ao andar. Mas a visão de um vermelho familiar em um mundo totalmente branco atraiu sua atenção. Elizabeth! Teria a alcançado apesar de seus esforços em manter distância? Ele sabia que deveria parar de lhe dar mais tempo, mas queria tanto estar com ela que acelerou o ritmo. Então, ele percebeu que ela estava vindo em sua direção, e não se afastando.

Ela se machucara? Ele correu para ela, sentindo o medo o atravessar. Nunca deveria deixá-la andar sozinha nesta neve, independentemente do que ela dissesse. Quando se aproximou, conseguiu distinguir a expressão angustiada no rosto dela, e sentiu seu coração quase parar completamente.

— Bom Deus! Qual é o problema? Você está machucada?

Ela tropeçou e se lançou contra ele, seus dedos apertando seus ombros enquanto pressionava seu rosto contra seu peito. Quando os braços dele a envolveram – como poderia ele resistir? – o corpo dela estremeceu, e não era somente o frio.

— Elizabeth, o que foi? Pelo amor de Deus, me diga o que aconteceu!

A respiração dela estava entrecortada.

— Estou bem, mas... na taberna, quando cheguei... — Ela respirou fundo. — Abri a porta para entrar, e vi... havia homens, oficiais e... e uma menina. Eles não me viram, e saí correndo. Não... não quero andar sozinha.

No começo, ele não conseguiu entender isso. Era uma taberna. Claro que havia oficiais e uma menina, e mesmo que Elizabeth tivesse visto uma cena inadequada para os olhos de uma donzela, não podia imaginá-la reagindo com terror. Ela era muito equilibrada para isso. Então ele entendeu.

— A menina – ela não queria?

— Eu a conheço. — Como se isso tivesse dito tudo.

Se a menina era do conhecimento de Elizabeth, era bem nascida. Ele praguejou em voz baixa.

— Venha. Vou parar isso.

— Não! Você não pode! Há muitos deles.

Ele a apertou em seus braços.

— Mesmo assim, eles me ouvirão.

Ela balançou a cabeça, sem olhar para cima.

— Um deles é Mr. Wickham — disse, lastimosamente.

Wickham! Claro, tinha que ser ele. Sob circunstâncias normais, a posição de Darcy lhe conferia toda proteção possível, mas se Wickham estava envolvido e, particularmente, se estava bêbado, Darcy não podia contar com isso. Wickham poderia aproveitar-se da situação e deixá-lo indefeso. Qualquer outra coisa que acontecesse, a primeira responsabilidade de Darcy era manter Elizabeth segura. Deveria ter estado lá para impedi-la de ver o que vira e, em vez disso, ele a deixara ir sozinha.

— Então não há nada que eu possa fazer imediatamente. Quem é ela?

Desta vez, a cabeça de Elizabeth estremeceu com mais força.

— Não posso dizer-lhe isso! Já vai ser muito ruim para ela.

— Elizabeth, ouça-me. Limpei as sujeiras de George Wickham mais vezes do que posso contar, mas não posso fazer nada pela menina se não sei quem ela é. Pode confiar em mim sobre isso; não direi nada que possa prejudicá-la.

Ela não disse nada por um longo minuto.

— O nome dela é Maria Lucas. — Sua voz era baixa e sem esperança.

— Parente de sua amiga Charlotte?

— Irmã dela. Você não a conheceu; ela não fora apresentada na sociedade até Charlotte ficar noiva.

Pobrezinha. Wickham e seus colegas não se importavam que estivessem arruinando a vida de uma jovem. E se Elizabeth não tivesse sido interrompida em sua caminhada, descobrindo-o deitado à beira da estrada, poderia ter ido à taberna naquele dia. Ele sacudiu a cabeça para libertar-se da imagem dolorosa.

— Farei o que puder para encontrar uma maneira de proteger a senhorita Lucas.

Elizabeth baixou os olhos.

— Você é muito gentil.

— Eu deveria ter avisado, a todos aqui, que tipo de homem Wickham é. Foi minha responsabilidade.

— Não se culpe. Você não fez nada de errado, e não pode proteger o mundo inteiro.

— Desejo que me permita proteger você. Sei que não deseja ouvir isso, mas é verdade.

Ela ergueu os olhos para o rosto dele.

— Prometo entrar em contato com você se houver alguma dificuldade, e ficaria mais do que feliz em aceitar sua proteção se essas circunstâncias surgirem. Isso é suficiente?

Não, não era o suficiente, mas ele não podia dizer isso.

— Obrigado.

— Agora, não podemos ficar aqui para sempre. Ainda temos uma longa caminhada à frente.

Eles começaram a avançar novamente. Mais de uma vez, ele precisou firmar Elizabeth, que afundava na neve. Suas meias não eram adequadas para condições escorregadias. Quando se aproximaram da taberna, ele pôde perceber sua tensão crescente. Ele se moveu para caminhar ao seu lado, mesmo que isso significasse lutar com a neve profunda.

Felizmente, a única pessoa fora da taberna era um menino que limpava um caminho para os estábulos. Dizendo a Elizabeth que o aguardasse fora de vista, Darcy aproximou-se dele e lhe deu uma moeda. O menino correu para dentro, depois voltou com dois grossos pedaços de pão. Ele encontrou Elizabeth logo além da curva, na estrada.

Os olhos dela se arregalaram ao ver a comida. Ela apanhou a fatia que ele lhe ofereceu e a mordeu com avidez, depois fechou os olhos enquanto mastigava.

— Ainda está quente! E besuntada com manteiga. Acho que devo estar no céu.

— Pensei que você poderia estar com fome, depois de todo esse exercício com o estômago vazio. Gostaria de lhe oferecer um verdadeiro café da manhã, não apenas uma fatia de pão. — Ele mordeu um pedaço da outra fatia. Ela estava certa; era celestial. Nunca notara antes o quão saboroso um pão fresco com manteiga poderia ser.

— Isto é perfeito. Não poderia ser mais delicioso. Acredite-me, matar um dragão valeria muito menos para mim do que me trazer isso.

Ele estava estranhamente sensibilizado ao ver o ânimo dela um pouco restaurado e saber que desempenhara um papel nisso.

— Para dizer a verdade, não poderia concordar mais.

Elizabeth estava quase acabando com o pão quando ofegou e olhou para um gato branco agarrando sua saia.

— Bola de Neve! Não acredito que nos seguiu até aqui. Deve estar congelada! — Ela a pegou e a abraçou.

— Ela deve ter seguido o nosso caminho. — Ele sentiu-se um pouco mais leve só de saber que a pequena gata não estava perdida na neve.

— Oh, suas patinhas estão como o gelo! Bem, já que está determinada a seguir-nos, suponho que também pode chegar a Longbourn, onde há um estábulo agradável e quente, onde poderá ficar.

Ele estendeu as mãos.

— Posso levá-la.

— Ela, sem dúvida, ficará feliz em manter suas patas fora da neve! — Elizabeth colocou a gata nos braços dele.

Ele estava ainda mais agradecido por terem conseguido matar a fome, quando descobriram que o cavaleiro que viajara à frente deles aparentemente parou na taberna, deixando-os enfrentar um longo trecho de estrada com a neve intacta. Nesse passo, gastariam uma hora para andar uma milha.

Andar estava realmente difícil e ele já estava cansado, quando Elizabeth o deteve com uma mão gentil em seu braço. Ele estava ofegante quando virou-se para olhar para ela.

— Embora você não saiba, há um caminho aqui à direita, que leva a Longbourn. Acho que prefiro ir por ali, já que isso me permitiria evitar entrar em Meryton, onde podemos ser vistos. Não é longe; estou certa de que posso seguir sozinha.

Permitir que ela ande sozinha através da neve, especialmente depois do que aconteceu na taberna? De jeito nenhum!

— Uma excelente ideia, mas preferiria acompanhá-la, pelo menos até estar perto de Longbourn.

— Muito gentil da sua parte, mas isso o afastaria de seu caminho.

— Não importa. Prefiro isso a me preocupar com seu bem-estar

O rosto dela se iluminou.

— Se você coloca assim, suponho que só posso concordar. Pelo menos, irá lhe proporcionar divertimento, ao me observar afundando deselegantemente na neve.

Ele riu.

— Como sabe, gosto de vê-la, independentemente do que está fazendo.

— Se eu não estivesse completamente enjoada da neve e do frio, iria saber se gostaria de me ver jogar uma bola de neve em você, senhor!

— Isso nunca funcionaria! — Embora não fosse pelo motivo que ela pudesse pensar. Brincar na neve com Elizabeth seria muito perigoso. Seria obrigado a terminar em beijos. — Além disso, tenho Bola de Neve com garras.

Felizmente, Elizabeth estava correta sobre a curta distância. Apesar dos dedos rapidamente adormecidos, Darcy diminuiu o ritmo quando notou que ela estava mais atrasada. Quando finalmente chegaram ao cruzamento com a estrada para Longbourn, ele se virou para descobrir que ela estava tremendo. Amaldiçoou-se por sua desatenção. Deveria tê-la feito vestir o seu casaco, mesmo que negasse. As linhas de fadiga no rosto dela eram como um atestado de seu fracasso.

— Acho melhor acompanhá-la até Longbourn — disse ele.

Ela balançou a cabeça teimosamente.

— Você pode ver que está muito perto. Vou ficar bem, e seria muito difícil explicar sua presença.

Ele queria argumentar e, de alguma forma, mantê-la com ele mas, mais do que isso, não queria que ela sofresse mais.

— Eu vou me despedir aqui, então.

Ela estendeu-lhe as mãos e, por um breve e feliz momento, ele pensou que ela iria abraçá-lo, mas então percebeu que eram apenas para apanhar a gata. Ele teve que tirar as garras de Bola de Neve da lã de seu casaco, antes de colocá-la nas mãos de Elizabeth. Estendeu os braços, rígidos por carregar a gata, mas sentindo-se estranhamente vazio sem ela. Ao vê-la nos braços de Elizabeth, o fez lembrar-se que provavelmente nunca mais veria qualquer um deles, e suas entranhas se apertaram.

— Obrigada por me acompanhar até agora. Gostei mais do que posso dizer. Talvez nos encontremos novamente algum dia, Mr. Darcy. — Ela sorriu, abatida.

— Espero que seja esse o caso. Agora vá se aquecer em Longbourn.

Ela assentiu, com os dentes rangendo e começou a vaguear através da neve. Ele a observou lutando para abrir caminho, e apertou os punhos como se isso, de alguma forma, fosse lhe dar força. Deus, como odiava vê-la com tanto desconforto! Seu castigo era ficar lá, até que ela chegasse à porta de Longbourn, com a chance de cair e exigir sua assistência. Mas ela não caiu. Ele disse a si mesmo que não estava desapontado.

No último momento, ela olhou para trás e congelou por um momento, quando o viu esperando à distância. Então, acenou e entrou.

Ao se virar para sair, deu um último olhar para Longbourn. Tinha um estranho presságio que estava cometendo um erro terrível.